O Perfume do meu Sertão- Negócios são negócios! Família a parte...

Sétimo capítulo

"Tem gente que nasce pra generosidade, enfeita a vida de todos ao seu redor...

Tem gente sofrida, nascem com a bondade.. Mas com o passar dos anos o coração se torna uma rocha...

Tem gente que nasce pura malícia, não está disposto a perder... Custe o que custar!"

Lúcia observava a movimentação em sua casa, estava quieta como um lagarto. Seus olhos captavam cada movimento dos policiais e de antenas ligadas, com relação aos questionamentos vindos da cozinha.

Maria: Senhor delegado, eu te falei.. Depois de lavar a louça da janta, fui pra casa.

Meu marido não está muito bem... Fui cedo pra cuidar dele!

Ataulfo: E a senhora não escutou nenhum barulho estranho, ou viu algo suspeito?

Maria: Não vi.. E nem iria ver!

Tarde da noite a minha vista e péssima.

Ataulfo: Tudo bem, muito obrigado pela colaboração da senhora.

E se lembrar de algo.. E só me chamar.

Maria: Com toda certeza Seu delegado! Estamos as ordi!!

A cozinheira se retira da sala de jantar e o delegado faz anotações em seu bloco de folhas. Lúcia se mantém quieta e seus movimentos são calculados para não dispertar suspeitas, vai até o quarto e recorre a escrivaninha, onde tira um punhado de notas.

Olha para trás rapidamente, fecha a gaveta e guarda o dinheiro na lata que esconde de baixo da cama.

Nesse instante houve alguém lhe chamar e gela seu esqueleto.

Sebastiana: Lúcia!!

Sua mãe estava lhe chamando para prestar esclarecimento ao delegado Ataulfo. Neste "flash" de momento, a menina se recorda da noite passada, onde estava fora da cama fazendo o que não devia...

Noite passada:

Lúcia ouve o piar de uma coruja, mas não era uma coruja.. Pelo contrário, era o sinal da traição. Ouvindo o barulho de piar, rapidamente a jovem levanta e veste um Peignoir sobre a camisola, sai descansa para não fazer barulho.

Abre a porta dos fundos do casarão com cuidado e dispara no quintal de terra, até a porteira onde o convidado esperava. Era uma pessoa que a jovem já tinha certa intimidade, não sei onde se conheceram... E também não importava para os dois, Lúcia abre com dificuldade a porteira e entra Fausto com seu cavalo. O rapaz desse do animal e agarra a jovem, os dois começam a se beijar como dois cúmplices.. O desejo se misturava com a ambição dos dois, Lúcia que antes se parecia carola e respeitável, durante o beijo revelavasse uma garota safada, dispudorada, sem nenhuma vergonha.

Lúcia: Colocou a peãozada pra dormir? Deu a pinga batizada??

Fausto: Como combinado.. Estão dormindo feito bebê

Lúcia: Eai.. Trouxe a minha parte da grana??

Fausto: Mas e claro meu amor, sempre te trago.

O rapaz tira do bolso alguns tostões e isso irrita Lúcia, que o empurra com força.

Lúcia: Você só me trás isso!!

Te dou todas as coordenadas, das melhores fazendas da região, pra você roubar direito... E você me trás isso!? Eu não acredito!

Fausto: A sua ajuda e fundamental pra mim meu bombom...

E que os fazendeiros estão investindo na segurança, contrataram mais vigias, tá difícil!!

Lúcia: Dá isso aqui logo!

Espero que na semana que vêm o senhor me traga mais dessas verdinhas.. Viu!

Ah e por acaso.. Têm uma vaca bem gorda lá no estábulo!

Boa leiteira e parideira, quer levar??

Fausto: A vaca não e de vosso pai!?

Lúcia: E sim! Qual o problema de você levar essa?

Ele e rico, tem várias.. Porquê!? Tá com medinho?? Há aha

Fausto: Não e isso.. E que pertence a sua família.. E com isso vou te prejudicar.

Lúcia: Que nada! Prejudicada estou agora, dependendo dessa gente..

