A tragédia Carnavalesca - Segundo Ato

Márcia saiu pelas passarelas de tênis desabotoados

Marquinha de batons nos lábios nervosos

Sonhos eróticos contidos pela rigidez familiar

Márcia era casada, assistia às séries do canal fechado,

Iminentemente, jogava baralho aos domingos

Quando seu marido tomava cachaça e falava mal dos partidos.

Ah para Márcia, acostumada às novelas televisivas e aos livros de Shakespeare

Aquele Carnaval seria uma novela trágica, cômica e aventureira

Aqueles rapazes vestidos de Travestis eram os mais ousados e libertinos

Porém, ela não desejava sexo fast food, nem animalesco

Ela estava ali nas Avenidas, nos carnavais e marchinhas de Rua

Contemplando as fantasias populares

O que cada um sofria e levava como seu contraponto

O alter-ego, a decadência inflamada

A única forma de sorrir para o exterior

O nonsense geral

A formação cristã que absolvia

Os pecados alheios, mas não os próprios

A salada mista do beijo e queijo

Os tamagoshis pedindo álcool e os

Motéis cheios de suspiros e atenção desmesurada

Os artistas de cima dos trios fantasiados de Orpheus e

Das entidades egípcias

Nesse monólogo de misticismo e magia

A fé abalada, desnudando até o mais cético

Era inacreditável estar naquele lugar !

Era deveras irracional e onírico

Era surreal e satírico

Tudo isso absolvido porque era Carnaval

Assim que os povos sul americanos se redimiram

Pela alegria mórbida

Levaram nos seus corpos sarados e

Bronzeados a negação de sua história colonial e cativa

Contrariaram a lógica perversa da ordem social

Pelo sensualismo exacerbado

Pela opulência dos bumbuns injetados

E dilacerados pela revista de moda

Que contemplava e fotografava mulheres como drogas

Filósofos como médicos de receita na mão

E o remédio para todos os males da alma era a alegria

Representada na Grande Festa.

Vinicius Santana
Enviado por Vinicius Santana em 04/02/2016
Código do texto: T5533379
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