"QUEM DESDENHA QUER COMPRAR"
Primeiro capítulo do romance
Por Olavo Nascimento
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-- Você acabou de dar-me uma boa notícia. Muito obrigado. Respondeu Osmar à informação de Gleice.
-- Como assim? Rebateu ela. – Eu acabei de lhe dizer que a Leny não vai com a sua cara e você ainda agradece como boa notícia?
-- Isso mesmo, porque “QUEM DESDENHA QUER COMPRAR”. Filosofou o rapaz.
Corria o ano de 1976 e já havia quatro meses que a Leny começou a trabalhar na mesma empresa do Osmar e da Gleice no centro da cidade do Rio de Janeiro. Logo assim que foi admitida, ela passou a fazer parte da secretaria do departamento financeiro, juntamente com a Gleice e mais dois rapazes. A secretaria dava suporte à gerência e aos sete analistas financeiros, entre eles o Osmar, com trabalhos preliminares necessários e muito importantes. Era uma agitação constante dos funcionários da secretaria circulando na outra sala dos analistas, com papéis, processos e recados, além de atender telefonemas, agendar visitas e finalizar serviços datilográficos. E uma das pessoas que passou a marcar presença no ambiente e fazer esse tipo de serviço, foi exatamente a Leny.
A Leny era uma jovem de vinte anos aproximadamente que conquistou a todos desde o primeiro momento. Além da sua simpatia, presteza e qualidade no seu trabalho, ela provocava, sem intenção, olhares indiscretos, gracejos e galanteios ao passar entre mesas e cadeiras de quase todos analistas. Dona de um corpinho arrebitado e cheio de curvas era uma menina inconfundível com o seu cabelo "Black Power" moldando o seu rosto rosado de menina linda. A sua voz macia e aconchegante era também outro ponto marcante da sua maneira de ser.
Mesmo após a revelação da Gleice, que era sua amiga confidente, Osmar não alterou o seu modo de se relacionar com a Leny e continuou a tratá-la como sempre: com profissionalismo, educação e respeito, sem dirigir-lhe palavras que representassem qualquer tipo de interesse pessoal dele sobre ela.
A Gleice e o Osmar já se conheciam há bastante tempo. Ela era uma moça cheinha de corpo, de baixa estatura, com aproximadamente vinte e seis anos, rosto redondo de pele clara, olhos vivos, cabelos negros puxados para trás e de alegria incomum. A sua voz bem timbrada e suas constantes gargalhadas denunciavam sempre a sua presença. Era companhia constante do Osmar em barzinhos após o expediente, quando as aulas do rapaz permitiam. Muitas vezes, convidado por ela, ele foi até ao seu apartamento localizado perto da empresa, para fazer um lanche, assistir programas de TV e jogar conversa fora. Conversavam deitados em sua cama, mas nunca passou disso. Alegavam que um envolvimento maior poderia acabar com aquela amizade e aquela cumplicidade. E foi por desconhecer aquela cumplicidade, que a Leny se abriu com a Gleice acreditando, erroneamente, que ela fosse guardar segredo. Mas...
O tempo passou rápido após a revelação da Gleice. Um, dois, três meses e o comportamento do Osmar continuou o mesmo com relação à Leny, mas com uma carta na manga. Até...
Seis meses depois, Leny que nunca deixou de conversar com o Osmar acerca de trabalho, pediu-lhe um favor: -- A faculdade aonde você estuda tem pré-vestibular?
Osmar: -- Acredito que sim. Vou me informar e lhe falo qualquer coisa amanhã.
Leny: -- Estou querendo me inscrever para o vestibular no final do ano e preciso me preparar.
Osmar: -- Para qual carreira você pretende seguir?
Leny: -- Psicologia ou pedagogia. Não sei ainda.
Osmar: -- É isso mesmo. É assim que se pensa. O nosso futuro não espera. Ele é alcançado.
Leny: -- Muito obrigado. Não vou esquecer-me dessas palavras tão sábias sobre o futuro.
