O Perfume do Meu sertão- Domingo, bom pra ir a missa!! ou não!?
Oitavo capítulo
" A maioria das pessoas, crescem, estudam, se formam doutores, encontram um amor e casam-se.. Constroem uma família e como a sociedade diz, feliz para sempre!
E aquela minoria? Aquela que não têm a sorte de encontrar um grande amor...
Ficam a procura em bares, na vida social e nada... Só desilusões. Vida cruel essa que oferece o amor de bandeja para uns e outros são esquecidos, famintos por constituírem um lar ou mesmo viver a sensação de um casamento.
Realmente a sociedade poderia ser mais branda com esses desafortunados, e para mim!?
Só fica o silêncio."
Neuza acordou cedo, muito cedo... Antes do galo cantar!
Era domingo, um dia especial para as solteiras de Rio Pequeno.
Dia de missa!
Pulou rápido da rede e viu que seu pai Jair, ainda estava roncando loucamente na rede ao lado.
A jovem senhorita com os cabelos desmaranhados foi até a cozinha esquentar água, para preparar um belo de um banho, coisas essas que só se vê em dia de domingo.
Curvou-se em baixo do fogão e retirou algumas brasas e colocou no velho ferro, então apanhou um vestido branco que estava secando no varal.
Ao pegar o vestido branco em suas mãos, começou a dançar uma valsa maluca que só para moça fazia sentido, admirou o vestido que ela mesma fez em direção ao sol nascente e voltou para cozinha. Esticou o vestido branco na mesa de madeira e começou a passar com o ferro em brasa, naquela manhã estava com esperança... Esperança de desencalhar, estava tão feliz que se pôs a cantar com sua voz aguda!
Neuza: Oh! Morena linda, de dente aberto... Vai no pagode o barulho e certo!!
Não, não me namore tão descoberto...
Eu sou casado, mas não sou cegooo!
Nesse instante a moça ouviu o sino da porta da frente tocar, logo largou o ferro. Colocou um lenço na cabeça e foi atender a porta antes que seu pai despertasse com tanto barulho.
Quando abriu a porta, viu o leiteiro sorridente lhe desejando um bom dia.
Neuza: Bom dia, Aristides! Como vai!?
Aristides: Vou muito bem.. Melhor agora que lhe vi!
Neuza: Ah! Que isso... Não diga essas coisas, sou moça solteira.
Aristides: Como assim solteira!?
Uma bela moça, com olhos tão brilhantes solteira??
Neuza: E a mais pura verdade, ainda espero um bravo cavalheiro para me desposar!
Aristides: E uma pena que já sou casado, se não lhe pediria em noivado hoje!
Neuza: E casado!? O que acha que sou?? Uma desfrutável pra ficar de conversa com homens casados!!
Aristides: Não quis ofender Dona, só fui gentil...
Neuza: Então vá dividir sua gentileza com as suas negas!! Era só o que me faltava!
A moça pegou a garrafa de leite rapidamente das mãos do leiteiro e bateu a porta com a cara fechada. O coitado do rapaz não entendendo nada, subiu na bicicleta e continuou o seu serviço.
Neuza: Fico perdendo tempo com galanteios de homens casados e me perco na caça aos solteiros.. Oh vida!!
A chaleira já estava piando em cima do fogão, Neuza retirou e misturou com a água fria da banheira, pegou o sabão em pedra e foi se banhar para a missa.
Saiu tremendo do banho, se secou com um pedaço de pano e espalhou perfume pra tudo qualquer canto, olhou bem para o único espelho que tinha e começou a escovar o seu longo cabelo ruivo. Então abriu a gaveta de um grande armário que fica ao lado da dispensa e pegou um laço cor de creme, colocou nos cabelos e se admirou no pequeno espelho.
Terminando com a grande arrumação, Neuza ouviu alguém lhe chamar do lado de fora da casa, sao suas amigas Graça e Márcia.
Graça: Neuza!! Mulher vamos logo!
Márcia: A missa vai começar!!
Neuza sai de sua casa andando engraçado, pois seus sapatos são novos e machucam os tornozelos, sem falar o cheiro de perfume que poderia sentir a léguas dali.
Neuza: Ah! Estou pronta.. Vamos!?
Graça: Tava demorando tanto, que pensei que hoje era dia do seu casório!!
Márcia: Há aha!! E mesmo...
Neuza: Engraçadinha você né Graça, diz isso por seu casamento estar próximo.
Márcia: E Neuza, ela agora ri de nós pobres solteiras!
Graça: Ai gente! Só quis fazer uma piada... E realmente estou nas nuvens, quero passar minha felicidade para o mundo.
Márcia: Vamos parar de conversa fiada e vamos pra missa.
Neuza: Vamos! Hoje me arranjo!! Hahaha
Chegando na igreja o padre fala os seus sermões mais que batidos por todos, as três repararam que todos os lugares estavam ocupados e o jeito era ver a cerimônia de pé, uma tortura para a pobre Neuza.. Não se aguentava de dores nos tornozelos.
Márcia: Todo domingo, sempre os mesmos rostos.. Cadê os rapazes solteiros!?
Graça: Nessa cidade só tem gente velha, os novos correram daqui!
Neuza: Aiii meus pés...
A missa passa lenta, as horas não passam e o povo repete apenas.. AMÉM... Sendo tudo que sai da boca do padre e um latim insuportável. Passadas três horas a missa acaba, para o alívio de muita gente.
Graça: Ainda bem que acabou, meu saco estava por estourar.
Márcia: Nossa.. Não fale isso, uma falta de respeito com Nosso Senhor!
As três saíram exaustas da missa, Neuza não se aguenta de dor e manca como se fosse uma velha. Nesse instante sai um moleque da multidão e grita apontando para Neuza.
Menino: Além de encalhada, agora e manca!! Hahaha !!!!
A moça ficou com tanta raiva, mais tanta raiva que sai fumaça pelos ouvidos, fica vermelha igual pimentão e tira uns dos seus sapatos para bater no moleque traquina.
Neuza: Vêm aqui seu diaboo!! E você que vivi me mangá do né!!!
Sai em disparada atrás do menino e todos que estam na praça, ficam horrorizados com a fúria da jovem.
Márcia: Alguém segura ela!!
Graça: Neuza! Pare com issoo! E apenas uma criança...
Dois rapazes foram segurar Neuza, e logo a moça se acalmou após um banho de água fria que uma senhora joga de sua varanda. Os risos na praça são inevitáveis, todos olhavam para Neuza como se ela fosse uma atração de circo, a coitada não se aguentou e desabou a chorar.
Graça: Vocês não tem nada melhor pra fazer!? Vão cuidar de suas vidas!!
As amigas conseguiram pegar a moça e levaram rapidamente para casa, próxima a praça da igreja matriz. Chegando a frente da casa, estava o velho Jair, preparando um bom cigarro de palha e com a sua paciência de sempre.