Cidade Maravilhosa- Terceiro capítulo

CIDADE MARAVILHOSA

TERCEIRO CAPÍTULO

A moça veste a saia colorida e se junta com o grupo de mulheres. Flavinha de longe ri da amiga e sabe que ali a moça é feliz. Os tambores batem em um ritmo ensurdecedor, Clarice está tomada de felicidade por estar perto de gente simples, gente trabalhadora, que não se prende ao dinheiro ou à vaidade. Na outra ponta da roda um rapaz observa fixamente Clarice, a moça após perceber que está sendo vista por aquele homem bonito, começa a se insinuar e balançar os quadris. As palmas e a cantoria correm pela noite enluarada de São Luiz. Quando termina a roda de tambor, os ritmistas agradecem a participação de Clarice e a jovem promete participar outras vezes.

Flavinha: Amiga!!!

Você fez sucesso na roda de crioula.

Clarice: Flavinha, você sabe que eu amo estar no meio de gente simples e experimentar o que à vida tem de melhor!

Flavinha: A senhorita gosta é de causar, isso sim!!!

Hahahaha!!!!

Renato: Com licença moças.

Só de ouvir aquela voz misteriosa e ao mesmo tempo suave o coração de Clarice dispara. A jovem se vira lentamente e depara-se com o rosto de um belo rapaz, aquele que lhe observava de longe no instante que dançava ao som do tambor.

Flavinha: Olá! Pode falar moço.

Renato: É que sou novo na cidade e queria saber onde fica a República dos Girassóis!

Clarice: Deixa que eu respondo Flavinha.

A República dos Girassóis fica perto do forte de São Luiz.

Você é um estudante?

Renato: Sou sim!

Faço arquitetura na Universidade Federal.

Flavinha: Olha que legal Lice!

Ele estuda na mesma universidade que agente!!!

Clarice: Nós duas fazemos veterinária lá, mas não é bem o que eu quero ter de profissão.

Renato: Ah não? Deseja então ser uma alpinista e alcançar o monte Everest!?

Clarice: Hahahaha!!!

Não seu bobo, na verdade tenho o sonho de ser atriz.

Flavinha: Bom o papo está muito bom, mas preciso ir embora... Você vai ficar Clarice?

Clarice: Vou sim gorducha! Adoro ver o sol nascer nas areias da praia.

Flavinha: IIH!!!

Já vi que estou sobrando.

Hahahaha!!!

Amiga não esquece que temos um seminário e que lhe envio os slides hoje!

Clarice: Está bem meu anjo, lhe agradeço por tudo que fez hoje. Você é uma verdadeira guarda costas!

Flavinha: Eu que o diga né maluca!

Beijos de luz e Juízo!

As amigas se abraçam e Flavinha sobe em sua moto, disparando em direção à rua que dá acesso para a praia. Clarice fica e continua conversando com Renato, a moça descobre que tem tantas afinidades com o rapaz que até parece mentira. O sol nasce de vagar e dá o ar de sua graça nas ondas do mar nordestino.

Clarice: De onde você veio Renato?

Renato: Vim de muito longe pequena, meus pais morreram cedo e sempre tive que me sustentar nesse mundão.

Clarice: Nossa, é sério!?

Deve ser difícil ficar órfão tão cedo. Deveria sentir muito!

Renato: E como minha linda.

O mundo é muito cruel e me sinto sozinho, às vezes quero alguém para cuidar de mim, sabe.

Clarice: Você não tem namorada?

Renato: Por sempre estar pelas estradas, não ter lugar fixo direito, nunca tive oportunidade de cultivar uma amizade ou namorar sério alguém.

Agora pretendo me fixar em São Luiz e quem sabe encontrar um grande amor.

Clarice desvia o olhar e Renato percebe que aos poucos está conquistando à confiança da garota. Pouco a pouco a jovem cai no seu jogo e acredita em suas boas intenções. Mas que intenções são essas?

Na mansão dos Cavalcanti, Raquel acorda por Iracema lhe chamando. A empregada abre as cortinas e isso irrita à perua.

Raquel: Fecha essas cortinas!

Hoje quero ficar hibernando igual uma ursa!!!

Iracema: Senhora, ficar hibernando não vai fazer os problemas lá fora desaparecerem!

Raquel: Problemas? Meu Deus então como era previsto, o escândalo realmente saiu nos jornais.

Iracema: O pior não é isso senhora, o pior que foi na primeira capa!

Raquel: Eu devo ter salgado o vinho da Santa Ceia!

