Quando olho pro pasto...

Os anos eram os cinquenta, sem internet, sem celular, mas com aquele luar...E Atanagildo, moço da cidade, bancário, foi visitar uma fazenda e se apaixonou por Estelita. Fulminante. Tanto pra lá quanto pra cá.

Todo fim de semana, Atana tomava o trem, parava na estaçãozinha mais próxima da fazenda e vinha morro acima, pela pastagem ao encontro da amada, que o esperava sempre debruçada na janela. Vita bella.

E o idílio ia-se firmando cada vez mais. Até que um dia, Atana foi retido pelo patrão, justo num fim de semana, para ajudá-lo no balancete. Não tinha escapatória, e não tinha também como avisar a sua Julieta.

Pensou que tudo se explicaria na semana seguinte, embora com o coração em disparada. E, sucedeu ao nosso Romeu, um segundo contratempo em dois fins de semana sucessivos: morrera-lhe um parente próximo e assistência foi cobrada e pagada. Enquanto o coração roía de paixão.

Quando pintou a terça feira da semana seguinte eis que lhe chega uma carta da adorada, que assim começava, na mais romântica lavra:

"Quando óio pro pasto, e num te vejo, os zói merêjo..."

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 29/11/2014
Reeditado em 03/09/2020
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