AMORES REPRIMIDOS
XVII Capítulo do Romance
"Os Percalços de uma Conquista"
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Após passarem o final de semana remoendo mágoas, decepções e arrependimentos com desejos de cobranças e vinganças de parte a parte, os dois personagens voltaram a se encontrar no trabalho naquela manhã de segunda-feira, dia 24/10/1977. O clima estava pesado entre eles e suas faces mostravam para qualquer um o rancor que vinha de seus olhares. Não se aproximaram em nenhum momento no decorrer do dia e evitaram qualquer contato necessário e exigido nas suas tarefas. Seus colegas sempre desconfiaram do envolvimento daqueles dois, pela forma como se tratavam e se entreolhavam no serviço. As caronas constantes de Osmar e as mudanças frequentes de humor da moça diante do rapaz geravam comentários sutis e até algumas piadinhas que muito incomodavam o rapaz. A moça, por acreditar que eles nada sabiam da verdade, não se importava muito com os comentários, diferentemente de Osmar que gostava de preservar a sua discrição e privacidade.

A única colega que sabia daquele envolvimento era Gleice que, por mais incrível que possa parecer esse silêncio em uma mulher, ela guardava a sete chaves o segredo revelado por Leny. Por isso mesmo, apesar de saber da sua admiração por Osmar, Leny não deixou de fazer da amiga a sua confidente em diversos momentos que precisou desabafar. Graças à Leny, Gleice estava bem informada sobre a história daqueles dois e procurava ajudá-los à sua maneira, mesmo tendo uma queda pelo rapaz e alguns pontos de ciúmes por se ver substituída pela mocinha na amizade do colega. No entanto, Osmar nada sabia dessa história e nem imaginava que Gleice tivesse a chave daquele cofre. E foi por ter aquela chave e por saber dos últimos detalhes entre os dois contados por Leny na última quarta-feira, que Gleice imaginou o que deveria ter acontecido: "Osmar acabou com tudo", pensou ela.


Aquela seria a última semana de Osmar naquele ambiente de trabalho e, por isso mesmo, passou o dia em reuniões com Miguel. Ele precisava atualizar e repassar o seu serviço para um substituto que ainda não havia sido contratado ou designado. Osmar se comprometeu em finalizar algumas pendências antes da saída, Miguel tomou conta por hora de alguns processos e distribuiu outros entre os demais analistas. O dia correu e a semana findou sem mudanças no distanciamento daqueles dois, evidenciando o recalque mútuo que excluiu de suas consciências os sentimentos e desejos que não quiseram admitir, mas que no entanto, continuavam causando distúrbios em suas vidas psíquicas. Na realidade, aqueles dois sabiam muito bem, que aquele rancor nada mais era do que a paixão que cada um nutria pelo outro. Leny estava magoada por ter sido descartada pelo amado em plena gravidez de seis meses e Osmar decepcionado pela revelação infeliz da moça sobre a mesma gestação. Mas será que aquela paixão deveria acabar daquela maneira?

O que se pode identificar a partir deste parágrafo são os motivos que tornem alguns "amores reprimidos", geralmente por sustar a ação ou o movimento de alguém. Seja por conter, coibir ou refrear a aproximação indesejada ou por moderar, disfarçar e dissimular algo que indicasse outro entendimento. O amor também pode e foi reprimido em certas ocasiões, como forma de castigar, punir, oprimir, vexar e proibir como fez Leny diante de Osmar, ao mentir sobre a paternidade da criança e com a ameaça de impedir que ele viesse a conhecê-la. Mas os "amores reprimidos" não foram somente entre Osmar e Leny, mas também com outros personagens bem próximos ao rapaz.

No final da manhã daquela última sexta-feira de outubro, com os agradecimentos e desejos de boa sorte por parte dos colegas, a equipe do departamento se reuniu num restaurante para o almoço de confraternização. A mesa estava bastante concorrida com a presença também de colegas e chefes de outros setores, demonstrando como ele era estimado no trabalho. Todos se mostraram saudosos com a saída do rapaz, principalmente Gleice com a sua fiel amizade. Leny, apesar da distância que ela impôs ao amante, participou da despedida de maneira fria, apenas para indicar coerência e não se sentir desalojada do grupo. Sentou-se afastada de Osmar, procurou evitá-lo dando atenção para outros colegas e em nenhum momento entrou na onda alegre de descontração e de brincadeiras naquele ambiente.

