O som do vento

Estava tão entediada de tudo, nada mais me satisfazia. Andando pelas ruas frias de New York, em plena época de chuva. Perto de um belo parque arborizado, sombrio. Percebo que estou sendo seguida. Dois homens, de estatura mediana, blusa e capuz. Não há ninguém por perto, ha musica em meu Ipod toca alto. Finjo não me importar com a proximidade. Meu corpo todo se arrepia, excita. Apenas de pensar o que farão se me atacarem. E quando nossa proximidade esta a apenas um braço de distancia, minha respiração se eleva e não deixo de morder o lábio inferior.

Mas como em uma fração de segundos eles passam direto por mim, sem nem se quer me olhar. Paro sem saber o que fazer. “Nada!?”. Estou mais brava ainda. Agora estou totalmente irritada, excita e frustrada.

Estou há quase dois anos sem sexo. Fantasiar, me tocar já não é o bastante. Nunca foi. Meus relacionamentos sempre acabaram por que eu nunca conseguia chegar ao clímax máximo. Minhas colegas de trabalham nem sonham sobre minha vida pessoal. Sempre fui tão reservada com tudo. Mudei-me já há três anos. Não saio muito, mesmo por que odeio falar inglês.

Quando chego ao meu modesto apartamento, pego minha correspondência. E abro devagar a porta, folhando carta por carta. Passo mão pelo interruptor ao lado da porta. E encarro meu pequeno quarto minha pequena cozinha e meu pequeno banheiro, adoro minha pequena kitnet. Encosto a porta com o pé. Quando uma correspondência me chama a atenção. Um convite para uma festa.

Abro devagar o envelope muito elegante com fechamento como em tempos antigos quando se selava com cera, e percebo um belo brasão em formato de WB sobrepostos. Abro e leio atentamente.

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New York, 15 de setembro de 2015.

Convidamos a senhorita Aghata Venns a comparecer a uma festa em sua homenagem no dia 28 de setembro de 2015, para comemoração de seu aniversario. Sua presença é de estrema importância. Mais detalhes serão enviados perto da data da festa.

Dom Willian Brazy.

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- Uau!

Corro para meu computador pesquisar seu nome, quando sua foto aparece na tela do meu computador quase caio da cadeira. Willian Brazy é um dos sócios majoritários da empresa, sabia que o conhecia de algum lugar, mas não sabia da onde. Ele normalmente não trabalhava na empresa. Talvez seja por isso que vai dar uma festa pra mim? Porque é meu chefe?

Minha caixa de e-mails acende. “Devo ter recebido mais um daqueles e-mails irritantes”. Adoro falar com minha família, mas agora quero mesmo é um bom banho para esquecer que estou louca por sexo.

Quando saio do banheiro sinto um vento gelado. “Droga! Deixei a porta aberta!”. Corro para fecha-la. Aqui é frio de mais. Que saudade do meu Brasil. Quando sento enrolada em minha toalha resolvo finalmente ler o tal e-mail, meu computador esta um pouco lento. E levanto pegar uma xicara de chá, odeio chá gelado. E coloco dentro do micro-ondas. Quando esta exatamente do jeito que eu gosto vou ate meu computador. Não conheço o remetente.

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De: Willian

Para: Aghata

Data: 16/09/2015 19:30

Boa noite,

Espero que tenha recebido meu convite! Gostaria de saber se aceita essa homenagem?

Dom Willian Brazy

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Depois de ler cuspo meu chá no chão.

- O que?

Fico um bom tempo lendo o e-mail, e depois o convite. Quando uma brisa toca meus tornozelos, percebo que ainda estou de toalha. Termino de secar meus cabelos. E coloco meu pijama. Meus dedos passeiam pelas telhas sem escrever. Tento me lembrar de quando em dois anos que estou na empresa que deram uma festa em homenagem a um funcionário. Acho que nunca.

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De: Aghata

Para: Willian

Data: 16/09/2015 20:27

Boa noite,

Infelizmente não poderei aceitar! Mas agradeço muito.

Aghata Venns

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Envio sem pensar duas vezes. Não quero ser diferente dos outros na empresa, e também não quero um relacionamento de nenhum tipo com o alto escalão da empresa. Ainda esta cedo para dormir. Ligo a radio em um som baixo para não perturbar os vizinhos. E começo a me exercitar. Odeio ir a academia daqui, todos ficam me olhando como se fosse de outro planeta. Mas sempre acabo indo a uma do outro lado da cidade que tem um ótimo ringue de boxe, e como ninguém me conhece, é muito bom ir treinar. Feito meu alongamento meu computador apita.

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De: Willian

Para: Aghata

Data: 16/09/2015 20:32

Boa noite,

Gostaria de saber o por quê? Pois sem um motivo, não aceitarei uma recusa.

Dom Willian Brazy

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Engasgo-me novamente, mas dessa vez com o ar. Sigo fazendo meus exercícios enquanto penso em como me livrar do meu chefe.

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De: Aghata

Para: Willian

Data: 16/09/2015 20:45

Boa noite,

Não poderei aceitar, pois o senhor é meu chefe e não lembro-me quando a empresa deu uma festa para homenagear um funcionário, ainda mais uma simples secretaria como eu. Peço que não insista.

Aghata Venns

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Meu sangue esta começando esfriar, espero não ter sido mal-educada. Minhas colegas já me disseram que quando estou nervosa não penso antes de falar ou escrever, e que às vezes sou muito dura nas palavras.

Depois de trinta flexões, me levanto para fazer meus polichinelos. Quando meu computador recebe outro e-mail.

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De: Willian

Para: Aghata

Data: 16/09/2015 20:58

Boa noite,

Essa festa não é de caráter da empresa, e sim pessoal.

Quero apresentar um mundo novo, que sei que apreciara. Peço por favor, que reconsidere.

Dom Willian Brazy

P.S. Não desisto daquilo que quero! E não aceitarei “não” como resposta.

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Atrevido! Volto a fazer o que estava fazendo, mas minha mente esta fervendo. Depois de perder as contas de quantas abdominais, encosto a cabeça no chão gelado. “Caráter pessoal.”

Vou ate minha cama, desligo o radio e as luzes. E me deito, viro-me de um lado para o outro. O sono não vem. Quando me ocorre um estalo na mente. Levanto mais que depressa e acabo batendo o pé no criado mudo.

- Ai meu dedo!

Entro na minha pagina da internet onde posto todos os meus poemas e contos eróticos. Quando na maioria de meus contos recebo comentário de uma única pessoa. E quando abro meus comentários. Muitos de “DWB”. Leio muito comentários ate que um me chama a atenção.

“Você faz parte do meu mundo! É só preciso que abra a porta.

E eu terei o prazer de abri-la em breve para você.”

Pego a carta e vejo o dia em que foi escrita. Dia 15, esse comentário veio do mesmo dia. O comentário foi feito em um dos meus contos eróticos.

- Agora que não vou conseguir dormir.

