GERAÇÕES - PARTE I - CAP.I
INICIAMOS A PARTIR DE AGORA MAIS UMA NOVELA - GERAÇÕES -
SERÁ POSTADA EM CAPÍTULOS DIÁRIOS - GERAÇÕES É UM ROMANCE QUE ESCREVI E QUE TRANSFORMO EM TRAMA NOVELESCA. ESPERO QUE GOSTEM. HÁ MUITA AÇÃO, HÁ DE TUDO.
BOA LEITURA!
PARTE 1
“...e tudo começou do nada...”
I
Ventos sopravam forte. Peças estendidas nas janelas balouçavam ao sabor da ventania. Pessoas que caminhavam pelas ruas, vez por outra, necessitavam de segurar-se em algum apoio, pois, poderiam perder o equilíbrio e estatelarem-se no chão seco. Plenamente indiferentes àquele cenário, os meninos corriam afoitos pelas campinas... As meninas davam dengos às suas bonecas e outras, um pouco mais velhas, sustentavam entre os dedos seus vestidos amarelados pelo tem-po. O campo de peladas fervilhava de garotos que brigavam entre si numa acirrada disputa pela bola quase murcha, que rodava de pé em pé. Apesar dos açoites que se escutavam, o calor era escaldante. Veículos enferrujados levantavam a poeira que penetrava os casebres de taipa que
desenhavam o perfil da comunidade. Alguns cachorros doentes
desfilavam tranquilos, outros, pomposamente esticados nas soleiras de suas casas, lambiam seus pelos, ou dormiam despreocupados. Esgotos corriam a céu aberto e um odor nauseabundo invadia os olfatos já acostumados àquela podridão. Esta a fotografia do Vale das Cobras, paupérrima vila de moradores da cidade K. O local parecia esquecido pelas autoridades: não havia escolas, nem delegacia de polícia, nem supermercados... Não havia nada! Somente uma praça mal cuidada, suja e uma igreja evangélica adornavam este ambiente nefasto. Havia carência de energia e água. Nos quintais de algumas propriedades ainda se podia ver o uso da cacimba, mas o líquido ali existente era
salobro e meio escuro. Foi exatamente nesta tarde enferma que Alzira gritava e saiu às pressas à procura do filho.
- Beto! Beto! Beto!
E se enfurecia, porque gritava que gritava e nada do menino aparecer. Prosseguia:
- Beto! Beto! Beto!
E se lastimava: “Onde se meteu esta criatura, meu Deus?” Percorreu a vila inteira e foi encontrá-lo no único lugar onde não poderia deixar de estar: no campo de peladas, a correr doidamente atrás da bola.
- Beto! Venha! Tenho algo para dizer a você, menino sapeca. Venha, menino!
E a criança largou os amigos e a redonda e foi ao encontro da mãe:
- O que a senhora quer? Não vê que estou treinando para meu futuro? Que impertinência! – Dizia Beto.
- Não fale assim comigo, seu moleque...Quebro sua cara aqui mesmo, diante de todos. – Ameaçava Alzira. – Venha, temos algo importante para contar a você e seu pai o espera, impaciente.
E lá se foram ambos, cada qual resmungando para um lado.
Chegaram em casa. Entraram. Dagoberto estava com uma dose de pinga à mão e os dentes podres à mostra, num sorriso pouco comum para a população daquele lugar.
- Quer falar comigo, pai? – Foi logo inquirindo Beto.
- Quero. Sente-se e ouça com atenção o que vou dizer. Não me interrompa. Finalmente você vai poder realizar todos os seus sonhos. Vamos sair deste lugar nojento e viver como gente grande e importante...
- O senhor conseguiu um bom emprego? Foi isso?
- Que menino teimoso! – queixou-se Dagoberto – eu disse para você não
me interromper. Não consegui emprego algum, pelo contrário, eu que darei trabalho aos outros. Deus foi muito misericordioso, Deus fez de mim o único acertador da Loteria, Beto... estamos ricos, meu filho!
Os olhos de Beto mal podiam crer naquilo que eu pai estava dizendo. Será que não era efeito da cachaça?
- Pai, faz tempo que está bebendo?
- Por que? Pensa que estou delirando?
Dagoberto pegou o pedaço de jornal que havia em um dos seus bolsos e do outro retirou o recibo da casa lotérica.
- Está aqui. Confira você mesmo. Confira!
E Beto conferiu o resultado. Fez em seguida algo que nunca fazia...só em festas de fim de ano...
Deu um forte abraço em seu genitor e o derrubou no velho sofá.
- Pai... pelo amor de Deus! Nós estamos ricos, ricos, ricos! – Repetia que repetia e as lágrimas desciam pelo rosto. – Já sabe de quanto é o prêmio?
- Sei. Oitenta e cinco milhões de reais... Oitenta e cinco milhões... Falava e chorava abraçado ao filho.
- Venha, Alzira, fazer parte deste aconchego. – Dagoberto chamava pela esposa.
Dagoberto e Alzira eram casados há 13 anos e sempre moraram no Vale das Cobras. Não tinham outros filhos, apenas Roberto, garoto de 12 anos. Roberto era baixinho, não chegava a ter 1,60cm, era o máximo que poderia ter. Moreno claro, cabelos pretos e lisos, olhos também pre-
tos. Possuía um nariz afilado e tinha as orelhas pequenas. Sua boca era meio grande e seus lábios bastante carnudos. Sua pele era lisa e macia, isenta de pelos, somente os tinha e em pouca quantidade na região púbica. Estava em plena puberdade.
- Venha, Beto, tomar banho, nós vamos sair. – Ordenou Alzira.
- Quantas vezes já lhe disse que não precisa mais de dar banho em mim? Sou um rapazinho, por favor, respeite minha intimidade. – Reclamou Beto.
- Você está vendo isto, Dagoberto? – Frisou Alzira. – Já quer botar as asas de fora, este moleque.
- Alzira, venha até aqui. – Pediu Dagoberto. – Já conversamos sobre isto. Deixe o menino tomar o banho dele sozinho... É como ele diz, está ficando um rapazinho, já tem até pentelho...
E Alzira saiu dali. Ficava aborrecida com estas coisas. Para ela, Beto ainda era um bebê e necessitava, sim, dos cuidados de mãe.
Todos tomaram banho e se vestiram. Fecharam a casa e saíram. Foram à Caixa, os três, e Dagoberto identificou-se como único acertador e foi contemplado com o recebimento do prêmio.
AMANHÃ O CAPÍTULO II DA I PARTE