Devotos do Amor - cap. II
DEVOTOS DO AMOR
CAPÍTULO II
Contas a Pagar
Thiago era dorminhoco. Se não fosse o soar do alarme no celular, até poderia perder o horário. Levantou-se, cuidou-se, tomou o desjejum e foi para a escola. Ainda bem que as chuvas deram uma trégua. Ele ia à escola de metrô, separado do irmão. Ambos não se entendiam mesmo. Após as três primeiras aulas, finalmente veio o intervalo. Estava ansioso para o encontro que marcara com Christian. Apressou os passos e para o local se dirigiu. O novo amigo chegou no mesmo instante.
- Ei, cara – falou Chris – que bom vê-lo pessoalmente! É bem mais bonito do que pela web cam.
- Oi! Mais uma vez obrigado. Você também, face a face é bem mais charmoso.
- Gracias! – agradeceu em espanhol para agradar a Thiago – vamos lanchar?
- Vamos – Thiago respondeu – estou mesmo “hungry!” – Disse em inglês, devolvendo a gentileza.
Ambos riram. Encaminharam-se até a cantina e saborearam seus lanches. Sentaram-se numa mesinha, ficando frente a frente.
- Vou precisar de sua ajuda – falou Chris – tenho uma prova de espanhol amanhã e sou péssimo na disciplina. Você me ajuda?
- Sim... mas, como faremos?
- Onde você mora é longe daqui?
- Moro no bairro Central, vou e venho de metrô todos os dias. E você, onde mora? – Thiago indagou.
- No bairro Leste. Não fica distante de sua casa, uma estação depois da que você desce para ir à sua residência. – Chris explicou.
- Verdade. Eu vou à sua casa ou você vem à minha? – Questionou Thiago.
- Tanto faz para mim. Façamos o seguinte: como é a primeira vez, você vem à minha casa. Terminamos as aulas ao meio dia, poderemos sair juntos e pegarmos o mesmo trem. Aguardo você às 14:30, está bem para você? – Propôs Chris.
- Certo, porém, como chegarei em sua casa?
- Eu espero por você na estação. – Combinou Chris.
O sinal havia tocado. Reinício das aulas. Na saída voltaram a encontrar-se e foram lado a lado, no mesmo trem. Às 14:30h exatos, Thiago desembarcava na estação do bairro Leste.
- Gostei – elogiou Chris – você foi de pontualidade britânica.
- Gosto de ser pontual em meus compromissos. – Asseverou Thiago.
Andaram um pouco e logo estavam em frente ao prédio em que Christian residia.
- Em que piso você mora? – Thiago perguntou.
- Na cobertura- respondeu Chris.
O apartamento no qual Christian habitava era muito luxuoso. Dirigiram-se a uma sala de estudos e logo Chris mostrou a ele suas dúvidas de espanhol. Estudaram até 17h e resolveram parar.
- É o suficiente – disse Chris – vamos para cozinha fazer um lanche.
- Está gostoso? Quer mais? – Chris indagou.
- Não, obrigado, já estou satisfeito.
- Venha – falou Chris – venha conhecer meu quarto.
Thiago ficou encantado com o quarto do amigo. Havia de tudo nele, muito distinto do seu.
- Seu quarto é um luxo – afirmou Thiago – ficarei envergonhado de levá-lo à minha casa e mostrar-lhe o meu.
- Ah... deixa de bobagens. Isto que você está vendo é somente a vantagem de ser filho único. Tudo de meus pais é para mim, não tenho irmãos para dividir as coisas.
- Grande vantagem – concordou Thiago – Seus pais fazem o quê?
- Minha mãe é dentista, trabalha o dia inteiro; meu pai é gerente de uma agência de um banco americano. – Respondeu Chris – E os seus, o que fazem?
- Puxa! Estou atônito com tanta coincidência entre nós – explicou Thiago – minha mãe também é dentista e meu pai é gerente do banco X. Não é coincidência demais?
- Pensando bem... é sim! Será que nossos pais não se conhecem? – aventurou Chris.
- Não duvido de mais nada. – Thiago afirmou – é estrondoso como as coisas se combinam entre nós.
- No mínimo é interessante – Chris concordou – e estou adorando estas coincidências.
- Por que está adorando? – Questionou Thiago.
- Na verdade, eu sempre quis ter um irmão, vivo muito só, apesar de gostar, como disse, porque tudo é feito pelos meus pais apenas em meu benefício. E eu estou desvendando em você o irmão que eu gostaria de ter... – Chris confessou.
- Eu fico assim meio sem graça – falou Thiago – lá em minha casa vivemos bem, não nos falta nada, porém você é de família riquíssima.
- Não vamos misturar as coisas – propôs Chris – Sejamos amigos através do elo dos nossos sentimentos, não permitamos que o que for material nos importune.
- Fica bem assim – Thiago colocou – uma amizade verdadeira não se envolve com bens materiais. Você conseguiu compreender o que passei para você de espanhol?
- Não tenho mais dúvidas, todas foram sanadas. E você, precisa de ajuda em inglês? –Chris perguntou.
- “No, thanks, I do not need. I can speak English very well...” ( não, obrigado, eu não necessito. Eu posso falar inglês muito bem...) – Thiago respondeu.
- Você é fluente em inglês? – Chris quis saber – nem me disse nada...
- Faço curso de inglês desde os 7 anos. Estou no último estágio do avançado, este ano eu concluo – Thiago explicou – Meu irmão também, estuda inglês desde os 7 anos.
