LISBOA VISITADA
Na noite de natal choveu muito em Lisboa. Mesmo assim os turistas saíram de seus quartos e foram se deliciar nos restaurantes e cervejarias da Baixa e do Rossio. Pelas pequenas ruas passavam portugueses, alemães, japoneses, brasileiros, suecos, holandeses e toda uma fauna humana de turistas que escolheram Portugal para passar a virada do ano e os festejos finais de 1989.
Dentro do quarto 507 de uma pensão da Praça da Figueira, uma jovem alemã, de aproximadamente 20 anos, vestia sua roupa para enfrentar a noite chuvosa de natal. Pretendia comer frutos do mar e beber muito vinho. Arrumou na carteira alguns milhares de escudos, puxou o zíper de seu casaco de nylon, colocou sobre a cabeça loira um chapéu vermelho e deixou o pequeno quarto, ganhando em seguida a rua fria da capital portuguesa.
A jovem alemã começou a percorrer as ruas movimentadas em busca de um bom lugar para sentar e pôr fim à sua fome e sua sede. Observava os preços e as pessoas que estavam já acomodadas nos ambientes. Muitos lugares estavam lotados e em alguns restaurantes pessoas solitárias acabavam por repartir a mesa com outros solitários ou com casais que estavam ocupando apenas dois lugares.
Depois de muito caminhar a alemã resolveu entrar num restaurante. O garçom lhe mostrou o menu, que continha uma seleção de pratos em português, inglês, francês e alemão. O ambiente estava lotado, mas havia uma pequena mesa, com duas cadeiras, ainda vagas, lugar este que a turista alemã escolheu para sentar-se. Muito simpático o garçom lhe conduziu até o local a puxou a cadeira para que a cliente germana sentasse. Ela fez o seu pedido e de imediato solicitou que viesse o vinho escolhido.
O garçom abriu a garrafa de vinho verde e derramou no cálice a bebida. A turista bebeu um pequeno gole e sorriu para o senhor de idade avançada e com belo sorriso que a atendia. Ele serviu mais e retirou-se. A alemã bebeu novamente aquele vinho como se há tempos não bebia nada que lhe desse intenso prazer.
II
Depois do terceiro cálice, a turista alemã começou a sentir o calor que a bebida provocava e também o ambiente. Levantou-se e retirou do corpo o casaco de nylon. Nas paredes do restaurante havia lugares indicados para se pendurar os casacos e chapéus. Ela se deslocou com seu corpo magro e pendurou sua roupa ali. Ao voltar continuou bebendo seu vinho verde enquanto não lhe serviam o jantar.
Enquanto bebia, a turista ficava pensando na sua pequena viagem de fim de ano. Era impossível não ser arrebatada por um passado recente que ela havia deixado para trás há alguns dias na terra natal distante. Lembrava-se do namorado, um rapaz alto e de barba ruiva, portando óculos, que se dedicava somente à filosofia e nas noites frias de Alemanha procurava o corpo dela pra descansar a cabeça de tantas teses e pesquisas. Lembrava-se da mãe que havia morrido algumas semanas antes de sua viagem a Portugal, depois de sofrer por vários meses num hospital em Berlim. Lembrava-se do sorriso do pai que lhe incentivou fazer esta viagem para descansar e conhecer Portugal. Lembrava-se dos dias de aula e do trabalho que executara numa empresa de comunicação.
Presa a estes pensamentos e bebendo automaticamente seu vinho, quase sem perceber o que se passava no ambiente, a turista de Berlim foi chamada de volta com a chegada do simpático garçom e o seu pedido. Trocaram sorrisos, ele serviu o prato, serviu novamente o cálice de vinho e retirou-se, não sem antes observar e concluir para si que debaixo daquela malha cinza havia um belo corpo magro e possuidor de volumosos seios que pareciam formosos ao salientarem-se com a roupa justa. Ela pegou o olhar dele e parece ter lido nos seus olhos o seu pensamento, mas como adorava ser objeto de desejo, mesmo de um senhor que deveria ter a idade de seu pai, deu-lhe um sorriso de contentamento para com a gentileza demonstrada.
Começou a se deliciar com os frutos do mar que não percebeu que o vinho estava no final. Mastigava com grande prazer e bebia os últimos goles da primeira garrafa. O velho garçom novamente chegou à beira da mesa e segurou o casco vazio da garrafa, como quem pergunta se quer outra. Ela afirmou com um gesto e um sorriso.
III
Quando terminou de jantar a turista alemã percebeu que havia muito vinho em sua garrafa. O garçom, que fazia questão de servir a pequena loira, novamente se aproximou da mesa e retirou os pratos. Voltando à mesa lhe mostrou as ofertas de doces ao que ela escolheu um que lhe pareceu mais interessante na foto exposta no cardápio. Recebeu o doce e ficou a saboreá-lo junto com o vinho que passava de meia garrafa sobre aquela mesa.
Como o restaurante ainda continuava completamente lotado por turistas de diversos países e também por famílias portuguesas que saíram para jantar fora naquela noite chuvosa, porém noite de natal, um grupo de pessoas ficava a esperar na entrada do recinto, esperando vagas nas mesas. De repente ela observou que um rapaz alto e moreno se dirigia a sua mesa.
_Com licença? Posso me sentar? Estou esperando uma mesa há vários minutos e como estou só achei por bem sentar aqui, já que estás no fim da janta.
Em alemão ela respondeu que não estava entendendo nada.
O rapaz, que era brasileiro, deixou escapar um sorriso, e tentou se comunicar através de gestos com a turista alemã. Ela também sorriu e fez gestos para que ele sentasse.
Nisso o velho garçom apareceu, já sem o mesmo e cordial sorriso dedicado para a alemã. O brasileiro explicou-lhe o que acontecia e o senhor idoso e simpático lhe apresentou o cardápio. De saída ele pediu o mesmo vinho que a alemã bebia, pedindo também bacalhau, saladas e arroz.
Quando o garçom se retirou o jovem brasileiro falou em inglês com a alemã:
_Você fala em inglês?
_Yes. Algumas palavras. Muitas vezes visitei Londres e tenho um irmão que vive na Inglaterra.
_Sou engenheiro mecânico, também vivo na Inglaterra, onde estou a fazer um curso, apesar de ser brasileiro.
_Brasileiro? Que maravilha! Carnaval, lindas praias e calor o ano inteiro. Eu gostaria de visitar o Brasil.
_Não é em todos os lugares que o verão é o ano inteiro no Brasil. Na região onde minha família mora, no sul, perto do Uruguai e da Argentina, onde vivi muitos anos, faz frio de dois graus negativos nos meses de julho e agosto. Mas a partir de novembro, até março, o calor também é muito forte.
_Eu imagino - disse a turista de Berlim com um pequeno sorriso nos seus lábios finos e com o olho dentro do olho do brasileiro.
Aos poucos o vinho começava a fazer efeito na alemã. Ela já se sentia mais leve e fora da realidade habitual. Aquela conversa em inglês com um latino-americano estava ficando interessante e enquanto conversava ela ficava a observar os traços do brasileiro e a expressão de seu rosto.
_Você já conhece a Alemanha? - perguntou a turista de Berlim.
_Não. Ainda não deu tempo. Faz apenas dois meses que estou a estudar na Inglaterra e o único país que estive a visitar foi a França. Agora resolvi vir a Portugal por indicação de alguns amigos e também por fatores culturais que me ligam a este país. Pretendo ir a Berlim, Colônia, Hamburgo e outras cidades da Alemanha no início de 1990, quando der tempo no curso que estou a fazer de especialização.
Mais alguns minutos e o pedido do brasileiro chegou à mesa. Enquanto ele ficava a jantar com grande apetite, a turista alemã se deliciava lentamente com o vinho verde e com a expressão facial do rosto do seu companheiro de mesa. Pra ela aquela noite começava a ficar interessante já que via nos olhos do brasileiro um interesse por ela. E suas previsões eram fatais. Nunca errava. Lembrou quando conheceu o namorado, na universidade de Berlim, num recital. Eles sentaram um ao lado do outro e começaram a conversar sobre o espetáculo. Ela decidiu claramente que ele não era só teoria e intelectualidade, que ele também era homem e tinha um corpo, portanto estava muito interessado também em mulheres. Quando acabou o recital ele lhe convidou para beberem alguma coisa. Aí começou tudo. Uma relação aberta e sem cobranças que por muitos anos estava a durar. Naquela época ela tinha 18 anos, mas desde os 14 esteve interessada profundamente no sexo oposto.
_Seu olho azul é muito bonito! -exclamou o brasileiro.
_Muita gente já disse que meus dois olhos azuis são lindos! -replicou a berlinense, rindo.
_É claro. Desculpe-me. Foi uma má colocação de plurais da minha parte, explicou o engenheiro brasileiro.
E os dois riram enquanto bebiam o vinho e ele terminava de dar as últimas garfadas em seu jantar de noite de natal.
_O que você faz em Berlim? - perguntou o brasileiro.
_Estudo Comunicação. Faço estágio em uma empresa de publicidade, fico a namorar nas noites frias, às vezes converso com meu pai, caminho pela cidade, pego metrô... faço muitas coisas em Berlim. Bebo cerveja também. Ah! E danço!
Ambos riram e fizeram um brinde.
_Eu também gosto de dançar! exclamou o brasileiro.
_Feliz natal! exclamou a alemã, dando um sorriso próprio das pessoas embriagadas levemente, com toda a sensualidade que ela possuía.
_Feliz natal! ele também exclamou sorrindo. E depois repetiu a frase em português: “Feliz natal”. Ela tentou e saiu à frase com um sotaque, com a língua sendo forçada para articular o som das pequenas palavras.
A turista alemã ficava a pensar como era engraçada esta vida. Há dois dias havia chegado a Lisboa e só o que tinha feito além de almoçar, jantar e dormir sozinha, era bater fotos e passear pela cidade. De repente, na noite de Natal, por acaso, encontra um brasileiro simpático, bonito, culto e sensual que na hora do jantar lhe causa uma sensação boa, de bem-estar. Ela era de fácil acesso e sempre foi muito chegada às pessoas. Com disposição para se comunicar e enfrentar novas experiências, ela fazia questão de aprofundar-se mais e mais nessa que estava a começar de uma forma ocasional e diríamos que até romântica.
