O Perfume do meu Sertão- O Mistério do menino na gruta.

Terceiro capítulo

"Não se culpe meu bem o mundo e mesmo assim!

Repleto de tristezas e violência sem fim...

Menina que veio pra cá aprender e ensinar aos afins,

Não chore por não saber reagir as intempéries do mundo...

Faz parte da vida! Primeiro vêm a tempestade, depois aparece a bonança".

Eulália pegou a grande colher de madeira para ajudar a mexer o doce de caju, que estava ao fogo no fogão a lenha. Maria cozinheira antiga da casa, abanava o fogo e percebeu que a lenha estava acabando, se lembrou que seu marido Adamastor tinha saído para buscar uma encomenda na cidade e não tinha ninguém pra mandar buscar... Então fez um pedido a jovem Eulália:

Maria: Jesuis! Não tem mais lenha pra colocar no fogão!! E agora?

Pedi pra Adamastor não demorar na cidade, mas concerteza se distraiu pelo bar. Esse homem viu!

Eulália: Não se preocupa Maria.. Pego a carroça num estante e apanho lenha a tempo! Vou num pé e volto em outro.

Maria: E se sua mãe perceber? O que falo??

Eulália: Imagina! Com visita importante?

Nem vai se lembrar de mim... Hahaha!!

Maria: Então vai.. Vai rápido ehn....

A jovem saiu correndo e subiu na carroça que ficava aos fundos da fazenda, deu um berro que acendeu o velho cavalo Ventania.

Não foi muito longe, encontrou uma clareira perto do rio e começou a escolher os galhos... E ouviu um barulho!

Era uma vaca perdida, era das terras de seu pai... A jovem observou que o animal estava inquieto, parecia querer mostrar algo. Eulália que era super curiosa seguiu o animal e por alguns passos observou uma gruta, o animal entrou e lá foi a jovem ver o que ocorrera pra tanto nervosismo.

Perto de algumas pedras altas a jovem viu um menino desmaiado, parecendo estar ferido na perna. Assustada Eulália correu para prestar socorro ao menino...

Chegou perto e começou a chamar!

Eulália: Ei garoto!! Ei!

Esta vivo?! Meu Deus!!

Acordaa! Vaiii!!

Em instantes o menino começou a recobrar a consciência, parecia estar fraco pelo tempo que estava ali.. Mesmo nessas condições o menino conseguiu balbuciar algumas palavras.

Menino: Me ajude...

Eulália: Que bom! Está vivo...

Vou te levar até a carroça e prestar socorro..

Você pode me ajudar, estou sozinha e não tenho muita força!

Menino: Tudo pra sair daqui..

O menino se apoiou nas pedras e Eulália colocou seu braço sobre os seus ombros, com esforço conseguiram chegar até a carroça. A jovem deu outro berro e Ventania saiu em disparada pela vegetação.

Chegando a fazenda Eulália se encontrou com Adamastor na porteira e contou o que aconteceu ao amigo, que logo subiu na carroça e ofereceu um pouco de sua água que havia no cantil ao menino acidentado.

Parando a carroça aos fundos da propriedade a jovem grita por Maria, que sai correndo ver o ocorrido.

Maria: Jesus, Maria, José! O que aconteceu aqui!!

Eulália: Encontrei esse menino acidentado na gruta, sabe aquela da mata?!

Pois e, uma vaca me avisou!

Adamastor: Os bichos são mensageiros de Deus..

Vamos Maria levar esse garoto pra nossa casa!

Se o Seu João vê, e capaz de mandar joga ele na estrada!

Maria: Ai! E mesmo..

Rapidamente Adamastor tirou o menino desmaiado da carroça e corre pra sua casa simples, atrás do quintal de terra.

Maria: Fica um pouco com ele ai homem, aproveita e faz um curativo...

Vou na casa grande pegar um pouco de canja de galinha e cuscuz!

Já volto!

O homem simples tirou do seu saco de pano um litro de água ardente e despejou sobre o ferimento do menino...

Menino: Aaaiiii!!

Adamastor: Fica quieto.. E pro seu bem.

Menino: ta doendo...

Adamastor: Acho que sua perna não quebrou, só foi um ferimento.

Então Adamastor pega um pedaço de tecido e amarra na perna do menino.

Menino: Muito obrigado por tudo.. Salvaram a minha vida.

Adamastor: De onde você vêm??