Gleice, sabendo de tudo, não deixava de reparar e prestar atenção nos dois. Olhares desviados, conversas evitadas e questionamentos dos colegas não respondidos pelo casal não deixaram de ser percebidos por Gleice. Ela também sentiu esse desconforto e resolveu agir. Após o final da confraternização com abraços, discursos, salva de palmas e volta ao trabalho, Gleice fez uma ligação interna para Osmar: - Não vá embora sem falar comigo. Preparei uma ceia reforçada para nós dois hoje à noite.


- Mas assim de repente? Preciso finalizar alguns processos e devo demorar. Não quero deixar pendências para o Miguel. Rebateu Osmar demonstrando pouco interesse.

- Não importa à hora, estarei lhe esperando para essa despedida à minha maneira. Nós merecemos isso. Insistiu Gleice.

- Se for assim, tudo bem. Preciso mesmo conversar alguns assuntos com você. Concordou Osmar.

Já se passavam das 21h00m quando Osmar acessou a campainha do apartamento de Gleice. A porta se abriu e a moça mandou-o entrar com seu sorriso peculiar e um beijo no rosto do rapaz. Ela já havia tomado o seu banho e os cabelos molhados umedeciam os ombros de uma blusa bem folgada e quase transparente. A mesa já estava posta e Osmar percebeu que Gleice estava bem à vontade ao caminhar de chinelos com um shortinho bem curto mostrando suas coxas volumosas e sem estrias. Apesar de Osmar se sentir como se estivesse em casa todas as vezes que visitava a colega, naquele instante ele ficou sem ação pela recepção da moça.

- Se quiser tirar a camisa e tomar um banho, a casa é sua. Fique à vontade. Liberou-se Gleice.


- Eu sei disso minha querida, afinal de contas, não é a primeira vez que venho aqui. Rebateu Osmar.

- Mas hoje é um dia especial. É a despedida do meu amigo Osmar. Devolveu Gleice, mostrando a sua mesa ornamentada com galeto, cervejas, canapés e salgadinhos.

- E só estou aqui também, porque é você. Uma amiga que mora no meu peito e que sempre está por perto. Confessou Osmar.

- É que eu adoro você, prezado colega. Até mais do que você imagina. Vamos nos sentar, que eu vou abrir uma cerveja.

- Eu também tenho muito apreço por você. Mas preciso saber de algumas coisas.

- Se estiver ao meu alcance... Do que se trata?

- É sobre a Leny. Eu sei que vocês conversam muito. São colegas e sempre trocam confidências.


- Confidências que geralmente são segredos a não serem revelados. Portanto...

- Não é segredo nenhum Gleice, porque está evidente. É sobre a gravidez dela. Ela chegou a comentar com você sobre o pai da criança?


Gleice não esperava pergunta tão direta e sem rodeios e não podia deixar no ar o que ela já sabia através da colega. Mas tentou disfarçar: - Só pode ser do Alexandre, o ex-noivo dela, cujo casamento deixou de se realizar no último momento.

- Mas ela chegou a confirmar que ele é mesmo o pai da criança?
Insistiu Osmar.

- Não me confirmou nada. Apenas estou imaginando. Mas por que esta preocupação? Instigou Gleice.

- É que eu precisava ter certeza disso.

- Ah! Entendi. Não acredito que esse filho possa ser do meu amigo Osmar aqui presente.
Ironizou Gleice sobre uma certeza que ela já sabia há muito tempo.

- Acho que agora as coisas estão bastante claras para você. A gente teve um envolvimento muito sério. Confessou Osmar.

- Oh! Até que enfim! Sempre imaginei isso, não dava mais para esconder, não é mesmo? Mas por que a dúvida sobre aquela barriga? Você acha que é o culpado por ela estar ficando cheia cada vez mais?

- Tenho certeza que sim, mas ela diz que não. A gente se desentendeu na semana passada e ela jogou na minha cara que o filho é de outro.

