Clarão e trovão - 1º capítulo: "O velho e o novo mundo"
Se você é uma dessas pessoas que acha que tudo tem sentido, explicação e que tudo tem que ser perfeito, esse livro não é pra você. Vá pegar um livro de ciências exatas, porque este não é pra você. Mas, se você é um doido que nem eu, pede pras pessoas do teu lado te beliscarem quando estiver lendo, se não, você vai achar que está em um sonho.
Pelo menos pra você isso pode parecer um simples livro de ficção escrito por um desses daí que não tem nada pra fazer e resolve escrever a primeira coisa que veio a cabeça. Pra você, isso é mentira, mas pra mim é a pura verdade. Eu não sei quem sou, nem como vim parar nas ruas do Rio de Janeiro.
Você pode ter uma família e não dar muita importância pra eles porque pode vê-los a qualquer minuto, mas a única coisa que eu tenho é o meu cachorro Titã, ele é um vira lata com língua preta, uma orelha pra cima e a outra abaixada. Ele é branco, tem as costas meio cinza e a ponta do rabo preta e meio chato. Eu posso fazer o que eu quiser na hora que quiser, no momento que eu quiser, sem ordens, sem castigos. Nossa, que vida boa hein! A coisa mais emocionante que aconteceu comigo foi quando a princesa Isabel me deu umas moedinhas.
O meu nome é Luke Gonzaga Vilas Boas. Eu não sei quantos anos eu tenho, eu vivo em uma estação chamada Dom Pedro II, algumas pessoas chamam a estação de Central do Brasil, mas eu acho que o nome não fica. Agora só falta tirar a capital do Brasil do Rio de Janeiro e botar no meio do nada, ou pior botar no meio de Goiás e construir a cidade em um formato de avião no coração do Brasil e encher de políticos que não fazem nada. Duvido muito que isso aconteça.
É bom sempre ter gente saindo e entrando pra pegar a Maria fumaça. Mas, foi numa dessa Maria fumaça, num dia quase chuvoso que as pessoas corriam para não se molhar que essa história chata iria mudar.
Um rapaz branco de óculos, cabelo castanho, penteado para trás com um casaco marrom, se assusta com o barulho do apito da Maria fumaça e quando volta o olho para a maçã que estava em sua mão, ela tinha sumido e ele olha, olha e pergunta:
- Alguém viu a minha maçã? Ele olha pro meu cachorro que vem até mim.
– Ei garoto, você viu aonde foi parar a maçã que estava nas minhas mãos? Pergunta o rapaz.
Eu todo sujo levanto do chão e falo:
– Eu? Eu não! Alguém pode ter levado, um macaco, um cachorro, um dragão, eu já sei, foi o saci!
O rapaz olha pra minha mão e pergunta com raiva:
– Oh, mal educado! Esse alguém, poderia ser você, o que é isso nas suas mãos?
– Os meus dedos. Eu respondo para ele.
– E nos dedos? Pergunta o rapaz.
– Oras, as unhas. Eu falo.
– Pára de palhaçada e fala logo. Diz o rapaz irritado.
Eu abaixo a cabeça e levanto a mão e falo:
– Toma , desculpa , foi sem querer eu só estou com fome!
– Você é muito novo pra ficar roubando! Afirma o rapaz que começa a rir, não sei por que e ele fala:
– Já falaram pra você que você mente muito mal garoto? Como você tá morrendo de fome se tem vários sanduiches nos seus bolsos?
Eu não sei como ele viu, mas, se viu, o problema é dele. Já que ele viu eu vou enrolar ele e pegar algumas coisas a mais. E o rapaz começa a me olhar estranho como se ele estivesse tentando dizer o quê que esse garoto tem na cabeça e ele volta a falar as baboseiras que ele estava falando, sei lá, sei lá não pode roubar, blá, blá, blá sei lá o que blá, blá, blá tico-tico no fubá. Ele para e olha estranho de novo começa a bater as mãos e grita:
– Tem alguém ai? Esse troço ta vazio, só pode.
Eu acho que ele percebeu que eu não estou prestando atenção nele acho melhor voltar!
E o rapaz fala:
– Você não estava prestando atenção hein!
