O AMOR EM DOIS MUNDOS - XI Capítulo do Romance

Osmar deixou Leny próximo à sua rua e, dirigindo na volta pra casa, seus pensamentos não paravam de perguntar: "O que vou fazer agora? Dois filhos e duas mulheres diferentes ao mesmo tempo. Que responsabilidade!

Osmar chegou em casa no fim da noite, as crianças já estavam dormindo e, como sempre, Yolanda estava aguardando-o com um sorriso nos lábios. Aliviada por ele ter chegado, Yolanda correu para beijá-lo, ousando puxar as mãos do marido para acariciar a sua barriguinha ainda imperceptível. Era uma mulher dedicada à família e carinhosa com o marido ao extremo. Excelente dona de casa estava sempre pronta para atender Osmar e as filhas em quase tudo que fosse preciso. Mas foi nesse instante em que ela fazia de tudo para agradá-lo, que o outro lado veio à tona e o remorso tomou integralmente conta do rapaz. Osmar sentiu uma mistura desordenada de sentimentos que o deixou desorientado, sem saber como conciliar amores, arrependimentos, paixões, medos, amizades, compaixões, desejos e saudades. Seu coração estava sem sintonia com a sua mente e isso poderia prejudicar a sua serenidade e o seu bom-senso. Ele não admitia de jeito nenhum ser um egocêntrico que só pensa em si em prejuízo dos outros. E isso estava prestes a acontecer independente do caminho que fosse tomar para assumir suas responsabilidades.

Osmar tinha que ficar ligado para as cobranças que estavam por vir. Em casa, nesse momento, enquanto se preparava para o banho e Yolanda providenciava a sua ceia antes de dormir, a mulher questionou: 
-- Pensei que você fosse chegar mais cedo, por estar ainda de férias na faculdade.

-- É que fiquei até mais tarde no trabalho. Meu serviço está todo atrasado.

-- Mas não teve ninguém para substituí-lo nas férias?

-- Só para as tarefas mais urgentes. É sempre assim meu amor. Quando a gente volta, o trabalho é dobrado.

-- E isso vai continuar até quando? O trabalho é importante, mas as meninas sentem a sua falta. Praticamente elas só vêem o pai nos finais de semana.

-- Você tem razão. Vou prestar mais atenção nisso. Semana que vem já recomeçam as minhas aulas.

-- E aí volta aquela rotina de sempre, de chegar em casa quase à meia-noite.

-- Será o último período antes da formatura. Falta pouco e serão poucas matérias. Vou ter mais tempo para me dedicar a vocês.

-- Assim espero, por que precisamos, também, curtir os nossos momentos íntimos.

-- Como assim? Qual a reclamação?

-- Nunca reclamei meu amor, mas muitas vezes lhe procurei à noite e você alegou cansaço.

-- E é verdade. Algumas vezes o estresse no trabalho e as provas na faculdade, deixavam-me esgotado.
Concordou Osmar, ciente que em certas ocasiões, o cansaço era apenas a desculpa para não atender a mulher após horas maravilhosas passadas com Leny. Momentos relaxantes como aqueles que haviam ocorrido ainda há pouco com a sua amante.

-- Mas hoje eu quero você. Estarei na cama aguardando-o ansiosa após o seu banho. Determinou Yolanda cheia de vontade e com uma pulga atrás da orelha.

Essa cobrança de Yolanda tornou-se comum durante boa parte da sua gravidez, como se quisesse aproveitar o tempo ainda livre da sua barriga. Ela sabia, por experiência própria, que nem ela e o marido se interessavam por sexo após o sexto mês de gravidez. Yolanda pela transformação do seu corpo e pelos sintomas desagradáveis que sentia e ele desencorajado e cheio de cuidados com a gestação da mulher.

Mas até lá, como naquela noite que sucedeu os momentos com Leny, Osmar nunca resistiu às preliminares provocadas pela mulher e sempre a satisfez com prazer e carinho. Yolanda era outra mulher na cama e isso deixava o marido feliz e confortado. Apesar de não serem instantes tão excitantes como aqueles passados com a garota, Osmar reconhecia que os prazeres de Yolanda vinham carregados do grande amor que ela sentia por ele. Era um sexo mais prazeroso, descompromissado e sem culpas, ao contrário das investidas de Leny que tinha a mente praticamente voltada para o prazer, sem demonstrar amor com a sua insaciável e apaixonada procura por sexo.

