A (minha) vida como ela é [2]
A BOA AÇÃO
Numa tarde de domingo, próximo ao local onde o Jorge havia feito a prova de um concurso em Goiânia, encontramos na calçada uma Carteira de Habilitação. Vários transeuntes. O titular da CNH era do Rio Grande do Sul, possivelmente tendo vindo fazer o mesmo concurso. E se precisasse do documento para pegar o voo de volta? Várias hipóteses se configuraram nas nossas cabeças.
Pensei em procurar a pessoa no facebook. Para isso, na rua mesmo precisei instalar os aplicativos no celular. Demorou um pouquinho mas não foi difícil encontrar o seu perfil. Deixei uma mensagem inbox dizendo que havia encontrado sua carteira e o meu contato. Só que até a noite, nada. Continuamos confabulando a continuação da história. Teria ele outro documento para embarcar? Ou precisou providenciar um Boletim de Ocorrência? Estaria desesperado com o incidente? Ou nem percebera ainda a falta?
Vários dias se passaram sem nenhum sinal de vida. Talvez não acessasse o facebook com frequência. Deixei outra mensagem pública para que visse a primeira inbox. Assim algum amigo poderia ajudar a lhe avisar. Foi aí que ele respondeu.
Agradeceu. Ficou surpreso. “Tive sorte no azar”, descreveu. Pediu o favor de deixar numa agência dos correios porque eles têm um sistema de achados e perdidos.
Assim fiz. Porém lá fui informado que o tal sistema é só para documentos perdidos na mesma cidade do proprietário. Voltei então para casa para pegar o endereço e colocar a CNH num envelope. E no dia seguinte, novamente fui ao correio postar a carta registrada. E ficou bem baratinho – 5 reais.
Avisei o dono, que quando recebeu a carta, me disse que retribuiria com uma lembrança do Sul. Demorou muitos dias, eu nem me lembrava mais. E chegou chaveiro talhado em madeira “Bah, tchê!” e um bilhetinho: “Uma lembrança do seu mais novo amigo gaúcho. E novamente, muito obrigado!”.
Muito legal! Super gentil da parte dele.
Me senti bem com a ajuda. Todo mundo já deve ter perdido algo importante. É muito ruim. E estava ao meu alcance.
Mostrei a lembrança ao JC, meu outro amigo gaúcho, de mais longa data. Respondeu apenas “Bah”. Por ciúmes, talvez.