– O que? Eu pergunto confuso e continuo falando.
– Sabe, é que na verdade eu não ouvi nada mesmo a e só sanduíches foi que tinha uma mulher fazendo um piquenique aí eu comecei a perturbar e ela começou a jogar os sanduíches em mim. Mas então eu vou poder roubar quando eu crescer? E o rapaz responde confuso:
– Sim, não, eu quero dizer você parece ser muito inteligente!
– Eu sou inteligente! Eu gritei.
E ele fala:
– Parece ser inteligente, melhor dizendo, talvez você seja um pouquinho inteligente. Eu só quero dizer é que você não pode sair roubando as pessoas assim, toma, pode comer a maçã aí, você não vai conseguir mas encostar nem um dedo em mim!
Eu levanto a cabeça e pergunto:
– É sério pode mesmo?
– Claro, pode comer, eu me chamo Pedro Jaguar de Vilas Boas homenagem ao meu tatara, tatara, tatara, tatara e mais um tataravô. Fala o rapaz chamado Pedro, talvez, sei lá.
– São muitos tataras não acha? Qual é o seu nome mesmo hein? Eu pergunto meio confuso, pois eu me perdi no meio dos tataras dele.
– Eu também acho que são muito tataras, ah o meu nome é Pedro Jaguar P.J, você não tava escutando tava? Fala o P.J.
– Ah eu to sim, meu nome é Luke Gonzaga Vilas Boas. Eu falei: olha, eu menti, eu não ouvi nada, mas finge que ouvi!
E o P.J fala com um jeito que parece que não esta entendendo alguma coisa:
– Não, será? Mas que esquisito nós temos os sobrenomes iguais. Eu conheço você de algum lugar!
– Você não me é estranho! Mas não eu vou embora. Falo eu de costas para ele.
– Quantos anos você tem? Pergunta P.J.
– Eu sei lá, 13 talvez? Falei, levantando a mão.
Ele olha para baixo e começa a falar um pouco triste:
– Eu tenho 16, eu tinha um sobrinho que morreu há 2 anos. Num incêndio.
– Ah é, eu não sei disso não! Falei, interrompendo.
E ele continua a falar:
– Ninguém sabe até agora quem causou o incêndio, dizem que foi alguém muito próximo, o nome de sua mãe era Maria Vilas Boas e de seu pai seria Gabriel Gonzaga?
– Eu não sei nem quero saber, eu não já disse que não me lembro de nada! Falei para ele.
– É, talvez? Perguntei, olhando para cima.
Enquanto ele olhava para cima eu pegava todas as coisas dele sem ele perceber.
– Eu não conheço e nem nunca vi esses daí, deve ser tudo um bando de ladrões em meio de vagabundagem. Falei.
Ele olha para mim e fala com raiva se requebrando todo:
– Moleque olha o respeito, ela era a minha Irmã e ele meu cunhado.
Eu começo a rir e falo:
– Você está soltando a franga hein? Só faltava você ser, sei lá, o meu tio.
Ele olha pra mim e fala com muita ignorância:
– Um troço que nem você não serviria não ainda mas se você fosse da família saberia o lema!
Eu viro de costa de novo e pego as coisas que estavam no bolso da calça dele e falo:
– Eu não sei esses troços aí não.
E ele começa a falar do nada:
– Ver com os olhos fechados.
Ouvir com os ouvidos cobertos
Sentir sem tocar
Viro de repente pra ele e do nada começo a falar:
– Fale com a boca fechada
E sonhar com os olhos abertos
Feche a mente
Abra o coração
E veja a solução.
Ele fica espantado e fala:
– Meu Deus não pode ser!
– Que macumba é essa? Perguntei mais espantado ainda.
Eu não entendi nada, como isso aconteceu, nem porque eu falei aquilo. Meu Deu só pode ser macumba, eu vou até aproveitar que ele não está olhando e também vou pegar o casaco dele.
– Como você adivinhou? Não pode ser. Fala ele.
– Não sei, mas eu sei mais! Eu respondo.
E ele fala:
– Ver com os olhos fechados.
Ouvir com os ouvidos cobertos
Sentir sem tocar. Agora continua:
- Fale com a boca fechada
E sonhar com os olhos abertos
Feche a mente
Abra o coração
E veja a solução.