Só pode!!!

Iracema: Vai descer, tomar o seu café que hoje o dia promete ser tenso.

A perua coloca o seu hobbie branco e se olha no espelho. Passa o seu brilho labial e desce as escadas da mansão como uma verdadeira rainha. Quando Raquel se senta à mesa e coloca a xícara de café na boca, logo cospe ao ver a notícia da “Coluna Celebridade”.

FILHA DO BADALADO DR. JORGE CAVALCANTI, APARECE EM SUA FESTA DE PREMIAÇÃO. COMO VEIO AO MUNDO!

Nesse instante Clarice molhada, por ter se banhado no mar, entra pela porta da frente e Raquel lhe olha de um jeito fulminante.

Raquel: Clarice!!!

Volta aqui sua garota mimada!

Você viu o que saiu nos jornais hoje?

Clarice: What?

A bolsa caiu? Houve mais um tsunami na Indonésia?

Raquel: Você é muito cínica garota!

É claro que você não deve estar dando à mínima, mas quero que saiba... saiu na primeira capa o escândalo de ontem à noite!

Clarice: Olha aqui mãe, eu estou exausta e só quero a minha cama agora.

Tenha um bom dia dona Raquel!

Raquel: Me deseja um bom dia?

Bom dia?

Você acaba com a festa do seu pai e vai dormir como não estivesse acontecendo nada?

Clarice: E não está acontecendo nada.

O mundo continua a girar e o poderoso médico Jorge Cavalcanti, permanece no trono dele intacto.

Só a senhora que está fazendo tempestade!

Raquel: Olha aqui Clarice, já estou cansada de ficar encobrindo as suas maluquices.

Daqui pra frente terá que se ver com o seu pai!

Clarice: Falando nele, onde será que esta?

Deveria estar preocupada com isso, não com uma simples capa de jornal!

Clarice vira as costas para Raquel e lhe deixa logo uma intriga pela manhã. A perua então fica com a pulga atrás da orelha e caminha até a piscina. Raquel não sabe o que fazer, se dedica tanto para que saia sempre tudo perfeito nessa família e ao mesmo tempo, parece tudo estar sempre fora do seu alcance. A mulher fica com a cabeça a mil e de longe vê Jorge Cavalcanti saindo da casa da piscina.

Raquel: Jorge!

O médico ouve a voz da mulher e faz uma cara de pouca animação.

Jorge: Raquel, se for falar da noticia que saiu no jornal nem vem!

Raquel: Calma meu amor, eu vim saber se você está bem.

Dormiu na casa da piscina por quê?

Jorge: Raquel estou com a cabeça estourando e com pouca paciência para interrogatórios.

A minha agenda está lotada e preciso ir para o consultório.

Raquel: Credo Jorge, também não precisa ser grosso! Bom, o café já está na mesa se quiser pode falar para Iracema preparar uns ovos para você.

Jorge: Não precisa, vou comer na clínica. Bom dia pra você.

O médico frio deixa à mulher mais uma vez falando sozinha, Raquel sente que o seu casamento está descendo descarga à baixo e não sabe o que fazer.

Clarice observa o movimento no jardim da janela de seu quarto e vê a mãe triste entrando para dentro da mansão. Nesse instante a moça observa a secretária Mônica saindo de trás de uma árvore. Clarice fica nervosa e aperta as mãos com força. Desce então as escadas do hall e vai em direção à sala principal, onde dá de cara com Jorge Cavalcanti. Os olhares entre os dois são fulminantes, então a jovem resolve provocar o patriarca.

Clarice: Como foi a sua noite meu pai!?

Jorge: É muita cara de pau, me perguntar como foi a minha noite depois daquela balburdia que você transformou a minha festa!!!

Raquel vendo que o terremoto iria se armar no meio da sua sala, foi tentar acalmar os ânimos.

Raquel: Vamos conversar meus amores.

Jorge: Eu não tenho mais nada para falar com essa fedelha!

Clarice: Não sei o porque está tão nervoso, depois de ter passado à noite fora de casa!

Raquel: Seu pai estava estressado e foi dormir na casa da piscina.

Clarice: Estressado?

Pelo que eu sei, quem dorme acompanhado não acorda nervoso, mas sim com um sorriso no rosto.

Jorge: O que você insinua!?

Diga logo!!!

A empregada Iracema prevendo a confusão corre até o jardim e vê a sua sobrinha Mônica se encaminhando em direção ao portão da mansão. Alcança a moça e lhe puxa pelo braço.

