ARTESÃO DE VIDAS - III
S E R I A D O
ARTESÃO DE VIDAS
CAP. III
Dois dias se passaram. Era sábado e Joab logo se levantou e chamou Tádzio. Eles iriam ao clube, conforme haviam combinado.
- São que horas? – Tádzio perguntou.
- Sete. – Respondeu Joab.
- Não acha que podíamos dormir mais um pouco?
- Está com preguiça, não é?
- Não – disse Tádzio – estou com muito sono ainda, mas tudo bem. Vá tomar seu banho, depois eu vou. Enquanto isso, cochilo mais um pouco.
Joab despiu-se ali mesmo e se dirigiu ao banheiro. Percebera que fazia muito calor e deixou o chuveiro na água fria. O banho foi gostoso e em pouco tempo voltava ao quarto, enrolado na toalha.
- Levante-se Tádzio... Veja, já tomei banho.
Muito preguiçosamente Tádzio sentou-se na cama. Espreguiçou-se. Ficou a observar Joab, que se vestia.
- Eu não tenho calção de banho... você tem um para emprestar-me?
- Tenho vários... você escolhe do que mais gostar – Respondeu Joab.
- Obrigado.
Tádzio foi direto para o banho. Lavou-se rápido e retornou.
- Mostre-me os calções a fim que eu possa escolher um. – Pediu Tádzio.
Joab abriu uma gaveta do guarda-roupa e Tádzio verificou que positivamente Joab possuía muitos e findou decidindo-se por um preto. Vestiu-o.
- Veja, Joab, ficou bom em mim?
- Ficou ótimo. Vai fechar o clube com sua beleza...
Terminaram de aprontar-se, tomaram e desjejum e saíram. O clube estava repleto neste sábado. Os amigos se aproximaram de Joab, todos desejavam saber quem era o garoto que o acompanhava.
- É um primo meu, gente! Veio passar uns dias lá em casa e talvez até fique morando conosco. O nome dele é Tádzio.
Tádzio não chegou para quem queria. Fez o maior sucesso entre os amigos de Joab. Dirigiram-se ao vestiário, tiraram as roupas e ficaram só de sunga de banho. Molharam-se com água do chuveiro e num instante estavam na piscina. Joab não sabia nadar e ficou impressionado com a agilidade de Tádzio na água. Parecia um peixe, nadava que era uma beleza.
- Onde aprendeu a nadar tão bem? – Joab interrogou.
- Ah... quando meu pai era vivo, sempre me levava à praia aos domingos... às vezes íamos para a fazenda de um amigo dele que fica no interior, há um rio que corta as terras e lá nadávamos bastante. Foi assim que aprendi. – Disse Tádzio.
- Você me ensina a nadar? – Joab pediu.
- Ensino. Venha, vou mostrar como deve fazer.
E assim passaram uma manhã agradável. Eram 2 horas da tarde quando Tádzio deu sinais visíveis de que estava faminto.
- Joab, vamos almoçar... estou morto de fome...
Joab consultou seu relógio.
- Num é que esquecemos das horas? Vamos, já são duas da tarde.
Saíram da piscina e se dirigiram aos vestiários. Estavam vazios aquela hora, assim ambos puderam com tranquilidade tirar as sungas e tomar banho. Haviam trazido todos os apetrechos: toalha, sabonete, xampu, pente, etc. Colocaram roupa limpa e se dirigiram ao restaurante do clube, do outro lado. Estavam sem camisa e ficaram nas mesas do lado de fora. Melhor, não havia ar refrigerado e o calor estava forte. Pediram um peixada completa para dois e se fartaram. Beberam refrigerantes. Findaram a refeição e permaneceram ali sentados, a conversarem.
- Estive pensando, Tádzio...
- Pensando em quê? – Tádzio quis saber.
- Enquanto você pretende estudar para ser engenheiro de pesca, eu tenho uma faciliade muito grande para desenhar. Modéstia a parte, eu desenho muito bem...
- Sim, e o que tem isto com seu pensar? – Indagou Tádzio – não entendi!
- Simples... eu gostaria de desenhar você...