Essas comparações entre as duas mulheres foi um dos pontos que auxiliaram o seu raciocínio na tomada de suas decisões. Ele sabia que tinha
responsabilidades em casa à espera de outro filho, mas também não podia esquecer-se do comprometimento muito sério que era a gravidez de Leny.

O amor neste mundo de Osmar, que era a sua casa e a sua família, transcorreu normalmente no decorrer dos meses. O afastamento de Leny ficou claro logo após o dia seguinte àquele que estiveram juntos. Leny, apesar de manter a boa relação de trabalho com o rapaz, permaneceu fiel à sua decisão de dar um tempo à relação. Naquela semana após o seu casamento, como ainda não havia iniciado suas aulas, Leny simplesmente cumprimentava a todos e saía direto pra sua casa após o encerramento do expediente.

Na semana seguinte e em muitas outras, Leny evitou acompanhar Osmar à faculdade, mesmo ele se oferecendo. A empolgação pareceu ter esfriado e algumas vezes Osmar a encontrou na saída da faculdade acompanhada de outro rapaz. Sem saber de quem se tratava e que tipo de envolvimento era aquele, Osmar sentia apertos no peito quando os via juntos. Apertos esses que vinham acompanhados de revolta, frustração e tristeza que só o ciúme é capaz de causar.

Osmar ainda tentou algumas vezes demover a menina com almoços, conversas fora da empresa e idas à faculdade, mas Leny sempre respondia: 
-- Preciso de um tempo para organizar a minha vida. Nada contra, mas se você estiver por perto posso mudar o meu rumo. Entenda por favor.

O tempo foi passando e o amor no mundo de Leny não era tão tranquilo quanto o de Osmar. O rapaz que constantemente fazia companhia a Leny era Alexandre, que passou a buscá-la quase todos os dias na faculdade. Ele agora era seu marido, vivia empolgado com isso e estava querendo reconquistá-la. Passou a frequentar a casa da garota novamente por exigência do seu sogro João que, para enganar as aparências, pediu para que ele se mostrasse o maior tempo possível ao lado da sua filha. Mas mesmo assim, Leny evitava que Alexandre se aproximasse com segundas intenções e não o incentivava para tal.

Nesse meio tempo, os proclamas foram oficializados e João correu logo ao cartório para se inteirar dos caminhos para o casamento da filha. Já haviam se passado mais de 30 dias quando os noivos, na presença de seus pais como testemunhas, assinaram o Memorial de Casamento no Cartório e a Certidão de Habilitação finalmente já estava pronta. João voltou pra casa com a informação de que qualquer um dos noivos teria que comparecer àquele Cartório dentro de noventa dias para marcar a data da cerimônia junto ao Juiz de Paz. Segundo ele, a cerimônia poderia ser realizada aos sábados na parte da manhã no salão de casamento do próprio Cartório ou em qualquer outro local dependente do agendamento e disponibilidade do declarante oficial. Mas...

Enquanto Alexandre mostrava-se animado e ansioso para oficializar logo aquela união, Leny agiu com ceticismo. Ela tinha certeza que aquele compromisso não poderia dar certo e resolveu pensar melhor no que fazer. Ela precisava, mais uma vez, conversar e pedir a opinião de Osmar que, no último encontro, mostrou-se revoltado com este casamento não desejado por ela.


O mês de agosto passou sem que a decisão de Leny sobre Osmar fosse alterada. Os dois pouco se falaram fora da empresa e ambos passaram a se preocupar apenas com os problemas em seus mundos particulares. Por conta de alguns horários mais curtos das suas aulas, Osmar passou a se dedicar mais à família chegando cedo à sua casa em algumas ocasiões. Sempre preocupado com a esposa e as filhas, nunca deixou de demonstrar carinho e atenção para com elas.

O mês de setembro chegou e as duas mulheres, mesmo que quisessem, não poderiam esconder suas barrigas salientes no quarto mês de gravidez. Quanto à Yolanda, Osmar já tinha experiência e sabia como tratar seus eventuais incômodos ou desejos. Mas quanto à Leny, ele estava agoniado pela indiferença da moça nos últimos tempos, que o deixava sem ação na sua vontade de se aproximar para ajudar e compartilhar do seu problema. Mas...


