JOGANDO A TOALHA
XVI capítulo do romance
"Os Percalços de uma Conquista"
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A "casa caiu" dando tudo errado para Osmar pela frustração e decepção causadas pelo pai de Leny e ele resolveu "largar o osso" abrindo mão daquela menina de quem ele tanto gostava. Resolveu "jogar a toalha" e "abandonar o barco".
Apesar de Osmar ter pedido a demissão da empresa por carta no início de outubro, esta notícia somente foi revelada aos colegas duas semanas após, aos dezessete dias daquele mês, uma segunda-feira. Mas a notícia revelada a eles pelo gerente Miguel naquela ocasião, foi sem a presença de Osmar. Com exceção de Leny, que não soube disfarçar o que já sabia, os demais ficaram surpresos com a novidade. Até mesmo Gleice que já havia se esquecido daquela provável possibilidade revelada pelo próprio colega no último jantar em sua casa. Com o passar do tempo sem novidades, ela passou a acreditar que ele tivesse desistido da mudança. Todos lamentaram a saída intempestiva de Osmar por perderem o convívio com um excelente colega e ótimo profissional, mas entenderam que ele estava em busca de algo melhor para a sua carreira.
Gleice não escondeu a sua tristeza por perder aquela fiel amizade e Leny deixou à mostra a sua preocupação pela ausência do rapaz no trabalho, como se fosse uma reação contra aquele entrevero causado por seu pai na última sexta-feira. Osmar nada comunicou e nem justificou a seu superior o motivo daquela falta ao serviço, mas este entendeu que o seu analista estivesse resolvendo problemas pessoais motivados pelo desligamento da empresa.
Nos outros dois dias seguintes, Osmar também não apareceu no trabalho e aproveitou para passear e almoçar fora com a família. Foi um final de semana prolongado com praias, parques, cinemas e restaurantes. As crianças se divertiram bastante e Yolanda ficou muito feliz por aproveitar aqueles momentos de descontração que raramente aconteciam com o seu marido. Momentos que Osmar aproveitou para colocar a cabeça no lugar e fazer uma autocrítica sobre o que estava fazendo com a sua vida. Momentos esses que incentivaram a sua decisão, principalmente por não esquecer o questionamento do pai de Leny quanto à responsabilidade que ele deveria ter perante a sua família.
Enquanto isso, Leny vinha sofrendo desde a última sexta-feira e não conseguia disfarçar a sua tristeza ao longo daqueles cinco dias sem ver o seu amado. A falta de notícias e a ausência prolongada de Osmar no trabalho sem quaisquer desculpas ou justificativas, além de incomodar o seu gerente e colegas, arriou de vez os pneus da moça. Sua estima foi lá embaixo por desconhecer o que estava acontecendo com o amante e, principalmente, por não saber qual seria a sua decisão após as duras palavras de seu pai.
Seu desconforto foi total e Leny resolveu desabafar ao tentar descobrir algo com a Gleice, aproveitando o horário do almoço num restaurante perto da empresa: - Estou agoniada cara colega, com esse sumiço do Osmar. Confessou Leny dando uma conferida no cardápio oferecido pelo garçom.
- Eu também não estou entendendo nada. Rebateu Gleice, continuando: - Falta ao serviço e não dá nenhuma satisfação! Muito esquisita essa atitude dele.
Leny: - E o pior de tudo é que eu acho que esta situação tem a ver comigo. Ando preocupadíssima.
Gleice: - Por quê? Vocês brigaram? Aborreceram-se mais uma vez?
Leny: - Não comigo. O problema é com o meu pai. É o meu pai que está atrapalhando a nossa relação. Discussão feia na sexta-feira passada.
Gleice: - Mas por que isso agora se eles já tinham se acertado? Pelo menos foi isso que você falou pra mim no outro dia.
Leny: - Pois é cara amiga. Como a vida gira depressa e muda o nosso mundo de uma hora para outra. Na sexta-feira eu cheguei a ser a mulher mais feliz do mundo e, logo depois, também a mais arrasada da Terra.
Gleice: - O que aconteceu? Que pai brabo é esse?
Leny: - Osmar alegrou-me demais com uma grande surpresa naquele dia. Apresentou-me ao apartamento todo mobiliado que ele alugou na Tijuca.
Gleice: - Oh! Quê! Nossa! Que belo do presente! Não deixa de ser a prova do grande carinho que Osmar tem por você.
Leny: - Mas esta notícia desagradou por completo o meu pai de maneira inconcebível. Ele foi muito deselegante com Osmar, por não concordar que a gente vá morar juntos sem um casamento de papel passado.
Gleice: - Mas isso é impossível! Osmar já é casado!
Leny: - Exatamente. Foi isso que o meu pai alertou para Osmar, chamando a sua atenção para a responsabilidade que ele deveria ter com a sua família.
Gleice: - Caramba! Agora complicou. Se eu conheço bem o Osmar, vem chumbo grosso aí. Ele vai reagir e provavelmente está esperando esfriar a cabeça para tomar uma decisão pensada sem colocar o coração no meio.
Leny: - Que é isso, Gleice? Agora você está me assustando. Você acha que ele vai me abandonar?
Gleice: - Não falei isso e vamos deixar as suposições pra lá. A gente não está comandando a cabeça dele, não é mesmo?
Leny: - Fiquei tão feliz e animada quando ele sugeriu irmos às compras para suprir itens essenciais do nosso dia-a-dia no apartamento. Cheguei até a fazer uma relação de produtos como ele pediu para a segunda-feira passada. E agora, aconteceu tudo isso. Que lástima! Concluiu Leny às lágrimas.