- Deve ter sido num momento de raiva, mas posso lhe garantir que o filho é seu.
Sentenciou Gleice com convicção.

- Você tem certeza? Olha que é um assunto muito sério e importante pra mim. Vangloriou-se Osmar.

- Fique tranquilo. Foi ela mesmo que me confidenciou há tempos atrás. Este segredo agora é nosso meu amigo.

- Era isso que eu queria saber, porque eu quero e tenho o direito de cuidar dele.

- Isso mesmo. Atitude de homem. Atitude deste homem que tanto admiro. A criança não pediu pra nascer.

- Mas ela ameaçou não deixar que eu chegue perto. Falou que agora eu sou um estranho para ter esse convívio com o filho dela.

- Caramba! Que ódio, hein! Mas isso passa meu amigo. Nada melhor do que o tempo para colocar as coisas nos eixos.


- Tomara! Mas agora estou sem ação pra me aproximar. Estou muito preocupado e sensibilizado com a situação dela.

- Fique calmo Osmar. Esses próximos meses, longe da Leny, vão ajudá-lo a raciocinar e agir com sobriedade. Só lamento que esse tempo possa fazer você se esquecer de mim e da nossa amizade.

- Você é inesquecível cara amiga. Vou descansar uma semana e começar a trabalhar a partir da segunda-feira dia 07 de novembro. Não deixarei de manter contato com você. Eu tenho os números dos seus telefones, inclusive daquele ali em cima da sua estante.


- Ligue pra mim e passe seus telefones. Mas que seja antes das minhas férias em dezembro. Não me abandone.

- De jeito nenhum. Também gosto muito de você. E esses canapés estão deliciosos. Parabéns.

- E vamos abrir mais uma gelada. O galeto também está apetitoso. Já lhe falei pra ficar à vontade. Tire a camisa e tome um banho se quiser.

- Não quero abusar nem incomodá-la minha querida. A sua ceia está ótima.

- Ah! Como eu gostaria! Pode abusar e me incomodar à vontade.
Ironizou Gleice com suas gargalhadas tão conhecidas.

- Não brinque não, porque eu ando atrasado e carente... Devolveu Osmar com o seu sorriso cativante e característico.

- Que bom! Juntou a fome com a vontade de comer. Depois que mandei o Gilson andar, a minha fila parou. Voltou Gleice com suas risadas.

- É mesmo? O que aconteceu? Sempre achei que vocês se davam tão bem!

- Acabou como termina muitos amores. Nem sei se era amor de verdade ou apenas carências por alguém ao nosso lado.

- Fico pesaroso com isso, sempre torci por vocês. Apesar de não ser meu amigo comum, sempre me identifiquei com o Gilson quando nos encontrávamos. Quantas bebedeiras juntos não é mesmo? Ele é um cara muito alegre e brincalhão. Que pena!

- Nada a lamentar Osmar, e vamos deixar o Gilson e a Leny pra lá. Ele já não faz parte da minha vida e ela não está aqui. Quero que esta noite seja prazerosa, sem lembranças que nos atormentem.

- Tudo bem. É melhor mesmo tentar esquecer esses problemas. Vou até aceitar o seu convite e tomar um banho.


Gleice se exultou de alegria e felicidades. Levantou-se às pressas e voltou nos mesmos calcanhares com toalha e sabonete. Osmar descalçou os sapatos e adentrou no banheiro da moça apenas vestido com a sua calça de brim. Seu peito cabeludo e tostado de sol ficou à mostra para colocar caraminholas na cabeça da moça. Osmar entrou no banho e a água morna que caía e descia pelo seu corpo, trouxe-lhe algum alívio, mas nem tanto. Enquanto se ensaboava, sua mente era só reflexões que mexiam com o seu coração. Um coração que não deixava de se envolver com o sexo oposto, que tinha muito a ver com a sua maneira galante e romântica de se relacionar com as mulheres.

Agora mesmo ele estava ali, bem pertinho da Gleice com toda a sua sensualidade e insinuações, praticamente se oferecendo pra ser possuída
por ele. E ele não entendia como conseguiu recusar aquela mulher jovem, bonita e atraente por tanto tempo. Teve muitas oportunidades, mas não rolou nada por culpa dele. Mas aquela pequena mulher de corpo recheado, sorriso aberto, cheia de venenos e de desejos, estava ali novamente, à sua espera como das outras vezes.
"Mas hoje não sei se vou me segurar". Pensou ele.

