O andarilho. Parte 1.

“O andarilho caminha solitário. E traz com sigo a esperança de um mundo novo.”

- O livro dos Jack.

Já era a terceira cidade em uma semana. A terceira, e não havia encontrado viva alma sequer.

Resolveu prosseguir até a próxima. Não iria desistir. Tem que haver alguém vivo.

Era o que mais pensava, porém já eram três cidades, e nada. Sequer sinal de que alguém vivera ali nos últimos anos.

Abriu a velha bolsa, e tirou de lá um mapa. Escolheu seu novo destino:

FORTH SMITH.

Voltou a caminhar, sobre o sol escaldante. Consigo trazia apenas, um chapéu de vaqueiro, uma bolsa velha, que continha uma relógio de pulso já bem desgastado, alguma comida enlatada, que achou vasculhando os lugares por onde passou, um revolver, ainda em bom estado, e com alguma munição e uma bússola que havia encontrado na primeira cidade onde passou. A primeira cidade, a cidade onde nasceu de novo. Texarkana.

O lugar onde, em uma noite comum deitou-se, e ao acordar tudo havia mudado.

Ainda sonhava com aquele dia, quase todas as noites. Caminhando pelas estradas vazias, os carros já pareciam a muito tempo abandonados, o vento trazia a areia para dentro das casas, o mato tomou por completo os prédios mais altos do lugar. Não parecia nem um pouco com a cidade que tinha visto na noite anterior.

Passou em frente a uma banca de jornal, e retirou dali uma única folha que havia encontrado. A data era de uns seis anos à frente do que acreditava estar. O que o fez crer que havia dormido por pelo menos seis anos. A folha era na verdade a capa de um jornal, que estampava a seguinte notícia:

“O clarão que veio dos céus. A morte branca veio na noite escura”

O título da notícia era a única coisa que se podia ler, o que deixava ele ainda mais intrigado, afinal de contas, o que aconteceu naquela noite?

Esse sonho, que era na verdade a lembrança do seu primeiro dia no novo mundo, dava a impressão a ele de que já fazia meses desde que havia acordado. E poderia mesmo, pois como se deslocava a pé, e não tinha controle sobre datas, então, não sabia ao certo quanto tempo ele já estava procurando por sobreviventes. Animais ele já havia encontrado, alguns pequenos, algumas aves que avistou voarem de um canto do céu para outro, mas seres humanos, nenhum.

Nenhuma pessoa, ninguém, em cidade alguma. Mas aquela cidade, a próxima em que passaria, traria finalmente a ele o alívio que tanto esperava, e ao mesmo tempo, ele iria sentir saudades de estar sozinho.

Logo que chegou a tal Forth Smith, ele se deparou com um portão, imenso, feio de madeira.

Logo na entrada uma placa, “Caia fora!”. No mesmo instante que viu o aviso, abriu o botão de trava do coldre. A esperança de encontrar alguém era pouca, mas mesmo assim, ficaria em alerta. E se esse alguém não quisesse ser encontrado?

Abriu o portão com certa facilidade, e ao entrar deu de cara com dois homens. Ali parados. Os homens portavam duas espingardas, meio enferrujadas, mas pareciam funcionais. Imediatamente pediram que levantasse as mãos para o alto. Ele assim o fez. Os homens não pareciam boas pessoas, e ele assim descobriria em breve que tinha total razão nessa dedução. Os homens tomaram tudo o que tinha, inclusive o seu revolver, e logo que ele estava sem nada começaram a agredi-lo, sem piedade alguma.

-Você não deveria ter vindo aqui andarilho, não mesmo, não é Jack?

-Isso mesmo Jack, não mesmo ha ha!

Dois Jack. Essa era boa, teve a sorte de encontrar logo de cara.

Mas o andarilho era mais esperto, que os dois Jack, e ainda no chão, apontando para a bolsa disse:

- Esperem, um minuto. Vocês esqueceram de olhar o bolso. O bolso de dentro.

Imediatamente um olhou para o outro:

-Você não vasculhou direito Jack?

- Não, você disse que tinha olhado por dentro Jack!

Em meio a discussão idiota dos dois Jack, o andarilho aproveitou-se e pegou um Jack pelo pescoço, o outro Jack sacou a espingarda e atirou, e o andarilho fez Jack de escudo.

Assim que deu um tiro um Jack caiu morto no chão, e o outro apressou-se para recarregar a velha espingarda. Mas demorou tempo demais, e andarilho recuperou seu revolver dando um tiro certeiro na têmpora do último Jack que estava vivo.

Ouviu imediatamente barulho de cavalos vindo em sua direção. Tinha que ser rápido. E foi, escondeu-se em uma casa que parecia abandonada, para ver quem eram aqueles que estavam por chegar.

Os homens mais pareciam ter saído de filmes. Não de um filme, mas de vários. Eram um misto de caubóis com cavaleiros medievais. Alguns portavam chapéus e armas e os outros portavam lanças e algumas peças de armaduras feitas de couro e metal. Um deles, que parecia ser o líder daquele grupo, agachou-se próximo ao corpo dos dois Jack e começou a falar:

- Droga, algum forasteiro resolveu adentrar ao nosso grupo. Deve estar interessado na maleta. Sem dúvida! E pelo jeito aqueles dois idiotas devem ter se descuidado. Típico desses dois. Não vai ser grande perda, mas é uma pena, não é Jack?

- Sim Jack, mas é melhor nós irmos logo contar para o grande Jack, ele precisa saber.

- Concordo, Jack, pegue o que poder dos dois e em seguida enterre os pobres coitados, em quanto isso eu e o Jack voltaremos para contar a novidade ao grande Jack.

Jack, Jack, Jack, Jack....

Todos ali se chamavam Jack. Todos naquele lugar. E quem era esse tal de Grande Jack. E de que maleta aquele Jack estava falando? Eram muitas perguntas, e ele precisaria de respostas. Ou poderia simplesmente aproveitar aquele momento e ir embora, procurar vida em outro lugar. Não, ele teria que descobrir do que se tratava. Era uma grande chance de conseguir as respostas para suas perguntas.

Continua...