O brasileiro que estava a passear em Portugal bebia lentamente o seu vinho verde e olhava às vezes para o copo e outras vezes para o rosto branco de sua companheira de mesa. Ficava a pensar no que haveria por baixo daquela malha. Há semanas ele estava só e não sentia o calor do corpo de uma mulher. No Brasil fora casado durante dois anos e depois se divorciara por incompatibilidade com a ex-esposa. Durante seis meses ficou solteiro, vivendo no Rio de Janeiro, longe dos parentes do sul e da ex-esposa que morava em Porto Alegre. Trabalhou este período numa empresa automobilística e ganhou uma bolsa para fazer estudos de aperfeiçoamento na Inglaterra. Aproveitou a oportunidade para conhecer a Europa e viver momentos agradáveis com este povo.
Quando os dois turistas estavam viajando em seus pensamentos, já um pouco entorpecidos pelo bom vinho verde, o garçom voltou à mesa oferecendo doce ao rapaz. Ele recusou, mas pediu uma nova garrafa de vinho. A alemã tentou protestar, mas ele garantiu que tudo ia correr bem e que ele era um “beberrão” desde menino. Ela riu e articulou uma pergunta no seu inglês imperfeito:
_Como é seu nome?
_Tarzan: O Rei da Amazônia!
Os dois riram. Ele voltou a falar:
_Meu nome é Marcos Abreu. Tenho 27 anos.
Impressionada e rindo sem motivo à alemã disse que o nome dela era Sheila Mayer, e que tinha 21 anos. E completou:
_Meu signo é câncer;
_O meu é leão! exclamou orgulhoso o brasileiro.
O garçom trouxe mais uma garrafa de vinho e serviu nos dois cálices que já estavam quase vazios. A turista alemã lhe pediu a conta. O brasileiro também. O garçom ainda perguntou se não queriam mais alguma coisa, ao que ambos responderam que estava tudo bem e estavam servidos.
_O que você pretende fazer ainda hoje? Interrogou o brasileiro Marcos Abreu.
_Não sei. Ia começar a pensar, afirmou Sheila Mayer.
_Olha, eu vou ser sincero contigo. Eu estava à procura de uma companhia feminina agradável e bonita. Alguém como você. Linda e meiga. E acho que encontrei. Portanto eu tenho uma proposta a lhe fazer para esta noite natalina e chuvosa.
A alemã riu e esperou pelas próximas palavras de Marcos.
_Eu quero lhe amar! Mas se quiseres podemos dar uma volta pela cidade, beber mais um bocado, o que você quiser, para depois comemorarmos este nosso encontro.
A turista de Berlim tinha certeza que o brasileiro viria com esta conversa antes de levantar. Bebeu mais um gole de vinho, silenciosa e pensativa, e falou a Marcos com um sorriso nos lábios finos:
_Eu prefiro dar uma volta pela chuva, bêbada, e depois o que faltar a gente inventa.
Marcos sorriu, vitorioso pela conquista e comentou:
_” O que faltar a gente inventa”, isso parece verso de um poeta brasileiro.
_E é, exclamou Sheila, bebendo mais um bocado de vinho.
O garçom novamente apareceu na mesa e apresentou as duas contas separadas. A alemã pagou seis contos e o brasileiro pagou três contos e oitocentos escudos. Ambos agradeceram com sorrisos e o garçom disse-lhes que ficassem à vontade, até terminarem com bastante calma o vinho. E deu mais uma olhada nos seios salientes de Sheila que percebendo riu para o brasileiro que também assistia a cena. Os dois riram e o garçom se retirou, sonhando talvez com as dezenas de portuguesas que tivera amado na sua juventude ou se imaginando abraçado naquele corpo branco e jovem que certamente seria do brasileiro naquela noite de natal.
_Que presente de natal! ele exclamou em português para Marcos que riu e fez sinal de positivo para o velho garçom da Baixa.
Sheila vestiu seu casaco e o chapéu vermelho e saiu para a rua acompanhada de Marcos. De pé pode ver o físico dele e se acomodou no seu abraço. As pessoas passavam pela rua e a chuva continuava caindo lentamente sobre o território português. As manchetes de jornais noticiavam a invasão das águas em diversas localidades do país e mostravam os problemas causados pelas cheia dos rios Tejo e Douro. Também noticiavam a queda do governo autoritário da Romênia e a ascensão de um governo popular. Mas isso não interessava tanto a Marcos e Sheila naquele instante. O que desejavam era inventar o que faltasse, e caminhando pela chuva trocaram os primeiros beijos.
IV
Os caminhos do prazer em Lisboa são muitos. Mas para Marcos apenas o prazer que sentiria com aquela mulher germânica interessava naquela noite. Porém concordou com ela em beber um bocado, afinal agradá-la também fazia parte de sua tática de conquistá-la. E seguindo este raciocínio tomou a frente das decisões e a levou para um passeio pelos bares da Avenida Liberdade, nas proximidades da Praça dos Restauradores. Continuaram com vinho e quando resolveram se jogar numa cama confortável, inventaram o que faltava: compraram um champanhe para comemoração maior deste encontro. Abraçados riam sob a chuva que caía leve e provocavam olhares curiosos dos que estavam a passar.
_Pra onde vamos? perguntou Sheila.
_Para o meu hotel, afirmou Marcos.
_Teu quarto é de casal? novamente interrogou a alemã.
_Não. Mas isso não é problema. Eu me transfiro.
_Não. É problema sim. Eu prefiro não ir para o teu hotel! exclamou repentinamente Sheila, parando de repente na rua e ficando séria.
_Então vamos para o teu, replicou o brasileiro, com um sorriso inseguro no canto da boca. Pensou que algo estava dando errado, logo naquelas alturas da noite.
Sheila abraçou-se na garrafa de champanhe e pensativa afirmou:
_Melhor a gente não ir a nenhum dos dois hotéis. O meu, na verdade, é uma pensão na Praça da Figueira. Nada contra, acontece que pensando bem não deveríamos ir um ao hotel do outro.
Marcos Abreu caminhou na direção da turista de Berlim e abraçou seu corpo magro e molhado pela garoa de natal. Os seus lábios se encontraram e por minutos ficaram intensamente se beijando. O brasileiro tomou a garrafa da mão da alemã, abraçou sua cintura fina e caminharam em direção não definida.
Depois de tanto caminhar com as luzes coloridas da Avenida a lhes tocar os olhos, os dois pararam em uma esquina. Dobrando a direita estava um anúncio de néon, com as cores vermelha e azul, que indicava: Pensão Royal. Riram e se deslocaram para o local. Subiram as escadas velhas de madeira até chegarem à recepção. Um senhor magro e calvo os atendeu. Pediram um quarto. O brasileiro se comunicou com o português no seu sotaque gaúcho e pediu um quarto com banho, para casal. O porteiro pediu passaporte, fez a ficha e recebeu os cinco contos pela noite. Entregou a chave e indicou o andar superior para Marcos que carregou a turista alemã, puxando-a pela mão branca e magra.
Andaram por um corredor grande até chegarem ao quarto 402 onde abriram a porta e acenderam as luzes. Enquanto Marcos trancava o quarto a alemã foi verificar o local. Entrou na casa de banho, olhou a vista pela janela, enxergando ao alto o Castelo de São Jorge, todo iluminado. Enxergando as luzes dos prédios de Lisboa. Enxergando a chuva, lentamente caindo sobre os telhados, sobre as ruas, sobre as pessoas que ficavam a caminhar naquela noite de natal.
Marcos abriu a champanhe e chamou a alemã para beber. Ela veio, dançando sensualmente, mesmo que não houvesse música. Mas para isso o brasileiro deu um jeito e começou a cantar um blues americano. Abraçou-a e continuou cantando no seu ouvido, dando continuidade àquela dança mágica e sensual, que não acabou sequer com um beijo longo entre os dois. As mãos de Marcos invadiram o casaco de nylon de Sheila e lhe tiraram lentamente a malha que estava para dentro da calça jeans. O casaco caiu e aumentou a excitação da companheira que lhe beijava o pescoço e lhe apertava forte o corpo.
_ E a champanhe? perguntou Sheila.
_ Está aqui, bem pertinho, baby!
_ Não vamos beber? novamente perguntou Sheila, oferecendo seu pescoço ao brasileiro e pouco interessada na bebida.
_Quando der tempo bebemos, baby, murmurou Marcos que estava a esculpir o corpo da turista alemã, beijando seu pescoço e afagando seus seios e pernas e bunda.
_ E se não der?
Os dois caíram na cama, um procurando entrar pra dentro do outro. Aos poucos foram se desfazendo das roupas e mergulharam para o interior das cobertas. Marcos beijou os seios da alemã e entrou entre suas pernas magras e brancas. Com sua mão de dedos finos Sheila conduziu o sexo do brasileiro para dentro do seu. Ficaram vários minutos embebidos da maior excitação possível, na busca de um êxtase profundamente arrebatador. Os movimentos dos corpos cada vez mais foram intensificados até uma paralisia total, quando ambos alcançaram o orgasmo e em línguas diferentes deliraram, pronunciando palavras de um para o outro. Por instantes reinou o silêncio e o abraço forte entre eles selou que daquela reação ficara também o carinho entre eles.
_Agora me deu sede! exclamou Marcos em português, ainda tonto com a intensidade daquele amor.
_O que você falou? interrogou debilmente Sheila.
O brasileiro voltou a falar em inglês:
_Agora estou com sede!
E se desfazendo do abraço dela procurou a champanhe na beira da cama. Teve que levantar-se a procura de um copo que encontrou na casa de banho. Voltou e serviu a bebida fria que lhes molhou a garganta seca. Trocaram outro beijo e ficaram sentados na cabeceira da cama, com as cobertas até a cintura, a beber com grande prazer aquela bebida especial para aquela noite especial.