Aqui não tenho direito algum, você vendendo essa vaca pra mim, além de feliz.. Vou ficar mais rica e independente!!

Fausto: Você e um poço de inteligência!

Lúcia: Eu sei! Há aha!!

Que foi!? Vai ficar parado ai?? Vai logo!

Fausto: Só se for agora!!

Lúcia: Só se prometer trazer mais dinheiro pra mim.. Promete?

Fausto: Tá, ta bom! Prometo...

Onde está essa mina de ouro!? Hahaha!!

Lúcia: Putz.. Esqueci a chave lá dentro de casa, e agora?

Fausto: Sem problema.. Sou ladrão esqueceu!? Cadeado e de menos pra mim!

Lúcia: hahahaha!!

Seu criminoso perfeito...

Fausto: Sua vadiasinha perfeita.. Hahaha

Lúcia da um tapa na cara de Fausto e os dois começam a se beijar novamente.

Sebastiana: Lúcia! Tá surda!?

Vêm até a sala de jantar, o delegado quer lhe falar.

Lúcia: Já vou mãe!

A jovem se olha no espelho e arruma os cabelos, e reza para que não tenham descoberto seus podres.

Calmamente se dirige a sala, com sua cara de indiferença.. Como de costume.

Lúcia: O senhor deseja falar comigo?

Ataulfo: Sim,sim! Pode se sentar...

São algumas perguntinhas, de praxe.

Lúcia: Com licença, senhor.

Senta-se educadamente como se deve ser, mas não evita os tremores e o intenso suor de nervosismo que escorre de sua testa.

Ataulfo: Está nervosa senhorita?

Lúcia: Mas e claro senhor, estou preocupada com o desfecho deste caso lamentável.

Ataulfo: Fique tranquila, estamos apurando os fatos e com toda a minha experiência.. Vamos encontrar o rastro do meliante!

Com uma cara de poucos amigos, Lúcia abre um sorriso amarelo que não convenceria nem um pobre coitado.

Lúcia: Assim espero...

Olhando fixamente para a jovem, Ataulfo abre seu bloco de notas.

Ataulfo: Bom senhorita, vou ser objetivo e quero que me responda tudo o que vou perguntar, detalhadamente.

Lúcia começa a se mexer na cadeira como se estivesse incomodada, esfrega as mãos e não consegue olhar para os olhos do policial.

Ataulfo: A senhorita observou durante esses dias alguma movimentação, estranha nas redondezas de sua casa?

Lúcia: Não que me lembre... Todas as manhãs o sol nasce e se põe, sem nenhuma mudança por aqui.

Ataulfo: Não reparou se algum estranho ou forasteiro circulou perto dessas terras?

Lúcia: Senhor delegado, a minha vida e de casa pra igreja.. Quando estou aqui faço bordados para o meu enxoval e rezo pelas almas perdidas. Não fico reparando em homens, pois sou moça solteira!

Ataulfo anota cada virgula que sai da boca de Lúcia e nesse instante para com seu lápis.

Ataulfo: Não quis ser indelicado, longe disso.. Até peço desculpas a senhorita.

Como disse anteriormente são perguntas de praxe, não a motivo pra senhora se preocupar... não e mesmo?

Com cara de santa do altar, a jovem sorri novamente forçando o lábio.

Lúcia: Sim, sim!

O delegado observa sério o jeito da moça e volta para o bloco de anotações e escreve algo, movimento esse que causa calafrios em Lúcia, ela sabia que qualquer deslize durante aquela entrevista, podia leva-la diretamente a prisão.

Ataulfo: Voltando..

O que a senhorita fez na noite de ontem!? Precisamente na hora que aconteceu o fato.

Lúcia: Bom... Eu, e...

Há rezei treze ave marias, quinze padre nossos... Escovei meus cabelos como de costume, lavei meus pés e fui me recolher.

Ataulfo: Tem certeza? Nao falta mais nada??

Lúcia: Absoluta senhor delegado!

Um silêncio se faz na sala de jantar e só se houve o barulho do lápis batendo, incansável na mesa de madeira. Parecia uma eternidade para Lúcia, torturada por sua própria mentira.