- Desenhar a mim? Como assim?
- Gostaria que você posasse para uma tela que farei de você.
- Oh! Você acha então que sou modelo?
- Para meu desenho, você poderia ser... Vai ficar lindo!
- Como seria essa tela? De que maneira pretende desenhar-me?
- Aí que está, não sei se vai concordar...
- Fale... Só poderei dar uma resposta se souber como pretende fazer.
- Gostaria de desenhar sua nudez...
- O quê? Então tenho de posar nuzinho para você?
- Por que não? Trata-se de um trabalho artístico...
- Não sei... Não é questão de ter vergonha de você, mas das outras pessoas que posam ver a tela e me identificarem... vai ser chato pra caramba. Não sei... não sei.
- As pessoas vão é ficar encantadas com sua beleza, isto sim...
- E em que local você faria o trabalho?
- Lá em casa mesmo. Na sala!
- E sua mãe? O que dirá?
- Minha mãe não precisa saber... Ela só vive viajando e, na próxima semana, ela fará uma viagem mais longa, vai passar uns dez dias fora, tempo mais do que suficiente para eu concluir a tela. Quando ela retornar, então terá uma surpresa, mostraremos o trabalho pronto.
- Estou a pensar... Não sei... É minha intimidade que você quer colocar em público...
- Ninguém precisa saber o que estamos fazendo... Enquanto estivermos realizando o trabalho, isto fica apenas entre eu e você.
- Depois que a tela estiver pronta... o que fará com ela? – Tádzio interrogou.
- Deixarei minha mãe opinar, ela tem bom gosto e adora essas coisas. Pode até ser que possamos vender e ganhar um bom dinheiro... quem sabe?
- Primeiro quero ver seu talento em outros desenhos... dou a resposta em seguida.
- Combinado. Quando chegarmos em casa mostrarei a você uma porção de pequenos desenhos que fiz e que estão guardados em meu guarda-roupa.
Pagaram o almoço e caminharam em direção à residência. Estavam meio cansados, haviam tomado bastante sol. Joab foi diretamente no guarda-roupa e trouxe uma pasta repleta dos mais variados desenhos. Mostrou-os todos a Tádzio, que ficou impressionado com o talento e a criatividade do amigo.
- Nossa! Parabéns, Joab! Você é um artista. – Tádzio elogiou.
- Então... concorda em posar para mim?
- Concordo!
Os dois se abraçaram e traçaram planos para o início dos trabalhos.
- Vamos sair. Vista uma boa roupa, iremos ao “shopping”. Ainda bem que não desperdiço minhas mesadas com bobagens. Disponho de uma boa “grana” para comprar tudo o que precisaremos: tinta, pincéis, cartolina profissional, cavalete, tudo...
Logo saíram. Estavam no “shopping” e, realmente, o dinheiro que havia estocado deu para que comprasse o material de que necessitaria. Voltaram carregados para casa.
- Onde vamos guardar estas coisas sem que sua mãe veja? – Inquiriu Tádzio.
- Dentro do meu guarda-roupa. Aqui ela nunca mexe. Sou eu mesmo que guardo as coisas e mantenho tudo arrumado. Se prepare, pois, caso fique conosco em definitivo, terá as mesmas obrigações que eu...
- Ah... Isso será “fichinha” para mim...
Não saíram mais neste sábado. Permaneceram em casa. As horas logo avançaram e foram dormir. No domingo despertaram mais tarde: 9 e meia. Tomaram banho e se vestiram. Fizeram o desjejum e estavam na sala, quando Elza chegou.
- Olá, garotos! Como estão as coisas?
- Mãe! Gritou Joab – e correu para abraçá-la e beijá-la. Voltou antes do previsto?
- Não, voltei no domingo, conforme frisei. Só que resolvi chegar mais cedo. Amanhã inicio uma peregrinação pela sertão e, no mínimo, serão dez dias ausente de casa. E você, Tádzio, como está? Não vem me dar uma abraço?
Meio envergonhado, Tádzio foi até Elza e a beijou e abraçou.
