O Perfume do meu Sertão- O veneno de uma víbora. (Segunda parte)

14 Capítulo

Voltando à casa grande, Eulália vê a cozinheira Maria varrendo o chão e olhando para o nada, como se sua cabeça estivesse voando e não encontra lugar onde pousar. A moça arteira então pega duas tampas de panela e as bate, fazendo o maior barulho assustando Maria.

Maria: Que foi isso!? Tá doida menina?

Eulália: Eu não... já você! Hahaha!!!

O que acontece?

Maria: Oxente! Aconteceu nada!

Tô fazenu meu serviço, só isso...

Eulália: E essa cara de cachorro perdido?

Te conheço bem, ande! Me conte o que houve.

Nesse momento Lúcia passa pela cozinha comendo uma manga e Maria faz uma cara de negação. Eulália percebe e descobre o motivo da distração da amiga.

Eulália: A sua preocupação tem nome... Lúcia.

Maria: Pare de bestagem!

Eulália: A senhora viu o ocorrido de ontem, e eu te digo... não precisa se preocupar, está tudo bem agora!

Maria: A menina é muito inocente, escutei bem toda a prosa de vossa irmã, e não gostei nada.

Eulália: O que escutou!?

Maria: Escutei que aquele rapaz, é um ladrão! E a polícia toda está atrás dele... e que Lúcia recebe dinheiro dele!

Eulália: Mas que sandice é essa agora Maria? Você já percebeu que que fala!?

Maria: Sei muito bem o que vi, sei muito bem o que escutei e sei muito bem o que digo! A pobreza não afetou as minhas ideia!

Sebastiana: Não afetou a sua cabeça, mas a sua língua!

As duas levaram o maior susto com a aparição de Sebastiana.

Eulália: A culpa é minha mãe, eu que estou perturbando Maria.

Sebastiana: Se está ociosa Eulália, vá apanhar um pouco de folha de boldo. Vou fazer um chá para João Miguel... não está muito bem do estômago.

Eulália: Sim senhora... mais tarde terminamos o nosso assunto Maria.

Maria fica sem reação após o comentário de Eulália, enquanto Sebastiana fica desconfiada de tanto assunto entre as duas.

Eulália sobe na pequena carroça e acorda o cavalo Ventania, parte para o bosque perto de uma cachoeira onde há folhas de boldo e de hortelã. A moça apanha muitas folhas e fica com calor, então resolve tomar um banho de cachoeira.

Então tira suas vestes e exibe a sua pele branca, iluminada pelo sol intenso.

Eulália se certifica de que não há ninguém por perto e tira a saia cor de rosa, em seguida joga-se em meio as águas geladas e claras do riacho.

Perto de uma árvore, um estranho espia a moça brincando e se banhando nas águas. Eulália lembra uma Iara, pelo brilho dos cabelos negros e curvas tão perfeitas de seu corpo. Então o lobo esperou a moça sair do riacho para assim atacar.

A pobre moça sai das águas aliviada pelo longo banho e com as energias renovadas pela natureza, vai até as pedras apanhar suas roupas e em um segundo, sente alguém lhe agarrar por trás e uma voz de homem lhe fala: Fica quieta moça, vai ser rápido.

O coração da moça dispara como tambor e começa se debater, tentando livrar-se daquele estranho.

E então solta um grito de desespero.

Eulália: Socorro!!!!

O estranho lhe fecha a boca e imobiliza seus braços. Eulália está quase sem ar, quando de repente soa um barulho de tiro. O homem cheio de raiva vira sua cara da maldade, agarrado com Eulália. A moça com muito medo abre os olhos e vê seu amigo José apontando uma espingarda para o seu agressor.

José: Solta de vagar essa moça! Se não respondo por mim!!!

Agressor: Não vou soltar não, vá se embora... se não machuco a cabrita!

José então consegue mirar em um grande galho de árvore, atira rapidamente e o pedaço de madeira cai bem em cima do agressor, fazendo desmaiar.

José: Corre Eulália! Pegue suas roupas!!!

A moça desnorteada, com medo no peito, passa a mão em suas roupas e corre com José em direção a carroça. O susto foi tão grande para Eulália, que não percebeu que estava totalmente pelada!

José conduz a carroça em toda velocidade pela estradinha.

José: Está mais calma!?

Eulália: Acho, acho que não... minha Nossa Senhora!

José: É bom colocar as vestes, se não vai adoecer.

Eulália: Ai Meu Deus! Que vergonha, pare já a carroça!!!

O rapaz para bruscamente o veículo e a moça pula constrangida, se escondendo do rapaz.

Eulália: Feche os olhos, nem pense espiar!

José: Sim senhora. Hahaha!!!

Eulália batendo os dentes de frio, coloca a roupa suja de lama e volta para a carroça toda descabelada.

Eulália: Podemos ir.

José: Nossa! Esse cabelo não vê um pente um bom tempo... Hahahaha!!!

Eulália: Pare de piadas seu caipira, se não lhe empurro da carroça e te deixo comendo grama.

José: Veja só! A moça além de bonita é brava... te salvei a vida viu?

Eulália: Estamos empatados no heroísmo, agora vamos logo! Já devem estar sentindo por minha falta na fazenda.

José: Já vou, já vou... mas que tá engraçado, isso ta!

Os dois seguem o caminho brigando feito cão e gato e chegam rápido até a porteira da fazendo de João Miguel. Lúcia vê a carroça de longe, e percebe que Eulália está com um rapaz desconhecido. Não perde tempo e vai correndo informar o fazendeiro João Miguel.

Lúcia: Meu pai!

João Miguel: Não se pede mais licença nesta casa!?

Lúcia: Me desculpe senhor, mas acabei de ver Eulália chegando na carroça... acompanhada de um rapaz.

João Miguel: O que!? Quem é esse maldito!!!

Lúcia: Nunca vi mais gordo.

João Miguel: É hoje que me espalho! Vou tirar essa história à limpo... é agora!!!

José estaciona a carroça perto da estribaria e ajuda Eulália descer do veículo. Das escadas já se ouvem os gritos enfurecidos de João Miguel, o fazendeiro cospe fogo pelo nariz.

Eulália: Minha Nossa Senhora do perpétuo socorro, meu pai viu agente junto!

José: Agora que a vaca vai pro brejo!