O SÓTÃO

O SÓTÃO

(Prólogo e primeiro capítulo do livro que estou escrevendo sobre a vida de Harold Jacobs, baseado em relato da mesma. Ela descobriu que era escrava aos seis anos, durante o enterro da mãe. Perseguida pelo seu senhor, que queria possuí-la, passou sete anos escondida em um pequeno sótão construído na casa da avó, bem perto da casa do seu perseguidor)

PRÓLOGO

Estou dentro de uma escuridão total, mas por estes dois pequenos buracos posso ver o que se passa lá fora. Foi uma boa idéia construir esse pequeno sótão bem no nariz deles. Há pouco vi e ouvi dois caçadores de escravos conversando sobre a minha fuga. Muito raramente alguém iria sugerir que eu podia estar nas proximidades. Se a menor suspeita caísse sobre a casa de minha avó, ela teria sido totalmente queimada. Mas seria o último lugar em que pensariam. Não sei por quanto tempo vou suportar ficar aqui nesse esconderijo, mas se Deus existe alguma coisa boa deverá acontecer. Não posso perder a esperança. Ouço as vozes dos meus filhos e choro. A luz que entra pelos orifícios é muito pequena. A escuridão é opressiva. Não obstante, prefiro isto à minha sorte de escrava. Eu nunca tive um trabalho cruel. Nunca fui cortada pelo chicote de alto a baixo. Nunca fui espancada e machucada a ponto de não poder me voltar de um lado para outro. Não me cortaram os tendões do calcanhar para impedir-me de fugir. Nunca fui acorrentada a um tronco e forçada a arrastá-lo ao trabalhar nos campos de manhã à noite. Nunca fui marcada com ferro em brasa, nem estraçalhada pelos sabujos. Pelo contrário, sempre fui bem tratada, e cuidada com carinho, até chegar às mãos do Dr. Norcon. Mas para mim o inferno começou mesmo quando minha mãe faleceu.

CAPÍTULO PRIMEIRO

EDENTON – 1819

No silêncio daquela tarde de outono o som das marteladas fechando o caixão se transformaria em um mantra do qual Linda Brent se lembraria pelo resto da vida. As pessoas presentes no sepultamento de sua mãe interpretaram aquele som como um presságio de dias ruins para aquela menina de seis anos. Antes da última pá de barro cobrir inteiramente a cova, uma mulher branca, alta e magra, jogou uma rosa vermelha sobre o caixão. Era Margareth Horniblow, a patroa da falecida. O gesto era a confirmação do quanto ela prezava sua ex-escrava.

- Não deixarei seus filhos desamparados ― jurara ela no leito de morte de Lila.

A menina teve a impressão de que a flor seria recolhida pela mãe e guardada com muito carinho naquela nova moradia. As imagens fizeram seu choro diminuir, diminuir, até sobrar um soluço baixinho, quase imperceptível. Ao seu lado, Williams, seu irmão de quatro anos também chorava. De repente a voz de sua avó Marta lhe cortou o pensamento.

- Venha Linda, vamos para casa!

Linda soltou a mão do irmão e subiu em um pequeno banco de cimento próximo à cova da mãe. As sepulturas em torno dela eram simples, algumas ostentavam flores murchas. Apenas uma cruz de madeira ornava a maioria dos túmulos. Então ela percebeu.

- Vovó! Este é o cemitério dos escravos! Mamãe era uma escrava?

Marta sentiu o coração contrair-se num espasmo doloroso. Numa fração de segundos ela voltou no tempo. Viu sua mãe morta sobre a carroça, os preparativos para o enterro, a cova rasa naquele mesmo cemitério. A diferença era que ela sabia que era uma escrava. Apreensiva, olhou para Margareth Horniblow.

- Sim Linda, sua mãe era uma escrava, mas para nós era como se não fosse - interveio Margareth quase sussurrando – mas não se preocupe. Prometi à sua mãe que cuidaria de você e de Williams e vou cumprir minha promessa. Vocês continuarão morando comigo.

Linda correu para junto de Marta.