No outro mundo, que era a casa de Leny, a moça vivia dividida, nervosa e desorientada com tudo que estava acontecendo e resolveu "dar um basta!". Ela não suportava mais a pressão do seu pai para marcar logo o casamento no civil e muito menos aguentava a indesejável presença de Alexandre como se fosse o seu cão de guarda. A sua barriga já estava bastante aparente e isso não a deixava se esquecer de Osmar. Aquele filho era dele e tudo que estava para acontecer estava errado. Por isso, no início da terceira semana de setembro, ela resolveu quebrar o gelo com o rapaz, antes de tomar uma decisão drástica e definitiva. Convidou o rapaz para um almoço e, entre garfadas e bebidas, o assunto voltou à baila:  --Como está passando querida, com esta gravidez? Quis saber Osmar.

-- Alguns incômodos que a minha mãe já disse serem normais e muita ansiedade. Vejo meu corpo se transformando numa bola e a sensualidade em baixa.

-- Mas estou sentindo muito a sua falta. Esse tempo todo que você pediu para nos afastarmos está sendo horrível para mim.

-- Mas foi necessário. Eu precisava de um tempo para pensar e avaliar melhor o que estava acontecendo.

-- E você já pensou? Chegou a alguma conclusão?

-- Pensar, eu estou pensando até agora. Chegar a uma conclusão vai depender de você.

-- E que conclusão é essa? Já lhe disse que estarei sempre pronto para ajudá-la.

-- Então escute e não me interrompa. Desde o dia que você falou que iria assumir o nosso filho, estou vivendo sobressaltada. Meus pais não
sabem do nosso relacionamento e ainda acreditam que o filho é de Alexandre. Prepararam um casamento de fachada e exigiram que ele se mostrasse ao meu lado e freqüentasse de novo a minha casa. Além de ter que aturar a presença de quem desprezo, sou obrigada a aguardar a montagem do meu lar por parte de seus pais.

-- Parece-me que todos se envolveram mesmo e fizeram de tudo por essa união.

-- Mas o pior de tudo Osmar, é que os proclamas foram liberados e o meu pai está me pressionando para oficializar o casamento. Eu tenho até noventa dias para marcar a cerimônia e não quero fazê-lo. Resolvi dar um basta nessa mentira e enfrentar o meu pai.

-- Procure agir com calma. Converse com ele numa boa e procure o entendimento.

-- Já tentei isso várias vezes, mas você não conhece o gênio do velho. Nordestino boa praça que vira bicho quando é contrariado. Respeito muito ele, mas tenho receio do que pode aprontar.

-- E o que você decidiu?

-- Vou contar tudo que acontece e aconteceu entre nós. Dizer que não posso continuar com esta farsa de casamento. Vou confessar pra ele que a criança não é de Alexandre e que não posso deixar o meu filho ser registrado por pai errado.

-- Eu acho que você está muito certa e estou pronto para o que der e vier. Ainda não posso me casar com você, mas pelo menos, o registro será meu.

-- Que loucura! E se a sua mulher vir a saber disso? E os meus pais? Nem imagino o que farão quando souberem que você é um homem casado e pai de família.

-- Pelo menos agora, eles não vão precisar saber. Estou pensando em montar um apartamento para nós dois. O que você acha?

-- Caramba! Verdade! É tudo que eu quero. Você nem imagina o peso que está tirando de cima de mim com essa proposta. Agora estou mais animada para enfrentar a fera lá de casa.
Surpreendeu-se Leny cheia de felicidades com a atitude do amante.

-- É tudo que posso lhe oferecer neste momento meu amor. Faça como você quiser e, se for preciso, vou até lá encarar o velho.

-- Pode esperar por isso e aguardar o que for decidido. Estou orgulhosa da sua atitude querido. Atitude de homem.


Os dois terminaram o almoço e voltaram juntos para a empresa sem, no entanto, ouvir o comentário de Gleice: -- Hum! Almoço incrementado esse hein! Perderam até a hora de voltar.

-- Incrementado como o seu no outro dia. Fomos conversar sobre as suas férias e o meu casamento. Ele é um grande amigo como é seu também. Rebateu Leny na mesma hora.

-- Só espero que você tenha matado as saudades como eu matei as minhas. Provocou Gleice.

-- Dependendo do tipo de saudades, de repente não. Respondeu Leny na mesma moeda, deixando Gleice ainda mais desconfiada.

