Entre a Cruz e a Espada-5

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

V

Amor e Morte... Transformações!

Chegaram as férias. Viajaram para os Estados Unidos. Durante 25 dias percorreram New York, San Francisco, Washington, Los Angeles, Las Vegas e Dallas. Foram à Flórida e conheceram a Disney e ficaram encantados. Conheceram bastantes pessoas e fizeram novas amizades. Sobre o diálogo daquela noite, não tocaram mais no assunto, o tempo se encarregaria de resolver as circunstâncias. De fato, estavam profundamente felizes. Agora um conhecia na íntegra o outro, sabiam da intensidade sentimental que os envolviam. Conheciam os limites. Não se passava em suas mentes o teor da aventura, tampouco se imaginavam amantes vulgares e, em seus corações, não se cogitava uma entrega total, até porque, não estavam ligados em apetites sexuais... Verdade que havia uma certa sensualidade, contudo de uma sensualidade que é própria do ser humano e mais diretamente controlada pelas emoções. O amor que os unia era embalsamado, acima de tudo, pelo respeito mútuo e pela admiração. Pode-se dizer, amor no verdadeiro sentido da palavra, totalmente imune às agressividades da sexualidade doentia.

Retornaram da viagem. Matheus estava mais adulto, amadurecia com cada passagem de sua vida.

A rotina voltara e os dias se iam em sequência.

Mais um ano se passou. Matheus completara 18 anos e 4 anos era o tempo que convivia com o pai, Fernando Cintra. Continuavam os mesmos: o mesmo amor, os mesmos abraços, os mesmos banhos juntos, o mesmo carinho. Era evidente que mais e mais Matheus se prendia a Fernando, mais e mais o amava, mais e mais o desejava só para si. Por outro lado, Fernando o entendia, sabia tratar-se de um sentimento igualitário ao seu, sem as nuances da promiscuidade, sem o tempero da maledicência, embora se tocassem e trocassem as mais efusivas carícias.

Resguardavam-se, evitavam tocar num assunto em que já se conheciam seus patamares e onde os alicerces se encontravam bem sedimentados e ancorados ao coração.

Era mais um dia de sábado, ambos estavam em casa. Matheus conseguira a habilitação e, agora, já dirigia o carro, contudo o caminho era sempre o mesmo, todos os dias: de casa para a universidade e da universidade para casa., ou então, quando saíam juntos para longos passeios aos finais de semana.

Foi o que propôs Fernando.

- Vamos dar um passeio?

- Vamos. Aonde iremos?

- O destino você escolhe – colocou Fernando.

Aprontaram-se e saíram. Percorreram cidades da área metropolitana , almoçaram na estrada e voltaram para casa. O tempo ameaçava chuva e concordaram que em casa estariam melhor. Eram 15 horas quando puseram os pés no apartamento. Logo Fernando o chamou para tomar banho. Após, puseram apenas uma cueca e se deitaram na cama de Fernando.

- De uns dias para cá – revelou Fernando – não ando me sentindo muito bem. Um constante mal estar me acompanha.

- Não é o estresse de trabalho? – Matheus perguntou.

- Pode ser... Não há de ser nada.

- Assim espero – disse Matheus.

- Coloca tua cabeça em meu tórax – pediu Fernando – assim posso acariciar-te os cabelos.

Matheus atendeu, porém seu coração pulsava forte.

- Sabe, pai, está aqui com você neste aconchego é algo muito gostoso. Esqueço-me de tudo...

- Eu digo o mesmo. Colocar a mão sobre seu peito e sentir seu coração pulsar alucinado como está, é algo indescritível para mim...

Entregaram-se a um momento singular, nunca antes vivenciado por eles. Tinham consciência de que havia entre eles um sentimento muito puro, sublime, verdadeiro. Um sentimento que não podia, jamais, ser comparado aos momentos fortuitos da vida, quando as pessoas se entregam apenas em busca das sensações que o prazer oferece, na maioria das vezes, de forma promíscua. Entre Fernando Cintra e Matheus havia um elo inexplicável, algo que o tempo edificou e que não havia palavras para dissertar a medida exata do amor que os unia.

Dosaram as tenções dentro das responsabilidades e do respeito que havia em si, um pelo outro. Permitiram-se acariciar livremente e percorreram de forma incondicional, seus corpos que sorriam felizes e que recebiam, em todos os pontos, o toque mágico da ternura. Não ultrapassaram, jamais, os limites da decência e do pudor, pois, sabiam ser infinitesimal o sentimento que os absorvia. Trocaram beijos no rosto e nas mãos, aos milhões. Horas e horas ali permaneceram até que, por impulsividade dos próprios organismos, houve a eclosão que sacia, de maneira incomparável, a sede do amor.