Voltou a se lembrar da Leny que nunca saía dos seus pensamentos e dos momentos maravilhosos que passou com ela. Ainda estava arrependido por tê-la abandonado no momento que ela mais precisava dele. Sentiu-se um covarde e covardia não fazia parte de suas atitudes. Entendeu que ainda estava apaixonado por ela e que esta paixão alucinante estava apertando o seu peito e fazendo-o sofrer. Um sofrimento que ficou muito mais inquietante, ao sentir o seu "amor reprimido" pelo desprezo e ódio demonstrados pela moça naquela última semana de trabalho. Um desprezo tão ultrajante, que lhe trouxe inibições até para lhe dar um bom dia ou qualquer alô ao telefone. "Preciso cuidar dela e da criança, mas não sei como me aproximar". Pensou ele.

Também não conseguiu se esquecer naquele banho, da sua mulher Yolanda e de suas filhas. A sua mulher também estava grávida de seis meses e esse era, para ele, o ponto principal. Mas esse ponto principal também era causa de
"amores reprimidos" por moderar, refrear e inibir avanços no sexo entre marido e mulher. Yolanda evitava procurá-lo por sentir-se incomodada com o seu estado e Osmar também não sentia nenhum desejo de possuir aquele corpo disforme da esposa. Mesmo assim, foi este ponto principal e familiar o responsável pelo fim do seu envolvimento com Leny, quando ele se viu diante do impasse de escolher apenas um caminho. Ficou dividido e na hora de optar escolheu o caminho da coerência, o caminho indicado pela sua mente e não o caminho ansiado pelo seu coração. "Não posso abandonar o maior patrimônio da minha vida". Pensou ele.

Osmar saiu do banho aconchegante da mesma maneira que entrou. Coberto da cintura pra baixo com a sua calça "jeans", sentou-se no sofá procurando suas meias e sapatos. Já se passavam das 23h00min e ele precisava sair. Gleice decepcionada assistiu aquela cena entristecida e não procurou disfarçar. - Você já vai? Queria tanto que ficasse mais um pouco... Lamentou a moça.

- É que já está tarde demais. Preciso voltar. Ando muito angustiado por tudo que aconteceu nos últimos dias. Sem vontade pra nada. Justificou-se o rapaz.

- E por causa disso, os meus planos foram para a cucuia? Questionou Gleice com impaciência.

- Eu acho que não foram pra cucuia não. Não é de hoje que eu lhe conheço e não sou nenhum inocente para não entender esta recepção. Rebateu Osmar e continuou: - Mas o que você talvez não saiba, é que você mexe muito comigo. Você é uma bela mulher, atraente e interessante. Mas também é uma grande amiga.

- E por me considerar sua amiga, você me rejeita. É isso Osmar?

- Exatamente. Não quero perder a sua amizade por causa de um envolvimento que pode não dar certo.

- Se vai dar certo ou não, a gente só vai saber depois. O que não pode acontecer é continuarmos vivendo entre
"amores reprimidos".

- Não podemos mesmo e é exatamente esse tipo de amor que vem acontecendo comigo nos últimos dias.

- Então você sabe muito bem como é duro a gente ser rejeitada, desprezada e abandonada num momento como este.


- Agora você me preocupou. Não quero fazê-la sofrer, mesmo porque acabei de confessar que você me atrai.

- Bela desculpa! Vou lhe agradecer pelo resto da vida, por atrair um homem que só quer a minha amizade.

- Uma amizade muito valiosa pra mim. Mas tenha certeza, que já estou a ponto de não resistir. Você é muito envolvente e isso me cativa.

- Ah! Como gostei de ouvir isso. Então eu tenho esperanças? Será que hoje você vai me fazer feliz?


