GERAÇÕES - PARTE I - CAP. VI

GERAÇÕES

PARTE I

CAPÍTULO VI

Alguns anos o tempo levou para o infinito. Peter Antunes completou 18 anos. Prosseguia em namoro firme com Priscila e Juan, também 18, igualmente continuava a namorar Vanusa. Os dois casais se gostavam e se afinaram bastante. Paralelamente, Peter e Juan também se gosta-

vam levavam muito a sério o relacionamento que nascera entre eles no primeiro dia em que foram pescar no Lago da Imensidão. Mantinham a sete chaves a intimidade que existia entre si, amavam-se verdadeiramente.

Certo dia, à noite, um diálogo muito sério envolveu Beto e Peter, eles dialogavam no alpendre da residência.

- Meu filho, preciso de que você se decida sobre o que pretende cursar... Concluiu o ensino médio e ainda não tem uma estrada em seu futuro... Uma hora diz que vai estudar Medicina, outra informa que vai cursar Administração a fim de ajudar-me na gerência do patrimônio. É neces-

sário que se defina, Peter, você tem 18 anos e o tempo...ah, este aí, voa... ´Aconselhava Beto.

Peter coçou os beiços. Na verdade, nunca gostara de estudar... o estudo era um incômodo em seus dias e seu pai bem que sabia, nunca o enganara.

- Você sabe, pai, nunca fui amante dos estudos... Dão-me náuseas... Você e minha mãe é que sempre me obrigam... Positivamente não tenho nem ideia do que quero seguir, qualquer coisa serve...

- Aí é que você se engana... Você quer que eu faça com você o que fizeram com o Filho Pró- digo? É isso? Caso seja, tire o cavalinho da chuva, não o farei. Se tiver de dar o que você tem direito por herança, eu posso até fazê-lo, porém com a condição de que não terá direito a mais

nada, quiçá jogue no lixo o que vier a receber. – Expôs Beto.

- Sua esperança é Otávio, não é? Vanusa também não liga para estudar... Só quer saber de namorar e mais nada...

- Minha esperança sempre foi você, todavia você me decepciona. Como gostaria de fazer com você o que seu avô fez comigo! aos 18 anos eu já ocupava o cargo de Presidente da Fundação,

não obstante, pelo que vejo, quem virá a ocupar tal posição será mesmo Otávio, ele faz jus, é estudioso e responsável. O que posso esperar de você? Vamos, me diga, o que posso esperar de você?

Peter sentiu forte dor no peito, mas não era dor física, era uma dor de humilhação... Sentia-se profundamente humilhado perante Beto e de seus olhos pungentes lágrimas lavaram seu rosto.

- Perdão, meu pai, por seu primogênito ser sua vergonha... perdão!

E abandonou o recinto. Trancou-se em seus aposentos e, plenamente fora de controle, buscou o canivete que guardava na gaveta do criado-mudo e o enterrou no coração...

A notícia do suicídio de Peter Antunes abalou a cidade. Em todas as rodas de conversas era o assunto mais comentado. Ninguém de sã consciência conseguia compreender por que um rapaz

tão jovem, elegante, bonito ( era considerado o mais belo da cidade ) acabara assim tão drasticamente com seus dias. Para Beto Antunes, então, o fato consumou-se por sua culpa. Não se perdoava por tê-lo colocado diante da parede àquela noite... Em sua cabeça, fora o mentor intelectual da tragédia...

Não suportou mais viver naquela casa. Vendeu-a e comprou outra mansão num bairro mais distante. Eugênia lutava para fazê-lo entender que culpa alguma ele tinha, que qualquer pai que deseja o melhor para um filho, teria agido da mesma forma. Aos poucos ele foi melhor compre-

endendo o ocorrido e, finalmente, seus dias voltaram a brilhar, porém, depois de muito tempo.

O golpe foi bastante forte para Juan. Amava Peter e entendeu que parte de si se foi com o desaparecimento do amante. Levou adiante seu relacionamento com Vanusa e, três anos após, realizava-se o consórcio matrimonial. Beto Antunes não quis fazer do casamento um grande acontecimento e o mesmo se houve sem pompas e da maneira mais simples possível. Por seu turno, Priscila foi a que mais sofreu. Verdadeiramente o amava e semanas subsequentes iniciou-se a demonstrar sérios momentos de desequilíbrio mental e seus dias passaram a ser a rotina esdrúxula de um sanatório.

