O Perfume do meu Sertão- Em terra de cego, quem tem olho.. E Rei!
Quinto capítulo
"Vou me guiar através da sua alegria e esquecer o que passou,
dançar até o sol se pôr... Caminhando contigo seja onde for!
Por isso não chore menina, olhe no horizonte o amanhã...
o seu dia irá raiar através dos tempos.
Curta este vento!
Que ele te levará e aos seus sonhos acalentar... só pode ser mesmo coisas do ar."
Eulália adimirava a lua crescendo no limpo céu estrelado e escutava a música que saia das cordas da viola, a pequena fogueira esquentava os corações e levantava os pensamentos como fumaça. O amigo Adamastor cantava uma bela moda sertaneja...
Adamastor: Lá vai uma chalana, bem longe se vai!
Navegando no remanso... Do rio Paraguai...
Ah! Chalana sem querer, tu aumentas minha dor...
Nessas águas tão serenas... Vai levando meu amor!
Ah! Chalana sem querer, tu aumentas minha dor...
Nessas águas tão serenas vai levando meu amor!
Eulália: E assim ela se foi! Nem de mim se despediu...
A chalana vai sumindo lá na curva do rio...
E se ela vai magoada, eu bem sei que tem razão!
Fui ingrato, eu feri o seu coração!
Composição: Mario Zan e Arlindo Pinto.
A jovem emocionada bateu palmas para o amigo violeiro e adorou cantar espantando a sua tristeza.
Eulália: Essa música e simplismente linda!
E meus parabéns Seu Adamastor, e um ótimo violeiro...
Adamastor: Que isso patroa! Eu toco com o coração!!
Tudo pra festejar essa noite enfeitada do meu sertão.
Eulália: Realmente... Esse céu está maravilhoso, ainda mais com essa lua!
Parece uma pérola de tão brilhante.
Bom, a prosa tá muito boa mais eu tenho que voltar pra casa.
Adamastor: Se tiver novidades sobre o menino, eu te procuro!
Eulália: Obrigado por estar sendo tão atencioso com esse pobre...
Adamastor: Somos todos filhos de Deus patroa e esta no nosso dever,
ajudar o irmão que passa dificuldades.
Eulália: Sim, hoje `e ele que passa por dificuldades...
Mas amanhã pode ser eu... O senhor, Deus que me livre!
Infelizmente pode acontecer né!
Boas noite meu amigo!!
Adamastor: Boas noite menina Eulália! Juízo!! Hahaha!
Enquanto os amigos se despediam, os pais de Eulália conversavam no salão. Dona Sebastiana sentada em sua cadeira de balanço, bordava uma linda e extensa toalha de mesa... Erguia as agulhas, desciam as agulhas... Erguia as agulhas, desciam as agulhas... Movimentos intermináveis, mas necessários segundo ela. Seu João Miguel estava deitado em sua velha rede, puxava a cordinha presa no telhado e se balançava preguiçoso... Coloca o charuto na boca e bafora a fumaça fedorenta, mas necessário segundo ele, também não ligava para opiniões de terceiros.
Sebastiana: Então está tudo certo para o noivado de Lúcia?
João Miguel: Tá tudo arranjado, só falta o rapaz que vai chegar no próximo mês!
Sebastiana: Não sei não... Esse tal de Jair, não me deu boa impressão...
João Miguel: Lá vêm você com essas frescura de precentimento!
Esse homem e bem de vida, a mulher era podre de rica!!
Sebastiana: E como você sabe se a mulher dele deixou alguma coisa?
Viu as propriedades? Viu as suas posses??
João Miguel: A senhora tá me questionando? E isso??
Tá achando que não sou capaz de escolher marido pra minha filha!?
Já pro quarto!! Vai... Antes que eu te desça a mão!
Sua loca!
A mulher levantou de vagar da cadeira e pegou sua cesta de bordados.
Sebastiana: Com toda licença meu marido...
De cabeça baixa dirige-se ao corredor e desaparece na sua própria sombra.
A noite estrelada aos poucos vai dando lugar para os primeiros raios de sol... O dia já começava quente e o galo cantava sem parar no grande terreiro. Maria estava de pé jogando milho às galinhas esfomeadas... Se agrupavam dezenas nos lugares onde Maria despejava os grãos, uma verdadeira festa!
Quando terminou de alimentar as penosas, Maria entrou pra cozinha e começou a preparar o café da manhã. A menina Eulália estava acordada e foi buscar leite nas tetas das vacas, a melhor parte do seu dia! Tomava leite quentinho...