Eu acertei? – Eu perguntei – Devo ter errado!
Ele sorri e fala:
– Acertou, acertou você e ele?
Ele exclama gritando:
– Jesus! Minha mãe queria muito ver você, mas pra ir vai ter que parar de roubar ouviu!
E eu não ouvi, eu virei para o lado e peguei uma fruta da cesta de uma mulher que passava.
E ele fala com raiva:
– Você não escutou de novo, se você para de roubar pode ir!
– Tá bom, sim, eu paro! Eu vou tomar jeito, mas você sabe que a carne é fraca. Eu falei pra ele.
E o P.J olha pra cima e fala:
– Está frio aqui hein? Fala P.J. olhando para cima.
– Toma, é teu não é? Eu perguntei. Eu sabia que era dele, mas ele disse que eu não iria conseguir encostar nem um dedo nele peguei tudo e ele nem viu.
– O que? Ele pergunta.
– O teu casaco. Eu falei, entregando para ele, que ficou meio espantado:
– Obrigado, você disse que não iria mais roubar?
Eu falo sorrindo:
– Foi antes de dizer: aqui está o seu sapato e o seu relógio de bolso.
– Como você conseguiu? Perguntou ele.
E eu continuo:
– Seu dinheiro, suas moedas e seu livro, desculpa, eu rasguei pra você sabe o quê!
E ele fala:
– Ah, não entendi, as folhas rasgadas seriam pra o quê?
– Ah, você sabe, pra necessidade. Eu respondi. É sim, é pra ir ao banheiro!
E ele começa a cheirar olhando estranho e me pergunta:
– Você não fez isso agora não né? Que cheiro é esse?
– Eu não fiz nada. Eu falei a verdade.
Ele me cheira e pergunta:
– Oh garoto, que futum é esse? Como você aguenta, você não toma banho a quanto tempo?
– Desde sempre, eu não sinto cheiro. Eu respondi.
Então nós vimos dois homens olhando de óculos pretos, de terno e gravata.
E ele fala:
– Vamos. Ah e você vai ter que tomar um banho porque só Deus aguenta esse cheiro.
Eu olho pra ele e puxo o casaco do P.J e falo:
– Ah, só um minuto, titã traga as minhas coisas.
E o cachorro vai buscar as minhas coisas.
Ele pergunta:
– Quem é esse?
– É o meu cachorro. – Eu falei – Será que ele não viu a calda, o focinho, os pelos, as orelhas dele? E eu volto a falar – Olha é rápido, eu vou ali e já volto.
P.J olha pro seu relógio e fala quase que cantando:
– Não posso ficar nem mais um minuto com você, sinto muito, mas não pode ser, moro em um cortiço em Niterói. Se perder esse bonde que sai agora às 09:30 hs, só a pé vou chegar e além disso tem outra coisa, a minha mãe não dorme enquanto eu não chegar, sou filho único, tenho a minha casa pra olhar, eu não posso ficar!
– É rápido. Eu falei.
– Você não mora na rua? Ele perguntou.
Eu olho pra ele e respondo:
– Claro que eu moro, mas eu tenho as minha coisas, você não sabe o que eu vivi nesses 3 anos. O pior que nem eu sei o quer aconteceu!
E meu cachorro Titã volta com as minhas coisas.
– Oh Titã, está faltando uma coisa, vai buscar vai! Eu falo pro meu cachorro. Titã vai pulando pegar, P.J pergunta:
– Que troço é esse aí que ele foi pegar?
Eu começo a rir, olho pra ele e falo:
– E só ouro, umas moedas que a princesa Isabel deu para mim! Vamos?
– Ah é ouro, moedas de ouro que a princesa Isabel deu, a tá, faz de conta que acontece tá bom vem.
– É sério, acredita! Disse eu.
– Tá, eu acredito, vem. Espera é o cachorro? Falou o P.J.
– E o Titã vai achar o caminho! Ele é parente de cachorro farejador. Eu acho, talvez.
– É que a gente vai pra Niterói! Exclamou o P.J.
Eu olho pra ele e falo:
– Eu disse que ele acha o caminho, fica tranquilo!