Depois da Meia-Noite (Fanfic) - Capítulo 2 - Intrusos

Elizabeth fitou o lago até o outro lado da margem, onde começava a cidade de Forks. Ali em cima do penhasco, o vento soprava seus cabelos armados de cachos negros e longos e ela parecia uma estátua viva, com o olhar vidrado e semblante pensativo. Que estátua maravilhosa aquela! Parecia uma deusa africana. A pele negra, de um brilho acinzentado, e as feições combinadas da miscigenação queniana com a britânica criavam um aspecto único à sua figura.

Ela ponderava atravessar o Lago. Mas não sabia ao certo se aquilo iria mata-la ou não. Com tão pouco tempo de existência vampírica – sete meses não era muito para quem tinha toda uma eternidade pela frente – não sabia ainda ao certo se era realmente imortal a tudo. Não havia tido um mestre, aliás, nenhum deles havia. Eram filhos de um mesmo vampiro, porém criados numa noite de inverno e abandonados a própria sorte nessa mesma noite, com apenas algumas instruções básicas de sobrevivência.

Os outros eram Charlotte e Theo Vincent. A primeira, uma garota tipicamente americana, com talvez alguma herança celta. Seus cabelos ruivos caíam como uma cascata em chamas pelas suas costas, com várias nuances de vermelho e laranja. A pele branca um dia já tivera sardas, mas agora era lisa e imaculada. Colocava-se a direita de Elizabeth, mas não fitava o lago como ela, apenas brincava de se equilibrar na pontinha do penhasco, imaginando como seria a queda. Se fosse humana, teria medo de fazer aquilo, mas agora, a possibilidade lhe intrigava.

O rapaz era um galês que havia tido a falta de sorte de estar no lugar errado e na hora errada naquela fatídica noite em Londres, quando foi transformado. Sua extraordinária beleza tinha um quê de cigana ou nórdica. Era alto e seus cabelos negros estavam bagunçados e um pouco grandes, o que lhe conferia um ar rebelde e despojado. Os olhos eram de um tom de verde esmeralda felino, ressaltado pelas sobrancelhas negras e grossas.

Foi ele o primeiro a quebrar o silêncio com seu sotaque francês, arrancando a deusa africana de seus pensamentos.

- E então? Dá para atravessar?

Elizabeth deu de ombros, frustrada. Não sabia como uma longa distância percorrida a nado afetava um corpo vampírico. Sabia que atravessar aquele lago era humanamente impossível, no entantem, sabia também que agora não era mais humana e seu corpo estava muito mais resistente. Ainda assim...

- Sinceramente, não faço ideia. – declarou, franzindo o cenho. Odiava ter todas aquelas dúvidas sobre sua própria condição de espécie.

- Bem... – suspirou Vince – Sempre há a opção de dar a volta.

A negra suspirou também, porém com indignação. Não queria dar a volta! Se recusava a fazer isso! Estava farta daquela viagem. Sentia-se cansada, por mais que seu corpo fosse incapaz de sentir cansaço. Haviam sido sete longos meses de busca, medo, apreensão, corrida. Agora que estavam tão perto, ela não queria ser obrigada a dar a volta e demorar mais um dia para chegar ao destino. Ainda assim, não adiantaria nada morrer no meio da travessia não é...?

- Ah! Pelo amor de Deus! – falou uma voz feminina, com impulsividade irrepreensível. No instante seguinte, Theo Vincent e Elizabeth ouviram o som de algo mergulhando na água.

- Scar! – gritou o rapaz, mas era tarde. Os dois correram intuitivamente para a borda do penhasco, a fim de enxergar melhor o lago.

A ruiva havia desaparecido em meio às águas negras e geladas.

Dali a pouco, a cabeleira vermelha reapareceu na superfície. Porém, Charlotte parecia agonizar.

- Oh, não! Me ajudem! Estou derretendo!

Elizabeth e Vince estavam horrorizados! A muito custo contiveram o impulso de pular na água também, para salvá-la. Mas de que adiantaria pular e começar a derreter também? Os dois foram invadidos por um sentimento de pânico pela impotência de salvar a ruiva.

No entanto, nem bem cinco segundos haviam se passado e eles ouviram a risada zombeteira e audaciosa de Charlotte. Ela emergiu tranquilamente, boiando na água turva e depois nadando como uma sereia.

- Qual é! Vocês estavam preocupados com um laguinho de nada! Deviam ter visto suas caras! – ela riu – Pulem logo pra cá, a água está ótima!

- Sua...! – chispou Vincent, dizendo depois algum xingamento numa língua estranha e ininteligível. – Você podia ter se matado! E se a água fosse mesmo prejudicial para nós como é o fogo? Você teria sabido?

- Nunca iríamos saber se não tentássemos, ora! – a ruiva deu mais uma risada que irritou Vince. Como ela podia ser tão inconsequente e...?

- Chega. – falou Elizabeth, antes que o rapaz gritasse mais alguma coisa em resposta a Charlotte. – Não temos tempo para discussões. Não temos tempo nenhum a perder.

Com isso, a líder também pulou na água e foi seguida por um cigano contrariado, de cenho franzido.

- Viram? Não há problema algum. – constatou a ruiva. – Nós até nem precisamos voltar à superfície para respirar. Podemos mergulhar uma única vez e já sair do outro lado da floresta!

- Ótimo. É exatamente o que faremos.

- Mas da próxima vez que nos assustar desse jeito, - Vince disse ameaçadoramente para Charlotte, porém com um prenúncio de sorriso nos lábios. – Você nos paga, ma puce !