Quando chegou nas cocheiras, sentiu falta da vaca mais gorda, a Dalila. Saiu correndo de volta pra fazenda e avistou seu pai sentado na cadeira em frente a casa.
Eulália: Meu pai!!
A Dalila sumiu!!!
João Miguel: Como assim!? Sumiu??
Eulália: Não está nas cocheiras... E o cadeado estava aberto!!
João Miguel: Era só o que me faltava!
Cadê o incompetente do Emílio!! Pago esses vermes, pra ser roubado...
O fazendeiro cuspindo fogo chamou os seus capatazes para uma longa reunião no salão da casa grande, gritou com os pobres empregados que escutaram tudo calados.. Não poderiam responder ao poderoso João Miguel e perder o emprego.
Terminada a reunião tortuosa João Miguel resolveu ir até a cidade de Rio pequeno, pra fazer a denúncia de roubo e como ele mesmo diz:
João Miguel: Não vou deixar pedra sobre pedra!
Descobrirei quem facilitou a entrada dos meliantes, nas minhas
terras e acabar com a raça do safado!!
Emílio, o capataz que comanda a tropa, acompanhou o chefe até a delegacia de Rio pequeno para prestar esclarecimentos.
Os cavalos galoparam rápido como o vento e logo chegaram a cidade, o delegado Ataulfo estava prosiando com os amigos na praça e viu João Miguel de longe, soltando fogo pelas ventas!
Ataulfo: Licença compadres, a prosa tá muito boa... Mas pelo visto o problema chegou!!
(Risos dos amigos)
O delegado saiu correndo a tempo de alcançar o fazendeiro encrenqueiro.
Ataulfo: Senhor ilustríssimo... João Miguel!! O que devo a visita na minha humilde delegacia!
João Miguel: Não me venha com as suas firulas Ataulfo! O assunto e sério.... E melhor o Senhor se sentar que a história e longa.
Ataulfo: O Senhor me perdoe por não ter um cafezin, pra oferecer.. Sabe como `e.. Os recursos que a prefeitura disponibiliza `e uma miséria!
João Miguel: Aliás não `e só a prefeitura que está jogada as traças, sua delegacia está deplorável!
Olha essas paredes... Caindo de infiltrações... Lastimável!
Bom, não vim falar de assuntos públicos... O que me trouxe aqui, foi um roubo que aconteceu em minha propriedade!
Ataulfo: Roubo??
João Miguel: Roubo!!
Emílio: Sim, um roubo...
Ataulfo: Roubo do quê!?
João Miguel: A minha melhor vaca leiteira, Dalila.. Sumiu misteriosamente na noite
de ontem! E eu quero achar o culpado!!
Ataulfo: Senhor Emílio... Onde estava na noite de ontem!?
Um silêncio se faz na sala da delegacia e Emilio não consegue esconder o seu nervosismo exagerado.
Emílio: Patrão eu confesso!
Os dois velhotes olharam com os olhos arregalados para o capataz e preparando o bote!
Emílio: Confesso! Eu bebi demais na noite de ontem com a minha tropa...
Era aniversário do pequeno Luis e comemoramos com muita cachaça.
Então apaguei de bêbado... Não vi absolutamente nada!!
João Miguel: Mas eu te pago pra quê! Cabeça oca!!!
Os ladrões podiam ter entrado na minha casa, e matado minha família!
Pensam que meu dinheiro e capim, estou cercado de lesmas...
Ataulfo: Calma.. Calma Senhor Miguel, a pior coisa `e pensar com a cabeça quente!
Rapaz... Quem li deu a bebida!?
Emílio: Foi um amigo muito do simpático, que se juntou com a comemoração...
Tinha a cachaça e dividiu com agente! Hehee..
João Miguel dá um tapa no pescoço do empregado e resmunga.
João Miguel: Seu... Anormal!
Ataulfo: E esse indivíduo bebeu com vocês??
Emílio: Ih! Nem deu tempo... A tropa tomou toda a garrafa!
Depois esse amigo sumiu, não lembro mais de ter visto.
Ataulfo: Pela minha experiência.. Me parece que a sua tropa levou um belo de Apagão, Senhor Miguel.
João Miguel: Então deve ter sido esse filho de rapariga, que roubou a vaca!!
Só pode!!
Ataulfo: Os indícios mostram que sim!