Nos domínios da Morte-em-Vida: Viagem por Kishinev (Cap. XIII)

Relutantemente sou forçado a confirmar a meus leitores que, como Scarbô previra tão acuradamente, meus impulsos sexuais acabaram por subjugar-me; parti à procura daquele bordel anunciado no cartaz, que se situava nos limites de Kishinev com a cidade vizinha de —. Tomara um táxi; o percurso foi traçado no mais excruciante silêncio.

De fato, como sói acontecer com todo homem, sentia falta de ter uma mulher a meu lado; meu romance com Nelly acabara há dois anos, e por mais que tentasse ocultar meu interesse, o amor é de fato uma “droga voraz” – pode-se sorver em uma única golada um oceano dele, mas nunca será o bastante.

Influenciado por minhas leituras, começara a achar deveras romântica a ideia de envolver-me com meretrizes; tal qual meus trágicos heróis, haveria de despir-me de minha pureza e inocência anteriores para mergulhar na imundície da depravação – constante na inconstância, rolaria num leito atrás de outro ao lado de pervertidas beldades, que inflamariam meu peito com a chama da luxúria, queimando tudo aquilo do qual queria esquecer-me. Quem haveria de maldizer-me por buscar o alívio das dores de uma paixão em meio ao lupanar? Não fui o primeiro – nem serei o último.

Em contrapartida, também entretinha o sonho deveras ingênuo de poder salvar uma dessas mulheres. Omnia vincit amor! Talvez uma delas, ao menos uma, teria uma fraca centelha brilhando semidormente em seu coração, e se fosse eu capaz de reacendê-la, perceberia sua abjeta condição e a abandonaria para pertencer somente a mim. Esta última ilusão de meus tempos de juventude, que hoje em dia reconheço ser deveras pretensiosa e egocêntrica (ainda que bem-intencionada), também viria a ser arrasada num contrappasso; afinal, como viria a constatar, o amor pode vencer de fato a várias coisas, mas não torna nenhum homem um deus.

Ora pensando nos resultados da primeira possibilidade, ora nos da segunda, com o silêncio sendo rompido apenas pelo riso zombeteiro de Scarbô (que apenas eu podia ouvir), o táxi singrava quilômetros de asfalto noite adentro.

[Continua no Cap. XIV]

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 29/04/2014
Reeditado em 20/10/2022
Código do texto: T4787462
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