Gleice: - Não fique assim não, que tudo vai se resolver. Conte comigo no que for possível para ajudar não só a você, mas a ele também.
Leny: - Ainda mais que ele vai mudar de emprego e vai ficar praticamente um mês fora do Rio de Janeiro, por conta de um estágio na nova empresa.
Gleice: -- Caramba! Que final de ano pra vocês dois. Tudo embolado.
Leny: - Ele vai pra Minas Gerais, logo após o término das aulas no final do mês que vem.
Gleice: - Só espero que a sua volta seja antes do Natal e Ano Novo...
Leny: - Acredito que sim, porque ele não vai querer ficar longe da sua mulher e de suas filhas nessa época.
Gleice: - E de você também, minha amiga. Afinal de contas, você é a queridinha dele. Finalizou a colega com ironia.
Leny: - Não tenho muita certeza disso não. Prefiro aguardar o que ele tem a me dizer sobre esse silêncio. Até quando ele vai ficar me evitando.
Gleice: - Eu acho que ele não está lhe evitando, mas apenas dando um tempo para se reciclar e pensar melhor.
Leny: - Ele pode até pensar melhor, desde que a sua cabeça não se esqueça da minha barriga que carrega um filho dele há seis meses.
Gleice: - Volto a lhe pedir calma, querida. Ele não vai lhe deixar sem respostas e sem proteção. Conte comigo nessa empreitada.
Após o almoço com Gleice e o expediente daquela quarta-feira, ao chegar à faculdade Leny constatou mais uma vez que Osmar não assistiu às aulas como nos dias anteriores. O seu desconforto, a sua preocupação e o receio por sentir-se abandonada, elevaram o estresse e o nervosismo da garota. Leny estava uma pilha de nervos, sem paciência para nada e se irritando com tudo. Suas lágrimas passaram a fazer parte do seu dia-a-dia e o seu sono não chegava todas as noites, apesar da sua cama bem aconchegante convidando-a para dormir.
O relacionamento com seu pai piorou de vez, a ponto de discutir e enfrentá-lo sem medo de qualquer reprimenda. Eram discussões acaloradas com cada um mostrando suas razões, mas que só aumentavam o desequilíbrio entre os dois e enchiam o coração da sua mãe Valdívia de muitas tristezas. Leny chegou a dizer a seus pais que não via Osmar há cinco dias e que se esse sumiço representasse o abandono do rapaz, a culpa seria deles. E ameaçou: - Se ele me abandonar eu vou sair de casa e morar no meu apartamento, nem que seja com ele ou sem ele. Está na hora de cortar o meu cordão umbilical. Fazer da minha vida o que me der vontade, curtindo os acertos e aprendendo com os erros. Preciso ser livre e fugir das amarras que a sociedade nos impõe, sem se importar com as críticas e comentários maldosos de pessoas que, muitas vezes, não são exemplos de dignidade para ninguém.
- Eu não sou obrigado a escutar isso, porque dignidade eu tenho. Rebateu de pronto João, continuando: - Ninguém aqui está lhe mandando embora, mas se você sair desta casa sem a nossa bênção, aqui não volta mais. Já basta a vergonha que você me fez passar com esta barriga fora de hora. Estou pouco me importando se a culpa é minha ou não pelo abandono do seu amante e não retiro uma letra do que eu disse pra ele. E quero que você entenda como está duro pra eu reconhecer que o Osmar é exatamente um amante e não um marido da minha filha.
Valdívia estava sofrendo muito com o inferno que tomou conta da sua casa, muito preocupada com Leny e principalmente com o seu marido. João por duas ocasiões foi levado por ela ao posto de saúde do bairro com problemas de pressão alta, com recomendação médica para não se aborrecer e não deixar de tomar as medicações diárias prescritas nas receitas. João não suportou e nunca admitiu a gravidez de Leny naquelas condições, fato este que lhe causou grande decepção por fazer cair por terra o seu desejo de um dia entrar na igreja de braço dado à adorável filha vestida de noiva.
Com toda aquela situação desconfortável, Valdívia passou a estar no meio de um fogo cruzado entre aqueles dois e sentiu o baque. Sentiu o baque e reagiu, como deve reagir uma mulher forte e determinada. Valdívia interveio na discussão do pai com a filha, pegou Leny pelo braço e subiu com ela até o seu quarto. Com os olhos lacrimejantes e grande excitação nervosa, acomodou a filha sentada na cama e começou: - Não sei aonde isso tudo vai parar, mas só posso lhe dizer que o remorso é um sentimento impiedoso que sempre chega tarde. O seu pai anda muito doente e estou muito preocupada com ele. Anda tristonho pelos cantos da casa, não tem ido trabalhar com frequência, está deprimido e muito decepcionado com o que está acontecendo. Estou com medo que ele venha a nos deixar.
- Mas é tudo por culpa dele. Interrompeu Leny, completando: - O Osmar saiu daqui na sexta-feira como tivesse sido escorraçado e desde então ele sumiu do mapa. Não tem ido trabalhar e tem faltado às aulas na faculdade.
Valdívia: - Mas o que o seu pai falou está certo, apesar de eu achar que ele deveria se expressar de outra maneira. É aquele caso: "O problema não é o que se fala, mas como se fala."
Leny: - E Osmar se magoou demais, deixando-me triste e sem rumo. Mas deixe isso pra lá e quero saber do meu pai. O que está acontecendo com ele?
Valdívia: - O médico diz que ele está hipertenso e que não pode se aborrecer. Não pode deixar de tomar os seus remédios nas horas certas e deve seguir suas recomendações quanto à alimentação e exercícios leves para evitar a piora no seu quadro clínico.
