Contatos - Parte IV
CONTATOS
Parte IV
Dois meses adiante estavam os noivos no Palácio da Justiça perante o juiz de paz. A cerimônia foi simples e rápida e contou apenas com a presença da família dos nubentes. Até Amélia já bastante melhor da saúde compareceu ao casamento do filho, assim comentando ao marido:
- Sabe, Ananias, pode parecer loucura, todavia acredito que se amem muito e que serão assaz felizes.
- Também penso assim, Amélia. Vai nos fazer falta nosso filho, mas continua sendo nosso único rebento e vai morar perto, não em outra cidade. – Disse Ananias Vila Real.
Os recém-casados viajaram em lua de mel. Estavam felizes e nem parecia haver entre eles a enfadonha e preconceituosa diferença de idades. Passaram uma semana fora e retornaram para a vida cotidiana. Vinícius agora ia à escola junto com os enteados e, se já eram amigos, mais amigos se tornavam a cada dia que se seguia.
Três meses após o consórcio houve uma tarde de grande alegria em casa de Emília Régis. Era um sábado e, à hora do almoço, ela comunicou a todos de uma só vez, incluindo aí o marido que desconhecia a novidade.
- Gente, tenho uma novidade a relatar. – Falou Emília - Estou grávida!
A felicidade era enorme. Vinícius encheu os olhos d’água e seus enteados, idem.
- Que boa notícia, mãe! – Disse Ralph – Isto merece uma comemoração!
E abriu uma garrafa de vinho branco e todos ali partilharam deste momento de profundo contentamento. Ainda bastante emocionado, Vinícius Matheus Vila Real ligou para a casa dos pais, dando a notícia.
- Que felicidade, meu filho! – parabenizou Ananias – Hoje irei aí com sua mãe visitá-los, logo mais à noite.
- Venham – Convidou Vinícius – Serão muito bem-vindos.
Ananias contou à Amélia e esta chorou tanto que parecia uma criança.
- Ah, Ananias, isto é uma alegria muito grande para o meu coração. – Colocou Amélia.
Neste mesmo dia, à noite, conforme anunciaram, Ananias Vila Real e sua esposa foram visitar o filho e sua consorte, desejando aos mesmos anos e anos de muita felicidade.
Os meses seguiam e a gravidez de Emília era complicada, muito difícil, bastante diferente das anteriores que tivera. Certo dia, de acordo com o médico, foram à ultrassonografia e o resultado deixou a todos contentes, porém, ao mesmo tempo, apreensivos.
- A senhora será mãe de trigêmeos, dona Emília – Confirmou o médico – Meus parabéns!
Emília parecia não crer no que ouvira...
- Mãe de três de uma só vez? – Admirou-se – Olha só, Vinícius, o que você fez comigo. Três – Três meninos – Trigêmeos... Será que vou suportar?
- Claro que vai – disse o pai – Isto é bênção do Altíssimo.
A família inteira tomou conhecimento do resultado dos exames. Realmente ficaram apreensivos devido à idade da mãe, não por problemas financeiros que eles não tinham. O tempo avançava e chegou o dia do parto. Pela primeira vez Emília era submetida a uma cesariana e tudo deu certo, a cirurgia fora um sucesso em todos os aspectos. Os bebês nasceram saudáveis, a mãe passava bem e o pai era todo felicidades. O próprio Vinícius deu nomes aos recém-chegados: Caio, Kléber e Danilo. Emília teria de desdobrar-se para amamentar os três... e como eram gulosos!
De certa forma, foi bom para Emília a cesariana, o médico fez ligação e disse-lhe que não poderia mais engravidar, seu útero, certamente, não suportaria uma nova gravidez e sua vida poderia correr riscos.
O que se pode chamar felicidade, era exatamente isso o que havia no lar de Emília e Vinícius. Eles se amavam cada vez mais e união com os outros filhos de Emília estava sedimentada.
Os anos correram. Os trigêmeos estavam com 4 anos, Vinícius chegara aos 20, Emília aos 40.
Só que Vinícius adquirira uma doença perigosa e estava muito mal no hospital, era paciente da UTI. Eram poucas suas chances de sobrevivência, seu organismo não respondia ao estímulo dos medicamentos. Ele era portador de Leptospirose, a doença provocada pela urina do rato. Emília estava inconsolável, os enteados, idem e os pais do doente, desesperados. Amélia havia conseguido a cura para seus males, no entanto era seu filho que estava a partir para o outro mundo. Estava triste e arrasada. Ananias não parava de prantear: era seu único filho!
A enfermeira trouxe a notícia:
- Lamento informar, mas o paciente Vinícius Matheus acaba de falecer.
A angústia e o sofrimento foram cruéis. Ninguém queria aceitar, momento muito difícil para todos. No velório, realizado na capela do próprio hospital, houve intenso inconformismo e dor. Aos gritos, Emília derramava suas lágrimas pela perda do segundo marido.
- Não! Que mundo ingrato! Que Deus é este que deixa ir embora uma criatura tão linda, tão cheia de vida! Que desgraça é esta vida! – Gritava e gritava Emília.
O sepultamento foi atroz, todos choravam, soluçavam, gritavam, inconformados com a perda.
Mais uma vez o tempo passava. Ele, o tempo, nada melhor que ele para enterrarmos nossas mágoas e nossas dores. Emília não casaria mais. Sua casa que antes só conhecera alegria, agora vivia num mutismo de dar dó.
Dez anos adiante. Os trigêmeos estavam com 14 anos e muito pouco se lembravam do pai. Os outros filhos de Emília, quase todos casados, bem casados, diga-se de passagem. Só restavam
em casa do primeiro matrimônio: Elaine, Samuel e Sandra, mesmo assim, estavam noivos e de casamentos marcados. Emília via nos trigêmeos a imagem de Vinícius e sempre conversava com eles sobre o pai, precocemente falecido.
- Filhos meus, fui casada duas vezes. Fui feliz em meu primeiro matrimônio, todavia o que o amor verdadeiramente é, isso só descobri com o pai de vocês. Era uma criança, ele só tinha 16 anos quando nos casamos, era mais filho meu do que marido. Lindo, sensual, inteligente! Fui a única mulher da vida dele, jamais voltarei a amar alguém dessa forma, jamais!
- Pena que não tenhamos conhecido melhor nosso pai e com ele convivido – Lamentou-se Caio- mas temos você e isto é o que nos importa agora.
E os quatro choraram juntos. Essa passou a ser a tônica na vida de Emília.
Mais dois anos adiante. Emília contava 52 anos, os trigêmeos, 16. Os três eram dedicados à arte: Caio, excelente ator, entrou para a televisão e era sucesso absoluto; Kléber, excepcional jogador de futebol, um grande craque logo descoberto pelos times do exterior e levado para as categorias de base do Barcelona, na Espanha; Danilo, cantor. Danilo Vila Real, o jovem cantor teen que arrebatava multidões, tanto de garotas como de garotos. Era um fenômeno. Além de cantar, era exuberante músico, lidava com facilidade com o piano, teclado e todos os instrumentos de corda. Emília não se opôs à carreira de nenhum deles, todos orgulhos da família. Também eram paparicados pelos avós, pais de Vinícius, que apesar das idades um pouco avançadas, curtiam os netos como se curtissem ao próprio filho.
FIM DA PARTE IV