Graças a deus amanha é minha folga. Não vou conseguir ficar em casa. Minha mente esta a milhão. Troco de roupa, e coloco uma roupa boa para correr. Acho que algumas voltas no quarteirão irão me esfriar a cabeça. Pego minhas chaves e meu Ipod. Tranco a porta e desço correndo as escadas. Quando chego a rua, vejo um belo carro preto do outro lado da rua, nunca havia percebido que alguém aqui do bairro tinha um carrão desses, odeio não saber o nome, mas fazer o que sou mulher.

Ligo minha musica o mais alto, me alongo um pouco. Um arrepio corre meu corpo, alguém me observa. Acho que não, é só o frio dessa cidade de pedra. Começo a correr, correr me ajuda a não pensar em nada. E com certeza vai me ajudar a dormir.

Quando estou a dois quarteirões de distancia descido voltar. Do outro lado da rua, uma lojinha de conveniência esta aberta.

- Mmmmmmm chocolate!

Entro compro uma barra de chocolate e me despeço do vendedor. Quando saio e começo a correr em direção ao meu apartamento. Percebo que aquele carro preto, esta novamente do outro lado da rua. “Ele estava do outro lado da rua na frente do meu apartamento.”

Atravesso a rua em direção ao carro, quando percebo alguns garotos e eles vêm em minha direção. “Hoje não estou com vontade de brincar!”. Continuo minha corrida. E finjo não ter percebido a presença deles, desligo minha musica, mas não retiro meu fone. Quando escuto um deles gritar.

- Ei gostosa, espera ai! A gente só quer trocar umas palavrinhas com você.

Meu ritmo é constante e finjo não ouvir. Eles apertam o passo. E quando acho que estão perto de mim, ouço um cantar de pneu, mas ignoro. Passando por um carro percebo no reflexo que o carro preto para na frente dos jovens. O motorista diz algo e os meninos trocam o rumo de sua direção.

Aperto o meu passo. Chego depressa na frente do meu apartamento. Sabia que estava sendo observada. Depois de trancar a porta respiro fundo. Subo ao meu pequeno cubículo. Tranco a porta, e sem acender a luz vou ate a janela. O carro preto chega logo atrás. Olho meu relógio, 23h04min. “Ate que horas ele vai ficar ai?”. Ninguém desce do carro. Encostada na cadeira eu fico observando o carro. Nada muda. Meus olhos pesam. E quando olho meu relógio novamente. 02h00min. Dou-me por vencida e vou para cama.

“Que barulho irritante é esse?” Droga! Esqueci-me de desligar o despertador. Olho o relógio em cima do criado mudo, 7:00AM. Levanto depressa e vou ate a janela meio que cambaleando de sono. O carro não esta. Dou um suspiro de alivio. O chocolate ainda esta em cima da mesa. Abro e dou uma mordida. Me arrasto ate o banheiro, lavo meu rosto e faço minhas necessidades. Quando chego perto do meu computador dois e-mails.

O primeiro:

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De: Willian

Para: Aghata

Data: 16/09/2015 23:08

Boa noite,

Que bom que já esta segura em sua casa!

Cuide-se e não se arisque. Enviarei o endereço, e roupas para a festa em sua homenagem. Será traje a rigor. Espero poder impressiona-la da mesma maneira que faz comigo.

Dom Willian Brazy

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Impressionar-me? Você esta no mínimo me assustando! O segundo e-mail esta com o endereço e o horário, com um lindo P.S. “Convite único”.

Respiro fundo, quando o interfone toca. Vou ate o telefone:

- Sim?

- Entrega para senhorita Aghata Venns!

- Já estou descendo.

Coloco o telefone no gancho e troco de calça e coloco uma blusa. Encosto a porta do meu apartamento e enquanto desço as escadas amarro meu cabelo em um rabo de cavalo. O entregador me mostra para assinar, e me entrega uma sacola e uma caixa muito bem embrulhadas.

- Quem mandou?

- Eu só faço a entrega senhorita!

Entro e subo correndo as escadas, quando chego percebo meu vizinho bisbilhoteiro com a cara na porta do meu apartamento. Fico bem perto dele aproximo minha boca de sua orelha e grito.

- PERDEU ALGUMA COISA?

Ele da um pulo que quase me acerta.

- Não... é que... bem... eu...

- Deixa isso quieto.

- Não é que eu...

- Bye bye.

E fecho a porta sem ouvir suas explicações. Coloco a caixa e a sacola na mesa, e percebo um cartão na sacola.

“Texto 24 – Anjo

Você foi se tornando

Um anjo que passou

Em minha vida

Espero que tenha vindo

Para ficar

Com esse rosto de menina

E corpo de mulher

Me seduz e

Faz delirar”.

Ate a festa

Dom Willian Brazy

- Escrito a mão? Nossa impressionante. E ainda utilizou um de meus poemas. Vejo realmente que ele é meu admirador.

Sinto um arrepio tomar meu corpo. Quando me viro meu querido vizinho bisbilhoteiro esta atrás de mim.

- O QUEESTAFAZENDOAQUI?

Toma o cartão de minha mão, e antes que possa tomar de volta...

- Quem é esse cara?

Tomo o papel de sua mão, vou ate a porta e a abro.

- Fora!

- Quem é Dom Willian Braky?

- FORA E APROVEITA PARA IR SE FUDER TAMBEM.

Pego em seu braço e o arrasto para fora de meu apartamento. E logo em seguida tranco a porta, ele força algumas vezes, e grita me perguntando sobre o nome do cartão. Pego o controle do radio e ligo a musica bem alto. Encosto as costas na porta esperando que o trinco o segure e quando não escuto mais os berros abaixo o som. Respiro fundo e coloco meu rosto entre minhas mãos e puxo minhas pernas para perto de mim. Acho que fiquei ali quase meia hora. Respiro fundo. Não derrubei nenhuma lagrima, não foi medo que senti e sim raiva.

Levanto-me e abro a caixa que esta sobre a mesa. Um tecido de ceda cobre um belo vestido vinho, tipo renascença. Simplesmente espetacular. Quando abro a sacola, salto preto, um par de meias ¾ e uma cinta liga de renda preta.

Logico que não precisaria de um espartilho com um vestido desses. Fico sem ar. Ele não aceitara um não. Sento-me na cadeira. “Será que esses sapatos servem?”. Retiro minhas adoráveis pantufas. Deslizo meu pé sobre o belo presente que cabem como uma luva. Animada retiro o vestido da caixa e jogo sobre minha poltrona. Quando sinto que o meu apartamento está muito escuro, vou ate a janela e puxo as cortinas. Hoje não esta chovendo. E que sol lindo vem me visitar hoje.

Retiro minhas roupas ficando apenas de calcinha começo a abrir o vestido e devagar coloca-lo. Com o zíper lateral, e as fitas do espartilho na frente ficara fácil de me vestir. “O que eu estou pensando? Eu não vou!”.

Vou ate o espelho grande que eu ganhei de uma das meninas do escritório, e vejo como estou linda. Coloco os saltos. E volto a me olhar. Quando me aproximo novamente da caixa percebo em seu interior uma mascara preta com detalhes em renda, e luvas. “Ele pensou em tudo!”