- Vovó é verdade?

- Minha filha, quando você crescer saberá toda a história, eu lhe prometo. Confie na senhora Meg. Ela gostava muito de sua mãe.

- Não posso ir morar com a senhora?

- Pode sim, mas só se a senhora Meg permitir, mas ela já disse que vocês dois vão morar com ela.

- Tia Marta, leve as crianças para minha casa, ordenou Margareth Horniblow.

O percurso até a residência da patroa de sua mãe não era longo, apenas sinuoso e levemente inclinado. Caminhavam subindo olhando os últimos raios do sol que se despedia. Linda contemplou os campos cobertos de algodão e teve a impressão que a qualquer momento sua mãe surgiria no meio daquela brancura, segurando a rosa vermelha que a senhora Margareth lhe jogara. E se ela se furasse nos espinhos da rosa? Linda viu o rosto de sua mãe se contrair de dor. Ela viu cair sangue do ferimento e o sangue era negro cobrindo o algodão. O sol havia recolhido os raios e as sombras tomavam conta de tudo. Era noite quando chegaram à casa de Margareth Horniblow. A mulher magra e branca era proprietária de poucos escravos, entre eles dois irmãos e uma irmã da falecida. Foi esta quem acomodou as duas crianças no quarto destinado pela patroa. Williams logo adormeceu, porém Linda ficou um longo tempo contemplando as estrelas enquanto o vento assobiava nas árvores. Ela sabia que estava cercada por pessoas que lhe queria bem: a tia Betty, os tios Mark e John, a avó Marta, e principalmente sinhá Margareth, que tratava a sua mãe muito bem, mas imaginá-la enterrada naquele cemitério de escravos lhe dava uma agonia que perfurava a alma. E a revelação de que era uma escrava tornava a noite muito mais negra e o som do vento como o gemido coletivo de milhares de escravos acorrentados e açoitados pelos chicotes da escravidão.

Pela manhã Linda acordou com a voz do pai. A menina, no meio daquela turbulência, não dera conta da ausência dele. Mais tarde ela ficaria sabendo da realidade cruel que lhe fora ocultada, blindando-a dos horrores do sistema. Porém, agora, seu instinto lhe dizia que a ausência constante dele tinha a ver com sua condição. O tom azul-claro das paredes realçado pelo brilho dos raios matinais contrastava violentamente com o abatimento de seus olhos. Tia Betty tentou animá-la:

- Linda! Seu pai esta aqui!

Por um momento ela pensou que tudo não passara de um terrível pesadelo. Mamãe está lá embaixo e vai recebê-lo com um abraço. Até sorriu para a tia, mas ao ver o irmão dormindo no mesmo quarto sufocou um gemido inaudível. Ao ver o pai atirou-se aos seus braços num pranto convulsivo. Daniel Jacobs tentou em vão segurar as lágrimas. Ele havia prometido à mulher que compraria a liberdade dos filhos.

- É verdade Lila, meu patrão, antes de morrer, deu-me autorização para trabalhar para mim, nas horas vagas. A cidade está crescendo e muitas construções estão surgindo. Você sabe que não existe um carpinteiro melhor do que eu. Vou ganhar um bom dinheiro, se Deus quiser. Aí compro a minha liberdade e a dos meninos.

Agora Lila estava morta.

Mergulhado no seu sonho Daniel passava pouco tempo com os filhos. Com gesto carinhoso ajeitou a filha no sofá enquanto procurava as palavras para lhe falar. Precisava contar toda a verdade, dizer-lhe que a proposta era brindar-lhe dos horrores da escravatura. Não suportaria ver a filha se transformar numa moça para virar mulher do patrão, fazer filhos para serem vendidos como animais. Não podia imaginar a sua pele marcada pelos açoites, ou vê-la acorrentada no tronco como castigo. Sabia que enquanto a Tia Marta estivesse por perto as crianças estariam seguras. Ela tinha muita moral. Sabia se impor, mas as coisas não seriam sempre daquela maneira. A melhor solução era mesmo comprar a liberdade. A voz saiu embargada, misturada num soluço:

- Linda! Papai está aqui...

