A ÚLTIMA RECONCILIAÇÃO - CAPÍTULO 02
Aos treze anos a vida de Marli era sem Nivaldo. Morava em outro bairro com seus pais, uma irmã mais velha e um irmão que era caçula da casa.
Despertada para o encanto de ser mulher, acolheu sua primeira menstruação com ânsia e curiosidade. Chegou a achar que estava passando da hora. A de sua amiga, Celina, chegou aos doze. Sentiu-se feliz e não se conteve. Contou para sua mãe e para sua irmã. Da sua irmã recebeu orientação prática de como conviver com esse fenômeno biológico para que não se torne algo incômodo. Da mãe ouviu conselhos de como se comportar nos futuros namorinhos.
Namorinhos ainda não tinha tido. Nem paquera. Achava bonito o mesmo rapaz que todas as demais adolescentes da rua achavam. Contentava-se só de vê-lo passar em frente à sua casa, sobretudo de bermudas estampadas.
Aos catorze anos precisou procurar um emprego para ajudar em casa. Encontrou uma proposta logo na primeira semana de tentativa. Todo dia, exceto domingo, fazia faxina na casa de uma família nobre na cidade. Eram donos do maior supermercado. O trabalho era cansativo. Desistiu dos estudos para sobrar mais tempo e assim assistir as novelas e conversar com suas amigas sobre rapazes.
Não demorou muito para começar a ouvir a sinfonia de assovios pelas costas na ida e na volta do emprego. Não demorou também a primeira paquera. Foi no casamento de sua prima na roça. Estava caminhando de volta da igreja junto com um expressivo grupo de pessoas e instintivamente foram se afastando dos demais. Foi se isolando com seu primo do resto do pessoal.
Não disseram nada quando praticamente estavam um para o outro. Ficaram alguns minutos sem iniciativa. Os que percebiam o isolamento dos dois adolescentes nada comentavam por que eles também, par a par, procuravam o mesmo.
O destino do grupo caminhando por uma estradinha na boca da noite era a casa da prima de Marli que se aproximava. Alguma coisa entre ela e seu primo precisava acontecer. Marli não conseguia definir o que realmente seria: Um abraço? Vários beijos e vários abraços? Beijos como nas novelas? Decidiu deixar a iniciativa para o primo.
Na cabeça do rapaz passava os mesmos questionamentos. Sentia que a iniciativa teria que ser dele. Aproximou-se mais da mocinha, esticou o braço direito e a envolveu, puxando-a para perto do seu corpo. Virou um pouco de lado o pescoço e seus lábios deram de encontro com os lábios dela que estavam esperando por isso.
Foi aventuroso e emocionante. Seu coração pedia mais. Marli olhou em volta para ver se teriam chamado atenção dos demais caminhantes. Bem a frente viu um casal de namorados se beijando discretamente para não escandalizar os velhos, adultos e crianças que caminhavam adiante. Marli também presenciou outros casais fazendo naturalmente o ela tinha acabado de fazer pela primeira vez.
O vulto do último velhinho estava um pouco aquém. Ele não estava conseguindo acompanhar o resto do povo que tagarelava com veemência. Parecia um carnavalesco perdido na avenida. Marli voltou a olhar para seu primo, inibida com a presença do ancião, e sabia que o tempo estava ficando escasso. Atreveu dessa vez, ainda inibida, tomar a iniciativa. Beijos e beijos sucederam-se.
Daí a vinte e cinco minutos, o pessoal todo estava chegando ao terreiro da casa da nubente. Marli e seu primo tiveram que se separarem por alguns instantes apenas. A menina-moça já havia matutado um jeito de dar prosseguimento aos fatos acontecidos durante a caminhada.
Marli e sua prima, irmã do seu primo-príncipe encantado, foram se arredando de mansinho para trás de uma tulha. O único na multidão que acompanhava a retirada estratégica das duas moças era o rapaz que parecia muito feliz. Logo deu jeito de chegar ao local mais escuro de toda borda do terreiro com um amigo que era esperado pela irmã dele.