Osmar: -- Ok. Amanhã lhe trago a resposta. E encerrou a conversa, como se estivesse ocupado para resolver qualquer assunto de trabalho.
No dia seguinte, logo na parte da manhã, Osmar chamou Leny à sua mesa e entregou-lhe o folheto da faculdade com todas as informações que ela precisava. Na verdade, o pré-vestibular já tinha começado naquela semana e ela não podia perder tempo. No final do dia, quase no horário de se encerrar o expediente, Leny voltou à mesa de Osmar, perguntando: -- Você vai à faculdade hoje?
Osmar: -- Sim. Tenho que ir. Hoje é dia de prova e ainda tenho que revisar alguns pontos.
Leny: -- Tenho que resolver essa inscrição hoje. Se não houver problemas, você pode me dar uma carona?
Osmar: -- Claro! Problema algum! O estacionamento é lá perto e lhe encaminho até à secretaria da faculdade.
Saíram, entraram no carro e na viagem o gelo entre os dois foi um pouco quebrado. Conversaram sobre estudos, trabalho e perspectiva de vida que cativaram a menina pela experiência, cultura e modo de ser demonstrados nas palavras de Osmar. Ele era um homem de 35 anos bem encaminhado na vida, que adorava a leitura e escrevia muito bem. Apesar de haver se formado em administração alguns anos atrás, estava cursando economia naquela faculdade para se aprimorar em suas funções de analista financeiro da empresa. Era uma pessoa responsável e bastante ligada à sua família que ele sempre procurou proteger e preservar.
Ao chegarem à faculdade situada num bairro da Zona Norte da cidade, Osmar foi muito atencioso com Leny encaminhando-a para a secretaria até ela finalizar a sua matrícula. Suas aulas praticamente aconteceriam no mesmo período noturno de Osmar, com pequenas diferenças na carga horária. Osmar ficou na faculdade para se preparar para a prova e Leny saiu agradecida pela gentileza do colega de trabalho.
Por conta dessa matrícula da Leny, os dias nunca mais foram os mesmos para eles. As caronas para a faculdade, muito esporádicas no início, foram se tornando mais constantes com o decorrer do tempo, a ponto de cada um sentir a falta do outro quando isso não ocorria. As conversas passaram a ser mais pessoais com confidências e revelações, principalmente dela quando mencionava detalhes do seu noivado com o Alexandre. Muitas vezes, aguardando o início das aulas, eles ficavam conversando dentro do carro no estacionamento. E foi com essa proximidade, que o aconchego chegou junto com a troca de olhares e palavras carinhosas. Seus corações bateram mais fortes, o desejo aflorou e o primeiro beijo aconteceu. Osmar chegou bem junto ao seu rosto, olhos nos olhos e ela ofereceu os seus lábios. Foi um beijo demorado, há muito esperado por eles e aproveitado com bastante sofreguidão. Mas...
-- Você não deveria ter feito isso. Disse Leny afastando-se dele.
-- Eu fiz porque senti vontade e você aceitou porque sentiu vontade também. Rebateu Osmar.
-- Mas não vai acontecer de novo.
-- Não fique constrangida e aborrecida. Não fizemos nada de mal. Eu gostei muito e acho que você também.
-- Mas foi a primeira e a última vez. Não posso. Não quero.
-- Tudo bem. Vou respeitar, mas poder e querer são duas situações diferentes. E eu preciso saber: “Você pode, mas não quer” ou “Você quer, mas não pode”?
-- Talvez a resposta certa seja que eu não devo. Hoje é sexta-feira e estarei com o Alexandre daqui a pouco até o final do domingo. Não vou assistir às aulas de hoje. Vou para casa. Rebateu Leny abrindo a porta do veículo, pronta para saltar.
-- Nada disso! Vou levá-la até em casa. Nada de pegar ônibus lotado há essa hora. Ofereceu-se Osmar sem resultado, após ver a moça sair e deixá-lo sozinho no carro. Que situação! Pensou ele.