V
Sheila ficou a beber lentamente e com os olhos no teto ficava a pensar, mesmo que ainda tonta pelo efeito de tanto vinho e tanto prazer. Lembrou-se que no outro dia deveria viajar para a cidade do Porto para encontrar-se com amigos alemães que também visitavam Portugal naquele fim de ano. Lembrou-se do namorado e no que ele deveria estar a fazer pelas ruas de Berlim àquela hora da noite. Lembrou-se com saudade da mãe morta há semanas, pessoa querida que muito marcou sua vida. De repente Sheila levantou-se e nua caminhou pelo quarto em direção a casa de banho.
Marcos contemplou aquela imagem bela da alemã caminhando no piso forrado do dormitório. Fixou seus olhos na perfeição e harmonia do corpo da companheira de noite de natal. Tudo naquele corpo magro e branco tinha proporcionalidade. Os seios, apesar de volumosos, não pareciam exagerados e nem caiam pela barriga. Eram rijos. A bunda salientava-se na linha que delineava o perfil da alemã. Com elegância ela mexia as pernas carnudas e firmes e com segurança de personalidade conduzia seu corpo para a casa de banho.
O brasileiro continuou a beber a champanhe e rapidamente contou quantos dias ainda tinha para ficar no país que colonizou sua pátria. Teria de visitar o Castelo de São Jorge e outros pontos turísticos da cidade. Estava planejando para no outro dia atravessar o rio Tejo e caminhar pelas ruas de Almada. Seu pensamento foi cortado quando ouviu o barulho da água. Bebeu mais um gole, secando o copo, e levantou-se da cama. Encheu novamente o copo de champanhe e caminhou em direção à casa de banho.
_ Tem bastante água na banheira? perguntou Marcos.
_ Está enchendo. Água quente, respondeu a alemã.
_ Bebe mais um pouco, baby.
Sheila pegou o copo e Marcos entrou pra dentro da banheira que estava a encher rapidamente. Os dois se deitaram depois de secarem o copo de bebida espumante e trocaram beijos e abraços embaixo dágua.
_Você já está excitado novamente! exclamou a alemã, rindo do amigo que lhe acariciava os seios.
_Sim, como bom brasileiro tenho muito apetite sexual!
Os dois se acomodaram dentro da banheira que já estava a transbordar e recomeçaram uma relação sexual que durou poucos minutos mas que arrancou gemidos de ambos os parceiros. Marcos beijava o pescoço da Sheila que vibrava com a penetração da língua do brasileiro em seu ouvido. Apesar de pouco espaço o amor acomodava-os, e ambos, num ritmo só, entrelaçaram suas pernas e braços que num movimento intenso e de muito prazer culminou com um novo e longo orgasmo.
A casa de banho estava cheia de água. Os amantes deliravam e se beijavam. Marcos afagava os cabelos molhados de Sheila que ficava e lhe acariciar os pelos do peito.
_A água vai invadir o dormitório! disse mansamente a turista alemã, abraçada ao corpo moreno do brasileiro.
_Então desliga a duche!
A alemã tentou, mas seu braço, que estava preso ao corpo de Marcos, não alcançou. Então Marcos movimentou-se no pequeno espaço da banheira e desligou a água corrente.
As mãos pequenas de Sheila pegaram um sabonete e alisaram a pele de Marcos. O mesmo a fez que ajudasse a alemã banhar-se, limpando todas as partes de seu corpo com grande carinho.
Secaram-se e caíram cansados na cama. Sheila deitou-se sobre o braço direito de Marcos e dormiu abraçada no seu corpo jovem e forte. Antes de cair no sono Marcos ficou a acariciar os cabelos e o rosto da alemã, deixando fluir toda ternura que lhe brotava naquela noite de natal para com uma pessoa que há algumas horas era uma estranha para ele. Não conseguiu deixar de lembrar da ex-esposa e seus primeiros meses de casados, quando existia o amor e o carinho entre eles. Essas imagens, junto com a ex-esposa a dormir em seu braço após uma fatigante noite de sexo, lhe passaram pela cabeça e ele fez questão de não fixar e recordar este passado. Apagou a luz e buscou o sono no escuro do quarto, enquanto Sheila dormia tranquilamente acomodada em seus braços fortes.
VI
Na manhã seguinte a chuva continuava a cair mansamente sobre os telhados de Lisboa. Sheila acordou-se primeiro e se desfez dos braços de Marcos que continuava a dormir. Eram 10 horas do dia 26, terça-feira, e o frio de dezembro já punha os portugueses de casacos mais pesados e roupas de lã pelas ruas.
Sheila vestiu sua roupa, lavou-se e arrumou os cabelos enquanto Marcos acabava de acordar com o movimento no quarto.
O brasileiro reclamava de dor na cabeça e comentava o quanto fora maravilhosa a noite de natal. Sheila ficava silenciosa, na frente do espelho, só a ouvir. Marcos levantou-se e caminhou na direção da turista de Berlim. Enlaçou-a pela cintura e antes que ele colocasse batom nos lábios, beijou-a com ternura e depois com bastante força, colocando sua língua na boca de Sheila. Ela virou-se e abraçou seu corpo ainda nu, esfregando as mãos brancas no peito dele. Marcos lhe beijou o ouvido, o pescoço e massageou os seios que já estavam rijos e saltitantes.
_Porque vestiu a roupa, baby? Não gosta mais do meu carinho? perguntou o turista brasileiro.
_ É que eu tenho um vôo marcado para o Porto, disse Sheila..
_ Eu também tenho um vôo marcado para daqui a alguns minutos, disse Marcos sem deixar de acariciar as partes mais sensíveis da sexualidade da amiga.
_ Pra onde?
_ Pra dentro do teu corpo, da tua alma...
E foi tirando a roupa de Sheila que não hesitou em ter que vestir tudo outra vez daqui a alguns minutos.
Marcos puxou a calça jeans para baixo e trouxe consigo a calcinha branca da alemã. Acariciou suas pernas e beijou suas coxas firmes. Subiu seu corpo e sacou a malha cinza e a camiseta que protegiam a parte superior do corpo da Sheila. Beijou seus peitos, o pescoço, os lábios, os ouvidos e desceu novamente com sua boca cedente pelas pernas. Abocanhou o sexo da alemã lentamente e enfiou sua língua no local de maior prazer da mulher. Ela fechou os olhos e se deixou ser tomada por uma sensação de total desprendimento da vida cotidiana. Um calor subia por seu corpo e ela acariciava os cabelos do brasileiro que entrava pra dentro dela com a língua ágil e excitante.
Aos poucos ela se ia contraindo de prazer e delirava em alemão. Marcos, mergulhado em seu sexo de púbis loiros, bebia com sofreguidão o líquido do prazer que a companheira soltava junto com gemidos. Ambos caíram sobre o tapete do quarto e a boca sedenta do brasileiro subiu o corpo da alemã, passando pela barriga, pelos seios, pelo pescoço, indo alcançar os lábios finos e macios.
Sheila acomodou Marcos sobre si e apertou forte seu pênis endurecido e latejante. Massageou o sexo do amigo e o fez entrar no seu. Depois, num jogo rápido de movimentos febris, enlaçou Marcos com suas pernas e o fez gozar de prazer em alguns minutos. Enquanto o brasileiro ainda estava “viajando” de prazer, Sheila livrou-se do peso do corpo dele e abocanhou seu sexo que ainda vibrava.
Marcos, deitado de costas no piso forrado do dormitório, enquanto olhava o teto sentia as delícias que Sheila lhe proporcionava com a boca e com a língua. A alemã ainda pegou o pênis do brasileiro, enfiou dentro de si, e, sentada sobre o seu corpo, se pôs a mexer seu corpo magro e proporcional. Não demoraram dez minutos de prazer total para que Sheila caísse delirante sobre o corpo de Marcos que estava a gritar em inglês as palavras de regozijo e de amor.
Quando acabaram, os corpos ficaram estendidos sobre o tapete do quarto. Silêncio completo. Deitada sobre o peito de Marcos, Sheila ouvia o bater de seu coração. O brasileiro, depois de abrir novamente os olhos, exclamou:
_ Este foi o melhor “pequeno almoço” que usufrui em Portugal; e riu silenciosamente enquanto a alemã procurava seus lábios para mais um beijo.
_ Vamos tomar um banho? perguntou Marcos.
_ Cada um toma o seu! exclamou Sheila. _ senão vamos acabar morrendo de amar nesta manhã pós-natal.
Ele se limitou a rir e virou o corpo, ficando sobre o dela.
Como estava em cima, levantou-se primeiro e entrou na casa de banho. Sheila ainda protestou:
_ Vou ter que me vestir toda novamente! E ficou a ouvir o barulho da água que caía sobre o corpo do companheiro.
Depois de secar-se Marcos deu lugar para a turista alemã que não se demorou muito. Em poucos minutos ambos estavam vestidos e prontos para enfrentarem o frio e a garoa de Lisboa. Na saída o brasileiro pegou seu passaporte e o porteiro já era outro.
Os amigos caminharam pela Avenida Liberdade e concordaram em beber um café com torradas. Entraram numa cervejaria e sentaram-se numa mesa do canto do salão. Uma música americana soava num aparelho de som. Um jazz. Tocado em piano acústico e com um contrabaixo bem saliente que marcava o ritmo da música. Lá fora, no frio de Lisboa, as pessoas retomavam seus afazeres e a cidade renascia para o trabalho depois de um longo feriado.
VII
O garçom jovem e gordinho serviu a mesa dos turistas.
_ Que horas voas para o Porto? Perguntou sério o brasileiro que levava a xícara de café aos lábios.
_ Às 14 horas. Vou encontrar alguns amigos que estão visitando aquela cidade.
_ Eu vou ficar em Lisboa até domingo, dia 1° eu volto para Londres. Dia 2 de janeiro tenho que estar no curso novamente.
_ Antes de voltar para Berlim eu volto à Lisboa. Fico uns dias em Porto. Quero navegar no rio Douro, visitar algumas igrejas antigas e históricas da cidade, bater algumas fotos...