- Vovó Marta disse que eu sou escrava, o que vai acontecer agora? Disse Linda soluçando.

- Não vai acontecer nada, filhinha, a senhora Meg gostava muito de sua mãe, e tem um bom coração. Saiba que ela comprou todos os seus tios. Foi um presente para sua avó.

- Um presente para vovó? Como assim?

- Vou contar a história dela para você entender melhor. A mãe dela, sua bisavó, era escrava de um rico fazendeiro em Virgínia. Um irlandês com um coração bom. Quando morreu e foi aberto o seu testamento ele havia deixado sua bisavó livre, juntamente com seus filhos, entre eles a sua avó Marta, então com seis anos de idade, a mesma idade que você tem agora. O irlandês deixou também um bom dinheiro. Podendo circular livremente pelo país ela resolveu ir para St. Augustine, pois tinha alguns parentes por lá. Por esse tempo estourou a Guerra da Independência. Os escravagistas aproveitaram para apreender qualquer escravo, mesmo com cartas de alforria nas mãos. Sua bisavó foi capturada, ela e os filhos e foram enviados de volta. O dono de um hotel comprou a mãe e a filha, os filhos foram adquiridos por diferentes compradores. Sua bisavó não suportou o sofrimento e morreu ainda na carroça que as levava à taberna.

- Como era o nome da minha bisavó? Perguntou Linda mais calma.

- Tia Marta me disse que ela se chamava Fair, mas deixe-me continuar. Onde eu estava mesmo?

- Na morte da vovó Fair, respondeu Betty olhando para a porta da sala. Tinha receio de a senhora Margaret surgir inopinadamente.

- Isso mesmo. Chegando à casa dos Horniblows a garota logo agradou a todos. Mesmo com pouca idade passou a cozinhar e cuidar da residência com muito esmero. À medida que crescia ampliava seu controle sobre quase tudo no lar dos Horniblows. Ela se tornou enfermeira, parteira, jardineira, pau pra toda obra. Os Horniblows viviam agradecendo aos céus pela excelente escrava que haviam comprado. Quando ela resolveu se casar com seu avô os patrões não fizeram nenhuma objeção.

Daniel sentiu vontade de explicar à filha que os filhos nascidos daquela união seriam propriedades dos Horniblows. Marta e o marido não teriam nenhum direito sobre eles, mas o horror era muito grande para o entendimento de uma menina de seis anos.

- Desse casamento nasceram o Mark, a Betty, a Lila e Williams, e Benjamim. Todos ficaram aos cuidados da Vovó Marta, vivendo e servindo aos Horniblows, pois os filhos dos escravos continuam sendo escravos. O senhor Horniblow era um homem bom, tratava bem os escravos, mas ai aconteceu uma coisa ruim: ele fumava muito e acabou tendo um enfarto do coração. Morreu e o seu patrimônio foi dividido entre a viúva e os filhos. Sua avó foi mãe de leite das filhas de sua patroa. Com três meses de vida sua mãe foi desmamada para não faltar leite para a menina Margaret. Elas foram criadas juntas. No ano que você nasceu houve uma segunda partilha dos bens do falecido senhor Horniblow. Os escravos foram formados em grupos de quatro. Como sua avó tinha cinco filhos, Benjamim não foi incluído na venda. Sua propriedade ficou dividida entre as filhas do senhor Horniblow, Peggy e Eliza. Em 1817, o Dr. James Norcon fez uma petição em nome de sua mulher, Mary Horniblow Norcon, também filha do velho Horniblow, e as outras filhas, para que Benjamim, então com doze anos, fosse vendido. Quem o comprou foi o senhor Josiah Collins por 675 dólares. Dona Marta quase morreu de desgosto, mas resolveu trabalhar mais ainda para comprar a liberdade dos filhos. Quando o senhor Horniblow era vivo lhe dera permissão para que ela vendesse os biscoitos e bolinhos que fazia com suas pequenas economias.