Na segunda e terça-feira da semana seguinte, Leny evitou Osmar tanto no trabalho, como nas caronas oferecidas por ele para a faculdade. E ele, então, resolveu não insistir. Ficou na dele, como nada tivesse acontecido, mas na quarta-feira, ela voltou cheia de simpatia e confiança: -- Temos carona hoje?
-- Pra você sempre terá. Iremos juntos. Respondeu Osmar com um sorriso de alegria.
No carro, a caminho da faculdade, Leny quebrou o silêncio: -- No outro dia eu lhe falei que estava sentindo muito a falta do Alexandre e de só poder vê-lo nos finais de semana.
-- E aí? Já se acostumou com isso? Às vezes um pouquinho de saudades ajuda a relação. Provocou Osmar.
-- Mas foram exatamente saudades o que eu senti. Não sei o que está acontecendo comigo. Mas essas saudades não foram pela ausência dele. Rebateu Leny com olhar apaixonado.
-- Saudade é um sentimento de carinho e amor. Eu sei muito bem o que é isso e tive essa prova nos últimos dias. Senti muito a sua falta. Exemplificou Osmar ao estacionar o carro.
-- Até então eu ficava ansiosa para chegar o fim de semana e estar com o Alexandre em minha casa. Mas não foi isso que aconteceu. Confessou Leny.
-- Já sei. Você ficou ansiosa para chegar os dias de aula. Estudiosa você menina. Ironizou o rapaz.
-- Você sabe que não é por isso. A minha saudade não é essa. Senti muito a sua falta. Suas conversas, seu carinho e... Calou-se e completou: Deixa pra lá!
-- A falta que você sentiu foi essa! Respondeu Osmar, trazendo o seu rosto e beijando-a outra vez.
Dali pra frente, os mesmos dias da semana eram exatamente iguais: nas segundas e nas terças, a Leny se afastava por lembrar-se do Alexandre dos sábados e domingos; nas quartas ela se sentia mais acessível às investidas de Osmar e, nas quintas e sextas, ela se entregava totalmente àquele namoro cheio de paixão, beijos, carícias e toques.
Ela vibrava com os pontos tocados por Osmar e falava: -- Você a qualquer hora, vai ter vontade de me possuir.
-- Eu já estou com essa vontade há muito tempo. Que tal ficarmos à vontade num lugar tranquilo? Não vejo a hora de isso acontecer. Convidou-a Osmar.
Leny: -- Mas eu não posso. Não quero.
Osmar: -- Vou lhe perguntar outra vez: “Você pode, mas não quer” ou “Você quer, mas não pode”? Dependendo da sua resposta, tudo pode acontecer ou não.
Leny: -- Não sei. Estou muito confusa. Mas eu acho que é "Eu quero, mas não posso”. Não posso magoar pessoas e não devo fazer algo que ainda não fiz.
Osmar: -- Pelo que entendi você ainda é uma mocinha. É isso?
Leny: -- É isso mesmo. E agora eu acho que você não vai querer perder tempo comigo. Vou até compreender.
Osmar: -- A sua primeira vez vai ter que acontecer um dia e você vai saber a hora e com quem. Não vou abandoná-la por isso.
Leny: -- Mas não vejo sentido nisso pra você. Qualquer dia você vai querer e não vai poder. Está na índole do homem.
Osmar: -- A minha índole hoje é você. Vou fazer como você quiser.Transando ou não eu quero você.
Leny: -- E você vai resistir? Não vai insistir?
Osmar: -- Vou deixar essa situação com você. O dia que você achar que chegou o momento é só dar-me a entender que não perderei tempo.
As semanas correram com as mesmas situações anteriores de domingo a terça e de quarta a sexta, até que um dia, após um apego fervoroso, Leny se ofereceu:
-- Um dia eu falei que não devo e que não posso. Mas agora eu quero.
-- Não queira saber como estou feliz com isso. Podemos ir agora? Convidou-a eufórico Osmar.
Leny: -- Não. Vamos deixar pra amanhã. A gente sai direto do trabalho e vamos. Acredito que você vá me levar para um lugar discreto e tranquilo.
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Osmar: -- Com certeza. Você confia em mim?