_ Nós vamos nos encontrar ainda este ano? perguntou Marcos.
_ Acho que sim. Espero que sim. Foi muito bom ter te encontrado. Eu nunca imaginei que nesta viagem de descanso viria a encontrar um latino-americano interessante como você.
_ Você fala como se os latino-americanos não fossem interessantes. Como se fossem uma sub-raça, comentou Marcos.
_ Não foi isso que quis dizer. Acho que você está subestimando tua origem com esta colocação. Eu apenas nunca tinha feito um contato tão especial com um latino-americano! afirmou a turista alemã num tom de repreensão.
_ Mas tinha contatado com um latino-americano? perguntou Marcos, interessado.
_ Muito superficialmente. Meu namorado tem um colega argentino na faculdade de filosofia e uma noite, numa festa, conversamos rapidamente. Só isso, afirmou Sheila.
_ Anota aí o nome do meu hotel e o número do meu quarto para me procurares na volta de Porto, disse Marcos, sacando uma caneta preta.
O brasileiro ditou o endereço que a turista de Berlim anotou. Bebeu o último gole do seu café e olhando dentro dos olhos da berlinense perguntou:
_ E se não me procurares?
Ela sorriu e ficou muda. Ele insistiu na pergunta.
_ Se eu não for a tua procura _ falou Sheila ainda sorrindo _ é porque morri ou tomei doente o avião de volta para a Alemanha.
_ Eu posso ficar com teu endereço de Berlim? Pretendo visitar a cidade em 1990.
_ Claro que pode. Anota.
E Marcos pegou novamente a caneta preta para anotar o endereço da turista alemã. No mesmo papel anotou seu endereço na Inglaterra e no Brasil. Destacou-o e entregou para Sheila. Ela sorriu e guardou dentro de sua carteira.
O garçom novamente chegou para retirar as coisas da mesa.
Marcos pediu a conta e pagou-o. Ele deu o troco em moedas.
_ Vou sentir saudades de você nos próximos dias, disse o brasileiro com ar triste.
_ Vou lembrar-me do nosso amor, disse Sheila.
_ Mas não vai dar tempo pra sentir saudade, eu sei, afinal estarás acompanhada dos garçons e dos porteiros. Pouca conversa e muito passeio. Em cada volta se gasta um bocado e tanto! e sorriu o jovem brasileiro para a estudante berlinense.
_ Eu tenho que arrumar minhas coisas para viajar; disse ela calmamente.
_ Eu vou contigo até a frente da tua pensão; posso?
_ Claro que sim; Depois darei uns telefonemas e pego um táxi direto para o aeroporto. E nos enxergamos daqui a alguns dias, com certeza, baby; concluiu Sheila, sempre sorridente.
_ Ok; então vamos?
Os dois turistas saíram novamente pela Avenida e na Praça Dom Pedro dobraram à esquerda. Na Praça da Figueira, na frente da pensão em que estava a se hospedar Sheila, trocaram longos e sensuais beijos. Marcos acariciava com bastante ternura o rosto e os cabelos da Sheila que o abraçava o corpo com força.
_ God bye, baby!
_ Bye, my love!
E a loira alemã subiu as escadas enquanto o brasileiro ficara a assistir seus passos macios que logo sumiram. Ele deu meia volta e se misturou no meio da multidão de portugueses e imigrantes africanos que transitavam pela Baixa.
VIII
Sheila arrumou suas roupas em uma bolsa e depois de telefonar par a cidade do Porto, hotel onde se encontravam seus amigos alemães, desceu até a recepção da pensão. Pagou o que devia e desceu novamente as escadas. Andou um pouco e chegou até um táxi. Em alguns minutos estava rumando para o aeroporto de Lisboa.
Ainda teve que esperar uma hora até que seu vôo partisse. E, chegando a cidade do Porto, lá estavam seus amigos a lhe esperar. Há dias não se viam e trocaram abraços e beijos.
Um dos amigos de Sheila, Hanz, jovem de 22 anos que também estava a estudar comunicação social em Berlim, namorado de sua amiga Herba, outra estudante do mesmo curso na cidade alemã, ficou a escutar por muitos minutos as narrativas da turista recém chegada que falava com grande entusiasmo de Lisboa e das coisas que encontrara na capital portuguesa. Omitiu, portanto, o encontro com o brasileiro, já que Hanz era amigo de seu namorado berlinense e ela não queria desde já criar problemas. Melhor seria naquela ocasião falar de turismo e aspectos históricos e culturais da cidade que por muitos anos foi centralizadora de grandes descobertas marítimas investidas por seus antigos governantes.
Do aeroporto até o hotel onde estavam a se hospedar os alemães, o táxi levou um bocado de tempo, quando os amigos se puseram a conversar no seu idioma, deixando o condutor do carro totalmente alheio ao assunto.
_ Nos conta, Sheila, valeu a solidão a que estavas a desejar? perguntou sua amiga Herba.
_ Sim. Foram dias maravilhosos que passei comigo mesma. Não conversava com ninguém e ficava a mergulhar nos meus pensamentos e dúvidas enquanto estava a caminhar e a visitar locais.
_ Não se cansou de si só? interrogou o alemão Hanz.
_ Em algumas horas sim. Eu estava a desejar companhias de amigos para trocar algumas palavras em alemão, para falar qualquer coisa, mesmo que bobagens. Teve uma noite, a de natal, que bebi vinho até ficar embriagada. Foi uma ótima noite! exclamou Sheila olhando com olhar de cumplicidade para Herba que percebeu algo a mais naquela expressão.
O táxi estacionou na frente do hotel e os turistas alemães desceram. Hanz pagou a conta em escudos e o grupo de jovens loiros se dirigiu a recepção do local. Por telefone eles já tinham reservado um quarto para Sheila e ela foi soltar suas roupas no dormitório reservado.
Antes de entrar no quarto Sheila ainda ouviu a pergunta do amigo Hanz:
_ Me diga, e Frantz, sentiu saudades dele?
Frantz era o namorado de Sheila que ficara em Berlim. Ela sorriu para o amigo e antes de entrar no seu dormitório respondeu a Hanz:
_ Claro que sim. Lamento muito ele não poder estar conosco nesta viagem. Espero que em breve nos encontremos.
_ Nós também sentimos saudades dele! exclamou Hanz para a sorridente Sheila.
O grupo de amigos a que pertenciam àqueles quatro jovens alemães era muito unido. Os dois casais, Frantz e Sheila, e Hanz e Herba, há muito viajavam juntos e grande parte do tempo ficavam a se divertir juntos. Nesta ocasião o namorado de Sheila desistira da viagem para assistir a um seminário de filosofia em Colônia. Sheila observou em seu parceiro o desinteresse, mas não protestou, afinal a relação deles era baseada na “não-cobrança” dos atos um do outro e na plena liberdade de decisão, mesmo que isso viesse a causar dano afetivo ao outro. Era uma espécie de pacto que ambos tinham feito há anos. E até agora tudo tinha corrido bem.
Há uns dois anos atrás um incidente marcou a relação dos dois jovens alemães. Frantz acabou por se envolver com uma professora do seu curso de filosofia, uma mulher de aproximadamente 40 anos, porém bela e muito inteligente, que há princípio lhe causou admiração e depois uma atração sexual e afetiva profunda que durou aproximadamente 11 meses.
Depois que começaram, aluno e mestre, a se encontrar fora do expediente universitário, o namorado resolveu falar para a bela Sheila o que se passava. O impacto da notícia abalou a alemã de então 20 anos. O namorado, mais velho e com maior experiência, explicou que estava apenas vivendo uma descoberta nova, tanto no campo sexual como no relacionamento afetivo entre pessoas maduras e civilizadas que estavam a viver no fim do século XX, já na era atômica e com o pensamento bem avançado. Ela ouviu as explicações do namorado, mas um sentimento forte, de perda do que ela julgava “exclusividade do seu amor e corpo”, continuou a abalar seu pensamento por muitos dias. Na mesma noite da revelação, eles fizeram amor onde os gemidos de prazer se misturavam com choro, lamento saído das profundidades da alma. Do “amargo da vida”, como concluíra a própria Sheila.
Apesar da relação de Frantz com a professora, o casal de namorados resolveu continuar seus encontros de amor e de amizade, só que menos freqüente devido ao tempo que Frantz dedicava a sua nova parceira. No entanto Sheila não se abalou totalmente com a história que também resolveu a investir em novas experiências. Para isso o namorado concluiu:
_ Se você precisa disso para sentir-se mais feliz, mais realizada, eu nada posso fazer, a não ser te amar sempre!
E Sheila aprofundou-se nas suas novas experiências. Enquanto o namorado estava a amar a professora de filosofia, ela tentava amar alguns de seus colegas. Começou a freqüentar festas de estudantes com mais freqüência e a se relacionar com um número maior de pessoas na velha Berlim.
Uma vez Sheila encontrou um casal de punks que lhe proporam realizarem uma orgia de sexo grupal. Muito ela já tinha ouvido falar do assunto e algumas amigas sua já o tinham feito. No entanto, como ela mesmo dissera, nunca sentira necessidade de realizar tal ato. Portanto era uma nova experiência, e depois de beberem dois litros de uísque, numa festa realizada entre os três, na casa do rapaz, eles partiram para realizarem o sexo grupal. A garota punk beijou todo o corpo de Sheila, em especial seus peitos e coxas e invadiu por várias vezes seu sexo com a língua, deixando-a cada vez mais excitada. Como ela se propôs ao ato, voluntariamente, tinha que se soltar e tentar tirar o máximo de prazer da orgia. Deixou ser penetrada pelo punk e deliciou-se beijando todas as partes da menina que não tinha mais do que 17 anos de idade. A pele da punk era muito fina e o perfume que soltava era doce. Sheila gostou tanto que por outras oportunidades encontrou-se com a garota punk numa cama ou num banheiro de festa para trocarem longos e saborosos beijos.