Leny: - Mas eu não sabia nada disso! Por que não me falou? Dessa maneira só estou piorando as coisas e prejudicando-o. Eu só quero o bem dele, pois apesar de tudo ele é o meu pai.
- Então venha aqui comigo. Sacramentou a mãe, pegando a filha pela mão e levando-a até o seu pai que se encontrava bastante absorto na sala.
Foi quando aquela mulher simples e apaziguadora, mostrou sua força para os dois, com choros e soluços de desabafos que nada tinham de fraqueza. Choros e soluços que aproximaram os dois junto a si, com abraços apertados que aconchegaram os três como se fosse apenas uma pessoa numa união inexpugnável. Uma união que apagou ressentimentos e iluminou novos caminhos de pessoas que se amam. Pessoas envolvidas com sentimentos muito fortes: o amor de mãe, o amor de pai, o amor de marido e mulher e principalmente o amor da filha por seus pais.
Foi a melhor situação que poderia chegar para Leny naquele momento conturbado da sua vida. E a moça precisava dessa válvula de escape. Ela não sabia o que estava para acontecer na sua relação com Osmar, mas agora se sentiu mais aliviada com o amparo que acabara de receber de seus pais. O pai e a filha se acalmaram e voltaram a se falar. João prometeu deixar de questionar Leny e esta, por outro lado, também prometeu ouvir e aceitar os seus conselhos. Assim, graças à Valdívia, os carinhos, os cuidados e as preocupações recíprocas retornaram entre o pai e a filha.
No dia seguinte, no horário do expediente, Leny recebeu a transferência de uma ligação externa. Ela atendeu e se surpreendeu com a voz do outro lado. Era Osmar: - Boa tarde Leny. Como vai? Tudo bem com você?
- O que você acha Osmar? Como você acha que eu estou passando? Rebateu de pronto a moça.
- Eu imagino como você está da mesma maneira como eu estou. Acabei de falar com o Miguel e ele me liberou do trabalho até amanhã. Volto na próxima segunda-feira. Comentou e explicou Osmar.
Leny: - Ah! Entendi. O que não entendi foi o seu sumiço.
Osmar: - Mas você vai entender. E é sobre isso que eu quero conversar com você. Se possível, hoje à noite na faculdade.
Leny: - Tudo bem. Não iria assistir às aulas hoje, mas agora eu faço questão de estar na faculdade logo mais. Quero ouvir o que você tem a me dizer.
Osmar: - Então está combinado. A gente se fala. Boa tarde e bom trabalho pra você. Concluiu o rapaz antes de desligar o telefone logo em seguida.
Leny ficou atônita com a ligação e pela maneira seca, determinada e decidida como Osmar se apresentou nesse pequeno e rápido diálogo. Ficou preocupada durante todo o expediente e não perdeu tempo após a saída, para se dirigir ao encontro do amado.
Os dois se encontraram e se acomodaram à mesa da cantina da faculdade. Osmar mostrou-se distante e indiferente na presença da moça, ao trazer para ambos o lanche que acabara de receber das mãos do atendente. A rapariga sentiu a forma como foi recebida por Osmar, desviou o seu olhar e calou-se diante daquele homem que parecia uma pedra de gelo. A falta de assunto parecia tomar conta daqueles instantes e o constrangimento foi total. Osmar parecia ter perdido a fala e se esquecido de todas as palavras que ele já havia decorado para dizer.
Mas foi a moça que interrompeu o silêncio, com a voz embargada: - Vamos lá Osmar! Estou aqui por causa do seu telefonema de hoje à tarde e só por isso estou aqui. E agora você parece uma estátua ao longe apesar de estar bem diante de mim. Perdeu a fala? Ficou mudo?
- É que está muito difícil pra eu tomar esta decisão... Rebateu o rapaz.
- Então deixe de rodeios e fala logo, porque estou me sentindo como se fosse qualquer aluna da sua turma. Determinou Leny, completando: - Não precisa ficar constrangido e distante, porque já imagino o que seja e estou preparada.
- Sempre demonstrei a você o quanto te amo. Confessou Osmar, continuando: - Todas as minhas atitudes, boas ou más, tiveram você como o meu alvo principal. A preocupação com o seu bem-estar, o enfrentamento de situações complicadas para protegê-la de tudo sem se importar com os meus riscos e a responsabilidade que sempre tive diante da sua gravidez, são provas do meu bem-querer por você.
- Você falou em bem-querer e gravidez. Não sei se o seu bem-querer ainda existe, mas tenho certeza que a minha gravidez existe. Já entendi aonde você quer chegar. Rebateu Leny com impaciência.
- Nunca neguei que tínhamos planos para nós dois e demonstrei isso inclusive para os seus pais. Lembrou Osmar, completando: - Passei várias noites sem dormir tentando encontrar uma saída para o nosso impasse. Batalhei sem tirar você dos meus pensamentos e mostrei comprometimento quando lhe apresentei o nosso cantinho na semana passada.
- Um cantinho que, pelo visto, só foi aproveitado algumas horas naquela noite. Aliás, aqui está a relação dos produtos domésticos que você pediu. Rebateu Leny abrindo a bolsa e jogando a lista no rosto de Osmar.
- Não precisa me agredir, Leny. Precisamos resolver isso de maneira civilizada. Sem traumas, brigas e ressentimentos. Procurou acalmá-la Osmar.
- Já está resolvido, Osmar. Já entendi tudo o que você quer dizer. Cuide da sua família e esqueça-me. Indignou-se Leny , finalizando: - Coloque na sua cabeça que tudo isso que aconteceu entre nós foi um sonho e que você acordou para a realidade. Uma realidade bem diferente de todos os seus sonhos.