Leny: -- Confio muito e estou muito ansiosa por isso há muito tempo. Amanhã será o nosso dia.
No dia seguinte, no entanto... Ao entrar no carro e sentir o outro caminho que Osmar estava se dirigindo, ela recuou:
-- Você está indo pra onde? Não vamos pra faculdade?
-- Não estou entendendo! Estamos indo para o lugar que combinamos no dia de ontem. Retrucou Osmar se surpreendendo.
Leny: -- Mas eu não vou. Pensei bem e acho que não devo fazer isso. Desculpa-me por essa minha indecisão.
Osmar: -- Apesar de não ter pensado em outra coisa desde ontem, vou respeitar o seu recuo. Estou muito frustrado com isso e não vou insistir com algo que você não quer. Vamos para a faculdade.
Leny: -- Eu sou muito complicada mesmo. Mil perdões. Não fique aborrecido comigo.
Osmar: -- Não tenho como esconder a minha decepção, mas entendo que suas dúvidas fazem parte da sua idade. Não quero obrigá-la a fazer o que não quer.
Leny: -- Ainda bem que você é um cavalheiro e vai relevar essa desistência.
Osmar: -- Não sei se vou relevar, estou muito sentido com isso. Mas uma coisa eu quero lhe garantir.
Leny: -- Garantir o quê?
Osmar: -- Nunca mais vou tocar nesse assunto e voltar a convidá-la para um lugar desses. Não tinha que acontecer. Paciência!
Os dois chegaram à faculdade, cada um foi para a sua sala e o constrangimento ficou. Nos dias seguintes, Osmar evitou levá-la à faculdade com desculpas sem fundamentos e ela sentiu o peso da força daquela distância. E ele começou, então, a pensar em outro caminho para tudo aquilo: o fim do relacionamento.
Depois de mais de duas semanas separados, Leny pediu nova carona. E ele respondeu: -- Hoje eu não vou à faculdade. Tenho um compromisso. Vamos deixar pra amanhã, ok?
-- Tudo bem. Amanhã sem falta. Precisamos conversar. Respondeu Leny com esperanças.
Encontraram-se no dia seguinte e no caminho para a faculdade pouco se falaram. Na entrada do estacionamento, Osmar parou o carro e afirmou:
-- Vou deixá-la aqui. Estou com problemas em casa e tenho que ir.
Leny: -- É isso mesmo ou você está me evitando?
Osmar: -- Nunca escondi nada de você sobre a minha vida pessoal, família, filhos etc. Disso você já sabia bem antes do nosso relacionamento. Lá no departamento quase todos sabem da vida de cada um, por comentários, desabafos e afirmações do dia-a-dia.
Leny: -- Mas eu notei que você está me evitando. Tem saído da empresa com a Gleice de vez em quando e pouco conversa comigo.
Osmar: -- Você está certa. Estou evitando sim, para o bem de nós dois. Eu não tenho o direito de atrapalhar a sua vida, sem saber aonde isso vai dar.
Leny: -- E eu atrapalhar a sua é isso?
Osmar: -- Também. Mas você nem imagina como estou me sentindo com essa decisão. Está doendo muito dentro do meu peito. Mas antes de ir embora, aqui está uma lembrança pra você.
Sem beijos e abraços, antes de arrancar com o carro, Osmar entregou à moça o LP “AMOROSO DE JOÃO GILBERTO", o álbum mais recente daquele cantor preferido da colega. Leny surpresa e ansiosa abriu o presente que estava acompanhado da seguinte dedicatória:
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LENY,
Isto aqui é uma despedida. Por saber da sua idolatria por este excelente intérprete, aqui está este presente com dedicatória incluindo os títulos das oito faixas deste excelente álbum de João Gilberto. Por você merecer toda a minha saudade, peço-lhe que guarde esta lembrança como recordação dos nossos momentos tão conturbados, mas cheios de carinho e amor.
