O Perfume do meu Sertão- E a vaca vai pro brejo! (Segunda Parte).
15º Capítulo
João Miguel: Como lhe disse senhor delegado, estávamos discutindo sobre a história de Eulália ter encontrado esse rapaz... um desconhecido! desmaiado na gruta e resolveu trazê-lo até a minha fazenda, tudo isso sem me consultar.
Logo eu, O dono de tudo isso!!!
O delegado cansado de tanto calor que pegou na estrada, se senta perto de João Miguel.
Ataulfo: Sei, sei... É! isso não se faz mocinha.
João Miguel: O incrível que isso possa parecer, que esse ocorrido foi bem quando começaram os roubos de gado na região.
Lúcia: Muito, muito estranho!
Glauber vendo que vinha história boa, pegou o seu bloquinho de notas do bolso e começou a escrever sobre os relatos.
Ataulfo: De onde veio meu rapaz?
José com cara de espanto esfrega as mãos e começa a tentar lembrar, mas não consegue.
José: Não faço a mínima ideia senhor... a minha memória é recente, começa na gruta escura e antes disso não me lembro de mais nada!
Lúcia: Como um rapaz desse tamanho não sabe de onde veio?
Que conversa mais torta! Me cheira a mentira.
Nesse momento entra na sala Adamastor e João Miguel fica com a cara mais azeda do mundo.
Adamastor: Com licença senhores.
João Miguel: Que permitiu a sua entrada!? Seu lugar não é aqui.
Ataulfo: Deixe-o falar senhor. Pode falar!
Adamastor: Me desculpem a intromissão, mas vim pra dizer que testemunhei essa história toda... se for penalizar alguém que seja eu.
Eu que deixei a senhorita abrigar José em minha humilde casa.
Ataulfo: Qual seria o seu nome senhor? Glauber tome nota.
Adamastor: Ernesto Adamastor, senhor.
Bom como estava dizendo, fui eu que ajudei e cuidei do rapaz quando se encontrava ferido.
Maria: Quase perdeu a vida!
Adamastor: A senhorita não sabia o que fazer, o pai é bravo e não iria hospedar o rapaz na casa grande. Passou uns dias em nossa casa e se recuperou muito bem dos ferimentos.
Eulália: Foi o Seu Adamastor que escolheu o nome para o moço, José.
Lúcia: Tá! Mas isso não prova nada que esse tal de José, não esteja envolvido com o roubo no celeiro.
João Miguel: O que acha Senhor delegado!? Temos um suspeito?
O silêncio se faz novamente na sala e Glauber para um instante com sua caneta, com os olhos no delegado, espera a sua conclusão.
Ataulfo: Não, não temos.
Eulália abre um sorriso e Maria aperta a mão de Adamastor com um gostinho de vitória. Lúcia fica apreensiva e não consegue esconder o nervosismo.
João Miguel: Como não!?
Ataulfo: Pelo simples fato de existir três testemunhas afirmando que esse rapaz, não conseguia nem firmar as pernas no chão, pelos ferimentos e consequentemente não teria forças para ir até os seus empregados, embebedar um à um, depois abrir a porteira para o ladrão e ajuda-lo guiar a vaca à saída da fazenda.
Sebastiana: Os relatos das testemunhas são verdadeiros, por não apresentar divergências!
Ataulfo: Corretíssimo minha senhora! Poderia ser uma eximia detetive...
Sebastiana fica sem graça com o comentário do delegado, por raramente receber um elogio.
João Miguel: E com isso voltamos ao marco inicial!
Ataulfo: Não mesmo, se esqueceu que trago novidades sobre o caso?
Lúcia fica branca de tanta expectativa, estava vendo o seu plano ser arruinado por Ataulfo. Na sua cabeça doentia passa milhares de coisas e cenas...
O que será essa novidade!?
Será que esse asno descobriu a minha participação no roubo!?
Estou perdida e vou mofar atrás das grades?
Maria: Lúcia? Está bem?
Lúcia: Estou.
Ataulfo: Eu e meus graduados peritos, junto com o meu escrevente Glauber, analisamos as pegadas na região do celeiro logo após da noite do roubo. Percebemos então, que haviam um par de botas maiores... que correspondiam à botas masculinas. E outro par de botas menores que parecem ser pegadas femininas.
O interessante que essas pegadas de botas masculinas se repetem em outras fazendas, na qual visitamos para investigar o crime. Mas só aqui que aparecem as pegadas femininas. É isso que me intriga!
Maria: Será que o ladrão na noite do roubo trouxe a sua amante!?
Ataulfo: É o que vou investigar mais afundo senhora. Mas independente dessa discrepância, conseguimos através de relatos de moradores, localizar a casa do ladrão de gado!
João Miguel: Acharam o safado! E o que estão esperando!?
Vão prender esse urubu!!!
Ataulfo: Já mandei minhas tropas pra lá! Essa hora devem estar batendo à porta do safado.
A prosa tá muito boa, mas temos que voltar pra delegacia... E rapaz!
Vou investigar melhor a sua procedência.
O delegado Ataulfo deixa a sala com Glauber.
João Miguel: Foi salvo pelo delegado rapaz! Mas não pense que vai ficar em minhas terras, fora... fora daqui.
José: Senhor, eu lhe peço que não me mande embora... não tenho onde ir! Faço qualquer coisa por um emprego em sua fazenda.
Eulália: Por favor meu pai, ajude esse pobre homem. Lembre-se que não é nada cristão deixar seus irmãos passar necessidades!
O fazendeiro vê toda a súplica do rapaz e enxerga um bom momento pra fazer maldade e provar quem manda.
João Miguel: Então o rapaz, faz qualquer coisa pra ganhar um emprego?
José: Sim, qualquer coisa!
João Miguel pensa, pensa... e olha fixamente para José e faz um pedido inusitado.
João Miguel: O rapaz parece ser muito corajoso de vir aqui me pedir algum favor. Se é corajoso, tem que me provar!
Me traga uma onça adulta! Quero pendurar a sua cabeça na minha sala. Se me trouxer o bicho, ganhará o emprego na fazenda!
José: O desafio está aceito, senhor.
Todos ficam admirados com a coragem ou loucura do rapaz e Lúcia continua pensativa temendo que sua máscara caísse a qualquer momento.