A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 02 - OS INSTANTES SEGUINTES

Enquanto durou a aparição dos objetos voadores nos céus do planeta, o alvoroço que se armou era, espantosamente, quieto. Isso talvez se devesse à expectativa do que viria a seguir, ou seja, ao medo de alguma ação impositiva, violenta, de dominação ou invasão, já que muitos filmes exploraram, ao longo de décadas, tal possibilidade. Muitos esperavam o pior.

Assim que o firmamento ficou livre das máquinas estranhas, correria e falatório davam o tom das movimentações intensas que se seguiram. Em toda a mídia não se falava de qualquer outro assunto, e as teorias a respeito do acontecimento variavam de um extremo a outro. Não faltaram tramas conspiratórias, pregações místicas sobre arrebatamento, dezenas de milhares de supostos contatados, com versões disparatadas sobre a ocorrência e alegadas situações, imediatamente posteriores, em que teriam vivido experiências incomuns.

As horas e os dias seguintes, ao longo de quase três semanas, espalharam uma quase ressaca ufológica sobre toda a humanidade, mesmo nos rincões mais ermos e solitários. Ainda que variassem muito as reações, o medo e a ansiedade, que predominavam nos primeiros instantes, cederam lugar a uma apreensão contida, já que nada mais de anormal surgiu, a não ser relatos e boatos, que após verificações, demonstraram ser alarmes falsos.

O que a maioria das pessoas não sabia, era que os visitantes tinham entrado em contato com alguns governantes, solicitando uma assembléia governativa do planeta, formada por três elementos de cada nação soberana. Os contatos iniciais se deram com governos que detinham capacidade tecnológica mais avançada, e a eles os alienígenas pediram que convidassem os outros representantes legais, mas mantivessem sigilo sobre a reunião, para evitar tumulto entre os povos, nos seus afazeres cotidianos. Indicaram a data, o local, o horário e silenciaram.

Onze dias após essa manifestação, numa manhã ensolarada de domingo, às sete horas locais, num platô gelado e altíssimo do Tibet, quem tivesse condições, poderia ver chegando a uma cúpula esbranquiçada (ou às proximidades dela), muitos helicópteros e aviões capazes de pousar verticalmente. Soube depois, que apenas as aeronaves com os representantes tiveram autorização para sobrevoar a área, pois algum tipo de campo protetor impedia a aproximação de outros veículos aéreos, inclusive satélites. Em todo o perímetro, abrangendo quilômetros em torno da estranha cúpula, nenhum aparelho eletrônico ou armamento funcionava, e até mesmo os transportes dos representantes ficaram inativos, durante o tempo que durou o conclave.

Conforme desembarcavam, os convidados eram recebidos por seres que tinham algo da aparência humana, com variações menores ou maiores, conforme sua origem, vez que havia ali uma gama enorme de raças e espécies, como se informou, posteriormente. Silenciosos e fleugmáticos, educadamente indicavam o caminho a seguir e acomodavam todos dentro da enorme edificação, que parecia uma abóbada de plasma, iluminada naturalmente, em cujo interior a temperatura e qualidade do ar eram amenas e agradáveis.

Em pouco tempo, quando todos já estavam acomodados, um grupo de doze elementos surgiu (literalmente) no centro do recinto, que lembrava um picadeiro estilizado, e um deles, que aparentava estar nu, mas devia estar vestido, já que todo seu corpo não exibia o mínimo detalhe orgânico, pronunciou-se, em um linguajar estranho, mas que todos os presentes não tiveram qualquer dificuldade em compreender. Aliás, o som se propagava no ambiente, em tom agradável e perfeitamente audível, sem a aparente necessidade de alguma aparelhagem.

- Estamos aqui em nome da Aliança, que reúne muitas centenas de povos, que habitam vários milhares de planetas desta galáxia, para convidar os terráqueos a, progressivamente, se unirem aos nossos esforços, em busca da harmonia, paz e confraternização interplanetárias. É imperioso dizer que a inclusão da Terra na Aliança, terá de se concretizar ao longo de diversos séculos de seu tempo, até que a violência, desigualdade e ignorância sejam erradicadas de seu meio. Monitoraremos todos os governos e outros grupos que detenham algum poder. Se for preciso, interviremos, pontualmente, para eliminar atos extremos e suas conseqüências, mas não cederemos tecnologia que possa ser mal utilizada, não alteraremos sua caminhada evolutiva e não interferiremos em seu livre arbítrio. Por esse motivo, todos os aqui presentes, devem voltar às suas áreas de influência e deixar de lado ambições pessoais ou coletivas, para cuidar, adequadamente, de melhorar e nivelar as condições de vida de seus cidadãos, caso queiram contar com nossa cooperação, que só se dará, pouco a pouco, conforme tenhamos a certeza de que agem em benefício de todos, preparando a sociedade futura.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 17/01/2016
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