Chegamos até aqui por "Caminhos Cruzados" que provocaram encontros felizes e imprevisíveis entre um "Zíngaro" em suas caminhadas sem destino e uma "Wonderful Girl" (garota maravilhosa) que é você. Nosso caso, tanto no Verão ("Estate") como em qualquer outra estação do ano, evoluiu e regrediu muitas vezes por conta dos dramas de consciência, receios e remorsos demonstrados principalmente por você.
O que agora eu "Vou Te Contar - (Wawe)", você já sabe "Tin Tin por Tin Tin": É muito grande a minha adoração por você. Quero neste meu momento tão "Triste" que você, na hora desse adeus, me envolva com o seu "Besame Mucho" que tanto gostei de usufruir. E que o título deste álbum tão cativante, sirva para comprovar como sempre fui, sou e serei muito "AMOROSO" com você, fazendo da minha mente um escravo constante da sua lembrança, que invadiu o meu peito com esta saudade aconchegante que já estou sentindo.
Que a felicidade e a paz estejam sempre com você em toda a sua vida. Torço por você.
Beijos carinhosos.
OSMAR
No dia seguinte logo de manhã, Leny fez uma ligação interna para Osmar: -- Preciso muito falar com você hoje. Não vá embora sem mim. Mas Osmar respondeu apenas com um bom dia Leny.
No final do expediente Leny desceu antes dele e ficou aguardando a sua saída na porta do prédio. Esperou um bom momento e não desistiu, até encontrá-lo com a Gleice em direção ao estacionamento do prédio. Osmar se surpreendeu, mas não deixou de confirmar que iria para a faculdade quando ela perguntou. Despediram-se da Gleice, entraram no carro e partiram.
O longo silêncio entre os dois foi quebrado quando ela pediu: -- Leve-me pra casa. Não vou assistir às aulas hoje.
Osmar: -- Tudo bem. Vamos lá. Já senti que você quer conversar...
Leny: -- Estou chorando desde ontem com o seu presente e a sua decisão. Isso eu já esperava desde o dia que lhe confessei a minha situação. Cheguei a lhe falar isso não foi?
Osmar: -- Exatamente. Mas estou vendo os dois lados. Você está marcando a minha vida com este relacionamento que está mudando o meu ritmo. Não sou nenhum santo e já tive vários casos passageiros sem qualquer envolvimento maior. Foram situações rápidas sem feridas e ressentimentos. Sabe por quê?
Leny: -- Não. Mas deve ser porque vocês homens só pensam em algumas horas de prazer
Osmar: -- O prazer faz parte. Mas nunca houve feridas porque nunca enganei e dei esperanças a ninguém. Quando se relacionaram comigo já sabiam da minha situação e não podiam fazer cobranças. Jogo aberto e bem transparente.
Leny: -- Como agora, neste momento, você não quer cobranças. Mas nunca lhe incomodei com isso. Sempre ignorei e respeitei a sua vida pessoal.
Osmar: -- Eu sei disso. Mas o problema já é comigo. Não acho justo atrapalhar o seu futuro e os seus sonhos, sem as esperanças que eu poderia, mas não posso lhe oferecer.
Os dois chegaram à esquina da rua da casa de Leny, Osmar parou o carro e esperou que ela soltasse. Mas, antes disso, porém, ela retornou:
-- Você algumas vezes perguntou e falou pra mim: “Você pode, mas não quer” ou “Você quer, mas não pode”? E também: "É um momento muito especial e você vai saber escolher à hora e com quem isso vai acontecer”. Então eu quero lhe mostrar um segredo.
Leny pegou a bolsa, retirou um pequeno livro de capa preta, abriu a página marcada naquele dia do seu diário e mostrou a seguinte mensagem para Osmar: "Hoje eu posso e eu quero. Hoje é o meu dia especial. Hoje eu encontrei o meu homem primeiro. Hoje eu quero o Osmar de qualquer maneira".
Osmar relutante e surpreso: -- Mas assim tão de repente? Não estava esperando isso! Você tem certeza do que está me propondo?
Leny: -- Certíssima e confiante em você! Você ontem me entregou uma recordação que vou guardar para nunca me esquecer na minha vida. E aquele presente tem que ser comemorado com um grande momento entre nós.
