A Lenda de Scarborough  

Capítulo 3 - Resgate na Tempestade

 
     Enquanto os ex-patrões só respiravam maldades, os camponeses respiravam liberdade. Juntos eles construíram a aldeia que seria seu novo lar. Seis choupanas de palha para habitação e alguns cercados para guardar os animais durante a noite.
     Os homens acordavam bem cedo para conseguir bons peixes e depois vendê-los em Scarborough. As mulheres cuidavam do preparo da alimentação e da fiação das vestes, pois o outono já se fazia presente. Precisavam estar preparados para enfrentar as baixas temperaturas. Quanto aos mais jovens ficaram responsáveis por cuidar dos animais e levá-los para as pastagens. Nos momentos vagos eles praticavam um hobby que poderia salvar suas vidas, em caso de perigo – arco e flecha.

     Ao invés dos vestidos longos, Lhya adotou um visual mais despojado. Encurtou um pouco mais seus vestidos, usava botas e cabelos livremente soltos. Parecia então mais bonita do que antes. Fazia braceletes e adornos com materiais naturais que estavam em toda parte dos bosques e da beira mar.
     Ela estava feliz, pois amava a natureza: o verde dos bosques, o canto dos pássaros, as flores e os animais que pastoreava. Num fim de tarde, não tinha nada mais agradável do que ficar no alto da colina, avistando o sol se pôr, enquanto ouvia o barulho das ondas que vinham de encontro ao rochedo.
     Um mês se passou. Os guardas do xerife não haviam desistido das buscas, mas não tinham a mínima idéia de onde poderiam encontrar os fugitivos.
     A tarde já findava. O céu nublado e o mar agitado revelavam que uma tempestade estava próxima. Lhya pegou seu pequeno rebanho e o levou para casa. No entanto, quando já fechava a pequena porteira notou que uma de suas ovelhas não estava ali. Talvez estivesse perdida na colina e se descesse para o lado do mar poderia se machucar nas pedras. Com arco e flechas na mão partiu em busca da pequena ovelha.
     A tempestade estava cada vez mais próxima. O vento, trovões e relâmpagos estavam mais fortes e o céu escurecia rapidamente. Já estava desistindo de procurar quando viu na beira mar, as ondas atirarem pedaços de madeira e destroços de algo. Pelo que viu imaginou que fosse um navio.
     Cautelosamente se aproximou um pouco mais. Foi quando uma onda forte atirou quase que aos seus pés um jovem totalmente desacordado. Verificando melhor percebeu que ainda estava vivo. Mas a tempestade já estava começando. Não dava tempo de levá-lo para a aldeia.
Lhya arrastou o desconhecido para uma das grutas esculpidas nas rochas, que os amigos e ela haviam descoberto. Eles deixaram algumas provisões de lenha e alimentos e ela não teria problemas em passar a noite ali, caso necessário.

     Cuidou do desconhecido que acordou. Porém ele passou a noite com em delírios devido a febre que o acometera.
     A chuva não deu trégua. E era inútil sair com aquele tempo de seu abrigo. Os pais de Lhya deviam estar preocupados, mas não tinha como avisá-los. Já era madrugada quando conseguiu adormecer. O jovem agora dormia mais tranqüilo.
     Quando amanheceu a chuva já tinha passado. Lhya observou o desconhecido em seu sono. O semblante dele agora estava mais sereno. Sua pele era alva como as areias da beira mar e os seus cabelos loiros eram levemente encaracolados. Inesperadamente aqueles olhos azuis, da cor do céu se abriram e a fitaram com surpresa. Ele disse algo, mas ela não compreendeu.
     -Você está em Scarborough, Yorkshire, sul da Inglaterra. – disse ela.
     -Inglaterra?! -disse ele agora em Inglês -Eu não consigo me lembrar de nada. Como vim parar aqui?
     -Ontem ao anoitecer, teve uma forte tempestade. Por um acaso, eu estava na beira da praia. Creio que você estava em um navio que naufragou. As ondas te jogaram aqui. Como a chuva estava forte, não pude levá-lo para minha aldeia. Mas quem é você?
     -Isso eu também não me lembro.
     -Não se preocupe. Vou levá-lo para a casa de meus pais. Chamo-me Lhya. Será que você aguenta andar?
     -Sim, já estou melhor. - disse ele tentando se sentar - Creio que lhe devo á vida. Muito obrigado Lhya, por tudo que fez por mim. – Agradeceu com um belo sorriso.
     Embora estivesse com um completo desconhecido Lhya não tinha sentido medo. Mas, naquele momento ela percebeu, que era tarde demais. Seu coração corria perigo.
Fran Macedo
Enviado por Fran Macedo em 06/08/2015
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T5336880
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