UMA LOURA À JANELA - 13
Ao ouvir aquilo, James deixou escapar uma exclamação abafada.
Fazia menos de uma hora que Verna Vale estivera sentada naquela mesma cadeira e admitira um casamento secreto com Darrell Desmond. E falara de complicações.
Sanders interrompeu os pensamentos do detetive, falando:
– Verna não sabe que estou vivo. Casamo-nos há quinze anos. Usamos, então, nossos verdadeiros nomes e vivemos felizes, durante uns quatro anos, em Milwaukee. Uma noite, em que eu estava bêbado, discutimos. Decidi velejar. Peguei o barco que possuíamos e saí navegando pelo Lago Michigan. Houve uma tempestade, e pensaram que o barco naufragara e eu havia me afogado. A verdade é que fui levado pela correnteza e cheguei à terra muitas milhas distante de casa. Estava meio afogado e aturdido por um golpe na cabeça.
Sanders bebeu outro gole de uísque, antes de continuar:
– Fiquei desmemoriado e vaguei vários anos por Chicago, antes de recuperar a memória. Por essa época, Verna Vale já havia se transformado numa estrela dos filmes de Horror e... Bem, eu não sou nenhum velhaco. Se eu aparecesse, estragaria a sua vida.
– Sanders franziu a testa. – Mas eu a amava e ainda a amo. Quando comecei a ouvir rumores, há cerca de dois anos, de que Verna estava envolvida com Darrell Desmond, decidi vir a Los Angeles. Fiz algumas investigações por conta própria e descobri que ela havia se casado com esse rato. Fiquei sabendo também que ele a estava extorquindo, para manter o casamento em segredo. Finalmente, ela o persuadiu, por intermédio de Frank Lowell, chefe da Superior Films, cujos dados não são nada recomendáveis, a aceitar um acordo de divórcio.
– Era por esse motivo que você estava no Hotel Continental, ontem à noite? – Perguntou James.
– Isso mesmo. Devido à minha profissão, tenho uma série de informantes. E soube por um deles o que estava acontecendo. Fiquei por ali, para ver se via Verna e disposto a lhe dar uma mão, caso ela se encontrasse em apuros. Não me importo nem um pouco com o que aconteça com os outros, mas Verna Vale continua sendo minha mulher e eu seria capaz de me deixar cortar em pedacinhos para poupar-lhe qualquer espécie de sofrimento ou constrangimento. Agora, pode me dizer o que ela veio fazer aqui?
– Você disse que faria uma troca. Que você tem que possa ser útil para mim?
– Vou contar-lhe tudo o que sei. Você está ficando em má situação com O’Connor. Acharam suas impressões digitais no cabo da faca; e, antes de eu sair da delegacia, receberam um telefonema anônimo dizendo ter sido você o sujeito que matou Darrell Desmond.
CAPÍTULO SETE
UM NOVO PERSONAGEM EM CENA
Eram quase oito horas da manhã.
James Todd entrou em seu escritório e lá encontrou um homem alto, de aparência respeitosa e elegantemente trajado.
– Este aqui é Frank Lowell, presidente da Superior Films, chefe – falou Tommy Logan, cujos olhos brilhavam de excitação.
– Você é James Todd? – Perguntou o homem, com voz grosseira, o que destoava de sua aparência.
James fez um gesto afirmativo com a cabeça.
¬ – Pode me informar onde está a minha pupila? – Indagou Lowell, denotando irritação.
James semicerrou os olhos. Aquele era o sujeito com quem ele, no dia anterior, havia esbarrado no corredor. Até parecia que todas as pessoas com quem cruzara na véspera estavam envolvidas naquela complicação.
– E eu sei? – Replicou o detetive, que não gostara nem um pouco do tom de voz de Frank Lowell.
– Ela desapareceu ontem, depois de receber um telefonema, provavelmente do senhor – informou Lowell, procurando ser mais gentil. – Encontrei isso na sua agenda.
James pegou o papel que Lowell lhe estendia. Nele estava escrito, com letra feminina: “James Todd. Sala 607. Edifício Treloar, perto da Sexta Avenida, Lado Oeste. 16:00 horas.”
– Quem é sua pupila e como é ela? – Enquanto fazia a pergunta, James devolveu o papel a Lowell.
– O nome dela é Mary Brown.
E Frank Lowell deu uma descrição exata da loura do elevador e do Hotel Continental.
Pela primeira vez, James começou a ter um vislumbre de luz naquele caso. Mary Brown devia estar a caminho de seu escritório. Mas por que teria desaparecido?
Verna Vale e Desmond Farrell haviam também descido no mesmo andar. Possivelmente, eles a impediram de chegar ao seu destino.
– Sinto muito, sr. Lowell – disse o detetive, dando um tom impassível à voz. – Mas nenhuma moça que corresponda a essa descrição esteve ontem neste escritório. E digo mais: depois das quatro da tarde, até por volta das cinco e quinze, quando eu e meu assistente fomos embora, ninguém esteve aqui.
– Ela não telefonou? – Quis saber Lowell.
James abanou negativamente a cabeça. Frank Lowell bufou, gemeu, fez tudo, menos chamar James de mentiroso. Por fim, acalmou-se.
– Peço-lhe desculpas, sr. Todd, se fui mal-educado – desculpou-se. – Mas estou aflito. Dentro de dois dias, teremos uma importante reunião de negócios; e a presença de minha pupila é necessária. Preciso encontrá-la o mais depressa possível...
– Vá até a polícia e dê queixe no Departamento de Pessoas Desaparecidas – sugeriu James.
– Não posso ir à polícia em hipótese alguma, devido à má publicidade que isso acarretaria... – Depois, lançando um olhar penetrante em James, Lowell perguntou: – O senhor quer se encarregar de encontrá-la para mim?
James encolheu os ombros e respondeu:
– Parece um caso sem esperança, sr. Lowell. Não há nada por onde possamos principiar a investigação; e, neste momento, estamos envolvidos num caso por demais complicado. – Fez uma pausa. Depois, acrescentou: – Mesmo assim, aceito a incumbência, já que o senhor faz questão de nos contratar. Porém, digo-lhe francamente que não tenho grandes esperanças de encontrar a sua pupila...
continua na próxima sexta-feira