Também um grande amigo de Frantz não escapou das novas experiências de Sheila. Ele morava no mesmo apartamento do namorado da turista alemã e a recebeu numa visita inesperada numa noite de segunda-feira quando ainda estava a estudar. Sheila chegou ao anoitecer e perguntou pelo namorado. O seu amigo respondeu que não sabia dele desde o domingo, quando de manhã cedo havia saído com uma bolsa cheia de roupas. Sheila resolveu esperar e pediu alguma coisa para beber. O rapaz lhe serviu cerveja e continuou sua leitura.
Sheila ligou o aparelho de som e começou a dançar um velho rock. A música tirou a concentração do rapaz que estava a estudar. Ele ficou assistindo aos gestos sensuais da namorada do amigo e logo se excitou. Ela percebeu e para provocar ainda mais a excitação do amigo do namorado tirou uma blusa de lã, ficando apenas com uma camiseta decotada que deixavam seus seios muito salientes e convidativos aos olhos do rapaz.
_ Posso dançar consigo? Perguntou ele timidamente.
_ E porque não? Disse Sheila com um sorriso no rosto.
Apesar de tímido, o amigo do namorado de Sheila percebeu na expressão dela que algo estava para acontecer naquele momento entre eles. E enquanto dançava ficou a lembrar da primeira vez que viu ela, passando nua pela cozinha, de manhã, quando ele tomava um café e ela estava a pousar com o namorado. Desde então a desejou e agora era chegada a hora. Também sabia da relação que os dois estavam a levar nos últimos meses e sabia que o amigo estava a viajar com a professora de filosofia.
Beberam mais cervejas e ele falou que estava a estudar muito, tanto que não saira para se divertir no fim-de-semana. Ela apenas se limitava a sorrir e o rapaz sentia o cheiro de cio em que se encontrava a amiga.
Como ele não se resolvia, ela tirou as calças justas de jeans e ficou apenas de camiseta e calcinha. O rapaz chegou perto do seu corpo fervendo e deu-lhe um beijo molhado de alguns segundos. Depois lhe passou suavemente as mãos nas pernas, na bunda e tirou sua camiseta lentamente, abocanhando os grandes seios de Sheila.
Mais alguns minutos e estavam a fazer amor no piso da sala, sobre almofadas coloridas. O amigo se desfez rapidamente das roupas e a amou como se aquela fosse à última vez. E quando chagou ao orgasmo a última música do disco de rock também chegava ao seu final. Reinou por segundos o silêncio na sala, até o automático do aparelho romper aquela paz efêmera.
Muitas outras histórias de amor aconteceram com Sheila. E a relação com Frantz continuava sempre. Um dia ela perguntou pela professora de filosofia e ele comentou que ela estava a viajar pela Índia, fazendo pesquisas. Que ia demorar-se por nove meses naquele país do oriente. Muito tempo depois ela voltou a perguntar pela professora e ele respondeu que ela estava a dar aulas, novamente, na sua faculdade.
_ Vocês têm se encontrado? Quis saber a jovem alemã.
_ Depois que ela veio da viagem nos encontramos duas ou três vezes. Só que não havia mais emoção e resolvemos parar com os encontros sexuais.
Frantz começou a dar mais atenção para Sheila e a procurava mais. Estava sempre com ela nas festas e nas viagens. Quase não a deixava só e conversavam muito sobre a vida, a existência dos humanos, a sociedade, a solidão de tanta gente, o tédio, o amor, a paixão e as relações humanas. Uma conversa que agradava a ambos que buscavam algumas conclusões. Viajaram juntos por quase toda a Europa por interesse cultural. Pretendiam realizar uma viagem aos Estados Unidos, México, Cuba, Bolívia, Peru, Brasil e Argentina. Muitos planos faziam juntos e a vida passava enquanto eles pensavam, estudavam e se divertiam.
Na cidade do Porto Sheila pretendia fazer algumas anotações e bater muitas fotos para organizar em seu álbum junto com o namorado.
A tarde estava clara e o sol apareceu no território português depois de muitos dias de forte chuva. Aos poucos ela sentia saudades, também, de Marcos, o turista brasileiro, que ficara em Lisboa.
IX
Enquanto os turistas alemães visitavam a cidade do Porto, o brasileiro Marcos Abreu percorria os caminhos turísticos de Lisboa. Na quarta-feira, dia 27 de dezembro, fora até o Castelo de São Jorge ver de perto as grandes muralhas que há séculos estrategicamente protegiam a cidade com seus canhões e torres. Caminhou dentro do castelo onde fatos históricos aconteceram, como a rendição dos portugueses frente ao exército invasor de Napoleão, que fez com que a Corte de Portugal se transferisse para o Brasil em 1808.
Também visitou a histórica Torre de Belém e seus arredores que constituem uma bela paisagem turística. Planejou assistir no sábado, dia 30, uma partida de futebol no Estádio Nacional e na quinta e sexta-feira visitaria cidades próximas a Lisboa e que constituíam-se em lugares belos e históricos, como Sintra, Cascais e praias próximas da capital portuguesa. Em Sintra e Cascais apreciou as construções antigas e os palácios que por muitos séculos abrigaram tradicionais famílias portuguesas e reis do país. Enfim, aproveitou os seus dias com visitações a lugares que ele registrava com sua câmera fotográfica e que até o fim da sua vida fariam parte de sua memória de interessado turista em Portugal.
A caminho de Sintra, num ônibus, foi conversando com um senhor português muito interessado em História. O velho lisboeta estava a visitar uma filha que habitava na histórica cidade e se pôs a lhe contar fatos da vida da localidade. Marcos sempre gostara de História e interessou-se pela conversa. Desde menino, quando esteve a estudar no sul do Brasil, as aulas que mais lhe davam prazer eram de história e geografia. Por muitas vezes, nas aulas de biologia e química, saía da sala em direção ao banheiro e ficava sentado, por muito tempo, a espera do fim destas aulas que não lhe agradavam. Mas aulas de história lhe prendiam a atenção e geografia também, pois se localizava no mundo e relacionava a localização com os fatos históricos dos povos. Sempre sonhou em viajar pela Europa, Oriente e África. E agora estava a concretizar seu sonho, mas sabia que muito ainda lhe faltava para visitar no planeta.
O velho português, que viajava ao seu lado, lhe contou da morte horrível que teve o rei D.Luís I, na cidade de Cascais há exatamente um século atrás. Falou-lhe que grandes monumentos de Lisboa foram construídos nos 28 anos de reinado de D.Luís I que fora um literato e apaixonado pela cultura, além de chefe de Estado.
_ Este rei _ dizia o velho português _ foi quem construiu a Avenida da Liberdade, o monumento aos Restauradores, o Arco da Praça do Comércio que a liga a Baixa e tantas outras obras que fizeram Lisboa se transformar numa bonita capital européia.
Marcos o ouvia e fazia algumas perguntas. A conversa foi intensa até chegarem à velha cidade de Sintra. Ao desembarcarem Marcos conheceu a filha do velho português, uma linda morena de olhos grandes e claros, que estava a esperar o pai na descida do ônibus. Se cumprimentaram e trocaram olhares interrogativos.
O turista brasileiro caminhou pela velha cidade e ficou a pensar quantos fatos históricos relacionados com a sua cidadania luso-brasileiro não deveriam ter acontecidos naquele local. Lembrou-se da sua pequena cidade no Rio Grande do Sul e lhe veio à mente uma imagem que lhe causava bastante sentimento de saudade: um rio, cercado por brancas e cristalinas areias onde durante sua infância e adolescência muito se divertiu. Hoje o rio estava a morrer com tanta poluição e depredação de suas margens que um dos lados tivera uma mata nativa típica dos pampas sul-brasileiros.
Sentou-se num banco de praça e admirava-se do cuidado que o povo português e seus governantes tinham para com a preservação da cultura e da natureza do país, sendo que no Brasil os homens ainda não tinham adquirido esta consciência, em sua maioria. E imagens de algumas cidades também históricas do sul do Brasil lhe vinham à mente, como ruínas das missões criadas por jesuítas há séculos e locais onde se travaram grandes batalhas que delinearam as fronteiras dos povos do prata, disputadas entre espanhóis e portugueses que colonizaram aquelas regiões.
O falar cantado dos portugueses lhe parecia semelhante ao dos árabes e para isso ele encontrava explicação também na história, pois por muitos séculos toda a península onde se situam Espanha e Portugal foi dominada pelos Mouros que deixaram muitas marcas na cultura destes povos.
Uma das coisas que Marcos lamentava-se era a falta de tempo para ainda visitar as praias do Algarves. Vira muitas fotos da região e suas rochas que se deixavam bater pelo mar. Estava a planejar ainda um veraneio naquelas localidades do sul de Portugal e para esta viagem desejava estar acompanhado, de preferência, por uma mulher que lhe interessasse.
Naquele instante uma mulher lhe interessava profundamente e ele sentia saudade da sua presença: Sheila Mayer. Lembrava das horas em que passaram juntos, das carícias trocadas e das relações sexuais de intenso prazer que mantiveram.
Ele não entendia como, de repente, fora conhecer uma pessoa que lhe passasse um sentimento tão bom, de amor, apesar de nunca terem se encontrado antes. Às vezes ficava a pensar nos mistérios da vida e este sentimento de ter uma vaga impressão de que conhece a outra pessoa de algum lugar, algum sonho ou alguma vida, se é que existem outras vidas vividas por nossas almas.
Na noite que se encontrou com Sheila, depois de saírem do restaurante em direção a novos vinhos e ao amor, Marcos sentiu em si esta impressão, mas esqueceu-se de comentar com a turista alemã este sentimento que ele não sabia explicar de onde provinha.
A mesma coisa aconteceu quando ele conhecera sua mulher, na cidade de Porto Alegre, fundada por casais de açorianos que desembarcaram para colonizar o sul do Brasil nos idos de 1700. Ambos estavam num bar da Universidade Católica; ele estudava engenharia e ela psicologia. Foram apresentado um ao outro por uma colega dele que habitava no mesmo apartamento da estudante de psicologia que mais tarde viria a casar-se com Marcos. Almoçaram juntos e muito conversaram. Ela era natural de uma cidade do litoral sul e estava a estudar a dois anos na capital gaúcha. Ele, que morava sozinho num quarto de pensão, estava a cursar engenharia também há dois anos. Falaram de estudos, provas, festas de fim de semana e das férias que estava se aproximando. Nesta época Marcos teve que aprender a gostar de matemática na faculdade que cursava, comentava com a nova parceira.