Osmar sorriu com a implicância das duas e caminhou até a sua mesa. Ele sabia que Gleice tinha ciúmes de Leny e que esta muito mais de Gleice. Ele entendia que Gleice sentia falta da sua amizade e companhia nos bate-papos após o expediente, mas ele não percebia que as brincadeiras e indiretas da moça tinham um motivo mais envolvente. E eram essas brincadeiras e indiretas que, ao contrário do rapaz, mostravam a Leny que a colega sentia algo mais por ele. Mas ela não podia demonstrar o seu ciúme, em virtude das circunstâncias da sua posição pessoal de momento.

No final do dia e durante o fim do expediente no restante da semana, Leny continuou sem acompanhar Osmar à faculdade, com receio de Alexandre encontrar os dois juntos. Ela não queria que isso acontecesse antes do que estava pra ser resolvido no mundo da sua casa. Mas, naquele final de semana, outra surpresa estaria reservada para Leny naquele mundo, quando Alexandre, na presença de Valdívia e João, anunciou para a moça com euforia: 
-- Querida, hoje de manhã fui ao cartório e marquei a data do nosso casamento no civil.

-- Como assim?
Surpreendeu-se Leny.

-- Será no próximo dia quinze de outubro, um sábado. A cerimônia será na parte da manhã no salão de casamentos do próprio cartório. Completou Alexandre com euforia.

-- Mas como é que pode? Você marcou a data sem falar comigo, é isso? Quem sou eu nessa história? Indignou-se Leny.

-- Não se irrite minha filha, a data poderia ser marcada por qualquer um de vocês dois. E estou achando a data com ótimo prazo para os preparativos. Interrompeu João tentando acalmar a filha.

-- Preparativos pra quê? Pra tapar o sol com a peneira? E outra coisa: já estou cansada de ser um joguete nas mãos dos outros. Não vou mais permitir que decidam as coisas por mim. Eu tenho opinião própria e quero que respeitem isso. Rebateu Leny com decisão à observação do pai.

-- Mas isso já estava acertado minha filha, desde o mês retrasado... Questionou Valdívia.

-- Mesmo assim! Não sou nenhuma idiota para permitir que mandem na minha vida. Quero pensar sobre isso tudo. Questionou Leny.

-- Não tem o que pensar Leny, isso já estava acertado. Vai casar e pronto! Esbravejou João, continuando: -- Eu quero que seja assim!

-- Aí está a prova do que falei. É uma discussão entre pai e filha e, por isso, eu peço ao Alexandre para se retirar.
Determinou Leny com atitude.

Valdívia, sempre apaziguadora, levou o rapaz bastante atônito até a porta e este, antes de sair, ainda teve tempo de segredar para a sogra: -- Eu estou aqui D. Valdívia, na melhor das intenções para reparar um erro. Mas não posso aceitar a rejeição e a grosseria de Leny como aconteceu agora. Para mim acabou. Estarei indo ao Cartório cancelar a cerimônia e que ela seja muito feliz. Muito obrigado pela paciência e consideração que a senhora e o seu marido João sempre tiveram comigo.

E Valdívia voltou decidida após a saída do rapaz: -- Olha bem aqui vocês dois. Não vou permitir briga de pai e filha nesta casa. Vamos parar com essa discussão e tentar resolver como pessoas de família e adultas que somos.

-- Mas eu não posso concordar com essa desobediência da parte dela.
Reagiu João com indignação.

-- Então deixa esse assunto comigo e não se meta! Não é nesse clima que vamos resolver os problemas. Saia e nos deixe a sós. Determinou Valdívia para o marido.

-- Ainda bem mãe. Com você a conversa é outra. Nesta vida ninguém pode mandar em ninguém. Completou Leny com lágrimas nos olhos.

Enquanto isso, Alexandre, com o amor ferido, chegou à sua casa decidido e revoltado. O pai Antônio, reparando o descontrole do filho, quis saber: -- O que houve desta vez com Leny?

-- Mas uma indiferença e falta de educação da parte dela. Agora chega pai, não vai haver casamento nenhum. Quem não quer agora sou eu!
Rebateu Alexandre bastante revoltado.

