A Lenda de Scarborough

Capítulo 4 - O Naúfrago

 
     Lhya precisou apoiar o jovem para que ele conseguisse ficar em pé. Ele ainda estava muito fraco para andar e a febre parecia estar voltando.
     -Desculpe-me perguntar – disse ele , enquanto saiam do abrigo – mas você é uma guerreira, para estar com este arco nas costas?
     - Oh, Não! - disse ela sorrindo - É uma longa história. Faz pouco tempo que estamos morando nessa região. Depois eu lhe conto. Acho que sua cabeça ainda está doendo, para ouvir isso.
Eles estavam entrando na trilha do bosque, quando viram cavalos, vindo a todo galope. Eram os homens da aldeia que vinham a procura de Lhya.

     -Não se preocupe- disse Lhya para o rapaz, quando este pareceu se assustar. –São amigos.
     -Onde você esteve? – perguntou Henry olhando para o desconhecido e em seguida Lhya. Sua mão já segurando na espada que sempre trazia na cintura, enquanto os outros formavam um círculo em torno de ambos.
     -Eu estou bem. –respondeu Lhya - A tempestade não permitiu que eu fosse embora para aldeia. Ontem, enquanto eu procurava uma ovelha que se perdeu do rebanho, encontrei esse moço desacordado na praia. Parece que ele é o único sobrevivente de um naufrágio. Eu o levei para o abrigo nas rochas, já que com a chuva não conseguiria chegar até em casa.
     Os homens ouviram atentos a sua explicação, mas continuavam encarando o desconhecido com desconfiança.
     -É verdade... - disse o rapaz, com a voz ainda fraca - Ela salvou a minha vida.
     -E quem é você? – quis saber Henry.
     -Me desculpe – respondeu o desconhecido - mas perdi a memória e não me lembro de nada.
     - Está bem. Graças a Deus vocês estão bem. Sou Henry pai de Lhya. Seja bem vindo à nossa simples aldeia. -falou o pai de Lhya, com a voz um pouco mais calorosa -Parece que você está precisando de cuidados. Vamos!
     - Obrigado!-Agradeceu o jovem gentilmente.

     O dia estava belo, céu azul, mas muito frio também. Henry acolheu o rapaz com o máximo de hospitalidade que a sua choupana podia oferecer. Sua esposa preparou um alimento e após fazer um chá com algumas ervas recomendou repouso ao jovem. Este não recusou. Sua cabeça ainda doía e ele mal conseguia ficar em pé sozinho. Parecia que o mundo girava. Além disso, havia aquela sensação de vazio, por mais que forçasse suas lembranças, não havia nada.
     A única coisa que conseguia acalmar um pouco seu espírito era a bela jovem que velava ao lado de sua cabeceira, colocando compressas em sua cabeça a fim de que a febre o deixasse. E foi olhando para aquele rosto que o moço adormeceu.
     Lhya deixou que ele descansasse e foi para fora, onde toda a aldeia estava reunida. A presença do desconhecido havia causado grande tumulto. Todos queriam levantar hipóteses sobre quem ele era.
     -Eu aposto que ele é um escravo – dizia Arthur – Aquelas roupas são estranhas. Nenhum nobre usaria aquilo.
     - Nós demos uma volta na praia –contou Ruan - e não encontramos mais ninguém. Vimos alguns destroços do navio, mas nada que pudesse nos informar de onde ele veio.
     -O jeito dele falar é diferente – afirmou Henry
-Agora me lembro – disse Lhya, entrando na conversa – As primeiras palavras dele eu não entendi, como se fossem de outra língua.

     -É, isto é um mistério, espero que ele se recorde quem é. E a ovelhinha você a encontrou, Lhya? – quis saber Athur.
-É verdade com essa história até me esqueci dela. Mas não a encontrei, deve ter caído em algum lugar.

     -Não, Não! –interveio Raquel, que chegava naquele momento - Nós a encontramos antes da tempestade. Ela estava junto com o rebanho do Frank. E estava mancado, venha ver. Mas nós já cuidamos dela.
     Agradecendo silenciosamente por sair daquela roda de discussões, Lhya acompanhou a amiga até o cercado onde a ovelhinha se encontrava. Raquel a conhecia muito bem para saber quando ela queria ficar em silêncio, então não fez perguntas.
     Lhya examinou a ovelha em silêncio e tomou-a no colo, enquanto passava remédio em suas feridas. Com certeza ela logo ficaria boa. Mas e quanto ao desconhecido que estava entregue aos devaneios dos sonhos... O que seria da vida dele?
Fran Macedo
Enviado por Fran Macedo em 07/08/2015
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T5338474
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