- Olha aqui minha querida. O clima está ótimo para esse aconchego, mas a minha cabeça está longe daqui. Entenda por favor. Gosto muito de sexo, tanto que você nem imagina. Mas não pratico sexo apenas por fazer, como se fosse uma máquina acionada por um botão. Pra mim tem que existir o amor e a entrega de parte a parte. Não devemos nos entregar sem o amor que dirige todo o envolvimento.

- Mas eu tenho muito amor para entregar a você. Não é apenas um fetiche, eu quero você porque lhe amo há muito tempo.

- Nossa! Por essa eu não esperava. Você tem certeza disso? Vou começar a pensar nessa hipótese com carinho.

- Puxa! Queria tanto beijá-lo agora para demonstrar o meu afeto. Por que você não me dá essa chance?

- É que por aí começa tudo. Também estou querendo experimentar o seu beijo, mas prefiro evitar. Hoje não vai ser uma noite boa para nós, por não poder me entregar por completo. Entregar-me totalmente como eu gosto e você merece.

- Então me faça merecer. Eu quero e preciso de você hoje.
Implorou a moça atirando-se em seus braços e avançando nos lábios do colega.

Osmar deixou-se envolver por instantes e afastou a moça delicadamente, sentenciando: - Vamos deixar isso pra outra hora. Não vai ser legal pra você. Não quero decepcioná-la. Minha cabeça está em outros lugares. Não fique magoada comigo, porque hoje você me convenceu para tratá-la de outra maneira.

- Mas você correspondeu o meu beijo. Que delícia!

- Mas é bom ficarmos por aqui. Escute aqui minha baixinha querida, a minha vida está uma bagunça só. Estou envolvido com duas mulheres e se você entrar nessa parada, aí mesmo é que vai enrolar tudo. Não faça isso comigo não!


- Gostei da "baixinha querida". Mas agora serão apenas duas mulheres, uma vez que o seu caso com a Leny terminou.

- Mas isso ainda não está bem resolvido e causou sequelas que precisam ser extirpadas. São sequelas bem recentes e angustiantes. Estou muito decepcionado com o menosprezo dela e não pretendo voltar. Mas preciso cuidar daquele fruto que ela carrega.

- Não estou desejando que você a troque por mim. Apenas quero compartilhar do seu amor com ela ou sem ela. Não sou mulher de frescuras e de perturbar a vida de amante casado. O Gilson está aí mesmo para comprovar. Mas também não sou mulher de ficar jogada de mão em mão como se fosse uma peteca. Tenho os meus princípios e muito cuidado na procura de algum relacionamento. E você, pra mim, já está na minha mira há muito tempo.

- Então tá. Melhor explicação do que esta não existe. Você colocou a sua posição com relação a mim em poucas palavras. E pelo que entendi você quer começar um envolvimento comigo. Mas isso só pode acontecer depois que eu resolver de vez a minha questão com a Leny.


- É melhor mesmo para a gente não atropelar os sentimentos dos outros. Não quero magoá-la e decepcioná-la por ter entrado em sua vida logo após o rompimento de vocês.Vamos dar tempo ao tempo e não atropelar desejos. A Leny hoje é minha amiga e confidente. Preciso respeitar e considerar a sua amizade.

- Assim é que se fala. Mas pretendo não demorar muito para aparar as arestas e encontrar uma solução. Você quer mesmo tentar?


- Sempre quis meu amor. Será que você nunca entendeu?

- O que eu sempre entendi é que você nutria uma grande amizade por mim e que eu não poderia confundir as coisas.

- Mas agora você já sabe que este meu sentimento é verdadeiro. Talvez não seja na mesma proporção do seu, mas eu reconheço o seu carinho por mim.

- Então ficamos combinados assim. A partir de hoje você é a minha nova namorada, ok?

- Que maravilha! É tudo o que eu quero! Aqui está a minha resposta.
Animou-se Gleice colando seus lábios nos de Osmar, num longo beijo molhado e acalorado.