Depois daquela conversa ficaram duas semanas sem se encontrar. Um dia, no corredor da universidade, encontraram-se e ela o convidou para uma festa da sua turma que estava para realizar-se num sábado. Ele prontamente aceitou o convite e anotou o endereço do local. Foi nesta tarde, no corredor, parados um na frente do outro, com livros nas mãos, que ele sentiu que de algum lugar já conhecia a moça. Esforçou-se para lembrar, mas ela lhe garantiu que nunca o tinha visto, a não ser no bar há duas semanas junto com sua amiga, quando foram apresentados.
Sentado na Praça em Sintra ele lembrou como se fosse ontem quando disse sorrindo para a ex-esposa:
_ Bobagem da minha cabeça, acho que te conheço de um sonho destes que às vezes a gente sonha e baba na fronha! e riram.
E a festa foi um sonho. Os estudantes de psicologia a chamaram de Festa do Sonho e decoraram o ambiente para parecer um sonho tudo que se passara ali. E ainda sentado na praça da velha cidade portuguesa ele concluía que aqueles dois anos de casado não passaram de sonho, um sonho que já tinha acabado.
Ao relacionar-se à sensação de “conhecer sem conhecer”, Marcos fazia um paralelo entre Márcia, sua ex-mulher, e a alemã Sheila que mal conhecia na realidade, mas que tinha garantido um espaço muito especial na galeria das suas relações afetivas.
Márcia era morena-clara, de cabelos e olhos castanhos. Quase não tinha seios e falava mansamente, com uma expressão de meiguice que arrepiava a ele que se encantava ao ouvi-la. Sheila, de grandes seios, pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, também era meiga e tinha o falar encantador.
Marcos analisava que existem pessoas que passam pela nossa vida e não deixam marcas profundas. Alguns conhecidos de anos e algumas namoradas com que se divertira muito em festas e orgias, hoje eram apenas pessoas que ele tratava indiferentemente. Porém outras pessoas, e aí exemplificava Márcia e Sheila, ficavam sempre na memória, guardadas com muito carinho. Ele tinha certeza que se encontrasse Márcia novamente, teria a capacidade de lhe amar novamente. Na verdade sabia que nunca deixaria de amar a ex-esposa, pois afirmava sempre que amor era um sentimento muito profundo, mais do que a paixão que é um sentimento possessivo e ciumento, e, portanto, ele poderia amar a ex-mulher assim como amava naquele instante a turista alemã.
Com este tipo de raciocínio que Marcos ganhara a atenção de Márcia na Festa do Sonho quando estavam a conversar. Depois tocou um blues chorado, com um bonito solo de guitarra, e os dois dançaram lentamente com os corpos colados. E no decorrer da festa estavam a trocar beijos e carícias. Na mesma noite Marcos levou Márcia até o apartamento em que ela vivia e dormiu no sofá. Porém, antes de cair no sono na sala da habitação das estudantes, invadiu seu corpo macio com toda a força de seu amor viril e cheio de emoções. Márcia nunca mais esquecera daquela noite da Festa do Sonho e continuaram a se encontrar.
Os anos passaram e eles tiveram uma filha. Dois anos vivendo na mesma casa foram suficientes para que eles resolvessem optar por um divórcio amigável. Márcia voltou para sua cidade no litoral sul do Estado, abriu um consultório e foi viver com os pais que dedicaram toda a atenção e carinho para a neta e a filha que estava a buscar vida nova. Marcos arrumou emprego no Rio de Janeiro e antes de viajar para a Inglaterra ficou a habitar a cidade maravilhosa, acompanhado de um amigo que dividia um pequeno apartamento na praia de Copacabana.
Marcos bateu novas fotos em Sintra e continuou sua viagem de turismo pela Costa de Lisboa. Almoçava nas pequenas cidades e ao anoitecer estava de volta à capital portuguesa onde jantava e acabava por dormir cedo devido ao cansaço do dia de visitas turísticas.
O brasileiro esperava reencontrar a turista de Berlim no sábado ao anoitecer, depois de ter assistido futebol no Estádio Nacional de Lisboa. E aguardava com grande ansiedade este reencontro com Sheila já que não sabia qual a reação que ela traria de sua viagem à cidade do Porto, sendo que lá encontraria amigos alemães. Ele costumava a repetir em suas reflexões: “as mulheres estão sempre prontas a nos surpreender”
X
Apesar de ter melhorado por breves instantes durante a semana e depois ter derramado mais chuva sobre o solo português, o tempo realmente se fez bom na manhã de sábado, 30 de dezembro, penúltimo dia de década de 80.
Sheila e seus amigos estavam a arrumar suas bolsas, pois voariam juntos para Lisboa onde assistiriam a passagem do ano novo antes de retornarem para a Alemanha no dia 1° de janeiro de 1990.
Os turistas alemães haviam trafegado pelas ruas da cidade do Porto por vários dias e lá descobriram muitas coisas belas que fotografaram e usufruíram. Sheila estava encantada com os bons vinhos portugueses e quando os bebia em grandes goles nas noites que jantara acompanhada por seus amigos, lembrava de Marcos e dos vinhos que beberam na noite inesquecível de natal.
Ao cair da tarde do dia 30 os turistas de Berlim já estavam instalados em uma pensão residencial na Baixa, proximidades da Praça dos Restauradores, homenagem que o rei ergueu aos que reconstruíram Lisboa depois de ter sido destruída por um terremoto.
Sheila arrumou suas coisas num pequeno guarda-roupas e desejou reencontrar o brasileiro. Pegou o telefone e ligou para o hotel onde Marcos estava a se hospedar. O porteiro a informou que ele saira após o almoço e ainda não tinha retornado. Ela agradeceu e desligou.
Do outro lado da cidade, vindo de metrô, o brasileiro Marcos Abreu encaminhava-se em direção ao seu hotel para esperar a turista alemã que ficara de procurá-lo. Chegando ao Rossio ele dirigiu-se em largos passos até o hotel onde recebeu do porteiro a informação que uma “inglesa” tinha lhe telefonado.
_ Ela não falou onde está hospedada? Perguntou Marcos ao senhor que atendia a recepção do hotel.
_ Não. Ela apenas perguntou pelo senhor!
Marcos pegou a chave do seu dormitório e subiu as escadas.
Já no quarto tirou a camisa, as calças, os sapatos e entrou na casa de banho. Ficou alguns minutos deitado na água quente enquanto seu pensamento era voltado para a linda alemã de olhos azuis e fartos seios. Lembrava da sua boca macia, das suas mãos e dos seus gemidos na hora de fazer amor. Aguardava com ansiedade o telefonema que não chegava. Ficou mais tempo deitado, trocou a água, mergulhou mais um pouco e secou-se ouvindo música no rádio FM.
Depois de vestir-se Marcos foi até o saguão do hotel e ficou a assistir TV. Reviu os gols do jogo de futebol que assistira na tarde e outros gols da rodada daquele dia pelo campeonato português. Ficou um tempo assistindo o Jornal de Sábado e seu ouvido e sua ansiedade despertavam a cada toque que o telefone da recepção dava.
Durante uma hora o telefone chamou oito vezes, ele contou, e nenhuma chamada era a que ele aguardava. Um pouco tenso levantou-se e foi beber um café num bar nas proximidades. Antes de sair pediu ao porteiro que anotasse onde é que estava hospedada a pessoa que estava a lhe telefonar.
Caminhou pela rua e entrou numa cervejaria entupida de gente que bebia e comia naquele ambiente quente. Pediu um café e de imediato sacou umas moedas pagando o garçom nervoso com o burburinho de fregueses encostados no balcão e espalhados pelas mesas.
Bebeu lentamente seu café e pediu outro. Pagou novamente e depois de deixar esfriar um pouco, bebeu de um gole só o café à brasileira. Fechou seu casaco e pegou a rua em direção ao hotel que ficava no outro lado da Avenida Liberdade.
Chegando à recepção observou que o porteiro era outro. Um rapaz magro e moreno o atendeu.
_ Quero a chave do 406, falou Marcos em tom grave.
_ 406? Senhor Marcos Abreu? Lhe telefonaram não faz muito tempo. Uma senhora estrangeira. Não a compreendi direito, mas disse que ligaria novamente.
Marcos deu um sorriso amarelo e perguntou ao rapaz:
_ Ela não disse onde estava hospedada? perguntou ansioso o turista brasileiro.
_ Não senhor! respondeu o novo recepcionista.
_ Onde está o outro porteiro que estava aqui antes de você assumir a recepção? Perguntou Marcos deixando transparecer um pouco de irritação.
_ O senhor Manuel? Ele acabou de sair, não fazem 10 minutos. Só volta a trabalhar na segunda-feira.
Marcos apertou a chave na mão esquerda e voltou para o saguão do hotel e ficou assistindo televisão.
O telefone tocou mais algumas vezes e nenhuma chamada era para o senhor Marcos Abreu, do quarto 406.
Ele ainda esperou por mais uma hora e resolveu jantar no mesmo restaurante em que conhecera a turista alemã na noite de natal. Teve esta idéia e sorriu. Quem sabe ela estaria a jantar naquele mesmo local e tentou dizer isso ao novo porteiro que não o entendeu direito. Devolveu novamente a chave na recepção e pegou a rua em direção ao restaurante.
Caminhou alguns minutos até chegar ao seu destino. Um garçom jovem, que mostrava os belos dentes ao sorrir naturalmente, lhe conduziu até uma mesa vazia. Poucas mesas se encontravam desocupadas e nas ocupadas não se encontrava Sheila e nem seus amigos que ele não conhecia.