Agora, atrás da tulha, Marli foi mais ousada que na estrada. Abraçava com mais tenacidade e beijava com mais voracidade, acariciava com mais afabilidade. Ficou tranquila e permitia ser acariciada nos pontos erógenos. O que mais a excitou foi ter a língua dele dentro da sua orelha. Arrepiava-se toda. Gemia baixinho de prazer. Reparou que sua prima estava sendo tão ousada como ela e teve razões para ser mais ousada ainda.
Aquele momento foi inesquecível. Demorou dormir relembrando cada gesto, cada carícia, cada beijo. Reviveu em sua mente todas as cenas. Procurou não fantasiar. Não ficar imaginando o que de fato não aconteceu. Começou a repensar pela terceira vez desde a primeira troca de olhares entre eles. Antes de chegar ao escurinho da tulha, foi roubada pelo sono.
Na manhã seguinte foi despertada pela tia. Levantou-se, vestiu-se e depois de penteada, lavou o rosto no banheiro. Bochechou apenas uma água fria para limpar os dentes e chegou à cozinha da casa. Sentou-se numa cadeira rústica para tomar o café que acabara de passar pelo coador de flanela. Tomou o café da manhã às pressas para não perder o “caminhão de leite”, única condução para a cidade.
Marli não via a hora de encontrar sua amiga para falar sobre a sua primeira paquera com direito a beijos e excitações.
O caminhão foi fazendo ziguezague em torno da estrada principal. Parecia que nunca iria chegar à cidade. Seu primo não saia do seu pensamento. Não estava nem um pouco interessada no que as mulheres sentadas ao seu redor estavam falando. Os homens concentravam-se na parte de trás da carroceria enquanto as mulheres acomodavam-se na parte dianteira sobre tábuas felpudas.
Demorou, mas chegou. Abraçou a mochila e só de um salto bateu com os pés firmes sobre o calçamento cinzento. Torceu o corpo e começou a andar em direção a sua casa. Chegando a sua casa, foi recebida com manifestação de carinho e de saudade pelos demais componentes da família. Até Chiquitita, a cadelinha magra, parecia ter se alegrado com a chegada da mocinha.
Banhou-se e colocou roupas frescas. Almoçou e voltou a deitar-se na sua cama comum. Não conseguia esquecer o prazer daqueles beijos na estrada enluarada e no escuro da tulha. Sentia-se mais mulher. Agora sabia por que a irmã ficava alegre depois do encontro com seu namorado. Dormiu voando num cavalo alado sobre oceanos de florestas verdejantes. Dormiu para acordar às três da tarde de domingo em Mutum.
Pegou a toalha listrada e banhou-se novamente. Assim que estava saindo do banho, ouviu a voz da amiga que chegava a sua casa.
-Agora posso contar para alguém.- Pensou consigo.
Chamou a amiga para o quarto ocupado por duas camas e uma cômoda que também servia de penteadeira.
-E aí? Como foi lá no casamento? Qual a novidade?- Quis saber a amiga curiosa, certa de que havia alguma novidade. Estava estampado no sorriso largo de Marli.
Marli firmou os olhos em algum ponto misterioso do quarto e falou como se quisesse e ao mesmo tempo não quisesse contar sobre os fatos de ontem.
-Fiquei com meu primo. Você precisava ver. Foi o maior barato.
-Beijaram?
Marli esticou o braço e ligou o toca-fitas num volume suportável.
-Vários beijos. Nossa! Foi sensacional.
-Até que enfim você conseguiu.
-Não te falei que alguma coisa me dizia que eu ia ficar com alguém naquele casamento. Ele disse que passando esse final de semana que vem, no outro, ele vai vir aqui na cidade para ficar comigo. Não vejo a hora de vê-lo novamente.
-Mas ele é seu primo.
-E o quê que tem? Só por que a gente é primo? Será que a gente não tem o direito de ser feliz?
-Vai sair hoje?
-Só vou sair no dia em que ele vier aqui.
-Ih! Já tô vendo. Agora vai ser Deus no céu e esse seu primo na terra. Só falta dizer que só vai a missa ou no grupo de jovens no dia em que ele for.
-Acho que estou apaixonada.