Retiro o vestido e coloco novamente na caixa, vou ter que dar um jeito de devolvê-lo. Depois que termino de arrumar tudo, olho meu relógio já são 08:43. O treino na academia do outro lado da cidade começava as 10:00. Visto-me com minhas roupas de academia, pego a chave da minha moto e minha bolsa com equipamentos. Talvez eu conseguisse tomar café em uma lanchonete no caminho.

Quando chego ao estacionamento, percebo que em cima do banco esta uma rosa vermelha. Sem cartão, nem indícios de que havia deixado. Olho para os lados e nada. Mas aquela sensação de estar sendo observada me invade novamente. Coloco meu capacete, subo na moto e deixo a rosa cair no chão. Dou a partida e vou em direção ao centro da cidade.

Quando chego à academia percebo uma lanchonete do outro lado da rua. Cheguei um pouco adiantada resolvo tomar meu café ali mesmo.

Quando chego no balcão para pagar aquela sensação percorre meu corpo novamente. Quando estou na rua, olho para todos e não vejo ninguém. Atravesso a rua sempre com o mesmo sentimento. Quando entro na academia tento não pensar em nada, vou ao vestiário e troco de roupa, deixando minha bolsa em um dos armários. Vou ao para o tatame me aquecer.

Depois o professor passa algumas movimentações. Estou com a cabeça cheia e depois resolvo fazer um pouco de “sombra”. Enquanto estou treinando não penso em muita coisa, apenas no movimento do meu corpo e nos golpes que devo realizar. Quando me viro para dar um cruzado minha mão se encontra com outra e meus olhos castanhos se cruzam com olhos azuis.

- Desculpe-me, eu não te vi! (Falo em inglês)

- Eu sei! (Me responde em português)

Ainda segurando minha mão. Dou um passo para trás, mas percebo que não quer me largar. Quando percebo em suas mãos uma rosa vermelha. Levanta e faz para que eu pegue, então solta minha mão e com a mesma eu a pego.

- Não aceitarei “não” como resposta.

Meus olhos se arregalam quando percebo que quem esta na minha frente é Willian Brazy.

- Senhor...

Coloca um dedo sobre seus lábios.

- Vamos treinar!

Quando percebo que também está vestido para treinar boxe. Olha a rosa em minha mão e vou ate os armários guarda-la. Quando volto, ele esta se alongando. Volto para minha “sombra”. Mas estou desconfortável com a situação. Continuo com minha “sombra” e depois vou ate o saco. Depois de alguns socos, ele se aproxima e segura o saco. Fico sem palavras. Não falo nada apenas continuo. Depois que termino minha serie trocamos de lugar. Seguro firme, pois ele tem socos fortes e duros. Depois de trocarmos algumas vezes, o professor manda que façamos algumas movimentações.

Depois do treino como de costume temos que cumprimentar todos. E quando chega a vez de tocarmos as mãos ele não faz como todos, ao invés disso pega minha mão e leva a boca e da um suave beijo, meu sangue sobe na hora. Sei que percebeu meu desconforto, quando puxo minha mão e vou ao vestiário. A adrenalina no meu corpo está alta, e resolvo subir na parte superior da academia. Quando avisto as esteiras, converso rapidamente com o balconista que me permite utilizar os aparelhos um pouco.

Ligo a esteira e aumento o ritmo. A esteira esta virada para a janela onde se mostrava uma vista linda da cidade. Quando olho para o lado e percebo que ele também esta correndo mais em um ritmo muito menor que o meu.

- Vejo que tem bastante energia.

- Obrigada! – dou um sorriso tímido.

Continuo olhando para fora, quando nossos olhos se cruzam no reflexo do vidro. Abaixo a cabeça e tento controlar minha respiração. Meu desconforto é grande, percebo que ele diminui o ritmo, para e vai embora. Solto um suspiro longo, e continuo a corrida. Quando relógio da esteira mostra que já estou a correr por uma hora. Desligo e vou ate o andar térreo para o vestiário.

Depois de um banho quente, coloco minhas roupas sujas na mochila e me visto. Quando estou esperando meu capacete no balcão, sinto a presença de alguém atrás de mim. Minha respiração se acelera. Quando pego meu capacete vou direto para saída, quando sinto que me puxa pelo braço. E me puxa tão bruscamente que nossos corpos se colidem. E em seus braços percebo que sorri.

- Vamos almoçar!

Sua mão desliza do meu braço ate minha mão, seus dedos se entrelaçam aos meus, e ele me puxa para fora. Chegamos ate o seu carro, e percebo que é o mesmo da noite anterior. “É ele!”. Solto minha mão e o encaro e antes que diga algo...

- Apenas queria saber se estava bem!

Abre a porta para que eu entrasse, pisco algumas vezes. “O que eu estou fazendo!?”.

- Eu nã...

- Xiuuuuu. Nunca diga não pra mim.

Meu sangue gela. Mas minha cara de pau é maior. Passo reto e não entro.

- Onde você vai? – surpreso

- Indo embora! – levanto um braço e aceno para ele.

Fica parado sem saber o que fazer. Subo em minha moto e coloco capacete. Quando olho para o outro lado da rua esta me olhando confuso, e meio irritado. “Eu não disse nada!”. Ligo minha moto e vou para a avenida principal, sigo para o shopping onde faço algumas compras. Quando chego a minha casa. Não vejo nenhum carro parado na rua, e solto um suspiro de alivio.

Vou tomar um banho. Já são três horas da tarde e estou morrendo de fome, quando alguém bate na porta. Se for meu vizinho eu mato ele. Pego um taco de beisebol, que ganhei no ultimo jogo que fui com minhas amigas. Coloco perto da porta. Ainda estou enrolada nas toalhas. Mas se for ele não vou precisar estar vestida decentemente para expulsa-lo.

Quando abro a porta, meu queixo vai ao chão. Meu chefe!Aqui? Fico paralisada. Ele entra sem mesmo que possa convida-lo a entrar.

- O que você... Como você... O que esta fazendo aqui?

Levanta as sacolas que leva nas mãos.

- Almoço! - e levanta uma das sobrancelhas enquanto me olha de cima a baixo, me dando arrepios.

- Bem eu... Vou me trocar. Espera um pouco! – quando me viro de costas.

- Adoraria almoçar com você vestida assim.

Fico vermelha, meu sangue esquenta. Volto a encara-lo. Ele percebe meu desconforto e começa a colocar as sacolas sobre a pia. Enquanto eu vou ate o banheiro, me vestir. Coloco um sutiã preto, calcinha vermelha e um vestido preto modesto que esta atrás da porta. Olho procurando meus chinelos, não o vejo. Apenas minhas pantufas. Penteio o meu cabelo e saio descalça do banheiro. Quando saio, percebo que já arrumou tudo. Ate mesmo os pratos e as taças. Vou ate minha cama e pego minhas sandálias que estão do lado.