Olhou no relógio e imaginou que mais meia hora e a casa estaria completamente lotada de turistas e famílias. Também ficou a pensar que dentro de mais alguns minutos Sheila entraria pela porta e iria ao seu encontro, com os cabelos dourados e o sorriso contagiante e voz macia. Pediu um vinho verde e ficou aguardando. Disse ao garçom que estava a esperar uma pessoa e, portanto, não tinha pressa, mas que o rapaz trouxesse o cardápio para ele ir escolhendo um prato, já que a aflição começava a se transformar em fome.
Passaram-se 30 minutos e realmente o restaurante ficou completamente tomado de turistas e portugueses. Ele pediu logo outra garrafa de vinho verde e solicitou seu prato. Estava decidido a comer enquanto esperava.
Cada loira que passava pela vitrine do restaurante, que deixava enxergar a rua, ele observava com bastante cuidado. Começou a jantar 50 minutos depois de ter chegado ao local. Aí lentamente começou a devorar o prato servido com bacalhau, arroz, saladas e batatas. Bebia em grandes goles o vinho verde que lhe atravessava a garganta e lhe trazia boas recordações da noite de natal quando estava a beber a mesma bebida acompanhado da linda turista alemã e seus olhos azuis e profundos.
Foi bebendo e comendo lentamente enquanto o tempo passava e sua turista de Berlim não entrava restaurante adentro para lhe encher de amor e matar a saudade.
_ Outra garrafa de vinho, por favor! pediu Marcos ao garçom de sorriso grande e natural que o atendia naquele fim de 89, na capital da república portuguesa.
Levou exatamente uma hora para encerrar a janta e muitas mesas já estavam vagas. Ele pediu a conta e deixou o troco para o rapaz que o acompanhou até a porta de saída, levemente embriagado.
Foi caminhando pela Avenida, chegando nos bares e bebendo em cada um deles uma cerveja gelada, que Marcos chegou perto do hotel. Antes, porém, foi abordado por uma gaja de cabelos loiros pintados que o convidou para ir até a pensão “brincar de amor”.
_ Quanto custa? Perguntou rapidamente o brasileiro.
_ Três contos e meio; respondeu a gaja.
_ Você bebe cerveja? Perguntou Marcos enquanto estudava a anatomia do corpo da gaja que deixava suas pernas de amostra.
_ Não, não bebo, obrigada.
_ Podemos “brincar de amor”, mas antes beba uma cerveja comigo, aqui perto, no próximo bar...
_ Não, não, obrigada. Vamos foder?
_ Não, não, muito obrigado. Eu não “brinco de amar”. Mas se quiseres foder comigo, antes bebemos uma cerveja, eu pago tudo.
_ Se fores beber uma cerveja vou foder com outro.
_ Então vá e passar bem!
A gaja virou as costas para o brasileiro e saiu atrás de outro senhor que caminhava pela grande avenida lisboeta.
Marcos caminhou mais um pouco e chegou ao hotel. Pediu a chave do 406 e o jovem porteiro disse-lhe que um grupo de alemães falando inglês havia lhe procurado logo que ele saíra para jantar.
Marcos sorriu debilmente, subiu as escadas e caiu na cama com roupa e tudo.
XI
O último dia do ano de 1989 amanheceu ensolarado na velha capital portuguesa. Por volta das dez horas da manhã o turista brasileiro acordou com dor na cabeça e enjôos no estômago. Foi até a casa de banho e vomitou um bocado. Depois lavou a banheira e a encheu de água quente. Ficou ali por alguns minutos deitado, lavando o corpo e curando o mal estar.
Depois de secar-se, vestiu suas roupas e foi até a janela onde pode observar a cidade de Lisboa e seus prédios antigos pela última vez naquela década que passara cheia de emoções e acontecimentos importantes para ele e para a humanidade.
Pegou o telefone e ligou para a recepção. Queria um pequeno almoço no quarto. O recepcionista informou que passava das 10 e que a copa estava encerrada. Portanto ele só encontraria café na rua.
Marcos vestiu seu casaco, saiu do quarto, fechou a porta e desceu as escadas. Entregou a chave na recepção e saiu em direção à porta central do hotel. Ao pisar na rua ele encontra Sheila que estava a chegar ao hotel atrás de si. Os dois olharam-se por alguns segundos e depois trocaram um abraço forte que se transformou num beijo carinhoso de amantes.
_ Onde você se meteu ontem à noite? Perguntou, em inglês, a turista alemã com sua voz dôce.
_ Aqui no hotel a te esperar, respondeu o brasileiro.
_ Mas eu vim no hotel, falei com o recepcionista ...
_ Eu tinha saído para jantar. Esperava te encontrar no mesmo restaurante da nossa noite de natal ...
E seguiram caminhando abraçados enquanto Marcos lhe contava dos desencontros deles via telefone e da bebedeira que tomara a esperar por ela no restaurante.
Sheila falou que não teve a mesma idéia e depois de ter telefonado três vezes e ter ido até o hotel, resolveu jantar com os amigos alemães.
_ Onde estão eles? Perguntou Marcos.
_ Foram passear de barco pelo rio Tejo.
E os turistas trocaram mais beijos na rua pouco movimentada da capital portuguesa naquele dia 31 de dezembro.
_ Onde eles almoçarão? Quis saber o brasileiro.
_ No outro lado do rio, em Almada, respondeu a alemã.
_ Então quer dizer que você é só minha nesta tarde maravilhosa de fim de ano? Perguntou o brasileiro Marcos Abreu, dando um sorriso quase infantil de felicidade.
_ Yes.
Os dois trocaram mais beijos e seguiram caminhando pela avenida principal da metrópole portuguesa.
_ Eu preciso de um café! exclamou Marcos.
Marcos pediu dois cafés. Sheila disse que não queria. Ele bebeu os dois cafés. Depois voltaram para a rua.
_ Eu tenho uma proposta pra você, agora; disse Marcos com um sorriso de cumplicidade para a turista alemã.
_ Eu já sei do que se trata; respondeu Sheila rindo.
Quando saíram da grande avenida e entraram nas pequenas ruas da Baixa, procurando uma pensão, Marcos exclamou que este era o último dia deles em Portugal, que era o último dia do ano e da década, que poderia ser o último dia deles juntos, e que, portanto, não podiam perder muito tempo. Precisavam amar; E amor completa-se com a harmonia sexual, dizia o brasileiro, rindo para a jovem turista de Berlim que concordava e lhe apertava o corpo de encontro ao seu.
Encontraram uma pensão, subiram as escadas, pediram um quarto, pagaram e levaram a chave. Sheila examinou a casa de banho, as tolhas e desarrumou a cama.
Marcos tirou o casaco e o blusão de lã. Depois sacou a camiseta e ficou com o peito peludo nu. Sheila chegou perto do brasileiro e começou a beijar-lhe o peito e o pescoço. Depois, com suas pequenas mãos, foi tirando sua calças jeans e cueca. A mão do brasileiro também começou a trabalhar e sacou a blusa de lã da jovem. Depois tirou a camiseta, a calça e a calcinha. Enquanto isso Sheila lhe beijava os ombros e depois se abaixou até a bunda que beijou e mordeu com bastante energia.
Marcos acariciava-lhe os cabelos e a puxou pelo queixo até ficar em pé, quando lhe deu um beijo demorado, introduzindo sua língua hábil entre os dentes brancos e parelhos da jovem berlinense.
_ I love you, baby!
_ I love you!
E caíram na cama macia de lençóis brancos.
Ficaram a fazer amor até às 12 horas, quando relaxados de tanto prazer resolvera, almoçar. Tomaram banho e desceram para a rua clara da Baixa lisboeta. Procuraram um restaurante e sentaram-se para uma refeição tranqüila e despreocupada.
Para os dois jovens turistas o mundo estava as mil maravilhas. As enchentes, as secas, as guerras, a violência no Brasil, à invasão do Panamá, as transformações no leste europeu, a queda do muro de Berlim, a reunificação da Alemanha, a produção para a nova década, as retrospectivas dos anos 80 e as previsões para 90, tudo isso, naquele momento, não interessava aos dois que numa viagem de lazer e turismo haviam se encontrado e retribuíram um para com o outro muito prazer e carinho, nascendo daquela relação um sentimento nobre de amor, respeito e admiração.
Almoçaram e voltaram para a pensão onde ficaram até o meio da tarde fazendo amor e trocando carícias. Neste encontro decidiram que iriam escrever um para o outro e, quando desse, se reencontrariam, em Berlim ou em Londres.
_ Podemos passar o verão em Algarves, sugeriu Marcos.
_ Eu prefiro passar no Brasil, disse a alemã.
_ Tudo bem. Passamos o mês de agosto em Algarves e fevereiro no Brasil.
_ Ok, baby, você venceu; vou conhecer o famoso carnaval do Brasil, concluiu a turista alemã enquanto sorria e caminhava para mais um beijo apaixonado em Marcos.
Quando desceram da pensão combinaram jantar todos juntos. A turista de Berlim queria que Marcos conhecesse seus amigos e estaria na pensão a lhes esperar. Marcos concordou e disse que ficaria no hotel, descansando, e que agora não poderia haver desencontros. Os dois riram.
Estava a anoitecer, por volta das 17 horas e 40 minutos quando Marcos subiu as escadas do hotel para descansar um pouco e trocar de roupa após um banho. Sheila faria o mesmo e se prepararia para uma grande noitada entre amigos e o seu novo amor.
XII
Por volta das 20 horas o grupo de alemães apareceu no hotel onde estava a se hospedar o turista brasileiro. Marcos, pronto para a festa de fim de ano, estava a esperar no saguão. Sheila lhe chegou sorridente e apresentou a amiga Herba e o amigo Hanz. Ambos cumprimentaram-se com poucas palavras em inglês.
_ Pretendemos ir até a central de telefone, aqui perto, para um contato com nossas famílias; disse Sheila.
_ Tudo bem. Eu vou falar com meus pais que estão a esperar a virada da década no Brasil. Vamos?
E saíram pela rua a caminhar. Na frente seguiam Hanz e Herba, de mãos dadas, e mais atrás Marcos e Sheila, abraçados.
