O Perfume do meu Sertão- Nem tudo que reluz, é ouro!

Décimo capítulo

" A idealização do casamento é uma verdadeira perfeição. A noiva entra na igreja toda de branco parecendo ser intocável, os portais se abrem e as harpas tocam uma bela música... flores caem e todos os parentes estão lá, assistindo este verdadeiro espetáculo da sociedade. O noivo nervoso espera no altar e recebe a noiva, cumprimentando seu pai.

Tudo é tão bonito que se entorpecem os olhos e os sentimentos parecem ser perfeitos... abençoados por anjos.

Pobres mortais, se esquecem que o terreno onde pisam é instável e repleto de imperfeições! Não tem jeito... Isso se descobre através da árdua convivência diária e aprendendo assim apreciar não a perfeição, mas sim os defeitos de cada um."

Graça sai do sobrado com cara de "burro quando foge", incrédula do que tinha visto e ouvido naquela manhã. De longe a moça ouve o beato Raimundo gritar suas visões...

Beato Raimundo: Hoje só se vê nessa terra a mesquinharia!

Irmão apunhalando irmão pelo sentimento da inveja e da ambição...

Essa terra que hoje está verde e prospera, verá em breve o poder da seca e o sol castigará os maus!!!

A moça passa e observa rapidamente o beato, mas apressa o passo por medo do homem barbudo lhe atacar. Passa na frente de um bar e vê

Itamar, seu noivo, jogando sinuca em um horário onde era pra estar trabalhando no cartório. Faz uma cara de poucos amigos e entra no estabelecimento, para investigar o rapaz.

Graça: Bom dia meu noivo! Não era para estar trabalhando?

Itamar vira rapidamente surpreso com a sua cara mais lavada.

Itamar: Bom dia meu amor!!!

Sim era para estar trabalhando... como não!?

É que o dono do cartório vai abrir mais tarde hoje, e resolvi jogar uma partidinha!

Graça: Bom mesmo, bom mesmo...

Se meu pai te ver aqui, vai ficar muito bravo!

Ele não gosta de homem vagabundo.

Itamar: Eu não sou vagabundo... Assim até me ofende...

Graça: Ah meu amor! não foi a minha intenção, só estou lhe avisando!

Itamar: Eu sei que só pensa em meu bem.

Prometo que será rápido!

O rapaz abraça Graça e lhe beija na bochecha, a moça muito apaixonada fica vermelha como um tomate.

Graça: Bom, vou indo para casa. Vou ajudar mamãe no almoço.

Itamar: Vai lá meu bem! E passo para comer mais tarde.

Graça sai com passos leves do estabelecimento e acena para Itamar.

Robério: Nossa cabra, você é muito cara lisa. Sua noiva sabe que não está mais trabalhando no cartório?

Itamar: Não sabe e nem pode saber, entendeu!?

Robério: Entendi, entendi! calma...

Coisas de marido e mulher ninguém mete a colher!! Hahahaha!

Itamar: É isso ai! Hahaha!!!

Pare de falar e jogue... Vou te vencer nessa partida!

Enquanto na cidade a mentira rola solta no bar, na fazenda Eulália acorda cedo para ordenhar as vacas e no caminho resolve visitar o menino que salvou na velha gruta. Bateu na porta da pobre casa de barro, e ouviu a voz do rapaz pedindo que entrasse.

Eulália: Bom dia! trouxe um pouco de leite.

José: Bom dia!! Há, muito obrigado por se lembrar de mim...

Eulália: Que isso, foram as poucas vezes que vim te visitar. Estava aqui perto e resolvi ver se precisava de algo.

José: Muito obrigado, mas agora não preciso de nada. Estou muito bem tratado aqui na casa de Dona Maria... me tratam como um filho!

Eulália: Dona Maria tem um grande coração, é uma grande amiga pra mim e sempre posso contar com ela.

José: Ela vêm em uma e uma hora para perguntar se estou bem e isso não tem preço.

Eulália: Mudando um pouco o rumo da prosa, eu queria saber muito de uma coisa... desde que você apareceu.

José: O que? pode perguntar!

Eulália: De onde você veio? Não se lembra de nada antes do acidente!?

José: Essa questão que me aperta o coração...

Tento me lembrar, me esforço. Mas não me lembro de nadinha!

O que me lembro é que pedia socorro e sentia muito frio e fome.