- Uma realidade que foi cobrada de mim exatamente pelo seu pai. Justificou-se Osmar, continuando: - E foi ele que me acordou desse sonho com suas duras e corretas palavras na sexta-feira. Não gostei da sua reação naquele momento, mas entendi perfeitamente as suas razões. Diga-lhe que tenho um grande respeito por ele, pela postura que sempre demonstrou pra mim na defesa da sua família. Você deve agradecer muito a Deus por ter lhe dado um pai igual a ele, e também a mãe simples e cheia de sabedoria como é a D. Valdívia. Cuide bem deles.
- Mas existem outras realidades. Você não estará mais ao meu lado no dia-a-dia, vai viajar, vai conhecer outras pessoas e vai me esquecer. Alertou Leny, completando com a ameaça: - Mas o que você não deve e não pode esquecer é esta minha barriga.
- Em nenhum momento! Não vou esquecer e abandonar o nosso filho. Quero cuidar dele e assumir a responsabilidade. Quero registrá-lo. Comprometeu-se Osmar.
- Isso é que veremos! A partir de agora você é um estranho. E não posso deixar o meu filho ser registrado por um estranho. Recusou-se Leny.
- Mas o filho é meu e tenho esse direito. Exigiu Osmar.
- A única certeza que eu tenho Osmar, é que a criança que está na minha barriga é minha. Já você não pode ter certeza disso. Rebateu prontamente Leny bastante irritada e colocando dúvidas na cabeça do rapaz.
- Epa! O que é isso agora? Depois de pedir pra não esquecer a sua barriga, você está insinuando que a criança pode não ser minha? Surpreendeu-se Osmar com indignação.
- Pode ser e pode não ser. Por isso eu peço que me esqueça e não me procure nunca mais. Determinou Leny ferindo o orgulho do rapaz.
- Então você se deitou com outro? Quem sabe quantos foram? Que decepção,Leny! Exasperou-se Osmar por completo.
- Não me interessa mais o que você pensa. Só lhe digo que esta criança você nunca vai conhecer. Vou cuidar dela sozinha. Revoltou-se Leny.
- Se for comprovada a minha paternidade, você não vai me impedir. Reagiu Osmar, completando: - Só lamento ter sido enganado por uma mulher que acabou de confessar que já se deitou com outros homens. Não posso acreditar, porque você não é nenhuma vagabunda!
- É isso mesmo! Você não tem outra mulher? Porque eu não posso ter outro homem? O filho pode ser de outro sim e daí? É problema meu! Exaltou-se Leny com lágrimas nos olhos e raiva na face. Levantou-se, caminhou e retornou com uma ação: - Aqui estão as chaves do nosso suposto apartamento. Faça o que quiser com ele e seja feliz.
Enquanto Osmar continuou paralisado no mesmo lugar, estupefato e sem ação diante das revelações da moça, Leny saiu em passos largos e adentrou no primeiro táxi que apareceu para levá-la até sua casa. Suas lágrimas denunciavam tristezas, mágoas e decepções, mas o seu
choro maior era pelo arrependimento que ela estava sentindo por ter inventado aquela história de outro homem na sua cama. E ela não se perdoou por dizer tudo aquilo num momento de raiva e descontrole, que deixou Osmar chocado e ferido no seu amor próprio. Reconheceu que ele não suportaria tamanha humilhação causada pela grave afirmação que mexeu com os seus brios. Ele não esperava e nem merecia essa reação da parte dela que, com certeza, provocou indignação por sentir-se traído e enganado por quem tanto estimava.
Com os nervos à flor da pele, tanto Leny como Osmar, chegaram às suas casas sem ter noção do tempo e do caminho que os direcionaram. Suas mentes ficaram em polvorosa nas suas curtas viagens, armazenando ódios, tristezas, mágoas e principalmente arrependimentos.
Osmar, apesar da decepção, sentiu-se aliviado com a possível gravidez de Leny brotada por outro homem, mas o seu amor próprio duvidou das palavras da moça. Não era possível que ela tivesse agido daquela maneira sem que ele percebesse. Os dois sempre foram transparentes entre si e confiantes no amor que cada um nutria pelo outro. As palavras da moça foram duras e infelizes, mostrando o tamanho do ódio que ela estava sentindo. Ele tinha razões para não acreditar no que ela disse num momento de descontrole, mas ter certeza era outra história. E somente o ódio dela justificava a negação da paternidade e o castigo prometido de não deixar que ele viesse conhecer a criança. Sua cabeça rodava em parafusos sem entender nada, mas tudo isso foi esquecido no momento que suas filhas correram em sua direção e se jogaram em seus braços. Tudo clareou e mostrou como era importante aquele outro lado aconchegante da sua vida.
Leny chegou em casa aos prantos, bastante arrasada e sem esconder sua tensão e nervosismo. Foi recebida com beijos, abraços e carinhos por seus pais, que a confortaram de vez quando ela anunciou o fim do relacionamento com Osmar. Contou que o término do namoro foi bastante desgastante que deixaram feridas difíceis de cicatrizar. As mágoas foram recíprocas, mas sem ofensas ou agressões. Leny relatou que provavelmente Osmar nunca mais vai procurá-la, por ter inventado que o filho não seria dele. Seu pai procurou acalmá-la, prometendo não abandoná-la e protegê-la contra tudo e contra todos. Tanto ele, como Valdívia, envolveram a filha em seus braços, trazendo o apoio e a segurança que tanto ela estava precisando. Mas amanhã será outro dia...