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A Mercedes só parou quando em frente a uma belíssima casa em meio à floresta. A casa dos Cullen estava exatamente do mesmo jeito que havia sido completamente deixada há 20 anos, quando Bella ainda era uma humana insegura e Renesmee uma criança de 8 meses com aparência de 10 anos. Salvo alguns reparos feitos ao longo dos verões em que eles passaram ali, a casa estava praticamente intocada.

Esme, Carlisle, Rosalie e Emmett esperavam reunidos na varanda. Eles haviam chegado ali três dias antes, para arrumar algumas coisas antes que os outros chegassem. Mais um verão vinha, e por mais um verão aquela morada serviria de refúgio para os Cullen.

Renesmee nem bem prestou atenção à casa que lhe trazia tantas lembranças nostálgicas, imediatamente voltou seu olhar para o meio das árvores, para os bosques em penumbra logo ali na frente. Ela sentia o chão vibrar com o que eram passos rápidos que se aproximavam a cada segundo. Um sorriso lhe escapou dos lábios. E um segundo após, a matilha de lobos explodiu para fora da mata, em sua direção. Ela foi cercada por enormes criaturas de pelagem macia, cada uma com uma cor diferente.

— Oi Leah, Seth, Embry...! — ela os cumprimentou a todos, agarrando-se em seus pelos macios. Mas quando notou que havia alguém faltando, seu olhar se voltou novamente para o bosque, cheio de expectativa. Onde estava Jake?

Logo mais, o rapaz apareceu entre as árvores, já em sua forma humana, vestindo apenas uma bermuda e uma camiseta sem mangas. O olhar profundo encarando Nessie, e trazendo no canto dos lábios um sorriso.

O coração da garota pareceu que ia parar de repente. Ela entrou num estado de transe e confusão, e não sabia o que fazer. Nos verões passados, teria corrido sem pestanejar na direção de Jacob e pulado em cima dele, derrubando-o no chão com sua força. Mas agora ela não conseguia. Suas pernas não se mexiam.

Ficou parada como uma idiota, esperando que ele viesse ao seu encontro, o que não demorou muito. Ao contrário dela, Jacob parecia saber muito bem o que fazer. Ele colocou as mãos fortes, grandes e firmes em sua cintura... e a ergueu no ar!

— Garota, como você cresceu! — ele riu, e rodopiou com Nessie ainda em seus braços.

— Seu besta, me põe no chão! — ela riu também, e sua inibição desapareceu. Seu coração voltava a bater normalmente e ela não se sentia mais insegura.

— Senti sua falta, pequena... — Jacob a colocou de volta no chão e, antes de poder vê-la ruborizar um pouquinho com aquele comentário, virou-se para olhar na direção dos outros vampiros. — E de vocês também, apesar do mau-cheiro! Lhes deixei ganhar a corrida como presente de boas-vindas, agradeçam-me!

— Até parece. — zombou Edward. — Você estava comendo poeira, isso sim!

— E aí, Jake? Como vão as coisas? — interrompeu Bella.

— Nada demais... Forks continua a mesma e La Push também. A gente quase morre de tédio sem vocês por aqui pra provocar uma briguinha. Então, vão ficar por quanto tempo dessa vez?

— Só até o verão acabar, como sempre... — suspirou Renesmee, dirigindo um olhar com um quê de irritação para o nada.

— Não pode estar falando sério...! Carlisle havia dito que...

— Jacob! — interrompeu o próprio chefe da família — Rose preparou o jantar para você e Renesmee. Você sabe como ela fica brava quando não apreciam o seu trabalho. Vamos entrar e conversar sobre essas coisas mais tarde?

Edward ergueu uma sobrancelha. O que significava aquele sorriso amarelo e olhar sugestivo que seu pai dirigia para o lobo? E aquele convite aleatório? O vampiro imediatamente considerou vasculhar os pensamentos de ambos para saber o que aqueles dois haviam partilhado em segredo na sua ausência, mas um olhar repreensivo de Bella o fez pensar duas vezes sobre isso. Ele não queria ouvir dela outro sermão sobre privacidade, respeito à integridade psíquica alheia, liberdade de pensamento e etc. O último havia durado duas semanas inteiras!

Assim, sem mais delongas, todos entraram na casa e sentaram-se à mesa de jantar, embora apenas Jacob e Renesmee fossem efetivamente apreciar aquela refeição. Rosalie buscou na cozinha uma travessa gigante de lasanha e serviu com seu melhor sorriso de dona de casa perfeita, antes, é claro, de franzir o cenho para o lobo sentado à mesa. Os olhos de Jacob saltaram sobre a comida e quando ele ia finalmente ao ataque, um barulho de vidro se espatifando no chão foi ouvido da cozinha.

Alice havia deixado cair a jarra de suco que estava levando para a mesa, mas não só isso, ela havia entrado em um estado de transe que todos conheciam muito bem.

— Ah, qual é... A cartomante não pode esperar pra ter visões malucas depois do jantar, não? — resmungou Jacob, recebendo logo após um tapa no pé da orelha dado por Bella.

Jasper — sempre Jasper ¬— foi o primeiro a ampará-la, controlando sua ansiedade.

— O que você viu?

— Intrusos... — disse Alice — Três vampiros nômades acabam de cruzar a fronteira da cidade. Estão vindo para cá.

— Quanto tempo temos? — perguntou Carlisle.

— Chegarão em 10 minutos.

Jacob levantou-se da mesa.

— Não se os pegarmos antes.

E, antes que alguém pudesse protestar, disparou porta afora para dentro da floresta, sendo seguido pelos outros lobos da matilha.

Continua

Ingrid Flores
Enviado por Ingrid Flores em 23/01/2016
Código do texto: T5520186
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