- Como ela arranjava dinheiro se era escrava?

- Sua avó sempre foi esperta. Atuando como parteira ou enfermeira na vizinhança as pessoas lhe davam dinheiro. Com as sobras dos alimentos ela fazia deliciosos biscoitos. Chegou a juntar trezentos dólares, mas caiu na besteira de emprestar a patroa. Nunca mais viu a cor do dinheiro. Pra encurtar a história a senhora Margaret, resolveu comprar os filhos da sua avó. Só o mais novo, o Benjamim, ela não conseguiu resgatar. Dona Marta agradeceu muito, mas continuou trabalhando com a intenção de resgatar os filhos. E eu também estou trabalhando para mim nas horas vagas. Juro que você e Will serão livres um dia. Agora fique tranqüila que todos vão cuidar bem de vocês.

Daniel Jacobs beijou a testa da filha e suspirou fundo, desejando sugar toda a tristeza que envolvia o ambiente. Sim, viveria para a realização daquele sonho. Não se conformava com aquilo. Agora a filha sabia que era uma escrava, sujeita a qualquer momento ser vendida, tomar um destino desconhecido acabar nas mãos ou na cana de algum patrão inescrupuloso, com a desculpa imoral de aumentar o patrimônio. Na cozinha encontrou a dona da casa.

- Já comeu alguma coisa Daniel?

- Ainda não senhora, mas não se preocupe, no caminho para o centro faço um lanche.

- Não senhor. Vou mandar servir-lhe o café. Ouvi a conversa com a sua filha e lhe asseguro que cumprirei a promessa que fiz a Lila. Linda e o pequeno Will continuarão comigo enquanto eu viver. Vou ensiná-la a ler e escrever e não fará sérvios pesados. Na volta para o centro de Edenton Daniel recordava as palavras de Margareth Horniblow. Pensou em dizer que pretendia comprar os filhos, que estava trabalhando para isso com autorização de seu patrão, mas acabou não dizendo nada.

A senhora Margaret cumpriu a promessa. Linda aprendeu a ler e a escrever. Depois que terminava as tarefas ia brincar com as outras crianças. De vez em quando a avó vinha visitá-los, trazendo bolos e biscoitos. Linda adorava. Às vezes Marta a levava ao cemitério. Linda colhia as flores mais bonitas para colocar na cova da mãe. Nesses passeios a avó fazia relatos de sua vida.

- Foi aquilo mesmo que seu pai disse minha filha. Lembro como se fosse hoje. Fomos levadas para o Mercado de Escravos no primeiro dia do ano. É o dia mais triste na vida de uma escrava. As coitadas passam a noite de ano novo chorando imaginando qual será o destino de seus filhos, enquanto os brancos trocam presentes. Assim que amanhece o pátio fica lotado de escravos expostos como animais para serem examinados e pelos novos patrões.

- As crianças também? Perguntou Linda arregalando os olhos.

- Não vai acontecer com você. Tenho grande esperança que a senhora Meg dê a liberdade nem que seja em testamento.

- O que é testamento vovó?

- É um documento onde a pessoa antes de morrer escreve a sua vontade, diz como deve ser repartido o que ela possui.

- Isso aconteceu com a senhora?

- Não. O senhor Horniblow quando era vivo prometeu que me deixaria livre, mas não cumpriu a promessa. Quando ele morreu passei a ser propriedade de sua mulher, a senhora Elizabeth. Senti muito a diferença de tratamento, mas continuei meu trabalho com mais dedicação ainda. Eu sabia que a única maneira de conseguir alguma coisa era ser bastante profissional. Com meu trabalho juntei um dinheirinho. A senhora Elizabeth me tomou emprestado trezentos dólares e eu de besta emprestei. Como eu podia negar? Ela jurou que me devolveria. Juramento de dona de escravo. Veja só! Mas eu espero que ela ainda me pague.

