TEACHER II - VISITA INESPERADA - CAPÍTULO 3

VISITA INESPERADA – Capítulo 3

À noite, Rupert preparava seu jantar, quando bateram na porta.

- Ah, droga! Já vou!

Ele colocou a panela com o molho do macarrão sobre o fogão, baixou o fogo e ouviu novas batidas.

- Tê, se for você, espera, já estou indo! – ele gritou, correndo para a porta.

Abriu. Era Laura. Ele ficou sem saber o que fazer.

- Oi, ela disse sorrindo. – Cheguei numa má hora?

- Oi... Não! Claro que não.

- Vim conversar sobre seu pai... Posso entrar?

Ele olhou em volta, assegurando-se de que não havia nada fora do lugar, e abriu mais a porta.

- Eu não esperava... Não repara...

Ela entrou e discretamente achou graça do jeito desajeitado dele.

- Não se importe com nada. Vim só visitar porque fiquei preocupada com você.

Ele fechou a porta e a convidou a sentar-se. Laura o fez e sentiu o cheiro do molho na cozinha.

- Hum... Que cheiro bom.

- Meu Deus! – disse ele, lembrando-se de ir apagar o fogo.

Correu até a cozinha e tirou a panela de molho do fogão. Desligou o fogo e ia voltando para a sala quando a viu parada na porta da cozinha.

- Você faz sua própria comida?

- É... Quando meu pai não está.

- Posso dar uma mãozinha? – ela falou, já arregaçando as mangas da camisa e se aproximando da pia, incumbindo-se de tirar o macarrão já cozido da panela e escorrê-lo numa travessa. Rupert não sabia se a impedia ou se apenas olhava.

- Eu também me viro sozinha na cozinha há mais de dez anos, sabia? Adoro cozinhar. Arrume a mesa que acho que vou adorar comer seu macarrão.

- Laura…

- Você tem queijo, aí? – ela perguntou, sem se importar com ele.

Ele foi até a geladeira e apanhou o pacote de queijo, entregando a ela. Não teve coragem de dizer mais nada. Começou a preparar a mesa, enquanto ela colocava o molho sobre o macarrão fumegante.

Logo estavam os dois comendo juntos a macarronada com suco de laranja.

- Há quanto tempo sua mãe morreu?

- Dez anos...

- Com ela era?

- Por dentro ou por fora?

- Ambos.

- Era uma mulher comum. Era filha de alemães. Os dois são. Só que vieram já casados da Alemanha pra Minas e eu nasci aqui, no Brasil.

- Você é mineiro então?

- Muito pouco. Eu fiquei só três meses lá. Meus pais saíram de Minas pra São Paulo pra tentar a sorte aqui e ficaram. Eles vieram de Minas com o sotaque mineiro misturado com sotaque alemão que muita gente achava engraçado.

- Sua mãe era loira?

Ele sorriu.

- Não, por quê?

- Não sei... Foi uma pergunta quase infantil pra uma professora de Inglês, mas... a ideia que o brasileiro tem do povo alemão é que todos são loiros de olhos azuis. Você não parece descendente de alemães.

- Nada a ver... Meu pai tem cabelos brancos agora, mas eram pretos antes... da minha mãe falecer. Ela tinha cabelos pretos também. Os dois com olhos azuis, nisso você não está tão errada.

- E os seus? Não são azuis.

- Pois é. É uma longa história. Não era pra eu ser alemão mesmo. Meu bisavô por parte de pai era italiano e tinha olhos pretos; meu bisavô por parte de mãe era inglês, mas tinha olhos castanhos. Dizendo assim até dá a impressão que eles foram para a Alemanha só pra começar uma estirpe nova, alemã. Não sei muita coisa sobre meus avós. Aí, depois dessa miscelânea, a coisa toda terminou aqui comigo.

- Terminou? Palavra meio pesada.

- Quase, não é? Eu não tenho parentes no Brasil. Sou filho único e... se eu não tomar cuidado, a família Lauter acaba comigo.

Laura sorriu e baixou os olhos para o prato. Rupert tomou um gole de suco e notou isso.

- Eu posso te fazer uma pergunta indiscreta? – ela perguntou, ainda olhando para o prato.

- Claro. Quem entra na minha casa e me ajuda a prepara meu jantar, tem todos os direitos.

Laura riu.

- Também não é assim...

- Pergunte.

- Você sabe por que seu pai bebe tanto?

Ele ficou sério, mas não evitou responder.

- Solidão, saudade... da minha mãe.

Laura balançou levemente a cabeça, ponderando sobre a quilo.

- Ele nunca pensou em se casar novamente?

- Ele nunca pensou em outra coisa senão nela.

- Nem em você?

Rupert respirou fundo e encolheu os ombros.

- Acho que eu não deixei que ele pensasse em mim. Quando ela morreu, eu tinha onze anos e me vi com um pai perdido, amargo, acabado... Eu tinha que comer e ele não parava de beber. Foi despedido do emprego que tinha como escrivão num cartório e eu tive que me virar.

- Como?

- Eu fiz de tudo que você possa imaginar. Até roubar...

Laura olhou para ele, chocada.

- Fui parar na FEBEM duas vezes, mas sempre aparecia uma alma boa que me tirava de lá e me colocava em algum orfanato porque sabiam da minha situação. Antes de vir pra essa casa, eu e meu pai moramos num bairro onde havia muitos alemães que o conheciam. Quer dizer, pra alguma serviu eu me chamar Rupert Lauter, apesar de não ser loiro de olhos azuis.

Ela sorriu de leve, mas comovida. Ele continuou:

- Uma dessas pessoas me colocou na escola e me manteve nela, pagando todo meu material até eu completar quatorze anos. Era um velhinho chamado Hans. Aí, ele morreu... quando eu estava já cursando a oitava série. Num dos momentos de bebedeira do meu pai, ele resolveu que eu tinha que sair da escola pra trabalhar num emprego mais fixo e mais... rentável...

Nesse momento da narrativa, os olhos dele se encheram de água e ele apoiou o rosto na mão.

- Ele... aprontou o maior escândalo na escola. O Matheus era meu professor de Matemática. Brigou por mim, mas não teve jeito. Eu deixei a escola e nunca mais pude olhar pra cara dos meus amigos... de vergonha. Meu pai me colocou pra trabalhar numa fábrica de vidro... e eu engoli aquilo, morrendo de raiva dele. Mas, no ano seguinte, fiz minha matrícula novamente na oitava série e disse a ele que se não me deixasse estudar, eu iria embora de casa e ele nunca mais me veria. Ele percebeu que eu estava falando sério e aceitou.

- Você iria mesmo?

- Não sei, ele falou enxugando do rosto. – Eu amava meu pai, apesar de tudo. Sabia porque ele sofria, sabia porque ele bebia... Só não perdoava ele por não me dar apoio nessa minha... fuga pra não ser como ele... fraco. Eu jurava que nunca na minha vida iria me apaixonar por uma mulher daquele jeito. Ele morreu em vida por ela... e com ela.

Eles ficaram em silêncio por um momento.

********************************************

Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 3

FELIZ DIA DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO...

SOFRIDO E NÃO RECONHECIDO.

EU JÁ FUI UMA E CONHEÇO VÁRIOS E SEI QUE ELES

TRABALHAM FEITO LEÕES PRA SERVIR MUITA GENTE E MUITO

POUCOS RECONHECEM...

DEUS ABENÇOE A TODOS VOCÊS!

FÉ!

Velucy
Enviado por Velucy em 28/10/2017
Reeditado em 28/10/2017
Código do texto: T6155271
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.