O Perfume do meu Sertão- O veneno de uma víbora.
14 Capítulo
" A cobra é o animal mais enigmático que existe na face da terra.
Contos, poemas e estrofes não conseguem explicar o fascínio que é capaz de despertar no ser humano.
Desde os tempos bíblicos ela é a causa de todo o mal da raça humana e é o símbolo da traição.
Não é justo comparar um simples animal com as fraquezas humanas...
o mal tão temido, não está presente em um objeto ou em um animal, mas o mal está em todos nós!
Sim meu caro, está no coração de cada homem e mulher que se apresente... como o bem também está. As pessoas só tem que escolher pra que lado seguir, plantar sua semente e desfrutar o que semeou durante a vida."
Lúcia: A cabrita da minha irmã está vindo... vai logo, suma daqui!
Fausto: Eu vou sim, mas um dia Lúcia, te faço engolir essas palavras... uma a uma! Sua quenga suja!!!
Lúcia: Esse dia nunca vai chegar, não dou nem uma semana de vida pra você! Hahahaha!!!
Fausto: É o que veremos...
Fausto monta depressa em seu cavalo, dá um salto e rapidamente some na escuridão.
Eulália preocupada, corre ao encontro de Lúcia segurando um lampião aceso.
Eulália: Minha irmã, está bem!?
Lúcia: Ainda bem que apareceu, minha irmã...
A raposa abraça a pequena ovelha, com os olhos cheios de lágrimas, simulando um choro.
Eulália: O que foi!? Quem era aquele homem?
Lúcia: Ah Lalinha! Era um rapaz por quem me apaixonei!
Eulália: Nossa Lúcia, você nunca demonstrou afeto por ninguém.
Lúcia: Eu sempre disfarcei pra que o pai não desconfiasse, sabe como ele é... iria tentar matar esse rapaz!
Eulália: Mas porque não me contou, eu iria te ajudar.
Lúcia: Isso não importa mais, o rapaz veio terminar e disse coisas horríveis pra mim! Não quero mais vê-lo.
Eulália: Que desalmado! Ele deve ser um oportunista. Pense bem, você saiu foi de uma enrrascada! Esse rapaz não te ama de verdade.
Lúcia: Tão bom saber que tenho uma irmã que me entende. Vou esquecer esse safado e me preparar para conhecer meu noivo!
Eulália: Sim! Seu noivo parece ser de boa família, vai fazer bom casamento.
Lúcia: Vamos entrar!? Estou exausta e muito chateada...
Eulália: Vamos sim, vou esquentar uma caneca de leite pra você.
As duas irmãs se abraçam e entram na casa grande. Mas o que Lúcia não imaginava, é que Maria ouviu toda a cena da sua janela.
Maria: Eu sabia que nesse angu tinha caroço!
A lua esplendorosa no céu, dá lugar ao "astro rei", que ilumina cada canto verdejante do interior brasileiro. O galo canta e acorda à todos para mais um dia de trabalho na lavoura.
Adamastor acorda e espreguiça o corpo na rede, abre os olhos e observa sua esposa, pensativa e parada em frente a janela.
Adamastor: Que bicho te mordeu mulher!?
Maria: Não foi bicho, foi um enxame inteiro! Nem preguei os olhos essa noite.
Adamastor: O que tá te causando preocupação?
Maria: Nada não homi, são coisas de mulhé!
Vou indo, que preciso alimentar as galinhas e preparar o armoço. Té mais!
Adamastor: Eita! Mas mulhé é bicho complicado mesmo.
Maria vai pegar uma grande panela, para cozinhar o feijão e deixa escapar todas as panelas do armário no chão, fazendo o maior barulho!
Sebastiana: O que houve Maria!?
Maria: Não é nada patroa.
Sebastiana: Se estiver algum problema, é só me dizer. Não estou disposta a perder toda a minha louça pelo seu descuido!
Maria: Pode deixar, vou ter mais cuidado.
Sebastiana fixa o olhar na pobre cozinheira e sai em direção ao quintal. Maria está realmente estranha, chega até queimar o arroz e acaba levando a maior bronca da patroa.
Seu marido Adamastor, prepara a ração do gado e percebe Eulália passando com um pouco de lenha nos braços, chama a atenção da moça para uma prosa.
Adamastor: Menina Eulália... posso lhe fazer uma pregunta!?
Eulália: Pode sim, mas te aviso que não sei muito sobre as coisas de escola! Hahahaha!!!
Adamastor: Não, não... é sobre Maria! Vocês que são bem chegadas, sabe o que preocupa minha mulher!?
Eulália: Realmente, Maria acordou bem estranha... deu até alpiste pro cachorro!
Adamastor: Quando acordei ela estava parada em frente a janela, com cara de maluca. Conversa com ela, por favor...
Eulália: Mas é claro amigo, quero ver sua mulher feliz!