Cruzo os braços e fico observando-o andando na minha cozinha, como sabe exatamente onde estão as minhas coisas. De repente puxa a cadeira para que eu poça sentar. Não posso acreditar que ele esta aqui, e me servindo o almoço.

- Você é louco?

- Não. Por que?

- Você simplesmente aparece na minha casa com o almoço!?

- Você simplesmente da às costas e vai embora.

- Disse que não aceitaria um “não” como resposta, então eu simples fui embora! – sorrio enquanto sento-me na cadeira.

Nossos olhos não se separam, a energia no meu apartamento é tensa. Fazendo meu corpo se arrepiar. Comemos em silencio. Mas minha respiração me condena. Assim como meu corpo. Toda essa tensão me excita, esta me levando a loucura. Seu cheiro impregna em meus pulmões. Acho que há muito tempo não sentia o cheiro de um homem, de um homem muito cheiroso.

O almoço esta simplesmente fabuloso, assim como o vinho. Depois de um tempo não consigo mais olha-lo nos olhos, minha cabeça instintivamente se abaixa e passo a olha-lo por baixo, esta lindo de camisa social azul claro, calça jeans. Pena que não posso ver o esta calçando. “Mas que merda é essa que estou pensado! Acho que fiquei louca! Ele é meu chefe.” Minha postura novamente se enaltece, meus olhos ficam a sua altura, e percebo o sorriso em seus olhos, em sua boca ao perceber minha mudança.

- Muito obrigado pelo almoço!

- Isso é uma despedida?

Isso surpreende-me, mas meus olhos não desviam dos seus.

- Sim. – meu sorriso irônico e frio o desconcerta.

Levanto-me e vou ate meu closet, pego a sacola com o vestidoe toda a parafernália e coloco sobre a mesa.

- Não posso aceitar isso.

- Bem! – sorriso irônico – Então pretende ir nua? Pois garanto que os convidados irão gostar muito mais. – ri baixo.

Engasgo-me com ar. – O quê?

- Pois você vai, mesmo que seja amarrada, mas se não for com esse vestido será nua, senhorita. – a fria em sua voz me congela.

Fico pasma no lugar, sem saber o que dizer. “Amarrada e nua?”. Quando percebo ele já se levantou e esta na porta de saída.

- Infelizmente tenho que terminar os últimos preparativos para sua festa. - aproximasse perto de meu rosto e quando penso que vai me beijar, paraliso. Mas ao invés disso, seus lábios firmes e saborosos tocam levemente o canto da minha boca. – Ate mais!

Quando percebo a porta se fecha. E minhas pernas finalmente se mostram feitas de gelatina, fazendo com que eu caia de joelhos. Depois de uns segundos vou ate a porta levantando com dificuldade.

E quando abro a porta meu vizinho bisbilhoteiro esta tentando ver através da fechadura.

- MAS QUE CARALHO! VOU ACABAR CHAMANDO A POLICIA POR SUA CAUSA.

- Espe...

Bato a porta com força, e passo o trinco. Ele grita do lado de fora, então ligo o radio. Um som alto. Nos últimos tempos meu querido e amado vizinho filha da puta e idiota, anda querendo cuidar da minha vida. Então acabei deixando o CD de rock no aparelho tocando sempre a mesma musica “Be Aggressive” do Faith No More. Nunca cheguei a pensar na letra. Mas o começo da musica sempre me arrepiava, quando o órgão começava a tocar. Meu sangue esta extremamente quente com a petulância de meu vizinho bisbilhoteiro. Vou ate a janela, mas percebo o tempo que meu vizinho me fez perder.

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Os dias se passam, não recebo nenhuma visita inesperada, meu chefe não aparece na empresa como sempre, aquele carro não sai da frente do meu apartamento e meu vizinho falta eu mata-lo qualquer dia desses. O dia do meu aniversario se aproxima, será plena segunda-feira não acho que vou conseguir ir ou ficar por muito tempo, afinal tenho que trabalhar na terça. “Não sei por que ainda penso nisso, eu não vou!”

Apesar que todas as minhas tentativas de tentar devolver o convite e as roupas foi inútil. E imaginar que ele mandaria me sequestrar realmente faz meu sangue correr mais forte de excitação. “Amarrada e nua!”.

Hoje é sexta-feira dia 25/09 e nem final do maluco do meu chefe. Depois do trabalho vou andar pelo parque, acabo trocando de roupa no meu local de trabalho mesmo, e saio do banheiro pronta pra uma corrida, é muito bom não ter que trabalhar no sábado ou no domingo. E deixar minhas roupas no armário e poder pegar depois é melhor ainda, por que tenho um motivo pra sair de casa no sábado, vir ate a empresa e pegar minha bolsa. (risos)

Dou voltas pela cidade, à fome não aparece, nem minha energia desaparece. Quando percebo que estou longe do centro da cidade em uma colina alta com uma bela clareira e com algumas flores amarelas. “Estranho algumas flores conseguirem florescer nessa temperatura”. E a mistura do pôr do sol com as flores virou um espetáculo que eu parei para observar. Sentei-me em uma pedra alta e fiquei a admirar ate que o grande espetáculo chegasse ao fim e meu corpo se arrepiasse com o vento frio dessa cidade.

Minhas pernas me guiaram ate meu apartamento. Subo correndo as escadas, estou toda suada e meio descabelada. Quando chego e estou na frente da minha porta um pequeno bilhete pendurado na porta.

“Manicure, pedicure, cabelereiro e depilação sábado dia 26/09 as 08:00 da manhã. COMPAREÇA

D.W.B.”

- Mas ele é mandão. – enquanto abro a porta.

- Um pouco!

Dou um grito e um pulo para trás.

- Como entrou aqui?

- Acho que isso não vem ao caso. Mas vim aqui apenas para te informar que terá a semana que vem inteira de folga. – dando um passo em minha direção. – E que a senhorita deve ir amanha ao salão de beleza no horário marcado. Pois se não acho que sua casa vai virar uma bagunça. – riso irônico.

- Se eu não for, o que você pretende fazer? – minha voz em tom desafiador, pois quem ele pensa que é?

- Vou mandar todos que estão agendados aqui na sua casa, e fazer o serviço aqui mesmo. E acho que você não vai gostar muito. – sorri

Odeio seu sorriso irônico. Olho o papel, não caberia todos na minha casa, e iam tirar tudo fora do lugar, não gosto de receber ordens, mas só o fato de saber que terão pessoas estranhas na minha casa mexendo em tudo e bagunçando tudo.

- Essa você ganhou! – minha voz murcha, mostra que não gostei muito de perder uma batalha.

- Eu sempre ganho!

Quando percebo seu corpo esta tão perto do meu que nossa respiração se torna uma. Meu corpo gela quando sua mão quente toca meu braço e lentamente vai subindo ate chegar ao meu rosto. Seu rosto perto do meu. Tão fácil quanto respirar seria beija-lo. Mas novamente sua tortura por ter sua boca na minha não é saciada, e seu lábios apenas tocam o canto de minha boca.