Quando a senhora Margareth adoeceu no inverno de 1824, Marta foi incomodada por um pensamento agradável: a liberdade da neta por testamento. Da maneira como Linda e Willis eram tratados aquilo não era impossível. Por outro lado o coração da velha escrava se constrangeu ao pensar no sofrimento de Margareth. Aquela mulher era diferente das outras Horniblows. A sua patroa, por exemplo, havia lhe dado permissão para continuar trabalhando, mas lhe impusera a condição vestir os filhos e a si com os lucros do trabalho. A senhora Meg nunca faria isso.

Vendo sua patroa empalidecer cada vez mais Linda, interiormente, chegava às raias do desespero. Estava agora com quase doze anos e o futuro assombrava-a. Depois dos relatos de sua avó sobre a escravidão suas noites se tornaram mais densas, os sonhos mais intensos, os pesadelos mais reais. Ela ouvia gritos de escravos sendo açoitados, embora nunca tivesse assistido a tal fato. Acordava no meio da noite chorando com cenas de crianças sendo arrastadas dos braços da mãe. Recorria desesperadamente às orações. Inútil. No dia 3 de julho de 1825 Margaret Horniblow falecia.

Ao ver a esquife com o corpo de sua patroa desaparecer por trás da parede de cimento Linda lembrou-se do gesto afetivo dela em relação à mãe. Seu olhar varreu o cemitério e as flores sobre os túmulos pareciam mais vivas sob o sol daquela manhã. Ali era o cemitério dos brancos. Iriam eles para um lugar diferente? Haveria um paraíso para os brancos e outro para os negros? Linda se surpreendeu com aquele questionamento e ouros que começaram a aflorar na sua mente. Será que a senhora Margareth vai encontrar minha mãe lá no céu, se eram tão unidas na terra? Será que a terra dos ancestrais seria amaldiçoada? Haverá esperanças para mim agora sem a proteção de um lar tão bom como o da senhora Meg? O que será de mim e de Williams?

- Você vai passar uma semana comigo – disse a avó interrompendo os pensamentos da neta. A patroa me alugou para a senhora Myles Elliot, a nova arrendatária da taverna.

- Como assim vovó? Alugou? Perguntou a menina cada vez mais surpresa com as nuvens negras que ameaçavam invadir seu território.

- Minha patroa arrendou a taverna por vinte dólares e me incluiu no contrato ate o mês de novembro. Vou trabalhar para a senhora Myles, mas continuo como propriedade da senhora Meg.

Myles Eliot era uma boa patroa. O marido lhe deixou uma boa pensão em troca do divorcio, alguns escravos e uma bela casa. Ao ver Linda ajudando a avó ficou interessada na menina.

- Gostei de sua neta Marta. Ela e muito esperta. Será que os Horniblows a venderiam? Pelo que sei Margareth não tinha filhos. A herança deverá ficar com a mãe.

- Não sei senhora. Só perguntando aos Horniblows. Marta na verdade tinha certeza que a falecida havia deixado Linda livre em testamento. Era a melhor maneira de recompensar a fidelidade e dedicação que lhe fora devotada por Lila.

No fim de semana Linda voltou para a casa da falecida Margareth. Na segunda feira se deu a leitura do testamento.

“Minha jovem negra Linda” e “minha escrivaninha e mesa de trabalho e seu conteúdo” deixo para minha sobrinha de três anos Mary Matilda Norcon, filha do doutor James Norcon e de minha irmã Mary Horniblow.

A voz serena do juiz Warcktein contrastava violentamente com o turbilhão de pensamentos que inundou a mente de Linda. Então ali estava o preço de uma dedicação, de uma fidelidade. Equiparada a um instrumento de madeira útil para trabalho. A escravidão mostrava uma garra da sua monstruosidade. Avó e neta se abraçaram em um choro silencioso. Marta alisou os cabelos de Linda procurando palavras para consolar aquele coração que batia no mesmo ritmo do seu. A menina recordou os ensinamentos da ex-patroa: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-lo também vós.” Então ela descobriu que era apenas uma escrava e não um “próximo”.

(30/04/14)

Continua no próximo capítulo.

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 30/04/2014
Código do texto: T4789297
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