Alexandre era um rapaz trigueiro de vinte e três anos, fruto da miscigenação inter-racial entre a sua mãe negra e o seu pai branco. Presença marcante com seu corpo de atleta, seu rosto redondo com dentes brancos e perfeitos em boca larga de lábios grossos, contrastava com seus cabelos pretos carapinhados com corte rente acima da cabeça. Gostava de esportes e jogava um bom futebol nos fins de semana perto de sua casa. Nos estudos, não completou o segundo grau para se dedicar a curso técnico de analista de sistemas, que possibilitou o seu emprego numa agência de publicidade. Era um rapaz de família, onde seu pai Antônio comandava e sustentava a casa com seus proventos de oficial reformado da marinha mercante brasileira. Era um ex-militar experiente e calejado por muitas viagens ao exterior a bordo de navios que duravam meses sobre águas oceânicas e climas diferentes entre embarques e desembarques por diversos países.

-- Não sei quando vai acabar esta confusão, mas tudo que começa errado geralmente não termina bem. Filosofou o seu pai Antônio ao desconforto de Alexandre.

-- Estava bastante animado com esse casamento porque, além de gostar dela, seria uma maneira de consertar o meu erro. Confessou Alexandre.

-- Que erro é esse? Então é verdade aquela história de vocês dois no motel? Da sua violência contra ela? Quis saber Antônio.

-- É verdade pai. E acho que ela nunca vai me perdoar. Sinto que a Leny ainda está muito magoada. Confirmou Alexandre.

-- E não é pra menos! Sinto vergonha de você meu filho. Interrompeu sua mãe Deolinda, repreendendo-o: -- Nunca imaginei que, após a criação que lhe demos, você fosse capaz de cometer um ato tão covarde e desleal contra a fragilidade de uma mulher. É lamentável.

-- Pior do que isso Deolinda, foi a mentira que ele armou contra a verdade da garota. E nós o defendemos da revolta do pai dela, por acreditarmos na sua versão.
Indignou-se Antônio.

-- E que negócio é esse de querer cancelar o casamento agora? Depois de tudo acertado no Cartório? Você vai ter que manter esse compromisso. Que brincadeira é essa? Isso é um assunto muito sério. Revoltou-se Antônio.

-- Então vá lá e convença a Leny. Ela é que não quer, como demonstrou há pouco, ao tratar-me como um ser desprezível e detestável. Desafiou Alexandre.

E Antônio aceitou o desafio. Mas enquanto se aprontava para colocar o assunto a limpo com João e família, Leny aproveitou a ausência do pai para se abrir com a mãe: 
-- Foi bom o pai sair para a gente conversar, pois não agüento mais essa situação.

-- Então me conte tudo e não me esconda nada. Diga-me o que pretende fazer e o que você está sentindo. E lembre-se que só quero a sua felicidade. Rebateu Valdívia com atenção e carinho.

-- Este casamento está todo errado, mãe! Não posso concordar em conviver com um homem que eu detesto. Seria insuportável! Pra mim acabou esta palhaçada! Continuou a filha com determinação e bastante indignada.

-- Mas vocês já se casaram no religioso. Houve até recepção na igreja com muitos convidados. O que eles vão achar disso? Preocupou-se Valdívia com os comentários alheios.

Leny: -- Não estou nem aí para o que eles vão dizer. Eles não me sustentam nem pagam as minhas contas. E o casamento religioso não é oficial e nem sacramentado como o civil.

-- Mas vocês foram abençoados pelo pastor em nome do Senhor. Pra mim vale muito.
Rebateu Valdívia preocupada com seus princípios evangélicos.

Leny: -- Eu respeito o pastor, mas tenho certeza que o “Senhor” quer a minha felicidade. E a minha felicidade não é o Alexandre.

Valdívia: -- Então me diga quem é a sua felicidade. A sua felicidade é este filho que você está esperando?

Leny: -- Lógico que estou feliz por esse filho. Ainda mais pelo pai que ele tem.

Valdívia: -- Então você confessa agora, o que sempre me escondeu? O filho não é do Alexandre, é isso?

Leny: -- É por isso mãe, que não posso me casar com ele, muito menos permitir que registre a criança.

Valdívia boquiaberta e surpresa: -- Então a história agora é outra. Não pode haver o enlace mesmo. Só lamento você ter deixado a situação chegar a este ponto, quando se omitiu nas diversas vezes em que lhe questionei sobre a sua gravidez.

