Uma Mente de Criança — Capítulo 2 – Parte 4
— Essa é a Floresta das Flores — disse um garoto se aproximando do menino e o ajudando a levantar.
O novo garoto parecia ser apenas um pouquinho mais velho do que o nosso menino. Os dois se fitaram por um momento.
— Você está todo sujo! — disse o recém-chegado sem evitar uma leve risada.
O pequenino se abanou e depois bateu as mãos pelas roupas. Tirou a poeira e o que sobrara da grama, mas ainda continuava todo encardido.
O outro sentou no tronco de uma das árvores tombadas, essas eram as flores amassadas pelo pequeno que cresceram deitadas.
— Qual o seu nome? — perguntou ao pequenino.
Desde o momento em que saíra do buraco e encontrara a fada Princesa até então, não havia pensado no próprio nome. Teve que se esforçar para se lembrar.
— Vi... — gaguejou ao responder, mas, por fim, conseguiu dizer em alto e bom som: — Vitor!
— Prazer, Vitor! — disse o outro estendendo a mão e cumprimentando-o — Eu me chamo Jeferson.
Ficaram quietos por um momento.
— Você é o dono da floresta? — perguntou o pequeno, que agora nos convém chamar pelo nome, mas, enquanto ele ainda for pequeno, vou chama-lo também de menino, pequenino e outras palavras parecidas.
— Eu?! — disse Jeferson como quem não esperasse uma pergunta dessas. — Eu não. O dono dela é um senhor velhinho, ele é famoso e muito respeitado, todos sempre falam dele, mas eu nunca o conheci. Mas o que você achou das flores se transformando em árvores?
— Eu achei estranho.
— É, é bem estranho mesmo, mas isso é o que torna essa floresta muito importante. Hora as flores viram árvores, hora voltam a ser flores, mas quem decide isso são as próprias plantas. Quando elas estão em forma de árvore, podem ser cortadas e darão ótimas madeiras. Quando são flores, dão ótimos arranjos, mas, por vezes o velhinho tem encomenda de madeira e quando vai cortar as árvores, elas viram flores e ele acaba tendo que vender arranjos. Ou espera até que as flores voltem a ser árvores, mas isso pode demorar dez minutos ou, quem sabe, uma década. Quem decide são as próprias plantas.
— Mas quem fez a encomenda não fica bravo?
— É, às vezes os clientes ficam bravos, mas todos respeitam o velhinho e acabam aceitando o produto que ele os oferece.
A barriguinha de Vitor roncou mais uma vez e mais uma vez ele a cobriu com a palma da mão.
— Você sabe onde eu posso encontrar com...?
O despertador do relógio de pulso de Jeferson começou a tocar.
— Ah! — disse ele se levantando num salto — depois nós conversamos mais, agora preciso ir!
Da mesma maneira que surgiu, o novo garoto desapareceu por entre os troncos das árvores.
E Vitor teve certeza de que ficar só era algo como um destino para ele. Mas ele nunca entendera muito bem o que significava a palavra destino, então decidiu continuar por uma trilha que se abria a sua frente.