Com voracidade me puxa para dentro e me dá um tapa na bunda, enquanto o vejo sair pela única porta desse meu cubículo.

- Vá tomar o seu banho!

Fico ali estática no meio da sala. Meus olhos piscam rapidamente me acordando de meus devaneios. Vou ate o banheiro e para minha surpresa ele havia preparado o meu banho na banheira. A agua esta bem quente, com espuma do jeitinho que eu gosto. Não penso duas vezes para mergulhar nela. Sinto tanta falta de algumas coisas do Brasil, mas os banhos de banheira aqui com certeza me ajudam a esquecer de qualquer coisa.

Assisto a um filme que passa na televisão, e vou dormir.

As 06:00 da manha meu despertador toca. Não me lembrava de ter ativado ele, o desligo e viro para o lado e volto a dormir. 06:30. Novamente. Mas quando passo a mão sobre o pequeno aparelho ele não desliga. Levanto minha cabeça. Olho para os lados. Em cima da mesa da cozinha, “Lá esta o desgraçado!”. Levanto-me quase que caindo e o desligo, e volto para minha cama. 06:45. Esse tilintar infernal não me deixa dormir. Olho para os lados e nada. “Ele me paga! Encheu minha casa de despertadores! Filho da puta”. Olho embaixo da cama, encontro mais um. Acho que não adianta eu voltar a dormir. Por que tenho a sessão que eles vão tocar ate dar o horário.

Vou ate o banheiro e quando vou pegar minha escova no armário do banheiro, encontro mais um ainda sem despertar. “Ah você me paga!”. Coloco todos que vou encontrando pela casa encima da mesa. Encontro todos os 9 despertadores. Olho para o relógio são 07:15. Olho pela a janela e aquele carro preto esta ainda no mesmo lugar. Vestida para sair, pego uma sacola e coloco os despertadores dentro. Atravesso a rua e despejo os despertadores encima do carro.

- Avisa para o seu chefe que eu não perdi a hora. – enquanto bato as mãos em cima do capô do carro.

Atravesso a rua com o rosto em chamas. Vou a garagem e subo na minha moto.Chego em frente ao salão de beleza mas rápido do que o esperado. “Com certeza é aqui!”. Um prédio enorme, com uma bela arquitetura em pedras brancas. Senti-me totalmente fora de contexto. Entrei e fui ate ao balcão, todas as mulheres muito bem vestidas, bonitas. Estava totalmente deslocada, fora de mim, meu sangue subiu, senti o rosto quente.

- Bom dia! Em que posso ajuda-la.

Entreguei-lhe um cartão que havia recebido de meu insistente chefe e antes de abrir a boca para pronunciar alguma coisa, a bela moça de cabelo preto, magra, de olhos verdes e muito bem delineados me disse.

- Siga-me, por favor!

Aceno com a cabeça e a sigo. Quando ela sai de trás do balcão percebo seu uniforme muito bem alinhado, salto alto preto. Seu andar era divino e gracioso. E por um momento quis sair correndo daquele lugar. Meus olhos percorrem o lugar, acho que nunca havia entrado em um lugar tão ‘Chique’. Poltronas de couro branco, tratamento personalizado e individual. A bela atendente abre uma enorme porta feita de um mogno escuro, dando um ar refinado e indescritível ao lugar.

Um lugar amplo, muito bem iluminado com um jardim estilo japonês feito de areia e uma linda fonte de agua cristalina com algumas carpas. Em volta desse jardim varias macas e cadeiras para diversos tratamentos, variados espelhos, ofurô, massagens e depilações. Todas as funcionárias muito bem vestidas de branco, lindas e simpáticas.

Fiquei horas no lugar, com pessoas me puxando daqui e ali, me cutucando e tudo mais. Recebi um almoço delicioso, digno de realeza. Depois de uma sessão tortura de algumas horas sai parecendo um carro novo recém-polido.

Quando coloco meus pés na rua admito que me senti diferente, mais poderosa que do estou acostumada. “O que um dia de beleza não faz com uma mulher!”. Coloquei meu capacete e volto para minha casa. Tenho apenas mais um dia para pensar em como me livrar da festa. Minha cabeça rodeia, rodeia e rodeia. Coloco minha moto na garagem e subo lentamente pelas escadas. Minha chave desliza pelo buraco da fechadura. E quando a porta se abre tenho uma enorme surpresa ao ver em cima de minha mesa de jantar um vaso de flores, com as mais variadas espécies. Fecho a porta, coloco a chave na fechadura e tranco-a. Quando me viro, logo tenho meus braços presos sobre a cabeça e dois belos olhos bem próximos aos meus.

- O que eu devo fazer com você, jovem dama?

Quando percebo meu chefe ali na minha frente, com nossos lábios quase por se tocar, meu corpo se arrepia.

- Primeiramente sair da minha casa!

- Atrevida, doce e rebelde. Isso vai mudar querida!

- Não contaria com isso meu senhor.

Seus lábios chegam próximos aos meus e meu sangue gela. Devagar e firme toca os meus em um beijo suave e doce. Suas mãos firmes apertam meus pulsos e meus olhos se fecham lentamente como se estivesse hipnotizada. Seus lábios começam a passear pelo meu rosto descendo ate meu pescoço. Suas mãos elevam meus braços mais ainda quando tento me soltar. Sua boca reivindica meu corpo com toques suaves de sua língua me levando a um frenesi delicioso.

- Você é minha!

Meus olhos se abrem minha respiração muda de ofegante para uma calmaria sem igual e olhando para o teto respondo.

- Não! Não sou!

Suas mãos afrouxam meus pulsos, mas seus lábios correm ate minha orelha mordisca o lóbulo direito enquanto sussurra.

- É o que veremos!

Me solta de seus abraços, mas enquanto suas mãos me libertam e chegam à maçaneta nossos olhos não se desgrudam. Abre a porta me empurrando um pouco para poder passar e se vai. Mas posso ver seu cabelo e seu casaco ultrapassar o batente da porta. Com o peso do corpo encosto a porta fazendo um som alto. Meu coração acelerado às vezes me assusta em como em algumas vezes posso ser tão fria e outras tão emotiva.

Em questão de segundos meus olhos se viram para espiar pelo olho magico. Quando vejo meu queridíssimo vizinho a trocar algumas breves palavras que parecem não surtir efeito algum no frio do meu chefe.

Quando percebo que ele se vira para bater na minha porta, passo o trinco, tranco a porta coma chave e ligo som. E percebo sua reação ao ouvir o som da musica. A frustação por ouvir o som do trinco. Chega próximo a minha porta coloca a mão sobre ela e encosta a cabeça perto do olho magico. Respira fundo e vai embora.

Quando percebo no relógio já são 16:36 perdi todo o meu dia naquele lugar. Começo a arrastar os móveis, começa a subir um nervosismo, uma excitação, acho que é ansiedade. Uma ansiedade que me faz limpar a casa ate ficar um brilho indescritível. As 00:00 termino minha faxina. Com as costas viradas para a porta e um saco enorme de lixo atrás de mim, coloco as mãos sobre a cintura e observo o lugar, meu sangue ainda pulsando forte dentro das minhas veias. Estou com calças de moletom cinza e uma regata branca. Vou ate o armário e pego um casaco leve, minhas chaves. E saio.

