UMA LOURA À JANELA - 9

CAPÍTULO QUATRO

A GAROTA DESAPARECIDA

James Todd olhou para o corpo nu estendido no mármore frio.

– É ele mesmo – confirmou. – Pode-se ver o ferimento nas costas, onde a faca entrou.

– O legista afirmou que ele foi morto antes de cair na água – falou o tenente O’Connor. – Não há água nos pulmões. E o legista calculou a hora da morte por volta da uma hora da manhã.

– Havia com ele algo que o identificasse?

– Não. Mas isso não tem importância. Sanders identificou-o como Darrell Desmond, um astro decadente do Cinema.

James deixou escapar um suspiro de alívio, ao ouvir aquela declaração de O’Connor. Pelo menos, não precisaria explicar como conhecera o sujeito.

– Seus homens encontraram alguma coisa no hotel, tenente? – Perguntou casualmente. – Encontraram a arma do crime... ou alguma outra coisa?

– Descobrimos várias coisas – replicou o policial, com frieza. – A propósito, talvez lhe interesse saber que as impressões digitais de um polegar e um indicador que encontramos no cabo da faca coincidem com as da ficha que preencheu para tirar a licença de detetive particular. Encontramos a faca no guarda-roupa onde estava escondido o cadáver de Drake.

– Ora, não vai me dizer que pensa que aquela faca de brinquedo é a arma do crime?!

– De brinquedo, hem?! – O’Connor foi até uma mesa, onde estava uma faca. Pegou-a e passou cuidadosamente o polegar pelo gume afiado da lâmina. – Isto lhe parece de brinquedo?

James olhou espantado para a faca.

– Que diabos! – Exclamou, terrivelmente intrigado. – Naquele quarto, eu peguei numa faca; mas era uma imitação de borracha. Não se poderia esfaquear ninguém com aquilo. Eu nunca vi essa...

Subitamente, James olhou atentamente o ponto onde a lâmina e o cabo se uniam. Havia uma fendazinha ali. O cabo de borracha da faca de brinquedo fora encaixado no cabo da verdadeira arma!

O’Connor observava atentamente o detetive e parecia ler seus pensamentos.

– Sim – disse. – É cabo destacável, e havia outras impressões digitais no verdadeiro cabo. Um pouco apagadas, mas suficientemente claras para se perceber que estão na posição em que geralmente uma pessoa segura uma faca para ferir alguém. – Os olhos do policial não se desviavam dos de James nem por um segundo. – Eu lhe disse que sua história não havia me convencido. Logo imaginei que sabia mais do que tinha nos contado. O melhor que tem a fazer é revelar tudo o que sabe, James.

– Você está querendo me culpar desse assassinato?!

– Não estou querendo culpá-lo de nada! Mas Sanders disse que viu o garoto que trabalha para você sair do Hotel Continental pouco antes de nós chegarmos. Estava acompanhado de uma moça. Preciso conversar com ela. Onde a escondeu?

James encolheu os ombros e replicou:

– Está bem, tenente. Ordenei que Tommy a levasse para o meu apartamento.

Eles estão lá agora. Mas ela não é culpada de nada!

– Isso quem decide sou eu! Além do mais, eu não disse que ela é a assassina. Só disse que queria lhe falar. Há diversas pontas soltas neste caso. Quando conseguir juntá-las, tudo ficará mais fácil. Agora, vamos até o seu apartamento.

* * *

James intuiu que algo acontecera em sua ausência, assim que entrou com o tenente O’Connor no apartamento. Estava tudo às escuras. E, quando acendeu as luzes, verificou que sua intuição era correta. A sala encontrava-se na maior desordem, com cadeiras tombadas e objetos quebrados. Não havia o menor sinal de Tommy Logan e Mary Brown.

– Tommy! Tommy! – Chamou James.

Uns gemidos abafados vieram em resposta. James e o tenente O’Connor correram até o quarto. Lá estava Tommy Logan, estirado na cama, com as mãos e os pés bem amarrados e amordaçado com tiras de esparadrapo. James tirou o esparadrapo da boca do rapaz e cortou as cordas que lhe prendiam as mãos e os pés. Tommy sentou na cama.

– Você está bem? – Indagou James.

– Creio que sim – respondeu Tommy, olhando-o meio atordoado. – Depois que o senhor saiu, a moça começou a chorar novamente. Pensei que uma dose de uísque lhe faria bem. Fui à cozinha buscar um copo. Então, alguém me deu uma pancada na cabeça. Perdi os sentidos. Quando acordei, estava nesta cama como o senhor me encontrou. Pensei que não viesse mais, chefe... E a garota? Como ela está? Fizeram-lhe alguma coisa?

– Isso é difícil de saber. Ela desapareceu. E, a julgar pela aparência da sala, resistiu bastante.

– Isso é o que acontece, quando um amador mete o nariz nos negócios da polícia! – Explodiu O’Connor. – Por que diabos não segurou essa moça com você até a minha chegada? Creio que nem teve o bom senso de descobrir seu nome!

James não viu outra alternativa, a não ser contar a conversa que tivera com a jovem.

– Esse nome, Mary Brown, não me diz nada – resmungou O’Connor. – Mas o que nos revelou já é alguma coisa. Vamos tentar descobrir o paradeiro dela e, se você se mantiver longe dos acontecimentos, talvez cheguemos a alguma conclusão a respeito do assassinato de Darrell Desmond.

Dirigindo-se para a porta, voltou-se e acrescentou:

– Não creio que saiba mais alguma coisa, além daquilo que já nos contou. Mas aviso-o para não deixar a cidade!

continua na próxima sexta-feira

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 01/01/2016
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