O andarilho. O lobo do Norte.
O andarilho levou semanas até encontrá-la. Achou até que havia se perdido no caminho. Tudo que via era areia e mais areia. Só. Começou a desconfiar que estava no caminho certo quando, uma noite teve um sonho estranho. Nele o andarilho andava por um lago completamente congelado. Percebia a cada passo que o gelo não era tão denso, pois dava pequenos ruídos, lembrando-o que deveria agir com cautela. Um passo em falso e tudo iria se quebrar.
Nesse sonho surgia do nada uma criatura gigantesca, de uns dois metros ou mais. Do seu rosto saiam grandes presas e sua vestimenta mais se parecia a de um bárbaro da idade média. Portava um machado em sua mão e a cada passo o barulho do gelo rachando ficava mais alto. O andarilho mesmo com suas armas não conseguia feri-lo. Percebendo, ele começou a correr. Nessa hora o gelo começou a se quebrar com uma velocidade tremenda, e as rachaduras perseguiam o andarilho como o Cão persegue o gato. Ainda assim ele consegue escapar de cair na agua gelada. Mas perde de vista a criatura. Aliviado, senta-se para descansar. Nesse momento vê que está cercado por outras criaturas iguais aquela. O medo da morte o fez despertar. Mas quem eram aquelas criaturas afinal? Não tinha ideia, mas aquilo só podia ser um sinal de que estava no caminho certo.
Caminhou mais um pouco antes do pôr do sol, foi quando viu aquela anomalia. Em suas costas não havia nada além de areia. Só um deserto desgastante pelo qual levou semanas peregrinando. Mas a sua frente havia algo inacreditável. Era como se fosse um grande cubo invisível, ou algo assim. Algo gigantesco, que ia até o céu, e dentro desse cubo estava nevando. Ele não pôde acreditar. Andou mais um pouco até estar bem próximo. Resolveu testar. Pôs a mão dentro e sentiu o frio, o ar gelado. Ainda conseguiu pegar um pouco da neve que caia lá dentro. Tirou a mão e trouxe consigo o gelo. Era real, mas era como se fosse outra realidade. Lembrou-se do que o oráculo lhe tinha dito: “Cada um cria o sonho que deseja”. Então fazia sentido. Ou deveria fazer.
A entrada era uma única estrada que parecia seguir muito longe. Deu mais um passo e entrou de vez. Estava agora em outra realidade. Estava na cidade que sempre neva. Mas aquilo não parecia uma cidade. Só tinha mato naquele lugar. E a estrada. Resolveu então encara-la. Fechou o sobretudo que usava, para aguentar o frio e começou a andar. Levou quase o dia todo para chegar até o primeiro sinal de vida. Que por sinal, estava morto. Um homem, com vestimentas que lembravam um cavaleiro medieval, estava jogado no chão. Moscas estavam por todo o lado e o cheiro era insuportável. O andarilho agachou-se, e viu que ao lado do corpo havia uma adaga, que ele recolheu. Neste momento ouviu barulho de cavalos, e logo pensou em se esconder. Mesmo estando muito próximos sua agilidade natural se encarregaria de tudo e ele não precisaria se preocupar. Ao se levantar sentiu o frio sobre o corpo pesa-lo, e ele mal conseguiu se mexer. Havia perdido sua habilidade natural de ser rápido. Assim que avistou as sombras dos cavalos pensou ainda em sacar seu revolver, mas o frio, novamente o deixou debilitado. Aquele ar gélido parecia estar o bloqueando. Agiu rápido e escondeu seu revolver no corpo do homem que estava morto. Foi só o que teve tempo de fazer, pois assim que se virou, viu o grupo de cavaleiros que vinham em sua direção. Ele simplesmente não soube definir o que eram aquelas coisas, mas lembrou-se do sonho que teve, eles eram iguais.