TEACHER - INTERVENÇÃO - CAP. 6
INTERVENÇÃO – Capítulo 6
No restaurante, muito nervosa, Laura contou tudo a Matheus que ficou algum tempo olhando para ela e acabou rindo gostoso por fim.
- O que é tão engraçado? - ela perguntou, zangada.
- A situação toda... Desculpe, Laura, eu não queria rir, juro... mas... Um garoto do terceiro ano apaixonado por você?!
- E o que há de engraçado nisso?
- Não, nada! Você é linda, inteligente, a mulher perfeita pra qualquer homem. Mas se nem eu consegui te conquistar ainda... como deve estar esse coitado?
- É com isso que eu estou preocupada. Com ele!
- Eu conheço o Rupert. Fui professor de Matemática dele no colegial. Ótimo aluno, embora não tenha um pai lá muito ótimo...
- Você conhece o pai dele?
- Eu era responsável pela turma dele e o homem resolveu tirar o garoto da escola pra trabalhar. A escola inteira entrou na briga, comigo na frente. Ninguém queria que ele saísse.
- Ganharam?
- Não, infelizmente. O Rupert perdeu o ano por dois meses. Teve que fazer tudo de novo no ano seguinte, trabalhando e sustentando o pai. Continuou sendo o melhor aluno da sala.
Laura sorriu de leve e ficou pensativa.
- Comoveu? – Matheus perguntou.
- Ele ainda é um ótimo aluno.
- Não se deixe levar por isso, Laura. Continua sendo um garoto.
- Não estou pensando por esse lado, Matheus. Eu só quero ajudá-lo. Há duas semanas que ele não assiste as minhas aulas direito. Não fez uma prova e... eu tenho que isso reflita nas outras também.
- Como você soube?
- Ele me contou.
- Coragem, hein? O rapazinho tem peito.
- O que é que eu faço?
- Eu não sei. Continue dando suas aulas normalmente e faz de conta que você não sabe de nada. O que mais você pode fazer?
- Mas e se ele deixar a faculdade?
- Problema dele, Laura. Você não tem culpa se ele se apaixonou por você. Se ele continua tão responsável quando há três ou quatro anos atrás, vai entender que tudo isso é loucura. Um caso de amor entre aluno e professora dá bode na faculdade, sabia?
- Eu sei… ela disse, desanimada.
Matheus fixou o olhar nos olhos dela e perguntou:
- Vejo um vislumbre de descontentamento nessa carinha ou é impressão minha? Você gosta dele também?
- Não! Claro que não! Que ideia, Matheus. Um garoto!
Durante a semana seguinte, Rupert continuou não assistindo às aulas de Língua Inglesa e evitava cruzar com Laura no corredor ou em qualquer lugar. Quando Laura o via, ele estava sempre acompanhado por um grupo de amigos e fazia de conta que não a via.
Disposta a acabar com aquilo, Laura foi até o diretor da faculdade de T.I. e comunicou o fato a ele.
- E você sabe o motivo das faltas? – Gerson perguntou.
- Não, ela mentiu, mas gostaria que alguém descobrisse e falasse com ele. Você é sempre tão legal com os alunos, Gerson, fala com ele.
Gerson ergueu as sobrancelhas e encostou-se na cadeira.
- Tudo bem. Vamos ver o que se pode fazer por esse moço. Pode deixar comigo.
- Obrigada. Você é um anjo.
Gerson chamou Rupert à sua sala depois da aula e ele não chegou a achar estranho o chamado. Mas já tinha sua resposta a dar.
Entrou na sala do diretor e esperou.
- Senta, Rupert... Lauter, não é?
- Isso mesmo, ele disse, sentando. – Aprontei alguma que eu não sei?
- Eu é que pergunto. Você acha que aprontou?
Rupert sorriu e balançou a cabeça, negando.
- Como vai o jornal do curso?
- Bem. Estamos indo pro trigésimo exemplar. O senhor vai receber logo. Há uma nota sobre o prêmio que o senhor ganhou no mês passado.
- Obrigado.
- Mas não foi por isso que o senhor me chamou aqui, foi?
- Não. É sobre... suas faltas. Você anda com problemas em casa?
Rupert demorou a responder.
- Não…
- Você teve dez faltas na aula de Inglês só nesse bimestre. É muita coisa, não acha? Algum problema?
- Não... Eu ... resolvi... deixar pra dependência. Faço no ano que vem.
- Por quê? Você tem notas muito boas no outros semestres. Alguma dificuldade mais que a Laura não consiga...
- Não é com a matéria em si necessariamente meu problema, professor. Eu trabalho e não ando tento tempo pra estudar. Meu pai anda meio adoentado e... está meio puxado pra mim.
- Peça à Laura para lhe dar uma ajuda. Ela tem um coração imenso e eu não duvido que ela não hesitaria em considerar isso tudo e...
- Não é preciso. Eu já decidi deixar pra DP. Ano que vem, eu pretendo estar trabalhando em outro emprego e faço tudo novamente. Vou fazer as mais difíceis esse ano. Inglês eu cancelo logo.
Gerson não pareceu acreditar muito naquilo e ficou observando o rapaz.
- É isso mesmo?
- E o que mais poderia ser?
- Um... problema com a professora, talvez...?
- A Laura é uma ótima professora, professor Gerson. Não é nada com ela.
- Então, se eu pedisse a ela para lhe dar aulas extras aos sábados à tarde, pra compensar as suas faltas e as dificuldades que você está...
- Não!
Gerson estranhou a resposta tão taxativa.
- Estou tentando te ajudar, Rupert. Tenho certeza de que a Laura...
Rupert se levantou.
- Se o senhor não tem mais nada a dizer, professor, eu preciso ir. Entro no serviço às duas.
Gerson resolveu não insistir e respirou fundo batendo com a caneta na mesa.
- Pode ir, mas lhe adianto que professora Laura está bem preocupada com seu destino nessa faculdade. Conversamos depois.
- Não temos mais nada que conversar... Diga a ela que eu estou bem. Desculpe. Até logo, professor.
Rupert saiu da sala. Laura estava do lado de fora e olhou para ele, quando saiu. Rupert olhou para ela também, mas não disse nada. Afastou-se.
*********************************************
Welcome to my dreams...
CAPÍTULO 6