Iracema: O que ainda aqui?

Perdeu o juízo, vai colocar tudo a perder.

Mônica: Quando o assunto se trata do doutor Jorge, perco todo o juízo e fico puro instinto selvagem!

Hahahaha!!!

Iracema: Pois pegue o seu instinto selvagem e suma logo daqui!

A barraqueira da Clarice pelo visto lhe viu saindo da casa da piscina e está despejando tudo lá na sala.

Mônica: Aé!? Despejando tudo!

Então vou lá colocar em pratos limpos.

Iracema: Para de graça moleca, vai jogar o nosso plano pro alto!?

Vai embora que daqui à pouco Raquel vai sair em sua procura.

Mônica: Ta bom tia! Eu vou...

Mas a senhora pode anotar, um dia serei dona de tudo isso aqui!!!

Hahahaha!!! O reinado da perua está chegando ao fim.

Iracema: Deus te ouça minha filha!

Agora vai embora praga!

Mônica corre e consegue sair da mansão antes que lhe vejam, enquanto na sala de estar dos Cavalcanti... Só Raios e trovões.

Na sala de estar da mansão o clima está tenso, pai e filha se confrontam em uma guerra, só pode se perceber a pobre Raquel no meio do furacão.

Clarice: O senhor está se fazendo de coitado, mas nós dois sabemos que se divertiu a noite toda com a sua secretária!

Jorge: Além de vandalismo, agora começa a mentir?

O que quer com tudo isso?

Acabar com a nossa família?

Clarice: Não sou eu que estou acabando com tudo, mas o senhor.

Só pensa no próprio umbigo, está pouco se importando para nós duas!

Raquel: Clarice para de inventar histórias.

Clarice: Mamãe acabei de ver a Mônica saindo da casa da piscina!

E o que pode se deduzir?

Que os dois passaram à noite juntos!

Jorge: Você merece uma surra garota!!!

O médico furioso com o comentária da jovem ameaça bater na filha, mas Raquel consegue pegar o braço do homem no ar.

Raquel: Por favor não bata nela!

É nossa filha e está passando por sérios problemas!!!

Clarice: Agora eu fui diagnosticada com algum transtorno?

Sou maluca?

Jorge: É uma louca varrida!

Clarice: Se for pra viver de mentiras, então sou maluca mesmo!

Jorge: Quer saber de uma coisa?

Eu simplismente cansei dos seus chiliques, cansei das suas acusações.

Eu quero que a senhorita arrume as suas coisas e... rua!!!

Raquel olha para o marido com uma cara de indignação, não poderia imaginar que toda aquela história chegasse à esse ponto. Mandar a sua filha para fora de casa é demais para uma mãe, por mais que seja descuidada, Raquel ainda é mãe de Clarice. Então a mulher resolve se humilhar aos pés do poderoso médico e pedir que ele não expulse Clarice da mansão.

Raquel: Meu marido por favor, não faça isso!

Clarice é nossa filha!!!

Jorge: Não parece, tendo esse comportamento repulsivo.

Raquel: Desconsidere essas acusações, o mundo é muito perigoso para uma moça sozinha!

Jorge: E o que faço depois de tais acusações, graves diga-se de passagem.

Raquel: Não faça nada, por mim!

Eu prometo que Clarice não irá abrir mais a boca, sobre nada nessa casa.

Clarice com lágrimas nos olhos, não consegue acreditar que mais uma vez a mãe está se humilhando nos pés de uma pessoa que não merece sentimento algum.

Clarice: Desculpe o transtorno, vou dormir que é o melhor que eu faço.

Jorge: Se você pensa que acabou por aqui, está muito enganada mocinha!

A jovem olha para Jorge com um olhar de raiva, e se vira como se nada tivesse acontecido, sobe as escadas e some pelo corredor. Raquel então abraça Jorge, mas frio como uma geladeira o médico não retribui o carinho.

Jorge: Vou trabalhar, afinal é só para isso que eu sirvo nessa casa.

Jorge sai pela porta da frente e deixa a esposa aos prantos na sala de estar.

Longe dali perto do centro, Renato desce de um ônibus e caminha pelas ruas estreitas do subúrbio da cidade. Para em uma padaria e toma um café preto. Está pensativo demais aquela manhã, parece que algo lhe dizia que seus planos estão indo perfeitamente em um curso favorável. O rapaz joga as notas no bancão e sai do estabelecimento, rumo ao albergue onde está hospedado. Em um instante o seu olhar

passa perto de uma capa de jornal. Mau pode acreditar, que aquela moça no qual conversava na praia. É filha dos maiores milionários do Brasil.