Otávio Antunes, o caçula de Beto, conseguiu concluir o curso de Administração de Empresas e foi empossado pelo pai na Vice-Presidência da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes. Como

Beto andava brecando as rédeas em relação à aquisição de novas conquistas, Otávio mostrou que puxara ao genitor e era um exímio empreendedor. Com argumentos positivos e bem raciocinados, convenceu a Beto de que a Fundação estava carente de novos alicerces e o levou a adquirir a maior empresa de ônibus da capital da cidade de W, bem como investiu na construção de novos “shoppings” que se tornaram, pela audácia, os maiores centros de compras da América

Latina.

Otávio gozava o esplendor dos seus 20 anos. Era pulso firme,

determinado, não gostava de muito de sonhar, encarava a realidade com os pés no chão e nada fazia se uma ponta de desconfiança atrelasse seus propósitos. Conheceu Virgínia numa festa íntima em casa de um dos diretores da Fundação e apaixonou-se pela jovem à primeira vista. Virgínia tinha sua idade e era tão audaciosa quanto ele. Em menos de um ano estavam casados e se afinavam nos mínimos detalhes.

Os anos seguiam... Foi com tristeza que Beto Antunes recebeu a notícia do falecimento de Raimundo Thiné, vitimado por um câncer próstata e que o fizera sofrer barbaridade durante alguns anos. Este desaparecimento fez com que Beto atinasse para si mesmo. Considerava-se velho e resolveu descansar. Aposentou-se e Otávio assumiu sua cadeira de Presidente. Otávio inovou, era corajoso e não media esforços para pôr em prática o que decidia fazer. Em poucos anos a Fundação sob sua gerência administrativa, se já era rica e possuidora de incontáveis bens, triplicava-se e adentrou no mercado financeiro, sendo agora possuidora do controle acionário de importante organização bancária internacional. Sua batuta era sempre esta: “Crescer sempre, estacionar nunca.” Sua gestão à frente da Fundação era exemplo não só para seu país, mas para o mundo. Todos conheciam seu desprendimento e sua competência e, por vários anos seguidos, chegou a ser considerado o maior executivo do ano, enchendo sua sala de troféus nacionais e internacionais.

Beto adoeceu seriamente... Dum simples resfriado que sofreu, viu-se vítima de perigosa bronco-pneumonia e a doença o levou à morte. Tristes foram os momentos de velório e seu último desejo atendido pela família: seu corpo foi cremado. Bastantes homenagens ocorreram em honra de sua memória, fora muito querido por amigos, familiares e funcionários.

Otávio dava sequência ao trabalho. Vivia para trabalhar. Trabalhar era o que mais gostava de fazer, tal fato acarretou no primeiro

desentendimento que teve com Virgínia., depois de anos

de convivência em comum.

- Você nem lembra que existo, não é Otávio? – Virginia se queixou.

- Não diga isso. Sabe que a amo e do mesmo amor de quando a vi pela primeira vez. – Defendia-se.

- Pois não parece. Sabe quanto tempo faz que não fazemos amor? Sabe? – Virginia cobrava.

- Realmente não sei. Perdão, ando com a cabeça voltada para os negócios... e como você não é um negócio...

Pronto. Reconquistou a mulher e depois de muitos dias fizeram amor. Foi desta vez que, finalmente, conseguiu engravidar a esposa. Recebeu com alegria a notícia e torcia para que o rebento fosse homem a fim de, um dia, sentisse o que era sentar em sua cadeira de Presidente. Isto se confirmou e, nove meses depois, nascia Silas Antunes.

Silas crescia cheio de mimos e cuidados. Era uma criança normal, mas exageradamente cuidada pelos genitores. Qualquer espirro, corriam para o médico como se o menino estivesse a sofrer de algum mal incurável ou contagioso.

Meses após a chegada de Silas, houve o desaparecimento de Eugênia, vitimada por um colapso cardíaco. Assim estavam enterrados e cremado os primeiros indivíduos que compuseram a fase inicial da dinastia dos Antunes.

FIM DA PARTE I

AMANHÃ O INÍCIO DA PARTE II - CAP. I