UMA LOURA À JANELA - 27

James tirou a chave de dentro da carteira, colocou-a na fechadura e girou-a. Depois, empurrou a porta. Mas ela não se abriu. Ou melhor, não se abriu de todo. Abriu apenas uma pequena fresta. James empurrou novamente a porta. Então, sentiu que algo a estava bloqueando. Havia alguma coisa encostada à porta, forçando-a a permanecer fechada.

– Mas que diabos! – exclamou o detetive.

Encostou o ombro à porta e empurrou-a, com toda a força. A porta abriu-se o suficiente para permitir-lhe a passagem.

James entrou no apartamento e abafou uma nova imprecação, ao ver o que estava obstruindo a porta: Verna Vale jazia inerte, encostada a ela! A sua roupa estava quase toda rasgada e arranhões em seu rosto e no pescoço indicavam que havia lutado – e muito! Uma faca de cabo áspero e em forma de torso de mulher estava cravada abaixo de seu seio esquerdo.

James ajoelhou-se junto a Verna e tomou-lhe o pulso. Uma pulsação débil indicava que havia na mulher uma réstia de vida. O detetive levantou-a com cuidado e colocou-a no sofá. Depois, foi buscar um pouco de conhaque e introduziu-lhe duas gotas na boca. Em seguida, massageou-lhe os pulsos. Nesse instante, notou um rastro de sangue, que vinha do quarto de dormir.

Verna Vale engasgou-se e saiu-lhe uma espuma sangrenta de um dos cantos da boca. Seus olhos escuros abriram-se. Ela tentou sorri. Seu rosto contraiu-se, demonstrando que devia estar sentindo dores horríveis. Fez um grande esforço e conseguiu balbuciar:

– James... foi Sanders... Sanders que me esfaqueou... com a faca que lhe dei. Suspeitava que eu tinha a câmera. Eu menti para você, para fazê-lo perder a pista. Sanders... precisava daquele negativo!

Verna fez um gesto, pedindo mais conhaque. James atendeu-lhe o pedido.

– A câmera está no lustre... no quarto... – Continuou a mulher.

O tórax de Verna subia e descia descompassadamente. A mulher fazia um tremendo esforço para respirar. Após uma pausa, ela falou:

– Sanders tem... Mary Brown prisioneira... numa casinha… parecida com um ferro de passar… em Boley Street...

Verna tossiu novamente. A espuma sangrenta tornou-se mais abundante. Veio um acesso de tosse. E, no final, a cabeça da mulher pendeu para um lado.

James tomou-lhe o pulso e percebeu que Verna Vale nunca mais falaria.

O detetive levantou-se e foi até o quarto. Do teto pendia um luxuoso lustre de cristal. As gavetas da cômoda estavam abertas; as roupas, espalhadas pelo chão. Tudo indicava que houvera uma busca desesperada, exceto no lustre. O assassino não se lembrara de procurar ali.

James encontrou, escondidas na lustre, a câmera e a bolsa que a atriz usara na noite anterior. Dentro da bolsa havia dez mil dólares. James não hesitou em pegá-los, já que, de certa forma, tinha entregue a câmera a Verna Vale. Ela a roubara do quarto do Hotel Continental, e ele não sentia o menor escrúpulo de se apoderar do dinheiro. Iria dá-lo a uma velha senhora, que fora sogra da atriz: a mãe de John Sanders.

– Será bem empregado – disse James, para si mesmo.

Em seguida, rabiscou um bilhete e colocou-o na mão de Verna Vale. Então, carregou o corpo até o leito e cobriu-o com um lençol. Sem dúvida, o tenente O’Connor seria chamado para investigar aquele homicídio e encontraria o bilhete, que dizia o seguinte:

“Fui à casinha de Boley Street. Ela assemelha-se a um ferro de passar roupa. Estou na pista de Mary Brown e do assassino.

James Todd.”

continua na próxima sexta-feira

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 20/05/2016
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