A Viola (Novela ) O Conto da Viola Chorosa 17 de março...
Logo pela manhã começou um corre-corre, corre dali e um corre daqui.
Dorinha acordou bem cedo, fez café, foi dar uma varrida no
lado de fora e encontrou com o amigo João e Macedo. João
sempre foi fã de Dorinha da Viola, onde tocava, lá estava em
todas as suas apresentações e já sabia todas suas canções,
que de outros artista cantava, que dom de sua amiga, que
talento! Macedo conheceu Dorinha num barzinho, enquanto
se apresentava. Sempre pela manhã, Macedo com o seu cavalo,
Burrico, era assim que o chamava, às vezes com ele se exaltava.
Pela manhã, tinha o costume de dar um bom dia para a querida
Dorinha, com as mãos acenava e com o olhar piscava. Mais uma
moça difícil, não era para qualquer um que ela dava
bola. Macedo tinha 25 anos de idade, um moço até ajeitado,
simples, trabalhava na roça, não conseguiu os estudos concluir,
precisou parar, pois tinha muito que sua família ajudar.
Muitos jovens daquela cidade não conseguiram terminar os
estudos, as dificuldade eram grandes, a necessidade da família
nordestina, os filhos tinham que logo cedo pegar no pesado.
Passavam muita necessidade. O pai de Macedo tinha 65 anos
de idade e, com a sua carroça, laranjas vendia e passava todo o
dia; a mãe dona Bárbara, 60 anos, ficava mais em casa, problemas
de saúde. Cada dia que passara, o sol atormentara. Nordeste hoje é
considerada a cidade mais populosa do Brasil e infelizmente enfrenta
a maior seca dos últimos 30 anos, a água não chegava nas torneiras.
Dorinha sempre foi moça esforçada e muito dedicada. Mais Pedro,
ansioso e ciumento com Lucinda, que com ninguém podia conversar,
tinha ora que lhe dava até vontade se chorar, mais o amava, queria
com ele todas as dificuldades enfrentar, mesmo com esse jeito de
Pedro possessivo. Característica estão vindo à tona e que Deus tome
conta. Devido a uma grande euforia, que a tempos trazia na alma.
Aurélio o pai sentia agonia de ver o filho assim, nesta exagerada
"diplomacia"ou seja, seus interesses estavam em jogo, aviação.
Pedro continuou a trabalhar com o pai por mais uma semana apenas,
depois rumo à uma outra vida. Sim, temperamento forte e exigente
consigo mesmo. A noite chegara, até os bichos mal o calor aguentava.
Dorinha seu banho tomou e o porta-retrato onde estava a foto da mãe,
relembrando dos gestos carinhosos, que tinha com os filhos. Consigo,
exclamou olhando aquela foto."Oh minha mãe, quanta saudade! Me
lembro, mesmo com as mãos calejadas da enxada, assim me pedia,
e com carinho eu ouvia, que deixasse de lado um pouco minha viola,
mais com amor, sempre respondi. "Mãe querida, me tire outras coisas,
mais não a minha viola chorosa, faz parte da minha vida, não desgrudo
dela nem um segundo", e com o olhar fixante no retrato, desabou a chorar,
pois Deus não tirou sua viola, mais sua mãe a levou.
Dorinha o rosto enxugou, com o choro, a dor da saudade desabafou. Seu
melhor traje colocou, um vestido um pouco acima do joelho, branco
estampado, com um colar combinando com os sapatos, vermelhos.
Pegou a viola chorosa, ás 8:00 horas já tinha um lugar marcado para
cantar e uma galera animar.
Esplanada, barzinho da moçada e também da pesada. Dorinha não poderia
ficar escolhendo os bares onde iria apresentar, estava no começo da carreira,
onde cantava suas músicas, sentada numa cadeira. Pedro e Lucinda ali de
namoricos, conversando sobre a viagem e tudo mais. A irmã os convidou,
para irem juntos vê-la tocar e com a viola musicar. Mas Pedro com este ciúme
da namorada, até de sua sombra e além do mais, possessivo. Por isso
Lucinda, do convite da cunhada desistiu, "que ciúmes bobo, onde já se viu"!
Dorinha o pai chamou, para irem logo, pois sempre nesta hora atrasava.
Aurélio, rápido a roupa arrumava. Pronto, o pai no galope de Salomé e
Dorinha na garupa com a viola amarrada na cintura, se pôs a galopar. Para
surpresa do pai e filha, quem por Dorinha esperava? Macedo viu a sua
querida, eram só esses momentos que mais o alegrava. Ainda não tinha visto
a filha de Aurélio cantar, seu maior desejo, agora um coração a disparar.
Macedo, estava completamente por ela apaixonado, era um bom rapaz, mais
pela vida seca, perdida, arrasado. Os três lá iam. Barzinho cheio, só esperando
por Dorinha, um ambiente de muita gente, pessoas estranhas frequentavam
este lugar, o bairro onde ficava o bar Esplanada se chamava, Ivaporunduva.
Dorinha, a grande atração e por ela esperava uma linda apresentação.
Vinha ela toda bela, um bar bem simples maltrapilho, o que interessava era
pegar a viola chorosa, que já não via a hora. Em cima de um pequeno palco,
foi as cordas dedilhando, se soltando e alma de todos aos poucos suavizando,
uma canção de amor. Havia no fundo daquela gente, ao vê-la cantar,
a esperança do novo dia, da chuva caindo quem sabe um dia, desta vida tão
vazia. Mais era este o propósito de Dorinha, com as canções, ao prato vazio,
trazer ao menos neste momento um pouco de alegria a uma população
que a face trazia, nostalgia.
A tristeza não disfarçava, agonia, ser recolhido do amor esquecido.
A musicalidade da viola chorosa começou a fazer parte do quotidiano
daquele povo nordestino. Sabiam que num momento tão pobre e triste,
o romantismo, sentimento envolvia, mais jamais teria como
esquecer a verdadeira realidade, a obscuridade mais há na
fisionomia a integridade. "Nordeste frente e versus".
Luciana Bianchini