Celine sorriu despretensiosamente, despediu da amiga e voltou para sua casa.
CAPÍTULO 03
Despertada para o encanto de ser mulher, acolheu sua primeira menstruação com ânsia e curiosidade. Chegou a achar que estava passando da hora. A de sua amiga, Celina, chegou aos doze. Sentiu-se feliz e não se conteve. Contou para sua mãe e para sua irmã. Da sua irmã recebeu orientação prática de como conviver com esse fenômeno biológico para que não se torne algo incômodo. Da mãe ouviu conselhos de como se comportar nos futuros namorinhos.
Namorinhos ainda não tinha tido. Nem paquera. Achava bonito o mesmo rapaz que todas as demais adolescentes da rua achavam. Contentava-se só de vê-lo passar em frente à sua casa, sobretudo de bermudas estampadas.
Aos catorze anos precisou procurar um emprego para ajudar em casa. Encontrou uma proposta logo na primeira semana de tentativa. Todo dia, exceto domingo, fazia faxina na casa de uma família nobre na cidade. Eram donos do maior supermercado. O trabalho era cansativo. Desistiu dos estudos para sobrar mais tempo e assim assistir as novelas e conversar com suas amigas sobre rapazes.
Não demorou muito para começar a ouvir a sinfonia de assovios pelas costas na ida e na volta do emprego. Não demorou também a primeira paquera. Foi no casamento de sua prima na roça. Estava caminhando de volta da igreja junto com um expressivo grupo de pessoas e instintivamente foram se afastando dos demais. Foi se isolando com seu primo do resto do pessoal.
Não disseram nada quando praticamente estavam um para o outro. Ficaram alguns minutos sem iniciativa. Os que percebiam o isolamento dos dois adolescentes nada comentavam por que eles também, par a par, procuravam o mesmo.
O destino do grupo caminhando por uma estradinha na boca da noite era a casa da prima de Marli que se aproximava. Alguma coisa entre ela e seu primo precisava acontecer. Marli não conseguia definir o que realmente seria: Um abraço? Vários beijos e vários abraços? Beijos como nas novelas? Decidiu deixar a iniciativa para o primo.
Na cabeça do rapaz passava os mesmos questionamentos. Sentia que a iniciativa teria que ser dele. Aproximou-se mais da mocinha, esticou o braço direito e a envolveu, puxando-a para perto do seu corpo. Virou um pouco de lado o pescoço e seus lábios deram de encontro com os lábios dela que estavam esperando por isso.
Foi aventuroso e emocionante. Seu coração pedia mais. Marli olhou em volta para ver se teriam chamado atenção dos demais caminhantes. Bem a frente viu um casal de namorados se beijando discretamente para não escandalizar os velhos, adultos e crianças que caminhavam adiante. Marli também presenciou outros casais fazendo naturalmente o ela tinha acabado de fazer pela primeira vez.
O vulto do último velhinho estava um pouco aquém. Ele não estava conseguindo acompanhar o resto do povo que tagarelava com veemência. Parecia um carnavalesco perdido na avenida. Marli voltou a olhar para seu primo, inibida com a presença do ancião, e sabia que o tempo estava ficando escasso. Atreveu dessa vez, ainda inibida, tomar a iniciativa. Beijos e beijos sucederam-se.
Daí a vinte e cinco minutos, o pessoal todo estava chegando ao terreiro da casa da nubente. Marli e seu primo tiveram que se separarem por alguns instantes apenas. A menina-moça já havia matutado um jeito de dar prosseguimento aos fatos acontecidos durante a caminhada.
Marli e sua prima, irmã do seu primo-príncipe encantado, foram se arredando de mansinho para trás de uma tulha. O único na multidão que acompanhava a retirada estratégica das duas moças era o rapaz que parecia muito feliz. Logo deu jeito de chegar ao local mais escuro de toda borda do terreiro com um amigo que era esperado pela irmã dele.
