UMA LOURA À JANELA - 31
– Isso é muito infantil, minha cara! Reflita, pondere bem e verá como você mesma achará absurdo que alguém possa acreditar numa só palavra do que diz!
– Verna Vale poderá testemunhar! – Replicou Mary. – Sim, ela testemunhará e poderá confirmar tudo quanto estou dizendo! Ela me ajudará. Verna sabe que não estou mentindo...
– Infelizmente, tenho de contradizê-la, minha jovem.
– Por quê?! Então, acha que ela não testemunharia a meu favor? Acha que ela seria capaz de negar tudo o que estou dizendo? Mas se foi ela mesma...
– A pobre Verna Vale nunca mais poderá testemunhar a favor ou contra coisa alguma!
– Não entendo...
– Os jornais da tarde trazem a notícia de seu lamentável e trágico fim. Ela foi esfaqueada, ao surpreender um ladrão em seu apartamento...
As pulsações de James Todd aumentaram.
Era isso! O homem que estava no quarto contíguo era Saunders. E Saunders, por qualquer motivo, apresentava-se sob outro nome. E ele tinha de ser o autor das mortes. De outra forma não poderia saber que Verna Vale estava morta. Não houvera tempo ainda para os jornais publicarem a notícia.
Numa coisa James concordava com Saunders: seria muito difícil para Mary Brown provar num julgamento suas declarações. Ela, como herdeira da Fama Films, submetendo-se, durante a madrugada, a um teste cinematográfico num quarto de hotel? A jovem estava metida numa grande embrulhada... e nada estava a seu favor.
A maioria das pessoas ligadas àquele quebra-cabeça não mais existiam. E James sabia que Mary era inocente, mas com poucas possibilidades de salvar-se das mãos da Justiçao.
O detetive fez força contra as cordas. Debateu-se com tal violência que a cama virou, e ele caiu de bruços no chão.
A porta abriu-se.
Imediatamente, um homem usando uma máscara de seda entrou no aposento e ergueu-o.
– Ora, ora! Então, seu crânio ainda não rachou, bisbilhoteiro? – Perguntou o homem, arrancando o esparadrapo da boca de James. – Já deve ter percebido que não adianta gritar. Agradeço-o por ter trazido o filme. Onde é que Verna o escondeu? Não o encontrei, quando vasculhei o apartamento dela.
James ficou assombrado. O sujeito devia estar muito bem seguro de si para admitir tão descaradamente que havia estado no apartamento de Verna Vale.
E o assassino surpreendeu ainda mais o detetive, ao dizer, com a maior frieza;
– E eu estava no apartamento de Verna, quando você voltou. Durante todo o tempo em que ela esteve murmurando para você, eu tinha uma arma apontada para suas costas.
Tirou um maço de cigarros do bolso e uma caixa de fósforos. Colocou um cigarro na boca. Era o último. Atirou o maço ao chão.
– É uma pena que seja o último, meu caro – falou. – Senão, eu lhe daria um.
– Eu tenho alguns cigarros no bolso do paletó – retrucou James – Gostaria de fumar um... ¬
O assassino sorriu, introduzindo a mão no bolso indicado. Pegou um cigarro e colocou-o nos lábios de James. Acendeu-o.
– Você poderia me soltar uma das mãos, – pediu James, – para que eu pudesse fumar melhor.
– Por que não? – Concordou o assassino. – Mas, se tem a esperança remota de me enganar, pode esquecer. Eu sou um perito em questão de nós.
Soltou o pulso esquerdo de James e enrolou a corda em torno do pulso, deixando-o apenas suficientemente livre para que pudesse tirar o cigarro da boca. Depois, continuou falando, em tom calmo:
continua na próxima sexta-feira