UMA LOURA À JANELA - 16

– E onde está, agora, o envelope?

– Pensei que, antes, poderíamos conversar um pouco, conhecermo-nos melhor. Que acha, James?

A voz de Verna soou languidamente. James começou a sentir calor; mas, em tom duro, falou:

– Quero ver essa cópia do filme! Agora!

Os grandes olhos negros da mulher endureceram um pouco. O detetive sabia que a tinha ofendido.

– Vocês, homens! – Explodiu Verna. – Os negócios vêm sempre na frente! Sempre os malditos negócios!

Ela levantou-se, foi até um móvel e apanhou um envelope, do qual tirou um pequeno rolo de filme de dezesseis milímetros.

– O filme foi deixado no saguão? Foi entregue por algum mensageiro? – Quis saber James.

– Foi deixado na minha caixa de correspondência – foi a resposta de Verna.

– Percebi que seu prédio não tem portaria.

– Quando me mudei para cá, há dois anos, o edifício estava sendo reformado. Tiraram a portaria e despediram o porteiro.

– A porta da frente fica sempre aberta?

– Sim. Está vendo, James? Eu não tenho muita segurança... É apenas a porta do meu apartamento que me separa dos assaltantes e dos tarados. Você não gostaria de ser meu protetor 24 horas por dia?

– Mas a maioria das casas só tem uma porta que a separa da rua! – Ironizou James. Depois, perguntou: – Veio alguma nota no envelope?

– Não. Porém, sinto-me aliviada com o filme. Seja quem for que o enviou... é amigo. Pelo menos, eu o considero meu amigo. Essa cópia servirá ao meu propósito. Agora que Darrell está morto, não preciso mais do filme original.

– Quem mandou isto – comentou James, segurando o rolo de filme – trabalhou bem rápido. Deve ter mandado revelar, durante a madrugada. Em seguida, projetou-o e providenciou uma cópia. Fez tudo rapidamente.

James voltou o rolo de filme para a luz e começou a desenrolá-lo e examiná-lo. Quanto ao que lhe foi dado a ver, não havia nada no filme que não tivesse visto com o binóculo. As figuras de Mary Brown e Darrell Desmond estavam bem claras. Os movimentos dos dois tinham sido registrados de poucos metros de distância. O filme apresentava um espaço em branco, que cobria o tempo em que as luzes estiveram apagadas. Em seguida, mostrava Darrell Desmond começando a vergar-se. E isso era tudo.

– Não vejo nada que mostre o assassino – disse James.

Verna tirou uma fotografia do interior do envelope e entregou-a ao detetive.

– Junto com o filme, veio essa foto – informou ela. – É uma ampliação do último fotograma do filme, antes de as luzes se apagarem. Prova claramente que Darrell Desmond foi assassinado.

James olhou atentamente para a fotografia. Darrell Desmond e Mary Brown eram, naturalmente, as figuras centrais; mas, em segundo plano, podia-se ver a mão de um homem empunhando uma faca e o indicador da mão esquerda sobre o comutador, pronto para apertá-lo. Só a faca, o dedo, a mão e parte do pulso podiam ser vistos num canto da fotografia.

Durante alguns segundos, James estudou a fotografia. Por fim, falou:

– Esta foto prova que havia uma terceira pessoa no quarto e que foi ela quem apagou as luzes, Sem dúvida, essa é a mão do assassino.

– E prova quem ele é! – Exclamou a atriz. – E, se for necessário, farei valer o meu testemunho no Tribunal!

James levantou a vista, surpreso pelo tom de voz da mulher. A expressão do rosto de Verna havia endurecido.

– Que quer dizer? – Indagou o detetive.

continua na próxima sexta-feira

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 26/02/2016
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