Uma Mente de Criança — Capítulo 2 – Parte 5
A trilha pela qual o pequeno Vitor se embrenhou era tortuosa e hora se alargava, hora se estreitava. Em todo momento era obrigado a desviar de raízes e galhos soltos pelo caminho. Em um determinado momento, grato por não ter que fazer essa caminhada debaixo de sol, reparou que a trilha se alargava ainda mais. Os passos o levaram para uma clareira em meio à mata e, em seu centro, havia um grande lago de águas cristalinas. Era seu momento de matar a sede e acabar com a sensação salgada no fundo de sua garganta.
A copa das árvores eram tão extensas e tão densas que cobriam toda a extensão do lago e impediam o calor de tocar a água. Por esse motivo, o pequenino sentiu em suas mãos o gelado toque da água do lago. Ela escorreu por entre seus dedos e ele se permitiu saborear cada gota com imenso prazer. Sabia que água não tinha sabor, mas poderia facilmente jurar que aquela era a água mais deliciosa que já bebera em toda a vida.
Bebeu tanta água quanto pôde.
Sua mão era a única coisa que perturbava a forma cristalina do lago adornando-o com pequenos círculos que se estendiam para além desaparecendo lentamente, um a um, mais adiante. O restante da límpida água se tornara um espelho e o pequeno pôde ver seu rosto refletido. Não se sentiu mal ao vê-lo todo sujo, mas também não foi capaz de se apaixonar pela própria imagem. Apenas se fitou nos olhos por um instante como quando um soldado encara seu adversário antes de uma batalha.
Algo se moveu além de seu reflexo e não era um peixe. Alguém ou alguma coisa dividia os reflexos no lago com Vitor. Ergueu os olhos lentamente, com certo receio, e viu, ao longe, na margem oposta, um cervo bebendo a límpida água do lago. Alguém se mantinha em pé ao lado do animal, uma mão pousava sobre seu dorso. Vitor precisou forçar o olhar para perceber que era Jeferson quem acompanhava o cervo, parecia concentrado no que o animal fazia e provavelmente não tinha percebido a presença do pequeno.
Vitor já havia saciado a sede, decidiu, então, circular o lago e reencontrar o novo amigo.
Levou um tempo para completar o percurso e, quando se aproximou, Jeferson não perdeu sua concentração no animal. O pequenino ficou em pé, a certa distância, próximo a uma árvore, apenas observando-os. O cervo ainda mantinha a cabeça baixa tomando da saborosa água. Levou mais um tempo para que se saciasse por completo, quando o fez, voltou o olhar para Jeferson que ainda mantinha a mão no lombo do animal. O garoto colocou a outra mão no bolso e, dele, retirou um torrão de açúcar. O entregou ao cervo, que o comeu de uma vez. O animal deu meia volta em torno de Jeferson e, depois de um carinhoso afago do garoto em sua cabeça, o cervo deixou-o e adentrou a mata.
— Esse animal é lindo, não é? — perguntou Jeferson ainda olhando para a direção que o cervo fora embora. — Ele é muito especial.
Vitor sentiu-se envergonhado por ser descoberto espionando, mas logo se aproximou do novo amigo.
— Os cervos são seres mágicos — continuou Jeferson —, esse, em especial, é muito importante, é o rei de todos os cervos. E eu sou o responsável por ele.
Talvez a mente do pequenino tenha se enchido de dúvidas, mas só foi capaz de pronunciar a primeira delas:
— Você sabe onde posso encontrar comida?