Agora, atrás da tulha, Marli foi mais ousada que na estrada. Abraçava com mais tenacidade e beijava com mais voracidade, acariciava com mais afabilidade. Ficou tranquila e permitia ser acariciada nos pontos erógenos. O que mais a excitou foi ter a língua dele dentro da sua orelha. Arrepiava-se toda. Gemia baixinho de prazer. Reparou que sua prima estava sendo tão ousada como ela e teve razões para ser mais ousada ainda.
Aquele momento foi inesquecível. Demorou dormir relembrando cada gesto, cada carícia, cada beijo. Reviveu em sua mente todas as cenas. Procurou não fantasiar. Não ficar imaginando o que de fato não aconteceu. Começou a repensar pela terceira vez desde a primeira troca de olhares entre eles. Antes de chegar ao escurinho da tulha, foi roubada pelo sono.
Na manhã seguinte foi despertada pela tia. Levantou-se, vestiu-se e depois de penteada, lavou o rosto no banheiro. Bochechou apenas uma água fria para limpar os dentes e chegou à cozinha da casa. Sentou-se numa cadeira rústica para tomar o café que acabara de passar pelo coador de flanela. Tomou o café da manhã às pressas para não perder o “caminhão de leite”, única condução para a cidade.
Marli não via a hora de encontrar sua amiga para falar sobre a sua primeira paquera com direito a beijos e excitações.
O caminhão foi fazendo ziguezague em torno da estrada principal. Parecia que nunca iria chegar à cidade. Seu primo não saia do seu pensamento. Não estava nem um pouco interessada no que as mulheres sentadas ao seu redor estavam falando. Os homens concentravam-se na parte de trás da carroceria enquanto as mulheres acomodavam-se na parte dianteira sobre tábuas felpudas.
Demorou, mas chegou. Abraçou a mochila e só de um salto bateu com os pés firmes sobre o calçamento cinzento. Torceu o corpo e começou a andar em direção a sua casa. Chegando a sua casa, foi recebida com manifestação de carinho e de saudade pelos demais componentes da família. Até Chiquitita, a cadelinha magra, parecia ter se alegrado com a chegada da mocinha.
Banhou-se e colocou roupas frescas. Almoçou e voltou a deitar-se na sua cama comum. Não conseguia esquecer o prazer daqueles beijos na estrada enluarada e no escuro da tulha. Sentia-se mais mulher. Agora sabia por que a irmã ficava alegre depois do encontro com seu namorado. Dormiu voando num cavalo alado sobre oceanos de florestas verdejantes. Dormiu para acordar às três da tarde de domingo em Mutum.
Pegou a toalha listrada e banhou-se novamente. Assim que estava saindo do banho, ouviu a voz da amiga que chegava a sua casa.
-Agora posso contar para alguém.- Pensou consigo.
Chamou a amiga para o quarto ocupado por duas camas e uma cômoda que também servia de penteadeira.
-E aí? Como foi lá no casamento? Qual a novidade?- Quis saber a amiga curiosa, certa de que havia alguma novidade. Estava estampado no sorriso largo de Marli.
Marli firmou os olhos em algum ponto misterioso do quarto e falou como se quisesse e ao mesmo tempo não quisesse contar sobre os fatos de ontem.
-Fiquei com meu primo. Você precisava ver. Foi o maior barato.
-Beijaram?
Marli esticou o braço e ligou o toca-fitas num volume suportável.
-Vários beijos. Nossa! Foi sensacional.
-Até que enfim você conseguiu.
-Não te falei que alguma coisa me dizia que eu ia ficar com alguém naquele casamento. Ele disse que passando esse final de semana que vem, no outro, ele vai vir aqui na cidade para ficar comigo. Não vejo a hora de vê-lo novamente.
-Mas ele é seu primo.
-E o quê que tem? Só por que a gente é primo? Será que a gente não tem o direito de ser feliz?
-Vai sair hoje?
-Só vou sair no dia em que ele vier aqui.
-Ih! Já tô vendo. Agora vai ser Deus no céu e esse seu primo na terra. Só falta dizer que só vai a missa ou no grupo de jovens no dia em que ele for.
-Acho que estou apaixonada.
Celine sorriu despretensiosamente, despediu da amiga e voltou para sua casa.
CAPÍTULO 03