Osmar indeciso e surpreso com a decisão da moça: -- Mas... Não sei se devo. Posso me arrepender e você também. Sempre desejei isso... Mas...
Leny puxou o seu rosto e não deixou Osmar continuar falando tascando-lhe um longo beijo cheio de desejos. E sussurrou em seu ouvido: -- Vamos... Eu quero tanto... Eu lhe amo tanto... Quero você em mim...
Osmar não resistiu, correspondeu o beijo com fervor, engrenou o carro e partiram para uma noite maravilhosa e cheia de prazer. Uma noite inesquecível para aqueles dois amantes apaixonados. Uma noite que se repetiram várias outras vezes com entregas e juras de um eterno amor.
No dia seguinte, logo na parte da manhã, Gleice ironizou Osmar em telefonema interno: -- Ontem, no final do expediente, tive a confirmação de que, realmente, naquele dia, eu lhe passei uma grande notícia. Com a sua ansiedade e preocupação, ela não escondeu o relacionamento de vocês. Só não sei se ao desdenhar, ela já comprou.
Osmar sorriu, não respondeu e pensou: "Eu tinha esta carta na manga, mas ela tinha um maço de várias cartas bem mais valiosas.
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N.A.:
1. As palavras em negrito mencionadas na dedicatória de Osmar referem-se aos oito títulos das músicas constantes do disco;
2. Amoroso é um clássico, um dos trabalhos mais importantes da carreira de João Gilberto. Lançado em 1977, o álbum marcou seu retorno às paradas de sucesso brasileiras.
A longa temporada dedicada à sua carreira internacional - principalmente nos Estados Unidos - aliada à crescente produção de músicas de protesto contra a ditadura militar que o Brasil enfrentava, fez com que o veterano “saísse de moda” com suas canções românticas embaladas em harmonias sofisticadas.
No ano seguinte ao lançamento bem-sucedido de Amoroso, João Gilberto voltou ao país para espetáculos em Salvador e São Paulo. Em 1980, a canção Wave, uma das oito faixas presentes no disco, foi escolhida como parte da trilha sonora da novela Água Viva, da TV Globo - emissora que, no mesmo ano, realizou um especial do músico junto às cantoras Bebel Gilberto, sua filha, então com 14 anos, e Rita Lee no Teatro Fênix.
João Gilberto estava de volta - para não sair mais - ao território nacional. Lançado simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil, esse foi o primeiro álbum do cantor com três músicas estrangeiras: a norte-americana S’Wondwerful, a italiana Estate e a mexicana Besame Mucho.
3. A segunda parte dessa história será complementada com o conto "O BROTO QUE FLORESCEU", relatando como aconteceu a primeira vez da Leny naquele Hotel da Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
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AGRADEÇO A SUA VISITA E COMENTÁRIOS, PARA ESTA PRIMEIRA PARTE ROMANCE QUE TEM XXI CAPÍTULOS.
Abraços, saúde e paz no seu coração.
BLOG DO POETA OLAVO NASCIMENTO
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Interações (meus agradecimentos)
Luiza De Marillac Bessa Luna Michel
Date: dom, 7 de abr de 2019 15:58
Querido Olavo: Quero, em primeiríssimo lugar, lhe dar os parabéns por fazer um blog tão belo. Sei o tanto que é difícil criar um mundo novo. Passar ao papel branco, ansioso de sua criatividade, suas idéias mais sublimes. Lhe afirmo, meu querido poeta Olavo, que já conseguiu um lugar ao sol. Lhe admiro desde muito tempo. Pelo simples fato de você ter nadado contra a maré e ter conseguido chegar ao seu porto seguro. Como você sabe perfeitamente, mais do que eu, não tem tantos adeptos como em outros países, no entanto, lá estarão suas obras, nas livrarias, esperando aqueles leitores ávidos por mundos novos. Como disse, desde já lhe sou um fã. Abraços da sua eterna leitora , Luiza De Marillac Bessa Luna Michel.
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