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Próximo capítulo: "AMORES REPRIMIDOS"
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XVI capítulo do romance
"Os Percalços de uma Conquista"
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A "casa caiu" dando tudo errado para Osmar pela frustração e decepção causadas pelo pai de Leny e ele resolveu "largar o osso" abrindo mão daquela menina de quem ele tanto gostava. Resolveu "jogar a toalha" e "abandonar o barco".
Apesar de Osmar ter pedido a demissão da empresa por carta no início de outubro, esta notícia somente foi revelada aos colegas duas semanas após, aos dezessete dias daquele mês, uma segunda-feira. Mas a notícia revelada a eles pelo gerente Miguel naquela ocasião, foi sem a presença de Osmar. Com exceção de Leny, que não soube disfarçar o que já sabia, os demais ficaram surpresos com a novidade. Até mesmo Gleice que já havia se esquecido daquela provável possibilidade revelada pelo próprio colega no último jantar em sua casa. Com o passar do tempo sem novidades, ela passou a acreditar que ele tivesse desistido da mudança. Todos lamentaram a saída intempestiva de Osmar por perderem o convívio com um excelente colega e ótimo profissional, mas entenderam que ele estava em busca de algo melhor para a sua carreira.
Gleice não escondeu a sua tristeza por perder aquela fiel amizade e Leny deixou à mostra a sua preocupação pela ausência do rapaz no trabalho, como se fosse uma reação contra aquele entrevero causado por seu pai na última sexta-feira. Osmar nada comunicou e nem justificou a seu superior o motivo daquela falta ao serviço, mas este entendeu que o seu analista estivesse resolvendo problemas pessoais motivados pelo desligamento da empresa.
Nos outros dois dias seguintes, Osmar também não apareceu no trabalho e aproveitou para passear e almoçar fora com a família. Foi um final de semana prolongado com praias, parques, cinemas e restaurantes. As crianças se divertiram bastante e Yolanda ficou muito feliz por aproveitar aqueles momentos de descontração que raramente aconteciam com o seu marido. Momentos que Osmar aproveitou para colocar a cabeça no lugar e fazer uma autocrítica sobre o que estava fazendo com a sua vida. Momentos esses que incentivaram a sua decisão, principalmente por não esquecer o questionamento do pai de Leny quanto à responsabilidade que ele deveria ter perante a sua família.
Enquanto isso, Leny vinha sofrendo desde a última sexta-feira e não conseguia disfarçar a sua tristeza ao longo daqueles cinco dias sem ver o seu amado. A falta de notícias e a ausência prolongada de Osmar no trabalho sem quaisquer desculpas ou justificativas, além de incomodar o seu gerente e colegas, arriou de vez os pneus da moça. Sua estima foi lá embaixo por desconhecer o que estava acontecendo com o amante e, principalmente, por não saber qual seria a sua decisão após as duras palavras de seu pai.
Seu desconforto foi total e Leny resolveu desabafar ao tentar descobrir algo com a Gleice, aproveitando o horário do almoço num restaurante perto da empresa: - Estou agoniada cara colega, com esse sumiço do Osmar. Confessou Leny dando uma conferida no cardápio oferecido pelo garçom.
- Eu também não estou entendendo nada. Rebateu Gleice, continuando: - Falta ao serviço e não dá nenhuma satisfação! Muito esquisita essa atitude dele.
Leny: - E o pior de tudo é que eu acho que esta situação tem a ver comigo. Ando preocupadíssima.
Gleice: - Por quê? Vocês brigaram? Aborreceram-se mais uma vez?
Leny: - Não comigo. O problema é com o meu pai. É o meu pai que está atrapalhando a nossa relação. Discussão feia na sexta-feira passada.
Gleice: - Mas por que isso agora se eles já tinham se acertado? Pelo menos foi isso que você falou pra mim no outro dia.
Leny: - Pois é cara amiga. Como a vida gira depressa e muda o nosso mundo de uma hora para outra. Na sexta-feira eu cheguei a ser a mulher mais feliz do mundo e, logo depois, também a mais arrasada da Terra.
Gleice: - O que aconteceu? Que pai brabo é esse?
Leny: - Osmar alegrou-me demais com uma grande surpresa naquele dia. Apresentou-me ao apartamento todo mobiliado que ele alugou na Tijuca.
Gleice: - Oh! Quê! Nossa! Que belo do presente! Não deixa de ser a prova do grande carinho que Osmar tem por você.
Leny: - Mas esta notícia desagradou por completo o meu pai de maneira inconcebível. Ele foi muito deselegante com Osmar, por não concordar que a gente vá morar juntos sem um casamento de papel passado.
Gleice: - Mas isso é impossível! Osmar já é casado!
Leny: - Exatamente. Foi isso que o meu pai alertou para Osmar, chamando a sua atenção para a responsabilidade que ele deveria ter com a sua família.
Gleice: - Caramba! Agora complicou. Se eu conheço bem o Osmar, vem chumbo grosso aí. Ele vai reagir e provavelmente está esperando esfriar a cabeça para tomar uma decisão pensada sem colocar o coração no meio.
Leny: - Que é isso, Gleice? Agora você está me assustando. Você acha que ele vai me abandonar?
Gleice: - Não falei isso e vamos deixar as suposições pra lá. A gente não está comandando a cabeça dele, não é mesmo?
Leny: - Fiquei tão feliz e animada quando ele sugeriu irmos às compras para suprir itens essenciais do nosso dia-a-dia no apartamento. Cheguei até a fazer uma relação de produtos como ele pediu para a segunda-feira passada. E agora, aconteceu tudo isso. Que lástima! Concluiu Leny às lágrimas.