Entraram na central e obtiveram informações para ligações a pagar. Cada um pegou uma cabine e marcou o número destinado.
_ Eu quero uma ligação a cobrar, para o Brasil; disse Marcos no aparelho, a falar com o telefonista.
Deu o nome da cidade, seu nome e o número desejado e ficou há esperar alguns minutos enquanto completava-se a ligação.
_ Pode falar; exclamou o telefonista.
_ Alô. Brasil? Com quem estou a falar?
_ Com sua mãe, Marcos. Como estás?
_ Oi mãe. Estou bem. Estou em Lisboa, Portugal. Resolvi passar as festas aqui e dar um passeio. Como estão vocês todos aí? E o pai, como está?
_ Estamos todos bem, teu pai está ótimo. Quem está passando as festas aqui conosco é a Mariana. Fala o tempo todo em você.
_ Mariana minha filha. Que saudade; e a mãe dela, onde está a passar as festas? Com seus pais?
_ Não. A Márcia viajou para Cuba, com um namorado novo, médico; por isso deixou Mariana conosco. Mas ela está comportadíssima. Queres falar com ela?
_ Sim, claro. E depois com o pai. Um beijo, mãe. Feliz ano novo para a senhora. Dá um abraço em todos os amigos aí. Tchau.
_ Tchau, meu filho. Te cuida. Vou passar para a criança depois para teu pai. Um beijo.
_ Oi, papa. Tu vai vir comer peru aqui com o vô?
_ Oi minha filhinha. O papai não pode ir ai agora, está muito longe. Você está bem, minha criança? Ta gostando da casa do vovô Alfredo?
_ Sim. Eu ganhei uma boneca nova. Eu não choro mais aqui na casa do vovô Fredo. To com saudade. Tchau. Um beijo.
O velho Alfredo, orgulhoso de seu filho, pegou o telefone agarrando a neta no colo.
_ Alô, Marcos. Como estás? Não dissestes que ias passar as festas em Portugal na última vez que ligaste. Tudo bem aí?
_ Tudo bem, velho. Eu resolvi viajar na última hora, estava cansado dos ingleses. Aqui tudo bem. Estou gostando e viajei bastante por algumas cidades interessantes.
_ Ok, meu filho. Ficas bem. Quando voltas ao Brasil?
_ Ainda não sei. Talvez na próxima semana já possa lhes dizer quando acaba meu curso. Mas fica tranquilo que em breve estarei aí, matando a saudade. A empresa vai me dar um mês de férias após o curso.
_ Estaremos lhe esperando. Um feliz ano novo pra você.
_ Pro senhor também, pai. Um abraço a todos.
O telefone ficou mudo mais alguns segundos e depois Marcos desligou. O pequeno rosto da filha e sua voz fina ficaram na sua mente.
Noutra cabine Sheila falava com seu pai. O irmão que estava a morar na Inglaterra estava em Berlim. O velho comerciante escutava a filha e desejava um feliz ano novo para ele e seus amigos. Um tanto preocupado perguntou como a menina estava de dinheiro e ela o tranqüilizou dizendo que não gastara nem a metade do que ele tinha lhe dado para a viagem de fim de ano. Disse que economizava para novas viagens e que pretendia brevemente visitar o Brasil. O velho comerciante alemão limitava-se a rir do espírito aventureiro da filha e nunca colocava obstáculos nos seus planos, afinal desejava que ela vivesse bem e ele podia colaborar para isso. Despediram-se com beijos e ela ainda falou um pouco com irmão.
Ao saírem da central resolveram ir para um restaurante.
_ A fome está aumentando no Brasil! exclamou Marcos.
_ A minha também, afirmou Sheila.
Os restaurantes, muito procurados e disputados naquela noite, estavam a transbordar gente. Eles demoraram um tempo até encontrarem uma mesa para quatro pessoas.
Enquanto liam o cardápio, Marcos pediu um uísque. Depois escolheram um vinho e ele exclamou:
_ O uísque foi apenas para esquentar o corpo!
Enquanto jantavam e bebiam um bom vinho do Porto, ficaram a conversar. Marcos explicava para os amigos de Sheila sobre o seu curso de especialização na Inglaterra e sobre o setor que iria dirigir na empresa quando voltasse ao Brasil.
Trocaram algumas informações sobre os dois países relacionadas com a economia e a política. Os alemães, apesar de jovens estudantes, conheciam bem a realidade do seu país. Marcos lhes informou sobre o caos da economia brasileira e a transição política que o país vivia depois de 21 anos de ditadura militar. Os turistas alemães ouviam o brasileiro com atenção e também perguntavam sobre as diversas regiões do Brasil que tinha quase o tamanho de toda a Europa. Marcos explicava sobre os diversos costumes da nação brasileira e das características regionais.
Quando saíram do restaurante estava a cair uma chuvinha fina na Rua da Baixa. Era exatamente 23 horas e antes de pegarem um táxi rumo a uma discoteca eles passaram pela Praça do Comércio, onde muitos jovens reuniam-se munidos de champanhe para comemorarem a passagem do ano nas margens do rio Tejo, assistindo o colorido dos fogos de artifício e fazendo a festa em grupos de amigos.
Os dois casais de turistas rumaram para uma discoteca onde passariam uma boa parte da noite de reveillon dançando e bebendo champanhes francesas.
Quando faltavam 50 segundos para as 24 horas o som da discoteca parou e o locutor do ambiente fez uma contagem regressiva que culminou com aplausos, cumprimentos, beijos e a música agitada voltara a ritmar a festa do ambiente colorido e repleto de pessoas bem vestidas e brilhantes.
_ Que a felicidade de 1990 seja do tamanho ou maior que a que vivi na última semana de 1989! exclamou Marcos no ouvido de Sheila, dando-lhe um beijo nos lábios finos e macios.
_ E eu te desejo todo amor que houver nesta vida, e muito sucesso profissional, muita saúde e muito prazer; disse a turista alemã com um sorriso que era característico seu.
Marcos cumprimentou Hanz que cumprimentou Sheila que cumprimentou Herba que cumprimentou Marcos. E os quatro dançaram juntos uma música pop inglesa que badalava a discoteca portuguesa naquela noite de virada de década. Já era 1990. Rolava a discussão se a década começava neste ano ou só em 1991. Não importava, necessariamente, diziam uns aos outros.
A FESTA VAI ATÉ O AMANHECER! Anunciava o painel eletrônico da discoteca.
Por volta das três horas e 30 da madrugada do primeiro dia de 1990, Sheila desejou ir embora. Falou com a amiga Herba e combinaram que estariam reunidos às 11 horas da manhã na pensão para prepararem-se para a viagem rumo a Berlim. Herba respondeu que estava tudo certo e continuou dançando com seu namorado enquanto Sheila e Marcos deixavam o ambiente em direção a uma cama quente.
Atravessaram a rua e pararam um táxi que os levou até a pensão onde tinham passado a tarde. Pegaram a chave do quarto e subiram as escadas, abraçados e trocando beijos.
Marcos abriu o quarto e Sheila caiu na cama. O brasileiro tirou o casaco e os sapatos e deitou-se ao lado da turista alemã. Observando que ela caíra na cama como tinha chegado da rua, começou lentamente a tirar sua roupa, começando pelos calçados, passando pelo casaco, o blusão de lã, a calça e as meias. Depois se deitou ao lado das pernas da alemã e começou a fazer massagens nos seus pés, passando as mãos entre os dedos dos pés de Sheila que se deliciava com o carinho.
A habilidade das mãos do brasileiro arrepiava a pele branca da alemã. Ele frouxou o cinto da sua calça e do outro lado Sheila a puxou, ficando a acariciar os pelos escuros das suas pernas fortes. Marcos ergueu o corpo e ficou de joelhos sobre o colchão. Beijou a barriga de Sheila por alguns minutos e depois a cobriu com seu corpo. E entre muitos beijos na boca e no pescoço os jovens estrangeiros ficaram a amar durante boa parte da primeira noite do ano. O tocar de suas peles e o desejo vibrante de sexo deixava o dormitório repleto de energias positiva. Depois dormiram abraçados, sob as cobertas, enquanto a chuva insistia em molhar as ruas e calçadas da velha capital portuguesa.
_ Estou partindo, meu amor!
Estas foram às palavras que acordaram Marcos na manhã do dia 1° de janeiro de 1990.
_ Você não vem até o aeroporto? Perguntou sorridente a bela Sheila enquanto fechava seu casaco de nylon.
_ Não, eu não gosto de despedidas em aeroportos. Eu só freqüento aeroportos quando tenho que viajar, e já é muito.
_ Então estamos combinados, quem sentir saudades primeiro, escreve ou telefona. Depois combinamos nosso verão. Eu não esqueci: agosto em Algarves e fevereiro no Brasil.
Marcos riu e levantou-se da cama. Caminhou até onde estava a sorridente turista alemã e a beijou com grande ternura.
_ Estamos combinados; disse ele, sorrindo. E depois ficando sério perguntou: _ E o teu namorado, que sempre viaja contigo, não vai indignar-se?
Sheila novamente sorriu e falou:
_ Frantz não é um problema meu. E sei que o seminário em Colônia ele foi assistir acompanhado da professora de filosofia, que é uma relação que ele voltou a manter nos últimos dias.
_ Por isso que resolveste me amar? Perguntou o brasileiro.
_ Não. Eu não resolvo nada. O que aconteceu foi esta coisa louca e bonita que você deixa transparecer com muito carinho e muita paixão. E entendo que isso seja amor, de verdade, que naturalmente nasce até entre estranhos numa semana de turismo. E por isso não quero perder o elo, a comunicação com tua cabeça, tua alma e teu corpo.
Marcos sorriu mais uma vez e abraçou a bela Sheila. Beijou-a novamente e abriu a porta para que ela partisse.
No outro dia nenhum deles estava mais em Portugal.
Os dois levaram em suas bagagens um cartão postal de Lisboa com os versos do poeta português Fernando Pessoa:
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis
e pessoas incomparáveis."
“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!!”
De Vladimir Cunha Santos, no livro Outras Vidas, 2010.