Coloco o saco de lixo na lixeira ao lado do prédio e vou dar uma corrida pela cidade, mas dessa vez mudando meu caminho costumeiro de natureza para uma selva de pedras. E quando percebo minhas pernas me levam ate a área nobre da cidade. Entre enormes prédios uma graciosa praça com uma fonte central e muito bem iluminada. Sento-me em um de seus bancos de madeira e fico observar os prédios. “O que será que aquele desgraçado deve estar fazendo!”. Meu sangue começa a esfriar, mostrando que a noite esta realmente fria. Dou uma ultima alongada e volto a correr quando percebo que um homem muito mais velho me observava cerca de uns 45 anos de idade.

Continuo minha corrida, dessa vez não trouxe meus fones de ouvido. Faço meu caminho de volta, e percebo que esta me seguindo. Não mudo meu ritmo e logo ele me alcança.

- Hello! Good night!

- Oi! Boa noite! - respondo em português esperando que a conversa acabasse nisso.

- Oh, brasileira.

- Sim. – sorrio timidamente e continuo minha corrida.

- Meu nome é...

- Com licença, mas preciso ir. – aumento o passo da corrida e o deixo para trás.

Olho uma ultima vez para trás e percebo seu sorriso. Não tão depressa chego a minha casinha, abro a porta mais que depressa, estou congelando. Quando fecho a minha porta escuto outra se abrindo, mas não dou importância. Corro para o banheiro e encho a banheira de agua bem quente. Retiro minhas roupas e lembro-me de pegar meu celular na sala em cima da mesinha de centro. Olho para os lados e sinto como se estivesse sendo observada.Volto para minha banheira quente, olho para o meu celular e vejo minhas ultimas mensagens da minha família e amigos. Observo o relógio 02:00. “Acho melhor tomar esse banho rápido e ir dormir”. Deitada sob a agua meus olhos começam a piscar pesadamente. Seco-me e coloco apenas uma calcinha e um sutiã preto, jogo mais dois cobertores na cama e me enrolo. Não demoro em pegar no sono.

Meus olhos piscam pesados, acho que dormir demais, mas afinal é domingo. Espreguiço-me e me sento na cama, olho ao redor, minhas cobertas estão no chão, restou apenas uma. Dou uma leve risada.

- Quem bom saber que você acorda de bom humor quando sai pra correr.

Dou um grito – Mas que caralho você esta fazendo aqui?

Quando olho o senhor de 45 anos da noite passa, de pé na minha cozinha, fazendo o café da manhã.

- Olha a boca! – me olha com um olhar frio e depois volta a sorrir – Pode me chamar de Dom Leandro.

- D...o...m... L...e...a...n...d...r...o...

- Não é preciso nervosismo, apenas achei que gostaria de um bom café da manhã depois de uma longa noite.

Fico ali estática, sem saber o que falar, ate que finalmente meu sangue ferve.

- Fora!

- Isso não são modos de uma dama se portar!

- Foda-se o que você pensa! FORA!

- Espe...

- FORA!... FORA!... FORA!...

- Tudo bem. Mas depois do café da manha? O que acha?

Levanto-me da cama, estando apenas de lingerie percebo seu olhar. Vou a sua direção enquanto ele faz um comentário.

- Você é uma deusa.

Abro a porta.

- Fora! – com voz doce e baixa.

- Depois do café!

Vou ate ele, parada há sua frente dou um leve sorriso irônico, ele sorri de volta e eu retribuo com belo direto no nariz e um gancho nas costelas deixando-o sem ar. Com muita dificuldade o coloco para fora, pois tenho que arrastá-lo para fora. O levo para fora e jogo escadaria abaixo. Quando bato a porta e me viro para meu apartamento, então desperto de um pesadelo. Meu corpo suado e a respiração intermitente. Não consigo acreditar que sonhei com um completo estranho. Meus olhos percorrem todo o lugar a procura de uma agulha fora do palheiro. E esta tudo no seu devido lugar.

Passo as mãos pelo rosto. Olho meu relógio e ainda são 07:00 da manhã. Fecho os olhos na esperança de conseguir dormir, mas os acontecimentos dos últimos dias não me deixam pregar os olhos. Hoje estarei em uma festa, uma festa que não como sei será. Tentei todos esses dias não pensar em tudo que havia me dito em tudo o que havia acontecido. Meus olhos fitam o teto, minha mente vai a mil lugares, não estou mais em mim.

Alguém bate a porta. É quando percebo que peguei no sono. Meus olhos passam rapidamente pelo relógio já esta na hora do almoço. Vou ate aporta e olho pelo olho mágico. “Não acredito que é meu vizinho enxerido!”. Sem pensar duas vezes abro a porta exatamente do mesmo jeito em que fui me deitar. Seu queixo vai ao chão. Sei que não sou nenhuma modelo de corpo escultural. Conheço meu corpo, cada curso, cada cicatriz, cada gordurinha a mais, cada estria e celulite. E por isso que sei meu potencial, sei do que sou capaz. Por que não tenho vergonha do meu corpo.

- O que você quer? – minha voz fria surpreende ate mesmo a mim.

- Bem... Eu... É...

Sem paciência para escutar suas palavras e seu nervosismo bato a porta na sua cara, e passo o trinco. O frio de outono já está presente no ar, e ficar só de lingerie é ficar doente na certa. Coloco minhas roupas e faço um almoço leve. “Hoje, a festa é hoje!”. Suspiro mais de uma vez enquanto lavo os pratos. Não gosto de lavar louça, mas a desvantagem de se morar sozinha é que é preciso fazer tudo sozinha. Hoje não estou com vontade de fazer nada. Minhas forças se foram ontem há noite, e hoje só quero um... bem na verdade não sei o que eu quero. Quando meus olhos passam pela estante de livros. Faz tempo que não leio. Desde que recebi o convite não toquei em um livro. Porem dos que eu tenho aqui, já li todos. Preciso de livros novos. “Talvez uma passada na livraria fosse uma boa ideia!”.

Meus dedos deslizam pelos livros na gigante livraria da Barnes and Noble, na quinta avenida. É o melhor lugar dos Estados Unidos para se comparar livros. Ele e enorme. “Poderia passar dias aqui dentro!”.

Apesar de sentir a falta de livros em língua portuguesa, antes de chegar aqui fiquei horas na livraria da Avenida Paulista, Cultura – Conjunto Nacional. Apenas para trazer os melhores, mas sempre leio muito depressa. E já acabei com todos. Mas sempre que possível minha irmã me envia pelo correio novos livros.