- Não deve ter vergonha de me abraçar e beijar... breve poderá ser meu filho adotivo e gosto muito de carinho. Colocou Elza.
- Com o tempo eu me acostumo. – Tádzio falou.
Elza guardou seus pertences em seu quarto e pediu aos meninos que se aprontassem. Iriam almoçar fora.
Almoçaram em um restaurante à beira-mar. Ali ficaram boa parte da tarde curtindo o movimento dos banhistas e recebendo em suas faces gostosa brisa. Retornaram já ao anoitecer.
- Eu nem percebi como estão bronzeados... Foi bom no clube ontem? – Elza quis saber.
- Foi um dia maravilhoso, não foi Tádzio?
- Sim... Um dia inesquecível!
Foram dormir cedo, estavam todos bastante exaustos. Na manhã seguinte, Elza saiu cedinho e deixou Tádzio ainda dormindo e Joab se aprontando para ir à escola.
- Portem-se bem durante minha ausência. Não vivam muito de rua. Em casa há tudo para gastarem o tempo. – Elza aconselhou.
- Pode ficar tranquila, mãe. Não viveremos a bater pernas pela rua. Tenha uma boa viagem! – Desejou Joab.
Elza partiu. Antes de Joab sair com destino às aulas, Tádzio se levantou. Encontrou o amigo na cozinha a fazer o desjejum.
- Prepare-se! Pediu Joab. Começamos hoje nosso trabalho.
- Estou preparado. Vou tomar banho, até mais tarde.
O tempo correu. Joab logo estava em casa. Guardou a bolsa, tomou banho, almoçou com Tádzio e imediatamente preparou o ambiente para a odisseia que estava prestes a ser iniciada. Tádzio despiu-se totalmente e posou com desenvoltura. Joab não permitiu que ele olhasse a tela antes de dar por encerrado o trabalho. Fez com que Tádzio prometesse que não mexeria enquanto ele estivesse na escola. Tádzio cumpriu a promessa embora estivesse maluquinho para vê-la. Isto só veio ocorrer no sábado à noite.
- Pronto, Tádzio. Pode vislumbrar meu trabalho.
E Tádzio, ainda nu, porque acabara de ser desenhado, correu para a frente da tela. Ficou pasmo com o que viu.
- Meu Deus do céu! Que trabalho perfeito! Parece mais uma fotografia do que um desenho em pintura. Estou encantado com seu talento... Fez o desenho principal e ainda outros menores ao redor, dando uma visão global do meu corpo...
- Quanto valerá? – Joab inquiriu.
- Não sei... Não entendo de arte, porém creio que poderá valer um bom dinheiro.
- Deixemos para que minha mãe opine e faça uma avaliação. Tenho certeza de que ela saberá cotar muito bem o trabalho realizado.
- Certamente.
- Ah, um detalhe: caso minha mãe decida vender, não importa o valor de venda, darei a você metade por haver posado para mim. – Prometeu Joab.
- Agradeço e bem que mereço, não é? Fiquei uma semana inteira peladinho deixando você curtir cada espaço de minha nudez, nada mais justo. – Frisou Tádzio.
- Estamos combinados. Vamos dormir... acho que minha mãe deva chegar no meio da semana, imagine a surpresa que a espera...
- Verdade, mas desde já estou morrendo de vergonha... Esta tela me retrata fielmente e ficarei na imaginação de muitas pessoas... É o que não me apetece muito em relação a tudo isto. – Confessou Tádzio.
- Não deve pensar assim... Pense no sucesso que este trabalho poderá causar nos meios sociais e nos convites que poderei receber para pintar outras pessoas... Com relação a você, poderá fazer sucesso e tornar-se um modelo profissional e ganhar um monte de dinheiro, ficar rico do dia para noite...
- É... Sonhar faz bem. A vida, em seu íntimo, é um sonho, cabe tão somente as pessoas terem a devida consciência para transportar com sabedoria o sonho para a realidade. – Comentou Tádzio.
- Hum... está filosofando... Pois é, quem comigo convive, aprende a ser gente.
Os dois riram. Choraram de tanto rir.
AMANHÃ - O CAP. IV