Leny: -- É que eu estava desorientada e com medo do papai. Pensei, mesmo a contragosto, que o casamento encobriria o erro e resolveria todos os problemas.

Valdívia: -- Pensou errado e envolveu muita gente com isso. Com que cara nós iremos sair às ruas a partir de agora? Que vergonha!

Leny: -- Não fique assim, mãe. Preciso da sua ajuda para acalmar o pai e tirar essa agonia de cima de mim.

Valdívia: -- Nunca vou deixá-la só, minha filha. Mas agora eu concordo com você: não haverá mais o casamento no civil.

Nesse ínterim, Antônio bateu à porta e perguntou por Leny quando Valdívia o atendeu. Valdívia acomodou-o no sofá da sua sala em companhia da moça, pediu licença e, adentrando em seu quarto onde estava João, não perdeu tempo: -- Antônio está lá na sala e chegou perguntando pela Leny. Não sei o que ele tem a nos dizer, mas seja o que for este casamento está cancelado.

-- Como assim? Que história é essa? Admirou-se João levantando-se da cama assustado.

-- Vamos escutá-lo para saber o que ele quer. Depois a gente conversa sobre isso. E não se exalte! Determinou Valdívia, descendo com o marido e sempre com ingerência sobre ele.

Antônio incomodado com a situação diante dos três anunciou:
-- Alexandre chegou a pouco em casa muito contrariado com a Leny e pela maneira como foi tratado por ela aqui. E afirmou que, por não suportar mais tanto desprezo e indiferença da parte dela, estará cancelando o casamento que ele mesmo acabara de marcar no cartório no dia de hoje.

-- Mas isso não está certo! E a responsabilidade dele? Rebelou-se João bastante revoltado.

-- Deixe-o acabar de falar João, porque vocês dois ainda não sabem de tudo. Rebateu Valdívia com ares de reveladora.

Antônio: -- Pois é D. Valdívia. O Alexandre tem demonstrado querer cumprir o que foi tratado, mas chegou à conclusão que a Leny o rejeita. Por isso, eu pergunto: Leny, eu estou aqui para saber definitivamente: você quer ou não quer se casar com o meu filho Alexandre?

Leny: -- Não! Não gosto mais dele e não posso enganá-lo. Seria um grande erro para nós dois.

João, ainda reticente: -- Ai... Ai... Ai... Vamos começar tudo de novo?

Valdívia determinada: -- João, depois a gente conversará sobre isso. E para você seu Antônio, pode liberar o Alexandre desse compromisso. Não haverá mais casamento.

Antônio: -- É melhor assim. Mas entendo que ele tem que assumir a responsabilidade sobre o seu filho.

Valdívia: -- Isso nós veremos mais à frente. Temos que preservar a criança.

João irritado: -- Não estou entendendo nada. O que você está me escondendo Valdívia?

Antônio: -- Outra coisa: eu quero pedir desculpas para vocês por ter acreditado no Alexandre até o fim. Ele confessou que a verdade daquela noite estava com a Leny e entende que ela nunca vai perdoá-lo.

Valdívia: -- Nossa! Mais essa agora? Realmente é muito desconforto pra ela aceitar o casamento com esse lamentável fato passado entre os dois.

João: -- Então ele confessou o estupro? Que animal! Não dá mesmo para engolir isso. Mas a criança...

Antônio: -- Estupro é uma palavra muito forte caro João, para dois jovens que se encontraram dentro de um motel.

Valdívia: -- Vamos parar por aqui! Não quero mais confusão. Vamos deixar o tempo passar para ver o que acontece. Quem sabe se algum dia os dois não voltam a se entender.

João: -- O pior de tudo fui eu ter exigido o casamento por acreditar na versão do seu filho. Mas nessas condições não dá. Assunto encerrado aqui Antônio. Boa noite e pode se retirar.

Leny acompanhou toda a conversa apreensiva e em silêncio, mas ficou aliviada com o que foi decidido na reunião. Era exatamente o que ela desejava há muito tempo, mas o seu segredo sobre Osmar impediu que a verdade viesse à tona como aconteceu ainda a pouco diante de sua mãe. Mas outro problema nas mesmas proporções estava para cair em seu colo: a apresentação do seu novo namorado, casado e com a chancela de pai do seu filho. Mas...

É o que veremos na continuação da história através do décimo segundo capítulo: "CAUSAS E EFEITOS".

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POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 13/07/2016
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