O cheiro dos livros é inebriante e viciante. Encontrei alguns bons livros. E acabei voltando para casa com no mínimo uns cinco exemplares. Com passos lentos, volto para casa. A ansiedade esta me corroendo. E mais uma vez a chuva aprece para me fazer companhia, verifico se minha bolsa esta bem fechada para não molhar as minhas mais novas aquisições, e continuo sobre a chuva fraca e gelada. Não demora muito para que me encontre na porta do meu prédio. Meu desejo de sumir é grande, assim como a excitação para saber o que vai acontecer nessa tão esperada festa. Meus dedos deslizam pelos cabelos molhados, sito minhas unhas percorrendo todo o meu couro cabeludo. Meus pés sobem a escada, minha mão desliza pelo corrimão de madeira envelhecida e gasto. Reparo como a tinta bege das paredes esta suja e descascada. Nunca havia percebido em como esse prédio é velho. Um sorriso toca em meus lábios, apesar de desconhecer o motivo me sinto bem. A lâmpada fraca que leva ate minha porta apenas ilumina o necessário para não se tropeçar e cair.

A chave desliza devagar dentro da fechadura. O ranger da porta ao ser aberta. Luz piscando devagar antes de se acender por completo. O cheiro de desinfetante floral, e minha bagunça organizada. Tudo parece estar em câmera lenta agora, tudo ate que o sol ponha e se levante em mais um dia. Meu tornozelo empurra e fecha a porta com um grande estrondo. Minhas mãos deixam a sacola cair no chão aos meus pés, e cada passo ao banheiro meus braços vão se desvencilhando da minha blusa, passando pelos ombros, pulsos e chegando ao chão. Toco a barra da minha blusa subindo devagar, enquanto passos lentos me aproximam do banheiro.

Subindo devagar ate passar pela minha cabeça e deixar cair no chão. Encosto o calcanhar na base do meu tênis e o forço ara que sai de mim, assim como outro. Paro de frente com o espelho me observando. Mudei muito desde que cheguei aqui, criei músculos. Sempre me desprezei, mas há muito tempo que não me via tão bonita. Meus dedos abrem devagar o botão da minha calça, puxando cada lado consigo abrir o zíper e em segundos estou fora dela. Olhando-me no espelho, apenas de sutiã, calcinha e meias. Com o cabelo molhado caindo por sobre os ombros, nariz vermelho pelo frio que manifesta em meu lar doce lar. Meus dedos deslizam pelas minhas costas abrindo meu sutiã. Com uma mão o seguro no lugar, e retiro uma das alças, trocando de mão para fazer o mesmo processo. E quando percebo estou encarando meus próprios olhos, admirando-os, mergulhada em mim.

Meus polegares passam pelas laterais da minha calcinha fazendo com que devagar ela caia ao chão. Nunca me senti tão bem, sem pensar. Minha mente está em um estado de liberdade que a muito tempo não desfruto. Mesmo com o frio que circula ao meu redor, fazendo cada centímetro do meu corpo se arrepiar. Em passos lentos e confiantes entro no banheiro, mas diferente dos outros dias não quero tomar banho na minha maravilhosa banheira. Minha mão desliza até o registro da pequena ducha, em um pequeno box. Devagar e em um lentidão a água fria cai sobre minha cabeça, começando a escorrer pelo pescoço, ombros, barriga e finalmente até ouvir os pequenos pingos de água tocarem o chão. Minha cabeça pende para trás e meus olhos se fecham sentindo aos poucos a temperatura da água aumentar.

Meus olhos encontram os meus no espelho, e ainda com a cabeça jogada para trás, olho o gabinete um pouco mais em baixo. Sem me importar com quanta água vou derramar no banheiro, chego perto do modesto e pequeno gabinete que tem uma porta um pouco caída. Dentro encontro uma caixa feita de metal, que trouxe do Brasil. Dentro um dos presentes dos meus amigos. Alguns me deram rosas, joias mas minha melhor amiga me deu um kit erótico mais alguns sabonetes, cremes, óleos e perfumes. Resolvi deixar a maioria no Brasil. Afinal não poderia explicar certas coisas na alfandega, mas produtos de beleza eram outra história. Abaixada na frente do gabinete completamente nua e molhada. Abro meu baú de tesouros onde guardo meus sabonetes, óleos e tudo a que tenho direito. O cheiro é intenso de flores exóticas e um toque um tanto quanto amadeirado. Me senti uma deusa depois desse banho.

Mas meu estomago está revirando de tanta excitação, meus olhos passam pelo relógio, ainda tenho tempo. Depois passar lentamente o óleo de macadâmia pelo meu corpo, coloco devagar minhas roupas, admirando em como estou ficando maravilhosa no reflexo do espelho. Mesmo estado apenas de cinta liga, meias e salto sinto-me poderosa. O vestido se encaixa perfeitamente, levantando meus seios. Posso não saber muita coisa, mas aprendi muito bem em como me maquiar, a maquiagem fortes em torno dos olhos realça as cor de mel deles. Assim como o brilho labial mostra como minha boca é perfeitamente desenhada. Ombros ligeiramente expostos pelas finas alças de renda desse glorioso vestido.

Depois de um tempo estava perfeitamente pronta e em cima do horário previsto para virem me buscar. Meus cabelos com perfeitos cachos e um pouco presos atrás, davam um perfeito caimento, solto, mas mesmo assim revelando meu rosto meigo, mas que nem confunda com doce. Pois cometeria o maior engando de todos.

As luvas, a máscara e a minha bolsa sobre a mesa. Faltava pouco para chegarem para me buscar. A algo me dizia que hoje não haveria atrasos, e em como um conto de fadas tudo sairia perfeito. Espero que não vire abobora a meia noite. Olhando entre meus perfumes encontro um pouco do meu perfume favorito, de algas marinhas.

- Está quase no fim! – digo com um pouco de pesar.

Eu amo esse perfume, mas é tão caro que não tenho coragem para comprar outro. Ele não é doce ou cítrico, amadeirado ou forte. É a medida certa da perfeição.

Minha campainha toca, corro e vejo uma bela limusine negra me esperando do lado de fora, e para minha surpresa, que está ao lado do carro, deixa meu coração batendo muito depressa.

Coloco minha máscara e as luvas de organza pretas. E com um o ultimo retoque passo meu perfume, e com uma ultima piscadela no espelho para mim mesma vou ate a porta, meu coracao parece que vai sair pela boca, sinto meu rosto queimar por tras da mascara. E quando percebo que estou tremendo, mal consigo fechar a porta do meu apartamento. Me sinto estranha como nunca me senti antes, descorfortavel com o proprio ar que invade meus pulmoes, desso devagar as escadas, torcendo para nao cair. Entao quando estou no meio da escadas encontro os olhos do meu vizinho. Acho que nunca o vi paralizado dessa forma, chegando ao seu lado, parece que me desconforto apenas aumenta, o som dos meus sapatos enquanto caminho devagar e insurdecedor.

Do lado de fora o sol nao dava mais ao ar da graca, fosse pelo horario ou pelas nuvens antipaticas que previam chuva. Mas meu cavaleiro de armadura nao vinha montado em um cavalo tao pouco de armadura, na verdade parecia o perfeito anjo caido, lindo e irresistivel.