Gleice: - Não fique assim não, que tudo vai se resolver. Conte comigo no que for possível para ajudar não só a você, mas a ele também.
Leny: - Ainda mais que ele vai mudar de emprego e vai ficar praticamente um mês fora do Rio de Janeiro, por conta de um estágio na nova empresa.
Gleice: -- Caramba! Que final de ano pra vocês dois. Tudo embolado.
Leny: - Ele vai pra Minas Gerais, logo após o término das aulas no final do mês que vem.
Gleice: - Só espero que a sua volta seja antes do Natal e Ano Novo...
Leny: - Acredito que sim, porque ele não vai querer ficar longe da sua mulher e de suas filhas nessa época.
Gleice: - E de você também, minha amiga. Afinal de contas, você é a queridinha dele. Finalizou a colega com ironia.
Leny: - Não tenho muita certeza disso não. Prefiro aguardar o que ele tem a me dizer sobre esse silêncio. Até quando ele vai ficar me evitando.
Gleice: - Eu acho que ele não está lhe evitando, mas apenas dando um tempo para se reciclar e pensar melhor.
Leny: - Ele pode até pensar melhor, desde que a sua cabeça não se esqueça da minha barriga que carrega um filho dele há seis meses.
Gleice: - Volto a lhe pedir calma, querida. Ele não vai lhe deixar sem respostas e sem proteção. Conte comigo nessa empreitada.
Após o almoço com Gleice e o expediente daquela quarta-feira, ao chegar à faculdade Leny constatou mais uma vez que Osmar não assistiu às aulas como nos dias anteriores. O seu desconforto, a sua preocupação e o receio por sentir-se abandonada, elevaram o estresse e o nervosismo da garota. Leny estava uma pilha de nervos, sem paciência para nada e se irritando com tudo. Suas lágrimas passaram a fazer parte do seu dia-a-dia e o seu sono não chegava todas as noites, apesar da sua cama bem aconchegante convidando-a para dormir.
O relacionamento com seu pai piorou de vez, a ponto de discutir e enfrentá-lo sem medo de qualquer reprimenda. Eram discussões acaloradas com cada um mostrando suas razões, mas que só aumentavam o desequilíbrio entre os dois e enchiam o coração da sua mãe Valdívia de muitas tristezas. Leny chegou a dizer a seus pais que não via Osmar há cinco dias e que se esse sumiço representasse o abandono do rapaz, a culpa seria deles. E ameaçou: - Se ele me abandonar eu vou sair de casa e morar no meu apartamento, nem que seja com ele ou sem ele. Está na hora de cortar o meu cordão umbilical. Fazer da minha vida o que me der vontade, curtindo os acertos e aprendendo com os erros. Preciso ser livre e fugir das amarras que a sociedade nos impõe, sem se importar com as críticas e comentários maldosos de pessoas que, muitas vezes, não são exemplos de dignidade para ninguém.
- Eu não sou obrigado a escutar isso, porque dignidade eu tenho. Rebateu de pronto João, continuando: - Ninguém aqui está lhe mandando embora, mas se você sair desta casa sem a nossa bênção, aqui não volta mais. Já basta a vergonha que você me fez passar com esta barriga fora de hora. Estou pouco me importando se a culpa é minha ou não pelo abandono do seu amante e não retiro uma letra do que eu disse pra ele. E quero que você entenda como está duro pra eu reconhecer que o Osmar é exatamente um amante e não um marido da minha filha.
Valdívia estava sofrendo muito com o inferno que tomou conta da sua casa, muito preocupada com Leny e principalmente com o seu marido. João por duas ocasiões foi levado por ela ao posto de saúde do bairro com problemas de pressão alta, com recomendação médica para não se aborrecer e não deixar de tomar as medicações diárias prescritas nas receitas. João não suportou e nunca admitiu a gravidez de Leny naquelas condições, fato este que lhe causou grande decepção por fazer cair por terra o seu desejo de um dia entrar na igreja de braço dado à adorável filha vestida de noiva.
Com toda aquela situação desconfortável, Valdívia passou a estar no meio de um fogo cruzado entre aqueles dois e sentiu o baque. Sentiu o baque e reagiu, como deve reagir uma mulher forte e determinada. Valdívia interveio na discussão do pai com a filha, pegou Leny pelo braço e subiu com ela até o seu quarto. Com os olhos lacrimejantes e grande excitação nervosa, acomodou a filha sentada na cama e começou: - Não sei aonde isso tudo vai parar, mas só posso lhe dizer que o remorso é um sentimento impiedoso que sempre chega tarde. O seu pai anda muito doente e estou muito preocupada com ele. Anda tristonho pelos cantos da casa, não tem ido trabalhar com frequência, está deprimido e muito decepcionado com o que está acontecendo. Estou com medo que ele venha a nos deixar.
- Mas é tudo por culpa dele. Interrompeu Leny, completando: - O Osmar saiu daqui na sexta-feira como tivesse sido escorraçado e desde então ele sumiu do mapa. Não tem ido trabalhar e tem faltado às aulas na faculdade.
Valdívia: - Mas o que o seu pai falou está certo, apesar de eu achar que ele deveria se expressar de outra maneira. É aquele caso: "O problema não é o que se fala, mas como se fala."
Leny: - E Osmar se magoou demais, deixando-me triste e sem rumo. Mas deixe isso pra lá e quero saber do meu pai. O que está acontecendo com ele?
Valdívia: - O médico diz que ele está hipertenso e que não pode se aborrecer. Não pode deixar de tomar os seus remédios nas horas certas e deve seguir suas recomendações quanto à alimentação e exercícios leves para evitar a piora no seu quadro clínico.
