ANINHA DA PRAIA - capítulo 11

De início, ao saber que iríamos para um agrupamento subterrâneo, fiquei alarmado, imaginando um lugar escuro, úmido, que poderia me causar impressões claustrofóbicas, mas ao chegar à região, sob a qual situava-se tal lugar, me deparei com paisagem linda, além de construções incomuns, que pareciam oratórios, cercados de tapetes florais imensos. Nossos anfitriões nos receberam com muita simpatia, levando-nos por cavernas muito bem iluminadas, até um local fantástico, muito amplo, cheio de construções e gente transitando, arejado e bem claro. Era como uma mini cidade, e se não prestássemos muita atenção, nem notaríamos estar localizada nas profundezas da terra. Eu nem sabia pra onde olhar, de tanta novidade.

Embarcamos em veículo silencioso, que nos levou para longe do centro ativo daquela comunidade, por túneis bem cuidados e sinalizados, que se aprofundavam mais ainda no solo, até que percebemos estar abaixo do leito do mar, pois acima de nós havia imensos blocos de quartzo, que permitiam a visualização do fluxo da maré e movimentação de alguns animais marinhos. Ao cabo de poucos minutos, entrávamos numa espécie de centro operacional, onde trabalhavam várias pessoas comuns e alguns seres que julguei serem alienígenas. Estes eram de natureza híbrida, creio, pois apesar de seu corpo com porte humano, apresentavam certos caracteres que os assemelhavam com animais aquáticos. Não falavam, mas se comunicavam por sinais e emissões mentais, segundo Cirilo. Soube depois, que evitavam emitir sons, porque suas vocalizações se pareciam com as dos golfinhos, e tinham efeito perturbador, tanto para os ouvidos humanos, quanto para determinados aparelhos que ali eram utilizados.

Estava ainda absorto pela pasmaceira, quando me acomodaram num divã, com alguns sensores em pontos da cabeça. Uma senhora, de aparência serena, pediu que eu relaxasse, e quase imediatamente já perdi a noção de onde estava, pois só enxergava um fundo escuro, sem fim, de onde foram surgindo estrelas, depois outros astros, até que identifiquei a Terra. Era como se estivesse em pleno espaço sideral, observando nosso planeta, e vi uma série de acontecimentos gigantescos ocorrendo em sua superfície, de modo acelerado, mas com tal vivacidade, que chegava a me sentir em meio àquelas ocorrências catastróficas. De repente, um bólido, vindo do espaço, atinge o oceano e provoca mais desastres ainda. Enquanto olhava todo aquele alvoroço, recebia, mentalmente, uma avalanche de informações, que davam conta de inúmeros detalhes sobre os acontecimentos, suas causas e conseqüências. Minha cabeça começou a doer, senti tontura e enjôo, então desfaleci.

Acordei numa sala, absolutamente, branca, imaculada, recostado noutro divã, com um daqueles seres híbridos me olhando, com seus olhos de peixe. Percebendo minha insegurança momentânea, ele, ou melhor, ela me contatou, mentalmente, pedindo que descansasse, pois em seguida viriam me buscar. Ofereceu um líquido, que ao provar, verifiquei ser suco de maçã.

Cirilo e dois dos nossos anfitriões chegaram a seguir e esclareceram que meu mal estar se devera ao acúmulo de informações em tempo muito restrito. Sabiam que isso ocorreria, mas não havia outra opção, já que deveríamos voltar à superfície, imediatamente. Questionei o teor e objetivo da experiência, mas a veneranda senhora sentou-se à minha frente e falou:

- Querido Gabriel! Desde que aceitou, de bom grado, auxiliar seu sobrinho em seu afã, tão incomum e atemorizante, para seu jeito tímido, soubemos que poderíamos contar consigo, para as enormes tarefas que nos aguardam, neste momento de transição dolorosa, para nosso planeta. Aos poucos, seu cérebro absorverá, com clareza, a grande quantidade de informações que lhe foi passada, e enquanto repousava, nossa irmã de outras terras (apontou a mulher de aparência híbrida) promoveu algumas alterações em sua estrutura física, capacitando-o a ter mais força, poder respirar no meio aquático e volitar, como Cirilo.

- Credo! Então deixei de ser humano? Virei um mutante?

- Claro que não! Continua sendo o mesmo Gabriel de sempre, por dentro e por fora.

- E essas alterações?

- Só o ajudarão, nas missões de amparo aos necessitados, mas não serão notadas, no seu cotidiano entre os humanos, ou mesmo entre seus amigos e familiares. Confiamos que com tais melhoramentos, teremos em você um grande trabalhador, focado em amenizar dores e sofrimentos, ao longo das tribulações por que, em breve, passaremos. Sua simplicidade, sua dedicação e desapego às próprias necessidades, o fazem merecedor de nossa admiração.

Eles se foram e permaneci por mais algumas horas descansando naquele lugar.

Gradativamente, senti que mais e mais informações assomavam à minha mente, como se eu estivesse conectado a alguma fonte gigantesca de conhecimento. Nenhum mal estar me incomodou, durante o processo, mas não pude deixar de me sentir triste com diversos informes que davam conta das grandes transformações em andamento, que provocariam desespero, morte e muito sofrimento, em escala global. Era como se sentisse o peso do que sabia.

Quando Cirilo veio me chamar para voltarmos à superfície, percebeu em meu semblante a diferença causada pela absorção de tanta informação. Talvez eu nunca mais voltasse a ser alegre ou brincalhão como antes, tendo ciência do que vinha pela frente. No entanto, sabia que não poderia me deixar contaminar por sensações sombrias, já que teria de levar consolo para tantas pessoas, afetadas por desastres naturais ou problemas sociais.

Ele, sentindo que deveria me alegrar um pouco, elevou-se no ar e me chamou.

Olhei bem e fiquei sem saber o que fazer, mas lembrei do que a senhora falou.

De um jeito meio desengonçado, levantei o braço, tentando imitar a postura costumeira do superhomem, e pulei para cima. Estatelei-me no chão, sem conseguir voar.

Cirilo riu muito e disse que eu deveria me concentrar em ir até ele.

Repeti a cena, meio desconfiado, olhando fixamente para meu sobrinho, lá em cima.

Ao contrário da primeira tentativa, meu corpo se elevou, rapidamente, até onde ele se encontrava, e quando passamos a seguir, vollitando, lado a lado, ele comentou:

- Agora pode baixar o braço, que esse jeito de superhomem não combina com muito com sua figura.

Naquele momento me senti ridículo, fiz uma careta, mas logo relaxei e comecei a rir, no que ele me acompanhou, e prosseguimos, os dois tontos, voando e gargalhando ao léu.

(Em breves dias, o capítulo final desta saga. Aguardem!)

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 10/09/2015
Código do texto: T5377589
Classificação de conteúdo: seguro