Pude ver em seus olhos em como ficou surpreso, ou por que nao gostou do que viu, ou, gostou em demasia. Quando abriu a porta mim, pude sentir quando seu rosto chegou perto do meu pescoco e capturou o cheiro do meu perfume. Enquanto dava a volta observei o interior da limosine, toda em couro branco, um tapede felpudo preto e sem muita surpresa um balde com uma garrafa de champanhe.

Quando ele entrou e se sentou ao meu lado, meus pulmoes foram preenchidos por um cheiro maravilhoso de colonia pos barba e um perfume amadeirado. Então os olhos dele se prenderam com os meus por sobre a mascara, e dei graças a deus por ele não poder ver por trás dela.

A vigem de carro foi silenciosa, ar era pesado, e por alguns momentos distintos nossos olhos se encontraram, fazendo meu corpo se esmorecer como se não estivesse sentada. A espera estava me matando, o silencio ensurdecedor, e o ar torturante. Quanto tempo ficaríamos assim?

As minhas respostas foram todas respondidas assim que o carro ultrapassou o portão, e não foi difícil de perceber onde estravamos, pois o mesmo símbolo que via no brasão das correspondências que recebia, também estavam aqui. E não estávamos sozinhos.

Algo não estava certo, alguma coisa estava fora do lugar. Apenas não pude explicar o que era. Quando o carro parou e meu anfitrião estendeu a mão para mim, era como se não estivesse em meu corpo. Minha mão, como que por vontade própria, se entendeu e aceitou a ajuda para sairmos do lugar quente e aconchegante, que outrora fora sufocante.

Uma bela mansão no meio de um bosque denso que se estendia por toda a propriedade, durante o dia, o lugar poderia ser magnifico, mas a noite era um lugar frio e sombrio, e um cheiro de podre misturado a rosas se misturava ao lugar. “Algo está fora do lugar! ”.

A escada que leva até a porta de entrada estava cheia com pequenos de grupos de pessoas estranhas. Viravam-se para me olhar, me cumprimentavam, como se sempre me conhecessem. Aquele desconforto que sempre senti por estar longe de casa, longe da minha preciosa proteção se intensificou ao ponto de não conseguir respirar.

- Respire fundo que há noite apenas começou!

Quando percebi o sorriso de satisfação de meu anfitrião, percebi que nunca deveria ter aceitado o convite, por que o antes parecia horrível, agora esse sentimento não tinha mensura. Deixei o ar frio entrar e aos poucos, meu sangue começou a esfriar. Não posso mais fugir.

Quando coloquei meus pés no salão principal foi que pude perceber quantas pessoas estavam a me observar.

- Você é o prato principal dessa noite querida! Aproveite e se deixe aproveitar. – Rindo me deixou a alguns metros da porta.

Não dá para fugir, e não posso ficar. O cheiro de podridão era maior dentro do salão, com uma pequena orquestra tocando perto de umas das janelas. Pude sentir olhos ágeis e ávidos por algo que desconheço sobre mim. “Sangue? ”. Não dá para ter total certeza.

Estava só na multidão, ninguém se aproximou de mim, apesar dos olhares. Alguns de curiosidade, outros de desejo, outros de medo. “Medo? ”. Esse era um dos poucos sentimentos que achei que encontraria aqui.

O salão de entrada era interligado ao de baile, lustres de cristais finos e bem desenhados iluminavam o lugar. Janelas enormes com cortinas de veludo vermelho iam do chão ao teto. Como para impedir a luz do sol. Garçons passeavam pelos convidados com as bandejas cheias. E quando um passou por mim peguei a taça que estava em sua bandeja.

Mas antes de levar a boca senti um cheiro podre vindo do copo, não era vinho, não era alcoólico. “O que era aquilo? ”. Antes de poder lagar a taça, mas hábeis seguraram as minhas. Ficando parado em minha frente.

- Não acho que seria prudente deixar a senhorita beber isso.

Um homem alto, porém, mais velho, uns 45 anos... meu Deus!

- Dom... dom... dom Leandro?

- Tem uma memória fenomenal, minha cara!

- Não aquilo foi... foi... um sonho. Isso é impossível.

- Outro dia eu te respondo o que aconteceu, por que hoje é dia de comemoração.- me respondendo com um sorriso meigo.

Perto do pequeno palco onde os músicos tocavam um homem com o leve tocar de seu anel na taça de cristal chamou a atenção para si.

- Meus caros amigos do Reverso, hoje estamos aqui para comemorar enfim a nossa permanecia nesse mundo. Os tempos sombrios já se foram e agora podemos enfim habitar entre os dois mundos. Graças a um homem! – Levantando a taça apontou para meu chefe que estava descendo as escadas, e pude perceber que mudara de roupa. Não usava mais uma roupa de gala, e sim uma túnica preta e vermelha. – Esse grande homem que não mediu esforços para nos trazer Rhiannon, a grande deusa do outro mundo, depois de dois mil anos esperando, aqui está ela. Muito obrigado meu velho, devo dizer, muito velho amigo. Ao Willian!

E com um levantar de copos todos disseram seu nome. Meus olhos se desviaram por um segundo de meu estranho admirador, para perceber que ele não estava mais onde deveria estar.

- Me procurando?

Congelei, sabia exatamente de quem era aquela voz. Estava atrás de mim, tão perto que pude sentir o calor de sua respiração. “Como chegou tão rápido perto de mim? ”. Como se pudesse ler meus pensamentos, enquanto me virava, ele me respondeu com um sorriso irônico.

- Sou um hellhound, porem depois eu farei as explicações adequadas para você, agora temos uma cerimônia para comparecer minha jovem deusas do outro mundo.

Pegando firme em meu braço com uma brutalidade que poderia ter quebrado meu braço se não tivesse me deixado levar. Minha voz não parecia querer aparecer, mesmo quando queria gritar era como se todo o meu corpo soubesse o que precisava ser feito.

Arrastando-me para o jardim, um jardim iluminado por uma luz fraca, esbranquiçada e que parecia flutuar no ar.

- Feitiço da Lua! – Mais uma vez respondendo minhas perguntas não pronunciadas.

No centro do jardim um enorme espelho de três metros de altura, com moldura em ouro envelhecido. Estava em pé, porém, sem nenhum apoio para isso. Como que apoiado em uma parede de vidro totalmente invisível. Estava dentro de um círculo branco, e vários símbolos que nunca vi. Minha cabeça começou a rodar, como se estivesse dopada, o cheiro de podridão foi preenchido por um de algas marinhas. Ao lado do círculo um altar, com duas velas, um athame e um cálice.

Quando estávamos em frente ao espelho foi que percebi que ele não refletia. Não era vidro, não era metal, era de uma pedra escura e densa. Não estava dentro do círculo, mas sabia que não podia mais me aproximar dele, pois algo dentro de mim dizia que eu seria sugada para dentro dele.

.... Continua...

Aghata Venns
Enviado por Aghata Venns em 23/05/2016
Código do texto: T5644938
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