Tudo é cinza, tudo é triste!
Era uma tarde de domingo. Enquanto ela dormia, tomei banho, vesti umas roupas e saí por aí. No momento em que coloquei os pés fora de casa, já me atingiu em cheio uma sensação estranha. Olhei em volta e tudo... tudo era triste. Era uma tarde nublada, tudo era cinza, quase preto e branco. Algumas aves com penas em um tom negro sobrevoavam ao céu lentamente. Era outono, folhas secas ao chão. Comecei a andar, pisando em cima delas, fazendo aquele barulho característico que elas fazem (crec, crec!). Cheguei à uma praça e vi um homem sentado num banco de madeira, olhando para o céu, aflito. Pensei em puxar assunto, mas alguma coisa dentro de mim disse que ele queria estar só. Fiquei alguns minutos ali parado, tentando decifrá-lo: O que ele tem? No que deve estar pensando? Seus olhos transpassavam um ar de inquietude. De repente, ele se levanta e começa a andar. Foi embora sem me deixar resolver o enigma. Vou andando e mais à frente encontro um casal sentado na mesa de um restaurante ao ar livre. Discutiam intensamente sobre alguma coisa que não descobri e nunca irei saber do que se tratava. No ápice da discussão, o homem, que se encontrava no lado direito da mesa, levanta bravo, jogando a cadeira em que se encontrava ao chão e começa a falar aos berros com sua parceira. As poucas pessoas que estavam no restaurante se assustaram. Algumas fizeram menção de intervir na discussão. Mas de repente, uma cena surpreende todos que ali estavam: a garota desaba aos prantos e se levanta para ir embora. No momento em que ela faz isso, é notável a feição de arrependimento do rapaz, que num momento de impulso, sai correndo atrás dela e a abraça bem forte. Não entendia muito bem o que acontecia ali, mas ao ver aquela garota chorando incessantemente, com seu rosto encostado no ombro do rapaz, com suas lágrimas escorrendo dos olhos e molhando a blusa do parceiro e suas mãos agarrando forte a cintura dele, acho que naquela altura ele já tinha percebido que o que ela precisava era só de um abraço e de alguém que dissesse “Estou aqui e não vou embora!”. Confesso que também quis chorar, mas com um nó na garganta, engulo meu choro e continuo andando.
Virando a esquina, vou de encontro à uma padaria que costumo frequentar e peço ao padeiro uma xícara de café. Coloco dois cubos de açúcar, como sempre, e mexo bem com a colher. Bebendo aquele café, percebo que ele está mais amargo do que de costume. Não encontrei explicação plausível para essas sequências de acontecimentos. Pago meu café e continuo minha caminhada. Logo mais, vejo um tumulto de pessoas em frente à um prédio e me aproximo para ver o que acontece. Vou adentrando à multidão e chegando ao centro dela, eis que encontro um homem estirado ao chão. A multidão falava que ele, em tom de desespero, dizia não suportar mais viver e que o fardo que ele carregava já estava à sufocá-lo. As pessoas clamavam para ele não pular, porém isso não o salvou. Disseram que ele apenas fechou os olhos e se jogou. Caiu como as folhas secas do outono. Aquilo me apertou o coração. Se eu não tivesse parado para tomar aquele café, talvez ainda o teria vivo. E como uma pessoa que gosta de ajudar os outros, faria de tudo para que ele não partisse. Talvez se eu subisse aquele prédio, segurasse sua mão e dissesse “Estou aqui e não vou embora!”, como a garota que encontrei horas atrás esperava ouvir, ele ainda estaria aqui. Uma ambulância chegou para tentar salvá-lo. Sem sucesso! Mais um escapava de mim antes que eu pudesse resolver o enigma da sua mente. Naquele momento, já me sentia angustiado e só queria ir pra casa. Com os olhos lacrimejando, passei pela multidão e fui correndo.
Chegando lá, coloco a chave na porta e entro em casa. Me deparo com minha mulher sentada no sofá. No momento em que ela me viu, sorriu pra mim e disse: “Meu amor! Por onde você andava? Porque saiu sem me avisar?”. Me sento no sofá ao lado dela e logo ela tinha percebido que eu não estava nada bem. “O que aconteceu, amor?”. A única coisa que fiz foi inclinar lentamente minha cabeça, deitando-a no ombro dela e fechando os olhos. Ela, compreendendo o meu silêncio, pôs-se a deitar sua cabeça sobre a minha e a fechar seus olhos. Depois de sentir aquele conforto aquecendo meu coração, eu sabia que meu mundo ficaria colorido novamente. Já não desejava estar em lugar algum, senão ali... para sempre!