Cidade do Alvorecer - Capitulo 3
Capítulo Três
Amelia desceu as escadas de sua casa devagar, pois ainda estava em estado de choque e ao abrir a porta de sua casa, ela tomou um susto ao perceber quem estava parado ali em sua frente. Era Leo, filho de Lúcia, “crush” de Amy e que poderia ser seu patrão se tudo ocorresse de acordo com o que Lúcia planejara.
Leo era alto, esguio e de pele clara, seu cabelo tinha um tom acobreado nas pontas e estavam sempre meio bagunçados e estava vestindo uma camisa branca e jeans escuro e trazia consigo uma bolsa, à la Ezra Fitz*. Seus olhos negros e penetrantes sempre deixavam Amelia sem fôlego, mas naquele momento, ela pode observar, eles pareciam inquietos, então reparou que estava encarando-o e não havia dito uma palavra até agora.
- Oi. Ahn, você quer entrar? – Perguntou com um tom de desculpas e envergonhada.
-Olá Amelia, você sabe quem eu sou, não é mesmo? Não posso demorar muito, mas queria que você respondesse algumas perguntas minhas. – Sua voz era suave e firme ao mesmo tempo e seu hálito tinha um forte aroma de café.
- Sim, sei quem você é. Lúcia está bem? Aconteceu alguma coisa? Não quer entrar e sentar? – Ele continuava em pé na sua frente.
-Minha mãe está bem, está em casa. Não vou demorar, por isso não há necessidade de entrar. Apenas responda às minhas perguntas, está bem?
- Tudo bem. –Nossa, ele é muito rude – pensou ela. –Posso pelo menos oferecer algo para você beber? Água, café?
- Não, obrigado. Muito bem, minha mãe me procurou hoje quando chegou em casa, pedindo que eu oferecesse um emprego a garota que trabalhava em sua loja e quando a questionei sobre o assunto, ela apenas falou que teve que demiti-la, mas que não queria te deixar desamparada. Agora, você pode me dizer por que minha mãe despediu você?
- Pensei que ela teria lhe dito. Ela teve que vender a loja e, portanto, eu não poderia mais trabalhar lá.
- Vender a loja? Ela lhe disse a razão?
- Apenas me disse que algumas compras do passado tinham gerado dívidas, ou algo assim, e por isso teve que vender a Sun & Moon.
-Compras do passado? Dívidas? Mas minha mãe nunca me falou nada sobre esse assunto!
- A mim também não. Só soube quando ela chegou de viagem e veio me ver esta tarde.
-Mas assim, do nada? Você não notou nada de estranho nela antes disso?
-Não. Ela sempre parecia a mesma, todos os dias. Mesmo quando estava viajando, ligava para saber como andavam as coisas.
- Sei. E você poderia me explica por que diabos ela não quer te deixar desamparada? Você pediu que ela falasse comigo? Fez com que ela se sentisse obrigada de alguma maneira?
Nesse momento, todas as ilusões de Amelia sobre Leo começaram a desmoronar. Como ele poderia pensar que ela faria uma coisa dessas?! Aquilo a deixou decepcionada e magoada. Sua cabeça estava girando em raiva e nojo, era como se estivesse vendo tudo por uma parede de sangue. Sabia que não iria aguentar muito tempo parada ali em pé, então apenas fechou a porta e deixou seu visitante inesperado com um tom surpreso e ultrajado no rosto.
Aquele dia só piorava. Era um daqueles dias em que você pensa que é melhor nem levantar da cama e Amelia quis fazer exatamente isso: foi novamente deitar-se, para ver se aquela sensação de amargura passaria. Mas antes teria que comer alguma coisa, pois nem tinha almoçado naquele dia. Foi até a cozinha, apenas para descobrir que um dos vidros da janela havia sido quebrado. Realmente não era um dia bom. Ela resolveu deixar para consertar a janela pela manhã, pegou uma fatia de pizza que havia deixado na geladeira na noite passada, colocou para esquentar e colocou um copo de suco de laranja para beber.
Voltou ao quarto e tentou retornar a ligação do número que havia ligado, mas não atenderam. Então ela desligou o celular e colocou o cd para tocar novamente. Começou a tocar sua música favorita e ela fechou os olhos e deixou escorrerem as lágrimas.
Ela estava exausta. Fisica e psicologicamente. Rolou na cama, tentando dormir, mas sua cabeça ainda estava muito agitada por conta da raiva que sentiu de Leo. Nunca imaginara que ele pensasse tão pouco dela. Pelo que ela sabia, ele nem tinha noção que ela existia. Ou talvez tivesse e ignorasse. O ponto é que ele quase nunca visitava a loja e nunca demonstrou interesse nos negócios da mãe, mas parecia ser gentil com ela.
Nas poucas vezes em que ele apareceu na Sun & Moon, sempre trazia novos livros, flores e sempre fazia Lúcia sorrir e sempre que ele entrava, seus olhares se cruzavam, mas nunca passou disso. Não parecia ser a mesma pessoa que acabara de insinuar que ela estaria manipulando a sua ex - patroa, que ainda era sua amiga e confidente. Tudo bem que ela não o conhecia também, mas pelo que a mãe contava ele parecia ser um amor de pessoa.
Talvez ele fosse uma boa pessoa e só não gostasse dela. Provavelmente era isso, pensou ela. Amelia nunca foi de fazer muitos amigos porque imaginava que as pessoas não gostavam dela já de cara. Ela pensava deixar a impressão errada nas pessoas e por isso sempre as afastava antes mesmo de ter dado a chance de a conhecerem melhor.
Ela continuou repassando tudo o que acontecera naquele dia que tinha tudo para ser perfeito e acabou desmoronando e imaginando o que havia feito para passar por aquilo tudo durante horas até, enfim, adormecer.
Mas do outro lado da cidade que ainda não conseguira dormir. Leo havia saído furioso da casa daquela garota insolente e interesseira que bateu a porta em sua cara quando apenas disse o obvio. Não gostava que fizessem sua mãe se sentir culpada ou magoada, aquilo era algo que não ficaria por isso mesmo. Conversaria no outro dia com sua mãe sobre isso e sobre o fato de ela ter vendido a loja e não ter lhe dito nada. E toda aquela história sobre compras do passado e dívidas!
Já estava se preparando para dormir quando ouviu sua mãe conversando com alguém. Ela estava sussurrando e parecia não querer que ninguém ouvisse o que estava dizendo, mas pelo tom de sua voz podia-se perceber que ela estava bastante nervosa.
Ele ia chegando perto da sala para ver com quem a mãe estava falando, mas quando estava chegando ela deve ter ouvido, pois ele viu quando a mãe fechou a porta e subiu para o seu quarto. Ele esperou a mãe subir as escadas e foi olhar pelo vidro das janelas quem era a pessoa com quem sua mãe estava conversando, mas tudo o que conseguiu ver foi a cor da roupa da mulher antes que ela entrasse num carro que estava a sua espera no fim da rua.
Ele tentou conversar com a mãe ainda aquela noite, porém a mulher não abriu a porta do quarto embora estivesse acordada e ouvindo o filho chamar.
Leo desistiu de tentar conversar com a mãe aquela noite e deixara para resolver aquilo na manhã seguinte, mas isso não o impediu de passar boa parte da noite acordado pensando naquela mulher de vermelho e imaginando quem seria e o que estava fazendo em sua casa àquela hora. Já estava quase amanhecendo quando Leo conseguiu pegar no sono, já nem lembrava do outro pequeno episódio que se sucedera naquela noite.