Osmar selou aquele acordo com a retribuição de outros beijos e carinhos na moça. Ele realmente estava atrasado para sair e pediu para Gleice dar um tempo para ele decidir e resolver seus problemas. Osmar sabia que a sua carência e a falta prolongada de sexo, poderia estender aquela noite e lhe trazer aborrecimentos em casa. Mas ele não deixou de prometer:
- Estou começando uma nova vida profissional e também um novo relacionamento com esta baixinha maravilhosa que está aqui. Um relacionamento nunca imaginado por mim e que você terá que entender as minhas indecisões ou incertezas sobre os meus sentimentos. Pretendo lhe fazer muito feliz assim que puder corresponder o seu amor. Ainda estou surpreso com suas declarações e terei que avaliar aos poucos, se o carinho que tenho por você pode se transformar no amor que deve lhe ser retribuído nas mesmas proporções. Eu lhe garanto que vou preparar uma grande surpresa para você no nosso primeiro encontro. Mas lembre-se: não sei se vai dar certo, mas sou um homem que gosta de conservar suas conquistas por longo tempo. Não gosto de me envolver com mulher que não toca o meu coração, e você sempre morou dentro dele com a sua fiel amizade. Lamento muito não ter entrado no seu clima nesta noite e peço-lhe que entenda os meus motivos. Mas daqui pra frente será diferente.

- Eu sei que você foi pego de surpresa e não estava preparado. Mas vamos deixar mesmo para outro dia, porque agora o meu fogo apagou.
Amenizou Gleice com mais uma gargalhada, e continuou: - Estou entendendo que você quer um relacionamento sério e leal, apesar de várias condições que possam inibi-lo. Mas como já lhe disse não vou me aborrecer com isso, desde que também sobre um tempo pra mim. Mas tem um porém: não quero saber mais de escutar o nome da Leny quando estivermos juntos, nem que seja para perguntar algo sobre ela. Seria demais pra mim, você não acha?

- Combinado. E a recíproca tem que ser verdadeira. Não quero também que você toque no nome dela perto de mim.
Finalizou Osmar, arrumando-se para sair.

- Tudo bem. Fico então no aguardo de seus telefonemas e ansiosa pela grande surpresa. Tenho certeza que nesse dia, o meu "amor reprimido" de hoje, será vivenciado a todo vapor. Vá com Deus meu amor e não me esqueça. Desejou Gleice após mais um longo beijo de despedida no novo amado.

- Vou aproveitar a próxima semana livre para colocar algumas coisas no lugar. Preciso devolver para a imobiliária as chaves do apartamento que me foi cedido por um amigo, para que seja providenciada a sua locação. Preciso colocar minhas matérias em dia e revisar alguns pontos para as provas finais. Preciso me preparar para os compromissos e viagens que terei no novo emprego. E o mais desgastante: preciso conversar com os pais de Leny e colocar tudo em pratos limpos.

- Caramba! Que coragem! Você vai encarar mesmo o velho?

- É necessário para a gente se entender com relação à criança. Vai depender deles a minha posição, apesar de deixar claro que nunca vou abandonar o meu filho, mesmo com as restrições da mãe.

- É por isso que eu lhe admiro meu amor. Não foge da raia e encara os problemas de frente.


- É por todos esses motivos que eu lhe peço paciência comigo. Deu pra entender agora como está a minha cabeça?

- Claro meu querido. Resolva todos os problemas que você está envolvido e conte comigo se precisar de ajuda. Inclusive perante a Leny.

- É bom saber da sua cumplicidade. Uma cumplicidade que acionou o meu envolvimento com a Leny, lembra-se?

- Lógico meu querido. Como poderia esquecer-me daquele
"Quem desdenha quer comprar" que você expressou na ocasião!

Osmar saiu, acionou o carro e, enquanto dirigia, não deixou de pensar naquela expressão popular "Quem desdenha quer comprar" que ativou mais a sua mente. "Foi a partir dali que tudo começou e fez da minha vida um palco de emoções causadas pelo maior sentimento do mundo: o amor".

Mas será que esse amor, depois de quase um ano de duração, ainda terá forças para se recuperar e vencer as barreiras que sempre estiveram em seu caminho? Osmar não tinha certeza disso e Leny também. Eram dois amantes apaixonados, mas suas feridas estavam ainda muito abertas apontando para o orgulho de cada um. E o orgulho geralmente é o principal motor que aciona o fim de grandes amores.

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É O QUE VEREMOS NO PRÓXIMO CAPÍTULO - "CARTAS NA MESA"
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POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 20/09/2017
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