Renato: Olha só! Mas não é que a ratinha é podre de rica?

Vou ter que encontrar essa cinderela de novo.

Com um ar de confiança, Renato segue o seu caminho, maquinando como poderia encontrar novamente aquela moça, e logo se lembrou que ela e a amiga Flavinha estudam na Universidade Federal e que podia dar uma passada para ver se encontra uma das duas.

Renato então circula pelos corredores da Universidade, com a sua pinta de universitário, logo se mistura aos estudantes que por lá passam. Então sem ter muito esforço avista Flavinha tomando um suco na cantina.

Renato: Olá! Flavinha certo?

Flavinha: Oi moço, que conhecidencia te encontrar por aqui!

Hahahaha!!!

Está servido?

Renato: Não muito obrigado moça, tomei um café e vim correndo entregar um trabalho para um professor super chato.

Flavinha: Nossa nem me fale, tenho que apresentar um seminário amanhã e estou super nervosa!

Renato: A Clarice está no seu grupo!?

Flavinha: Está sim!

Quer assistir a pagação de mico!?

Renato: Mas é claro!

Que horas vai ser o seminário?

O rapaz com a sua lábia apurada consegue conquistar a melhor amiga da sua vítima, tanto mistério envolvido por trás desse rapaz, será que ele está com boas intenções?

O dia passa rapidamente e a noite chega. Flavinha fica preocupada com o sumiço da amiga e resolve ligar para se tranquilizar. Clarice atende o celular com voz de velório.

Flavinha: Lice você está bem?

Clarice: Mais ou menos.

Como sempre tentando entender o mundo que me cerca.

Flavinha: Você quer que eu de um pulo ai?

Precisa de algo?

Clarice: Não amiga estou bem, só precisando ficar sozinha.

Flavinha: Menina você nem sabe quem eu vi hoje na faculdade!

Clarice: Quem?

Flavinha: O seu namoradinho!

Clarice: Está maluca!?

Não namoro ninguém.

Flavinha: Atá!

E aquele principe que conheceu na festa ontem, já esqueceu?

Clarice: OH Renato!?

Meu Deus me conte tudo!!!

Flavinha: Já se animou né! Espertinha...

Então ele disse que vai aparecer amanhã no nosso seminário e pelo jeito é só para ver você!

Clarice: Eu não acredito!

Flavinha: Pois pode parar com essa depressão, que amanhã quero arrasar na nossa apresentação.

Clarice: Já estou animada amiga!

Eai me conte mais!!!

A moça em um instante se anima com a notícia que verá denovo Renato, as duas amigas fofocam no telefone e a madrugada parece pequena para tanto assunto.

Chegando em casa Iracema é supreendida pela sobrinha Mônica, que quer saber sobre as últimas notícias da mansão dos Cavalcanti.

Iracema: Ué! O seu chefe não disse nada?

Mônica: Chegou no escritório com a maior tromba e não quis assunto com ninguém, nem comigo! Agora conta tia, estou morta de curiosidade.

Iracema: Foi a maior briga minha filha, quase pai e filha saem no tapa. E tudo por causa desse seu fogo!

Mônica: Não tenho culpa se sou tão inrresistível!

Hahahaha!!!

Iracema: A menina ficou dizendo que te viu sair da casa da piscina e que vocês dois passaram à noite juntos.

Mônica: E como sempre a tapada da Raquel não acreditou.

Iracema: Ninguém dá crédito para essa louca!

Por isso que não acreditou. Sorte sua!

Mônica: Sorte minha porque?

O casamento dos ricaços está indo para o espaço mesmo. Só precisa de um empurrão para acabar-se tudo.

Iracema: Isso você tem razão e logo, logo vamos aproveitar uma deixa e entrar de vez na vida mansa!

Mônica: Descobre logo, algum podre da perua e vamos usar isso para o nosso

benefício!

Iracema: Deixa comigo, a anta da Raquel adora se abrir comigo. Qualquer dia arranco um podre bem dos cabeludos!

Hahahaha!!!

Mônica: É assim que se fala!

As duas megeras conspiram e planejam tomar o posto da primeira dama dos bisturi. Enquanto na mansão Raquel se vê sozinha, então resolve abrir uma garrafa de champagnhe, começa a beber até não saber o que está fazendo ou dizendo.