Menino: Não sei.. To confuso.

Adamastor: Qual e o seu nome??

Menino: Não faço ideia...

Só me lembro do escuro da caverna e do frio que sentia!

Adamastor: Você tem cara de ser Zé!

Menino: Esse deve ser meu nome então.

Maria chega ofegante na cozinha do casarão e Eulália esperava a amiga aflita!

Eulália: Maria! Como ele está??

E na hora que a jovem pergunta, entra Sebastiana na cozinha.

Sebastiana: Ele quem!?

A cozinha fica silenciosa.. Eulália não teve coragem de se virar e olhar para os olhos do lobo, rapidamente Maria responde..

Maria: Aah patroa! A menina ta preocupa com meu marido.

Ele teve uma vertigem por causa do calor, mas já tá deitado...

Eu até vim pega um pouco de canja pra ele.

Sebastiana: Bom mesmo que seja só isso!

Estou com visita e não quero causar má impressão..

E o doce? Ta saindo??

Maria: Sim senhora!

A mulher volta para o salão deixando uma vibração tensa na cozinha, que logo foi quebrada pela menina ansiosa.

Eulália: Eai! Como ele ta!?

Maria: Tadinho.. Se recuperando...

Adamastor ficou fazendo o curativo

E vou correndo levar esse prato de canja!

Logo, logo vai estar bem...

Eulália: Deus te ouça!

Agora vou lá no quarto, que to doida de curiosidade pra saber dessa tal visita...

Isso me cheira a casório! Hahahaha!!

Maria: Hahaha!!

No salão a conversa era intensa, as duas partes tratavam de um negócio vital para a familia... Uma parte falava que o filho era bom moço, estudado e iria chegar com diploma, a outra parte pintava a filha como boa costureira, cozinheira de mão cheia e sabia recitar versos... Um verdadeiro toma lá da cá, regado com muito licor e humor do amigo Jair!

João Miguel: Então quer dizer que o menino que resolveu estudar na capital!?

Jair: Mais não to te falando compadre!

Esse menino sempre foi estudioso, tinha que ser doutor!

Não e burro igual o povo daqui não.. Eu acho que ele puxou a familia da mãe...

Só pode ser! Tudo com os pé na Alemanha, aquele povo que fala difícil...

João Miguel: Eu sei bem...

Então o caboclo deve se esperto! Muito bom.

Sebastiana entra na sala se senta ao lado de João, com ar de poucos amigos.

Sebastiana: O amigo vai ficar pra janta?

Jair: Não, não se preocupe... Eu tenho que volta pra cidade antes que anoiteça!

Sabe como e essas estradas, cheias de marginais...gente da pior espécie!!

Já ia lhe chamar pra me despedir.

Jair se levanta e se apóia na velha bengala, comprimenta Sebastiana e sai com João Miguel rindo com suas piadas sem graca.

Eulália bate a porta do quarto chamando Lúcia, estava curiosa para saber o motivo da visita do ilustre amigo.

Eulália: Lúcia?? Esta rezando?

Lúcia: Sim.. E só o que faço..

Sou um poço de virtude! Aliás era o mesmo que a senhorita deveria fazer...

Eulália: Ah eu sempre rezo, só não tenho paciência para perder um dia lindo desse..

Infurnada só rezando!

Lúcia: Depois não reclame se sua alma estiver queimando...

Eulália: Aii credo! Deus me livre!!

A jovem se benze e ajoelha ao lado da irmã carola.

Lúcia: O que queria me falar??

Eulália: Ah então.. Estou curiosa pra saber o motivo da visita do Sr. Jair!

Ficou sabendo de algo??

Lúcia: Eu vou me casar com o filho dele, um tal de André!

Eulália: Que bom minha irmã!

Sabe que já estava imaginando.. Que romântico!!

Quando vão se ver!? E o casamento? E quando??

A irmã vira a cabeça com um olhar fulminante e começa a morder os lábios..

Lúcia: Pare de ser alcoviteira! Olha só pra você.. Ridícula!!

Por isso que sou eu que irei me casar com um bom partido!

Quem vai querer se casar com uma caipirona feito você!?

Nem se dá o respeito... Olha só a sua roupa, toda suja de terra!

Eulália olha horrorizada para a irmã, incrédula nas palavras que ouviu... Não conseguia dizer mais nada! Saiu correndo de vergonha.. Disparada pelo corredor.