UMA LOURA À JANELA - 8

– Evidentemente, o assassino! Quem mais poderia ter motivos para ocultá-lo da polícia, senão o assassino?

Mary sentou-se. Seu rosto estava lívido.

– A propósito... Quem era o seu acompanhante? – Perguntou-lhe James.

O rosto de Mary Brown perdeu momentaneamente a palidez e ficou corado. Os olhos azuis da jovem brilharam.

– Darrell Desmond! – Foi a resposta.

James Todd soltou um longo assobio. Esse nome ainda tinha certo significado para ele.

– Espere até que eu volte! – Disse James mais para Tommy do que para a moça. – Há algumas perguntas que quero lhe fazer!

– Não se preocupe, chefe – replicou Tommy. – Eu ficarei de olho nela.

O rapaz assumiu uma postura que, aos olhos de James, lhe deu um ar de comicidade, ao invés de conferir-lhe dignidade. Já o olhar de Mary Brown exprimia medo, pavor.

* * *

Enquanto descia pelo elevador, James Todd pensava em Darrell Desmond, o ídolo das telas, o destruidor de corações femininos.

Ele havia ganhado grande notoriedade, estrelando filmes românticos e interpretando os mesmos tipos de papéis encarnados por John Gilbert na década de 1920. E sua imagem arrancava os mais calorosos suspiros da plateia feminina, convertendo-o num autêntico “desmancha-namoros” e num destruidor de lares. E sua popularidade aumentou quando, não resistindo à vultosa soma oferecida pela National Network, aceitou estrelar a série de televisão Sala de Emergência, na qual interpretava um médico que arrebatava os corações das enfermeiras e das pacientes. Mas, então, começou o seu declínio. Se a televisão contribuiu para aumentar-lhe a popularidade, ajudou também a desgastar sua imagem. E, poucos anos mais tarde, Darrell Desmond caiu no esquecimento. Talvez uma ou outra fã mais ardorosa ainda o mantivesse na lembrança, suspirando com sua foto pendurada na cabeceira na cama; porém, a maioria já tinha os olhos e os corações voltados para outros ídolos, bem mais jovens. O declínio chegara a tal ponto que James Todd não o havia reconhecido! Se Darrell Desmond estava esquecido como ator, há muito deixara de ter um corpo atlético e de ser o galã capaz de provocar suspiros nas mulheres.

Agora, Darrell Desmond já não existia. Talvez seu corpo fosse aquele encontrado nas proximidades do Hotel Continental; e, mesmo que não fosse, mais cedo ou mais tarde, acabaria sendo encontrado em algum ponto da cidade. Provavelmente, em algum terreno, misturado com o lixo. De qualquer forma, era um fim que ele não merecia. Aliás, ninguém merece um fim assim. E, tão logo a imprensa soubesse de sua morte, os jornais, sempre em busca do sensacionalismo barato, estampariam em suas capas a notícia. E, certamente, algum cinema reprisaria algum de seus velhos sucessos ou algum canal de televisão acabaria por incluir um de seus filmes na programação da semana. Ou seja, se Darrell Desmond já não significava mais nada em vida, morto serviria ainda para canalizar alguns dólares para os bolsos de produtores e empresários.

continua na próxima sexta-feira

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 25/12/2015
Reeditado em 01/01/2016
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