A Viola (Novela) Conto da Viola Chorosa 07 de março...
Dora tinha 6 anos de idade. Contagiava por onde passava.
Seu vestido rodava, quando brincava. Menina sapeca de quem
todos gostavam. Numa tarde feliz, chegava o pai e sua mãe,
com um presente, que já tinha para ela prometido, que jamais
por Dora poderia ser esquecido. Era seu sonho, ganhou do
pai Aurélio e da mãe Mariinha, uma viola usada.
Dora ficou tão maravilhada, que, por aquelas ruas, sem asfalto
e cheio de terra, pulava, extrapolava-se. Não soltava das suas
mãos aquela estimável viola que ganhara do pai e da
mãe. Cantava baixinho em seu quarto com aquele brinquedo
em segredo. Dora tinha um costume: guardava a pequena
viola no porão de sua casa, lado de fora. Com os seus pés
cheios de alegria e sempre na correria com a viola abraçada,
ela vivia, e em seus braços, amarrada feito um laço. Dora menina
pobre, morava numa casa, feita de alguns tijolos e madeiras.
Era um lugar sem eira e nem beira, levantada pelo seu pai
Aurélio, homem sistemático, cara fechada, valente, mas era
tratado humildemente. Uma região muito seca, que havia
tempos que não chovia e também nada se via. Mais mesmo
assim, Dora com a viola, nada a entristecia na meninice, alegre e
contente ela vivia. Seu Aurélio tinha aproximadamente 65
anos de idade. Vida sofrida e amargurada e a mãe Mariinha,
45 anos de idade, mãe carinhosa e muito afetuosa, tinham
Dora de 6 anos e a seu irmão Pedro de 10 anos. Dora, menina
doce amável, tinha pelo pais, sempre grande respeito e,
quando alguém de seus pais falava, enchia o peito, mas
sempre com a viola agarrada nos braços, para cá e para lá.
Dora não arredava o pé de sua viola. Pedro, menino levado,
não parava só um segundo.
Tinha uma bicicleta velha com que se divertia sempre.
Alí onde Dora morava com os pais e irmão era pura
terra. Usava sempre vestido branco, nem a cor se via mais.
Era uma região quente onde fazia muito calor. Cidade do
Nordeste onde os homens eram conhecidos como destemidos,
cabra da peste, era como seu Aurélio era chamado na cidade.
Homem arretado, tinha uma eguinha chamada Salomé, que
com ela galopava com Dora e Pedro, na garupa do animal.
Coitada da pobre Salomé que às vezes a fazia andar de ré.
Veio o dia, a noite, e todos foram para o seu repouso e Dora
nunca se esquecia de guardar a viola, no porão da casa,
do lado de fora, antes de dormir. Pedro já era desmazelado
com a bicicleta, ausência de cuidado. A linda
manhã se brotava como véu descendo sobre o céu.
Dora se levantou para ajudar a mãe no pasto e Pedro
logo também acordou a ajudar o pai no pouco arado.
Tomaram café da manhã, simples, mais feito com
amor pela mãe, tão amorosa com os filhos.
Mariinha tinha seus 45 anos de idade, andava doente,
sentia muita fraqueza, mas sempre muito zelosa nos
afazeres. Dora ajudava sempre a mãe, mas não
desgrudava da viola. Enfrentavam oito km para chegar
até a escola, nenhum dia Dora e Pedro faltavam.
Seus colegas percebiam que Dora nunca da viola
largava. Então começaram a chamá-la de Dorinha da
viola chorosa, que tocava para seus amigos toda a tarde.
Mas, mesmo com a voz ainda infantil, se emocionava
e a todos alegravam. Dorinha tanto que tocava, cantava, se
emocionava e chorava. Por isto começou a ficar conhecida
sempre como Dorinha da viola chorosa. O dia escureceu
a noite do céu se esqueceu, o calar noturno se escondeu
e as cordas da viola de Dorinha chorosa adormeceram.
Luciana Bianchini