- Eu preciso estudar espanhol – afirmou Chris – pois, pelo fato de meus pais serem ingleses, eu domino a língua e eles só falam comigo em inglês... Que tal você ensinar-me espanhol?
- Podemos pensar no assunto - Relatou Thiago – mas agora preciso ir-me, tenho de estar em casa na hora do jantar, meus pais exigem todos à mesa durante as refeições.
- Valeu! – agradeceu Chris – como posso agradecer? – Quis saber.
- Apertando minha mão.
Despediram-se. Thiago voltou às pressas para casa, teria de chegar por causa das fofocas de Nicholas, visto que fora à casa de Chris sem fazer a devida comunicação. Ainda bem que entrou na residência antes dos genitores, no entanto Nicholas estava na sala e não deixou escapar a oportunidade de tirar sarro com a cara do irmão.
- Ué... – disse Nicholas – pensei que você estivesse em seu quarto... aposto que nem disse aos nossos pais que iria sair...
Thiago fechou a cara e não deu resposta, apenas apontou o dedo em direção a Nicholas.
Afinal os pais chegaram e se prepararam para o jantar. Durante a refeição, Nicholas não deixou passar em branco a novidade.
- Vocês sabiam que Thiago passou a tarde inteirinha fora de casa? – Entregou Nicholas aos pais.
Senhor Ayala perguntou a Thiago.
- É verdade o que seu irmão está a dizer, Thiago?
- Sim, pai, é verdade.
- Por que não nos comunicou? – Questionou o genitor.
- Porque foi uma coisa assim de repente e o senhor nem minha mãe gostam de receber ligações em horário de trabalho. Desculpa!
- Onde esteve?
- Em casa de um amigo da escola, no bairro Leste. Ele precisava de algumas explicações de espanhol e eu fui ajudá-lo, já que amanhã ele terá prova. – Thiago tentou justificar.
- Quando terminar a janta vá para seu quarto – ordenou senhor Ayala – está de castigo. Duas semanas sem computador e sem sair de casa, nem mesmo para ir à praça para conversar com seus amigos. Só sai para ir à escola e retorna...
- Mas... meu pai...
- Não aceito insatisfações, está decidido.
Nicholas queria rir, mas conseguiu controlar-se. Estava feliz, o irmão de castigo, duas semanas sem computador, duas semanas sem ir até a praça brincar e conversar com os amigos. Estava de peito cheio...
Thiago mais nada disse, simplesmente obedeceu. Foi para o quarto conforme a ordem recebida. Deitou-se e adormeceu. Ficou com ódio de Nicholas: “infame, traidor...Você me paga!” Thiago adormeceu pensando desta forma.
Por volta de 22 horas despertou. Foi ao banheiro e saiu do quarto, dando uma volta pelo apartamento. Tudo estava apagado, todos estavam em seus aposentos, provavelmente dormindo. Entretanto ele observou que o quarto de Nicholas estava aceso e não havia ruído vindo da parte de dentro. Imaginando que o irmão houvesse adormecido e esquecido a luz acesa, lentamente abriu a porta e entrou, mas... nem sinal de Nicholas. O que estaria acontecendo? Devagar vasculhou todo o ambiente e... nada! Ouviu alguns gemidos vindos da suíte e, na ponta dos pés, aproximou-se. Tomou um susto com o que viu, porém nada disse. Do mesmo jeito que entrara na alcova saiu e foi bater à porta do quarto do pai. Senhor Ayala atendeu.
- O que você quer? – Indagou – Ainda bem que eu não estava dormindo.
- Venha ver com seus próprios olhos, meu pai – afirmou Thiago – é bom que veja para depois Nicholas não argumentar que estou a inventar coisas.
Senhor Ayala o acompanhou até o quarto do irmão. Chegando à porta do banheiro, senhor Ayala pegou Nicholas no flagra.
- Muito bonito, Nicholas – reclamou – do jeito que está venha cá.
Nicholas estava nu em pelo e masturbava-se. Senhor Ayala pegou um cinto do próprio Nicholas e deu-lhe uma sova, uma sova bem dada que certamente o marcaria para o restante de sua vida.
- Isto é para você aprender a não praticar mais o que fazia – Disse senhor Ayala.
Quando concluiu a sova, afirmou:
- Dois meses sem computador. Dois meses sem pôr os pés na rua, menos para ir à escola e dois meses sem ver televisão.
Senhor Ayala voltou para o seu dormitório, batendo a porta. Thiago tinha lágrimas nos olhos. Apesar de não se entender com o irmão, achou muito severo o castigo imposto a Nicholas.
- Sacanagem! – disse Nicholas – foi você que me entregou, não foi?
- Você queria que eu fizesse o quê? – Perguntou Thiago – Você me entregou na janta, por sua causa também estou de castigo, só que apenas por duas semanas, enquanto você... por dois meses! Bem feito! Para você aprender a não desejar o que é de ruim para mim.
- Não se esqueça de que estou em sua cola – ameaçou Nicholas – não deixe brecha, pois se descubro, eu o entrego outra vez.
Thiago não disse mais nada. Apontou-lhe o dedo e se retirou para seus aposentos. Mal entrou, seu celular tocou. Era Christian.
- Não posso falar agora – justificou – o clima aqui está pesado. Amanhã no intervalo conto tudo para você. Boa noite, meu irmão!
Desligou. Do outro da linha, Christian sorriu, feliz...
FIM DO CAPÍTULO II