- Estou muito feliz... disse Matheus... só Deus sabe o tamanho do amor que tenho por você...

- Não estou em seu íntimo para mensurar, mas posso imaginar esta intensidade. É tão infinita quanto a imensidão do universo. Assim também é este amor que o devoto e que só o Altíssimo entende e abençoa! - Explicou Fernando Cintra.

Levantaram-se e foram tomar banho. Depois saíram para jantar fora. A partir de então, estavam entrelaçados na mesma corrente que tinha ligação com a divindade.

Alguns meses se passaram após esses momentos iniciais da intimidade que nascera entre eles. Muitas e muitas outras vezes repetiram, sempre na mesma sintonia e com a mesma força emotiva. Amavam-se!

No entanto, Fernando adoeceu. Estava fraco e prosseguia a reclamar do constante mal estar que o incomodava. Matheus levou-o ao médico, exames foram feitos, aí incluindo uma ressonância magnética. Fernando estava condenado: sofria de câncer e seu estado era terminal. Profundo abatimento se apossou de Matheus. Seu pai estava morrendo!

Duas semanas depois Fernando falecia para o desespero de Matheus. Em estado de choque, nem pôde comparecer aos funerais e não foi dar-lhe o último adeus. Internou-se em casa e, temporariamente, abandonou seu curso na universidade. Estava sem saber o que fazer, nem aonde ir, totalmente desorientado. Deixou o tempo seguir. Jamais iria superar a perda daquele que lhe dera um nome e, afinal, daquele a quem profundamente amara.

Três meses após o desenlace de Fernando foi que tomou consciência de que muito havia a ser feito. Buscou os documentos que Fernando lhe deixara e se inteirou da poupança e recebeu o seguro de vida: 500 mil. Tudo depositou e voltou a frequentar normalmente o curso de Arquitetura. Precisaria de conclui-lo e, para isto, não mediria esforços. Faria isto em memória de Fernando.

De fato fez. Contava agora, 22 anos, prestes a completar 23. Não saiu do apartamento em que residira com o pai, renovando sempre o contrato para dele ter a mais viva lembrança. Compareceu à Colação de Grau por uma questão de ser uma imposição de formatura, porém não tomou parte de mais nenhum evento a respeito. Estava graduado e isto era o que importava.

Três meses após a graduação, recebeu um convite para fazer parte do quadro de funcionários de importante representante de uma montadora de veículos. Aceitou, o salário era tentador e ele trabalharia com arquitetura, desenhando modelos de automóveis. Seu trabalho impressionou tanto que foi convidado a trabalhar nos Estados Unidos, diretamente com a própria empresa. Desfez-se de tudo, entregou o apartamento e viajou. Uma nova etapa estava a surgir em sua vida. Na terra de Tio Sam conheceu Sara, uma americana belíssima que por ele se apaixonou à primeira vista, e vice-versa. Casaram-se, montaram um lar e uma nova existência se descortinava diante dos seus olhos. Antes mesmo de completar um ano de matrimônio, Sara trazia ao mundo Louis, seu primeiro filho. Pela ordem chegariam: Carol, Andrew e Ligia.

Estava aparentemente feliz. Sara não poderia mais engravidar e, agora, sua missão era cuidar da educação dos rebentos. Jamais contou a Sara qualquer coisa em relação ao seu passado, isto ele levaria para o túmulo, todavia nunca se esqueceria de lembrar Fernando, para ele, o único e verdadeiro amor de sua vida. Mentalmente lhe dirigia preces e pedia ao seu espírito que o abençoasse e o protegesse durante sua permanência na terra.

Os anos correram. Matheus acabara de completar 30 anos. Há algum tempo houvera conseguido o Green-Card e se naturalizara cidadão americano. Fora convidado a enveredar pela política e impôs uma condição ao chamado: que sua atuação política não interferisse em sua vida profissional, pois, amava o cargo de projetista que desempenhava na empresa onde trabalhava. Fez tanto na política que findou tendo que optar: ou a política ou projetista de automóveis. Optou pela política e logo se tornou Prefeito de importante cidade americana. Sua ambição nos meios políticos era estar perto da Casa Branca, menos tornar-se Presidente, pois, sua condição de naturalizado não o permitia realizar tal sonho. Enquanto isso, seus filhos cresciam e Sara, a cada dia, mais era apaixonada pelo marido. Após o período na Prefeitura da importante cidade, tornou-se Governador do Estado e, de passo em passo, lentamente, via seus planos se concretizarem.

FIM DO CAPÍTULO V

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 04/08/2014
Código do texto: T4909856
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