Dois Mundos e um coração- Segundo Capítulo

A noite cai em Lisboa e as nuvens de chuva cobrem os céus, um prenúncio de tempestade. O coração de Sarah bate forte e o desespero toma conta da jovem. A moça abre um lençol e joga as suas roupas, fecha rapidamente formando uma trouxa. Abner entra no quarto e seu semblante é de verdadeiro pânico, então o pai chama atenção da sua querida filha.

Abner:

- Filha, pule a janela e não deixe ninguém lhe avistar na rua. Coloquei essa capa preta, veja que tem um grande capuz. Coloquei sobre a cabeça e ande pelas sombras.

Sarah:

- Meu pai, não me deixe sozinha nessa jornada, vamos fugir juntos!

Sou muito frágil para me virar sozinha nessas ruas.

Abner:

- Se acompanhar vosmesse é capaz que lhe coloque em risco. Vá sozinha e tome cuidado para não ser vista. Procure a irmã Maria no convento de Nossa Senhora de Fátima, ela lhe dará abrigo minha filha.

Sarah:

- Diga para mim que um dia nos veremos novamente, não me deixe sozinha nesse mundo violento!

Sarah tomada pela emoção, abraça o seu pai com força e no fundo a jovem sabe que nunca mais o verá.

Abner:

- Estarei sempre com vosmesse, mesmo que não esteja presente em corpo. Vá de uma vez Sarah e que Adonai lhe acompanhe sempre minha filha!

Abner coloca a capa preta em sua filha e lhe dá a trouxa de roupas. Sarah chora feito uma criança, e nesse momento se ouve batidas forte na porta da frente. Os olhos de Abner ficam arregalados de pânico.

Abner:

- Vamos se apresse Sarah, deve ser a Santa Inquisição.

O homem abraça mais uma vez a sua filha e abre a janela para a moça. Com muito sacrifício, Sarah se apoia no telhado de fora da residência e não sabe como vai pular diretamente a rua. Então ela observa que uma carroça passa e atrás carrega muita palha. Sem pensar a jovem pula em direção a carroça e a sua queda e amortecida pela palha. A carroça então carrega, Sarah para longe daquela confusão.

Abner tremendo de medo, abre a porta de madeira e se depara com um homem alto, vestido com trajes da igreja e uma capa vermelha.

Dom Miguel:

- Senhor Abner? Recebi um chamado do padre e nesse chamado está registrado uma denúncia que a sua casa encobre uma grande heresia.

Abner:

- A minha casa? Como a casa de um simples carpinteiro pode apresentar tanta ameaça a Santa Madre Igreja?

Dom Miguel:

- O diabo carrega várias faces, e por isso vim pessoalmente conferir essa denúncia. Se houver qualquer tipo de sacrilégio, com toda certeza, os meus olhos irão identificar. Posso adentrar em vossa residência?

Abner:

- Mas é claro Vossa Santidade, fique a vontade, não repare pois sou muito simples e não tenho luxo algum.

Dom Miguel adentra a casa do simples carpinteiro, acompanhado por três oficiais da Santa Inquisição portuguesa. O coração do homem bate feito um tambor e a transpiração fica evidente em seu rosto.

Dom Miguel:

- Então quer dizer que vosmesse é carpinteiro?

Abner:

- Sim, sim... Faço muitas coisas a partir da madeira, meu trabalho é muito reconhecido em Lisboa.

Dom Miguel:

- Muito bom, o trabalho afasta a mente do homem dos males da carne e do espírito. Nosso Senhor Jesus Cristo também foi um hábil carpinteiro.

Dom Miguel senta em uma cadeira de madeira e fixa o olhar de águia em cima do pobre carpinteiro, observa as coisas que estão sobre a mesa, e então ordena.

Dom Miguel:

- Oficiais, podem vasculhar as coisas desse homem, e qualquer coisa que julguem ser ofensivos a verdadeira fé, peço que me traguem imediatamente!

Os guardas da Inquisição, carregando armas sobre as costas, começam a vasculhar os armários, os baús, e jogam tudo para cima. Abner fica assistindo a tudo, espantado com tanta brutalidade, demonstrada pelos oficiais.

Dom Miguel:

- Fique calmo senhor, eu sei que essa simples casa não teria o potencial para ameaçar o cristianismo. Fiquei sabendo que o senhor aceitou a fé recentemente, estou certo?

Abner:

- Vossa Santidade está certo, renunciei aos meus antigos hábitos e abracei o cristianismo.

Dom Miguel:

- Não fez mais que o seu dever como homem, renunciar tais feitiçarias! A nossa fé está sempre disposta a abraçar os que procuram a paz do Nosso Senhor. Espero não encontrar nada que aponte a sua antiga fé, senhor Abner.

O carpinteiro está branco de nervoso, e suas mãos não param de tremer. De repente um oficial vem por trás de Abner, e coloca o manto de orações judeu, sobre os ombros de Abner. Esse manto então entrega a verdadeira fé do homem.

Dom Miguel:

- Más que decepção senhor, eu realmente pensei que estivesse diante de um cristão verdadeiro. Para vosmesse ver que o diabo realmente se camufla muito bem.

Abner:

- O diabo está na cabeça dos intolerantes! O diabo está impregnado na sua língua maldosa e nos seus oficiais. Saiam imediatamente da minha casa!!!

Dom Miguel se levanta calmamente da simples cadeira e encara com seriedade o homem. Coça a sua barba negra, respira e fala.

Dom Miguel:

- Com ousa enfrentar um homem de Deus? Vosmesse acaba de denunciar que a sua alma está coberta pelo mal. Essa residência não é sua, essa casa pertence à Deus!

Abner:

- Essa casa pertence ao meu Deus, pertence aos Hebreus que saíram do cárcere do Egito! O sofrimento do meu povo, me dá força para enfrentar a vossa tirania!!! Nada me fará temer, vou morrer sabendo que nunca virei as costas a minha fé.

Dom Miguel:

- Eu realmente tentei lhe ajudar, más vosmesse mesmo escolheu o seu destino. Homens prendam imediatamente esse homem, que se arrependa de seus pecados Abner! Vai se arrepender pendurado na ponta de uma corda!!!

Os guardar amarram os punhos de Abner e começam a espancar o simples carpinteiro, como ele fosse um pedaço de lixo. Dom Miguel sai da casa, com toda a calma e entra na carruagem. O sangue escorre sobre o rosto de Abner, e o homem é levado até uma carroça que transporta uma jaula, que está cheia de pessoas.

Vinicios Gonsalo
Enviado por Vinicios Gonsalo em 12/08/2016
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