Leny: - Mas eu não sabia nada disso! Por que não me falou? Dessa maneira só estou piorando as coisas e prejudicando-o. Eu só quero o bem dele, pois apesar de tudo ele é o meu pai.
- Então venha aqui comigo. Sacramentou a mãe, pegando a filha pela mão e levando-a até o seu pai que se encontrava bastante absorto na sala.
Foi quando aquela mulher simples e apaziguadora, mostrou sua força para os dois, com choros e soluços de desabafos que nada tinham de fraqueza. Choros e soluços que aproximaram os dois junto a si, com abraços apertados que aconchegaram os três como se fosse apenas uma pessoa numa união inexpugnável. Uma união que apagou ressentimentos e iluminou novos caminhos de pessoas que se amam. Pessoas envolvidas com sentimentos muito fortes: o amor de mãe, o amor de pai, o amor de marido e mulher e principalmente o amor da filha por seus pais.
Foi a melhor situação que poderia chegar para Leny naquele momento conturbado da sua vida. E a moça precisava dessa válvula de escape. Ela não sabia o que estava para acontecer na sua relação com Osmar, mas agora se sentiu mais aliviada com o amparo que acabara de receber de seus pais. O pai e a filha se acalmaram e voltaram a se falar. João prometeu deixar de questionar Leny e esta, por outro lado, também prometeu ouvir e aceitar os seus conselhos. Assim, graças à Valdívia, os carinhos, os cuidados e as preocupações recíprocas retornaram entre o pai e a filha.
No dia seguinte, no horário do expediente, Leny recebeu a transferência de uma ligação externa. Ela atendeu e se surpreendeu com a voz do outro lado. Era Osmar: - Boa tarde Leny. Como vai? Tudo bem com você?
- O que você acha Osmar? Como você acha que eu estou passando? Rebateu de pronto a moça.
- Eu imagino como você está da mesma maneira como eu estou. Acabei de falar com o Miguel e ele me liberou do trabalho até amanhã. Volto na próxima segunda-feira. Comentou e explicou Osmar.
Leny: - Ah! Entendi. O que não entendi foi o seu sumiço.
Osmar: - Mas você vai entender. E é sobre isso que eu quero conversar com você. Se possível, hoje à noite na faculdade.
Leny: - Tudo bem. Não iria assistir às aulas hoje, mas agora eu faço questão de estar na faculdade logo mais. Quero ouvir o que você tem a me dizer.
Osmar: - Então está combinado. A gente se fala. Boa tarde e bom trabalho pra você. Concluiu o rapaz antes de desligar o telefone logo em seguida.
Leny ficou atônita com a ligação e pela maneira seca, determinada e decidida como Osmar se apresentou nesse pequeno e rápido diálogo. Ficou preocupada durante todo o expediente e não perdeu tempo após a saída, para se dirigir ao encontro do amado.
Os dois se encontraram e se acomodaram à mesa da cantina da faculdade. Osmar mostrou-se distante e indiferente na presença da moça, ao trazer para ambos o lanche que acabara de receber das mãos do atendente. A rapariga sentiu a forma como foi recebida por Osmar, desviou o seu olhar e calou-se diante daquele homem que parecia uma pedra de gelo. A falta de assunto parecia tomar conta daqueles instantes e o constrangimento foi total. Osmar parecia ter perdido a fala e se esquecido de todas as palavras que ele já havia decorado para dizer.
Mas foi a moça que interrompeu o silêncio, com a voz embargada: - Vamos lá Osmar! Estou aqui por causa do seu telefonema de hoje à tarde e só por isso estou aqui. E agora você parece uma estátua ao longe apesar de estar bem diante de mim. Perdeu a fala? Ficou mudo?
- É que está muito difícil pra eu tomar esta decisão... Rebateu o rapaz.
- Então deixe de rodeios e fala logo, porque estou me sentindo como se fosse qualquer aluna da sua turma. Determinou Leny, completando: - Não precisa ficar constrangido e distante, porque já imagino o que seja e estou preparada.
- Sempre demonstrei a você o quanto te amo. Confessou Osmar, continuando: - Todas as minhas atitudes, boas ou más, tiveram você como o meu alvo principal. A preocupação com o seu bem-estar, o enfrentamento de situações complicadas para protegê-la de tudo sem se importar com os meus riscos e a responsabilidade que sempre tive diante da sua gravidez, são provas do meu bem-querer por você.
- Você falou em bem-querer e gravidez. Não sei se o seu bem-querer ainda existe, mas tenho certeza que a minha gravidez existe. Já entendi aonde você quer chegar. Rebateu Leny com impaciência.
- Nunca neguei que tínhamos planos para nós dois e demonstrei isso inclusive para os seus pais. Lembrou Osmar, completando: - Passei várias noites sem dormir tentando encontrar uma saída para o nosso impasse. Batalhei sem tirar você dos meus pensamentos e mostrei comprometimento quando lhe apresentei o nosso cantinho na semana passada.
- Um cantinho que, pelo visto, só foi aproveitado algumas horas naquela noite. Aliás, aqui está a relação dos produtos domésticos que você pediu. Rebateu Leny abrindo a bolsa e jogando a lista no rosto de Osmar.
- Não precisa me agredir, Leny. Precisamos resolver isso de maneira civilizada. Sem traumas, brigas e ressentimentos. Procurou acalmá-la Osmar.
- Já está resolvido, Osmar. Já entendi tudo o que você quer dizer. Cuide da sua família e esqueça-me. Indignou-se Leny , finalizando: - Coloque na sua cabeça que tudo isso que aconteceu entre nós foi um sonho e que você acordou para a realidade. Uma realidade bem diferente de todos os seus sonhos.
- Uma realidade que foi cobrada de mim exatamente pelo seu pai. Justificou-se Osmar, continuando: - E foi ele que me acordou desse sonho com suas duras e corretas palavras na sexta-feira. Não gostei da sua reação naquele momento, mas entendi perfeitamente as suas razões. Diga-lhe que tenho um grande respeito por ele, pela postura que sempre demonstrou pra mim na defesa da sua família. Você deve agradecer muito a Deus por ter lhe dado um pai igual a ele, e também a mãe simples e cheia de sabedoria como é a D. Valdívia. Cuide bem deles.
- Mas existem outras realidades. Você não estará mais ao meu lado no dia-a-dia, vai viajar, vai conhecer outras pessoas e vai me esquecer. Alertou Leny, completando com a ameaça: - Mas o que você não deve e não pode esquecer é esta minha barriga.
- Em nenhum momento! Não vou esquecer e abandonar o nosso filho. Quero cuidar dele e assumir a responsabilidade. Quero registrá-lo. Comprometeu-se Osmar.
- Isso é que veremos! A partir de agora você é um estranho. E não posso deixar o meu filho ser registrado por um estranho. Recusou-se Leny.
- Mas o filho é meu e tenho esse direito. Exigiu Osmar.
- A única certeza que eu tenho Osmar, é que a criança que está na minha barriga é minha. Já você não pode ter certeza disso. Rebateu prontamente Leny bastante irritada e colocando dúvidas na cabeça do rapaz.
- Epa! O que é isso agora? Depois de pedir pra não esquecer a sua barriga, você está insinuando que a criança pode não ser minha? Surpreendeu-se Osmar com indignação.
- Pode ser e pode não ser. Por isso eu peço que me esqueça e não me procure nunca mais. Determinou Leny ferindo o orgulho do rapaz.
- Então você se deitou com outro? Quem sabe quantos foram? Que decepção,Leny! Exasperou-se Osmar por completo.
- Não me interessa mais o que você pensa. Só lhe digo que esta criança você nunca vai conhecer. Vou cuidar dela sozinha. Revoltou-se Leny.
- Se for comprovada a minha paternidade, você não vai me impedir. Reagiu Osmar, completando: - Só lamento ter sido enganado por uma mulher que acabou de confessar que já se deitou com outros homens. Não posso acreditar, porque você não é nenhuma vagabunda!
- É isso mesmo! Você não tem outra mulher? Porque eu não posso ter outro homem? O filho pode ser de outro sim e daí? É problema meu! Exaltou-se Leny com lágrimas nos olhos e raiva na face. Levantou-se, caminhou e retornou com uma ação: - Aqui estão as chaves do nosso suposto apartamento. Faça o que quiser com ele e seja feliz.
Enquanto Osmar continuou paralisado no mesmo lugar, estupefato e sem ação diante das revelações da moça, Leny saiu em passos largos e adentrou no primeiro táxi que apareceu para levá-la até sua casa. Suas lágrimas denunciavam tristezas, mágoas e decepções, mas o seu
choro maior era pelo arrependimento que ela estava sentindo por ter inventado aquela história de outro homem na sua cama. E ela não se perdoou por dizer tudo aquilo num momento de raiva e descontrole, que deixou Osmar chocado e ferido no seu amor próprio. Reconheceu que ele não suportaria tamanha humilhação causada pela grave afirmação que mexeu com os seus brios. Ele não esperava e nem merecia essa reação da parte dela que, com certeza, provocou indignação por sentir-se traído e enganado por quem tanto estimava.
Com os nervos à flor da pele, tanto Leny como Osmar, chegaram às suas casas sem ter noção do tempo e do caminho que os direcionaram. Suas mentes ficaram em polvorosa nas suas curtas viagens, armazenando ódios, tristezas, mágoas e principalmente arrependimentos.
Osmar, apesar da decepção, sentiu-se aliviado com a possível gravidez de Leny brotada por outro homem, mas o seu amor próprio duvidou das palavras da moça. Não era possível que ela tivesse agido daquela maneira sem que ele percebesse. Os dois sempre foram transparentes entre si e confiantes no amor que cada um nutria pelo outro. As palavras da moça foram duras e infelizes, mostrando o tamanho do ódio que ela estava sentindo. Ele tinha razões para não acreditar no que ela disse num momento de descontrole, mas ter certeza era outra história. E somente o ódio dela justificava a negação da paternidade e o castigo prometido de não deixar que ele viesse conhecer a criança. Sua cabeça rodava em parafusos sem entender nada, mas tudo isso foi esquecido no momento que suas filhas correram em sua direção e se jogaram em seus braços. Tudo clareou e mostrou como era importante aquele outro lado aconchegante da sua vida.
Leny chegou em casa aos prantos, bastante arrasada e sem esconder sua tensão e nervosismo. Foi recebida com beijos, abraços e carinhos por seus pais, que a confortaram de vez quando ela anunciou o fim do relacionamento com Osmar. Contou que o término do namoro foi bastante desgastante que deixaram feridas difíceis de cicatrizar. As mágoas foram recíprocas, mas sem ofensas ou agressões. Leny relatou que provavelmente Osmar nunca mais vai procurá-la, por ter inventado que o filho não seria dele. Seu pai procurou acalmá-la, prometendo não abandoná-la e protegê-la contra tudo e contra todos. Tanto ele, como Valdívia, envolveram a filha em seus braços, trazendo o apoio e a segurança que tanto ela estava precisando. Mas amanhã será outro dia...
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Próximo capítulo: "AMORES REPRIMIDOS"
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